• Nenhum resultado encontrado

3. Prática Letiva

3.3. Assistência às Aulas

O programa do EP contempla a assistência às aulas com o propósito de melhorar a PL, em geral, e o desempenho de cada professor estagiário, em particular. Esta atividade prevê a observação de pelo menos vinte aulas lecionadas pelos colegas estagiários, sendo feito, posteriormente um relatório critico e reflexivo sobre as mesmas.

O conceito de “observação” segundo Damas e De Ketele (1985) é definido como um processo no qual o objetivo primordial é a recolha de informações acerca de determinado tema, de acordo com os parâmetros previamente estabelecidos.

Neste sentido, a observação é uma tarefa elementar no progresso e evolução da prática pedagógica do professor, pois cria a hipótese de refletir de uma forma construtiva acerca de um conjunto de informações que lhe são facultadas. Por outro lado, a assistência às aulas pode representar um momento de melhoria à adaptação e adequação das estratégias pedagógicas e didáticas a implementar no processo de ensino-aprendizagem, de acordo com o meio e realidade em que se insere. Em consonância com esta ideia, Freire (2002, p. 17) menciona que “A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer.”

A observação é uma ferramenta pedagógica imprescindível que nos permite, enquanto professores, efetuar um processo de diagnóstico, prescrição e controlo mais eficiente. Não obstante, esta ferramenta pedagógica pode também ser utilizada pelo

47 docente, no decurso de uma aula, possibilitando introdução de alterações e/ou adaptações ao plano inicialmente traçado.

Deste modo, Reis (2011) defende que a observação assume um papel decisivo na melhoria da qualidade do ensino e das aprendizagens, sendo inclusive uma fonte de inspiração e motivação, bem como, um forte catalisador na transformação do processo educativo.

Outros autores como Mendes, Clemente, Rocha e Damásio (2012) evidenciam que este processo demonstra uma melhor eficiência na perceção dos fenómenos pedagógicos, especialmente no que diz respeito às estratégias utilizadas, aos conteúdos abordados, às tarefas e atividades realizadas, ao clima proporcionado, à disciplina e ao nível de organização do processo de ensino-aprendizagem.

A recolha de informações pertinentes em relação à nossa conduta e desempenho, no decorrer das aulas é um indício para desenvolvermos o processo de observação dos intervenientes pedagógicos, como enuncia Sarmento (2004). Contudo, este autor defende que a maximização desta metodologia observacional leva à definição criteriosa de “o quê?” e “para quê?” e “de que modo?” vamos observar.

Esta ferramenta constituirá um auxílio na identificação de dificuldades e competências para nós, enquanto futuros docentes, em contexto real de trabalho. Será promotor do desenvolvimento da nossa capacidade de análise e reflexão crítica, acerca do processo pedagógico e acerca das metodologias intrínsecas ao mesmo.

Oliveira (2018) refere que a reflexão é um conceito dinâmico e permanente, e que se baseia, fundamentalmente, em três aspetos. O primeiro ponto a ter em conta é nos questionarmos sobre o que foi feito e de que forma podemos superar os problemas, ou seja, problematizar. De seguida, surge a fase de conceptualizar, através da criação de conceções que organizem uma reflexão crítica, uma ideia sobre esses mesmo problemas.

O terceiro e último fator a ter em conta é a argumentação, a capacidade para comprovar e demonstrar ideias de forma a que dissipem o problema.

Em suma, a observação integra uma ferramenta pedagógica elementar para a melhoria e progresso do processo de ensino-aprendizagem dos alunos, inerente ao desempenho do professor no decorrer das aulas. De realçar que este processo se torna necessário para a evolução de professores e alunos, visto que promove uma atuação assertiva, coerente e estruturada.

Nesta senda, acreditamos que este processo em análise contribuiu para o desenvolvimento de competências associadas à conceção de estratégias que têm como

48 objetivo solucionar dificuldades que eventualmente possam surgir, como por exemplo problemas comportamentais da turma.

3.3.2. Objetivos

Os objetivos gerais definidos para a atividade de assistência às aulas foram os seguintes:

• Debater com o núcleo de estágio da EBSAAS, os instrumentos de observação a utilizar;

• Fomentar a capacidade de reflexão crítica, interpessoal e intrapessoal, sobre a gestão do processo de ensino-aprendizagem;

• Compreender e refletir sobre o efeito de algumas metodologias e atividades empregues ao longo da gestão do processo de ensino-aprendizagem;

• Desenvolver e conceber ferramentas pedagógicas e didáticas para a gestão do processo de ensino-aprendizagem.

Os objetivos específicos desta atividade encontram-se abaixo descritos:

• Desenvolver competências de observação e análise;

• Aferir se os comportamentos do professor se encontram adequados às situações;

• Reagir de acordo com o feedback prestado por parte do professor orientador;

• Reconsiderar comportamentos de intervenção de acordo com os problemas verificados e refletidos;

• Cooperar de forma integra e assertiva com o colega estagiário.

3.3.3. Metodologia e Procedimentos

As observações efetuadas ao longo do EP foram efetuadas de diferentes formas e a diferentes professores. No que diz respeito aos professores foram efetuadas aos colegas de núcleo de estágio, ao orientador cooperante e alguns professores que lecionavam antes da nossa aula. Todas estas observações, independentemente da forma como foram realizadas, foram sempre passíveis de extração de informação e de reflexão.

49 Estas observações foram realizadas de três formas diferentes: i) observação da aula por um determinado período, sem tomar notas, sem utilizar nenhum guião e sem recolher nenhuma informação; ii) observação e registo durante a sessão com utilização desses dados para discussão final com o professor estagiário e orientador; iii) observação e folha de registo fechada.

A observação é uma ferramenta pedagógica fundamental e crucial, tal como a reflexão, que se deverá efetuar após a observação. Isto é, a partir da observação a uma aula deduz-se que haverá informações pertinentes a serem debatidas ou a merecerem atenção. Essa reflexão não deverá ser realizada apenas por quem observa, mas também pelo docente que está a lecionar e que deverá fazer uma análise crítica à sua atuação.

Neste sentido, Oliveira e Serrazina (2002) defendem que o docente necessita de ser reflexivo acerca da sua atuação. Só desta forma é que o professor consegue compreender se a intervenção pedagógica foi adequada, ou se antes pelo contrário terá de fazer ajustamentos ou alterações.

No que diz respeito aos instrumentos utilizados na observação às aulas dos colegas estagiários, o seu objetivo foi obter e retirar informações pertinentes para apoiar o processo ensino-aprendizagem.

Jacinto et al., (2001) mencionam que a observação e o instrumento de registo, deverá ter a possibilidade de ser adaptada de acordo com o estilo pessoal de cada um.

Nesta sequência foram utilizadas duas fichas de registo na observação de aulas.

Numa etapa inicial, os elementos do núcleo de estágio elaboraram, uma ficha de observação simples e de fácil acesso, na qual se pretendia analisar os aspetos positivos e negativos da atuação dos professores, nos exercícios da parte inicial, fundamental e final das aulas (Apêndice 8).

Numa fase posterior, mais precisamente no início do 2º período letivo, houve a necessidade de melhorar o registo das observações. Deste modo, a escolha recaiu sobre outra ficha de registo mais detalhada no que diz respeito às informações recolhidas (Apêndice 9). Esta pretendia avaliar o comportamento do professor na sua intervenção, em termos de apresentação dos conteúdos, organização e gestão da aula.

3.3.4. Considerações Finais da Assistência às Aulas

O processo de assistência às aulas proporcionou um conjunto de competências fundamentais para a gestão do processo de ensino-aprendizagem. Este processo

50 estimulou, principalmente, a capacidade reflexiva acerca da intervenção pedagógica, o espírito de cooperação entre colegas de estágio e a partilha de experiências entre professores.

Este processo foi realizado, como referido anteriormente, de forma sistemática ao longo do ano letivo a vários docentes do grupo disciplinar de EF da Escola. Porém, nem todas as observações foram alvo de registo, nomeadamente, ao orientador cooperante e a outros professores, apenas foram efetuados registos das observações aos colegas do núcleo de estágio.

No que concerne à observação realizada aos colegas de núcleo de estágio, verificaram-se, inicialmente, algumas lacunas ao nível da apresentação dos conteúdos, organização da aula e feedbacks realizados. A exposição dos objetivos e conteúdos da aula, a instrução, explicação e demonstração dos exercícios, a formação e distribuição dos grupos, a realização de feedbacks pedagógicos e de controlo, foram os aspetos mais deficitários e a merecer uma melhoria. Ao longo do ano letivo, constatámos uma progressão e uma evolução, a nível destes e outros aspetos, na intervenção pedagógica.

A assistência às aulas permitiu observar a forma como os professores mais experientes reagem a comportamentos desviantes dos alunos e tirar algumas ilações de como devemos ou não atuar perante situações idênticas.

A reflexão pós aula, por parte do observador e do professor que esteve a lecionar, possibilitou-nos perceber, através de uma análise crítica sobre o desempenho, quais as estratégias a alterar, ajustar ou manter. Desta forma, a compreensão sobre “como” e

“quando” devemos atuar perante situações inesperadas, contribuíram para uma atuação mais assertiva e objetiva, por parte dos professores estagiários.

Nesta senda, Lopes (2015) evidencia que “A mudança, a transformação, é consequência da necessidade de adaptação a contextos que estão em permanente mutação. O conhecimento gera novos meios e ferramentas que oferecem novas capacidades de atuação” (p.65).

Como futuros profissionais da área da docência, consideramos pertinente que este processo de assistência às aulas seja incrementado nos diversos ciclos de ensino, tendo em conta os benefícios que possam advir deste processo.

51