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3. A PRECARIZAÇÃO E SUAS EXPRESSÕES NO TRABALHO DO

3.2. ASSISTENTE SOCIAL / TRABALHADOR ASSALARIADO: os efeitos do

trabalho precarizado sobre as profissionais e as estratégias de enfrentamento

As resultantes dos processos de transformações societárias agudizaram as expressões da precarização, que, ao tornar-se parte e estratégia de dominação, no capitalismo contemporâneo, passa a atingir a todos os que vivem da venda de sua força de trabalho, ainda que em intensidade distinta. Ao assumir contornos estruturais, próprios da sociabilidade do capital, da constituição do trabalho em sua dimensão abstrata, a precarização não poderia passar à margem do Serviço Social.

Partindo desta assertiva e tendo por base os processos de flexibilização do trabalho e dos direitos sociais, pautados na reestruturação produtiva e na ofensiva neoliberal, são diversas as expressões da precarização no trabalho do assistente social na educação, dentre as quais a sobrecarga de atividades que o atravessa e caracteriza, a extensão da jornada, a cobrança por resultados, a intensificação da exploração e as violações de direitos a que também este profissional está suscetível. A forma de organização do trabalho e as condições postas ao seu desenvolvimento impactam não só os serviços prestados, as respostas às demandas dos estudantes, as competências e atribuições profissionais, produzindo efeitos também sobre as assistentes sociais. O volume de trabalho a que estão expostas no espaço das IFEs, tendo em vista a realização das atividades com base em sistemas informatizados, conduz a um contato cada vez maior com os recursos desses sistemas, o que leva ao surgimento de lesões. A propósito, veja-se o enunciado de duas entrevistadas:

Assim, o sistema ele ajuda. Ajuda, mas também adoece. [...] A gente tendo que utilizar do recurso do mouse, o tempo todo digitando, o

tempo todo. Então assim, foi muito mais, contribuiu muito mais para que a gente tivesse problemas mesmo de LER, porque são muitos processos. [...] então é tudo no sistema. Então você tá utilizando o mouse toda hora e o teclado, isso faz com que a gente realmente tenha problemas. Eu vivo com esse meu braço doendo. Tem dias que eu tenho que chegar em casa e botar gelo, se não eu não durmo com o ombro doendo. (Assistente Social 04).

Eu acho que ao mesmo tempo que facilita, porque fica tudo lá registrado... Mas, como eu disse, a alta demanda termina obrigando a gente a usar o computador, já que tudo é no sistema, por um tempo muito, muito longo. E a gente tá, eu digo a gente, porque não sou apenas eu que estou com problemas. Hoje, mais especificamente, é o caso mais grave, com restrição médica, mas tem outras colegas que estão adoecendo também das mãos. Então essa intensidade com que a gente tem que usar, tudo no sistema, tem nos prejudicado fisicamente. (Assistente Social 06).

Os sistemas informatizados utilizados pelas assistentes sociais nas IFEs são considerados de extrema relevância ao desenvolvimento do trabalho, uma vez que facilitam o registro das informações dos estudantes e o acesso a estas quando necessário. Todavia, a exposição a grande demanda de trabalho acaba por obrigar as profissionais a um contato prolongado com tais sistemas, provocando o adoecimento, com destaque para a Lesão por Esforço Repetitivo (LER), como mencionado por elas.

Aspecto importante a ser ressaltado é que o adoecimento provocado pela intensificação do trabalho informatizado se manifesta apenas no espaço da UFRN, não sendo uma realidade para as profissionais cujo exercício profissional tem se dado no Instituto Federal. Algumas considerações são possíveis com base nessa realidade e que talvez possam explicá-la. No Campus Central da UFRN, ainda que a assistência estudantil possa contar com um quantitativo maior de assistentes sociais, há também, pela estrutura deste Campus, um número mais elevado de estudantes e, consequentemente, de demandas, o que determina um contato sempre maior com os sistemas informatizados. Outro fator relevante pode ser explicado pelos seguintes enunciados das entrevistadas,

No que se refere aos sistemas de informação, no IFRN, eu acredito que contribui muito. Ele a cada dia ele tá sendo aprimorado e com sugestões da equipe de Serviço Social. A gente sugere e os

engenheiros eles melhoram a partir das nossas sugestões. (Assistente Social 08).

Mas até agora a gente não teve nenhum empenho em modificar, sabe, o SIGAA54. A alegação é que eles têm muitas demandas de modificações e que eles não têm tempo agora de fazer as que a gente precisa. Mas é um sistema que eu acho que veio para ajudar, claro. E ele ajuda, de certa forma. Mas ele é muito trabalhoso, muito burocrático. (Assistente Social 05).

As sugestões dadas pela equipe de assistentes sociais parecem ser determinantes nessa relação com os sistemas informatizados. Ao serem ouvidas e acatadas, no IFRN, contribuem para a desburocratização do acesso ao sistema, facilitando e reduzindo o percurso de registro das informações. Na especificidade da UFRN, porém, esta não é uma realidade, e a sua ausência, somada a sobrecarga de trabalho, resulta em adoecimento.

A intensificação, ao revelar-se, no espaço estatal, ganha concretude, segundo Dal Rosso (2008), no ritmo e na velocidade do trabalho, nas cobranças e nas exigências, no volume das tarefas, nas características do trabalho intelectual demandante e no peso da responsabilidade. Materializada no espaço das IFEs provoca o desgaste físico das assistentes sociais, sentido cotidianamente e revelado ao fim de cada processo seletivo para acesso dos estudantes aos programas da assistência estudantil.

Apresentando um cotidiano profissional marcado pela sobrecarga e pela intensificação, que encontra seu objetivo na redução do trabalho pago e na ampliação do trabalho excedente, raiz do sofrimento do trabalhador assalariado, conforme Raichelis (2013), as assistentes sociais se deparam com a impossibilidade de ampliar suas atividades profissionais para além daquelas definidas no espaço institucional, restritas à operacionalização dos programas da assistência estudantil. Em contato com os estudantes e com suas demandas, defrontam-se com novas expressões da questão social, que ultrapassam aquelas definidas na demanda por alimentação, transporte e moradia, revelando-se no acirramento do preconceito, na violência, nas disparidades de gênero e outras; problemáticas sobre as quais têm

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Consiste no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas utilizado por toda a comunidade universitária (estudantes, docentes e técnicos administrativos em educação) na UFRN.

competência e habilidade para intervir, mas indisponibilidade de tempo no espaço das IFEs.

Essa realidade imprime às profissionais a sensação de um trabalho mecânico e burocrático, que resulta em descontentamento, conforme expresso por elas:

A gente fica desestimulada, porque a gente tá fazendo um trabalho praticamente mecânico. Faz um trabalho... Não é mecânico, mas eu digo... Porque a gente não vai fazer uma seleção de forma mecânica. Não é isso que eu tô te dizendo. Mas eu digo assim, todo semestre a mesma coisa. Tá entendendo? Termina um processo, começa outro. [...] E aí a gente fez o que para a gente se sentir profissionalmente realizadas, satisfeitas? Tá entendendo? Porque envolve essa realização profissional também. Que a gente não é só para conceder o auxílio, conceder ou não conceder, ou aprovar ou não aprovar, o parecer favorável, não favorável. (Assistente Social 05).

E assim, a gente se sente um pouco frustrada, porque eu acho que a assistência estudantil, todas nós compreendemos isso, que a assistência estudantil ela não se resume só a deferimento, indeferimento de bolsa. Ela tem uma dimensão muito maior. Tem uma dimensão educativa. E pegando isso, assim, a gente tem vários projetos para trabalhar na Residência, têm as oficinas, que parou. [...] Então assim, é meio frustrante e desestimulante você ficar somente em processos seletivos. (Assistente Social 04).

As assistentes sociais não negam a relevância das ações profissionais na assistência estudantil, tão pouco os resultados de seu fazer, mas reconhecem que essa política precisa ser apreendida de forma mais ampla no espaço institucional, de maneira que se possa enxergar o estudante na totalidade das relações em que se insere, das necessidades que o envolvem e que já não podem ser enfrentadas apenas pela oferta de bolsas e auxílios financeiros. Há uma dimensão educativa, numa perspectiva mais ampla, a ser desenvolvida junto aos estudantes, que se perde em meio às exigências técnicas-burocráticas de um processo seletivo para distribuição de bolsas que acaba por incidir na precarização do trabalho profissional do assistente social, ao mesmo tempo em que na sua subjetividade, uma vez que frustra e desestimula.

Apreender os efeitos da precarização sobre os profissionais de Serviço Social exige considerar a base de fundamentação de seu trabalho, ou seja, a questão social e todas as suas manifestações na vida cotidiana. Pressupõe

apreender que as suas consequências se expressam nos espaços da educação, dentre outras formas, no aumento da requisição dos estudantes pela assistência estudantil, em um cenário explícito de degradação das políticas sociais.

A exposição continuada das assistentes sociais as mais dramáticas expressões da questão social, lindando com as diversas situações enfrentadas pelos estudantes e por suas famílias, aparecem também, em suas falas, como elemento de angústia, do qual se torna difícil desvincular. Nesse sentido, afirmam,

A sensação que eu tenho é que diariamente eu tenho trabalhado bastante. Trabalhado bastante, assim... Eu tenho feito o exercício de me desvincular quando saio daqui, porque também tem uma coisa que acontece: a gente sai do trabalho, mas a gente, diante das coisas que a gente vivenciou, encaminhou, das demandas que chegaram, que às vezes... A gente lida com situações bastante complicadas e ultimamente têm aparecido muitas situações, bem complicadas, que os nossos estudantes passam. Então não tem como você não se afetar, você não se envolver. (Assistente Social 02).

Há especificidades também, porque as demandas da gente são muito, assim, abalam. Nós somos seres humanos. Então, assim, você... E tem crescido muito. Questão de dependência química, que é um atendimento altamente desgastante pra gente, porque assim, você não lida só com o sentimento do aluno. Você lida com o sentimento da família. [...] Então assim, como você trabalhar 08h com questões pesadas, abuso, que é uma coisa que tá crescendo muito? E assim, eu não sei até quando a gente não vai adoecer, porque você receber uma carga grande, principalmente quando é, assim, que me abala muito. (Assistente Social 04).

O peso das demandas, relacionadas, dentre outras, a abusos e dependência química, com as quais se deparam no cotidiano de suas atividades, expressões da questão social que se apresentam como de extrema gravidade na cena contemporânea, se transformam em requisições para as assistentes sociais, constituindo fonte de sofrimento. Entre outras estratégias e/ou alternativas possíveis no âmbito institucional, este sofrimento poderia ser “amenizado” com a garantia das 30h semanais, conforme apontado por uma das profissionais, uma vez que, ainda que não altere estruturalmente a forma de organização do trabalho, possibilitaria a diminuição da sobrecarga que o atravessa, podendo melhorar a saúde do trabalhador, ao impor limites à exploração (BOSCHETTI, 2011).

As problematizações realizadas permitem apreender que os efeitos da precarização atingem não só o trabalho, mas também as assistentes sociais, por meio do adoecimento e do desgaste físico, bem como do descontentamento e sofrimento na relação com a atividade profissional. Na discussão das implicações que provoca sobre as profissionais, é preciso considerar, ainda, a configuração da política de assistência estudantil, também apontada como mecanismo que contribui para a precarização objetiva e subjetiva do trabalho.

No cenário de transformações que definem a realidade brasileira, e como parte constitutiva dos direitos sociais, a assistência aos estudantes tem sido atravessada pela lógica neoliberal, que imprime a ela, dentre outras características, um caráter focalizado e seletivo. Em consequência disso, o acesso aos seus programas e serviços tem sido restrito por meio de critérios socioeconômicos, estando suas ações direcionadas aos estudantes em situação de maior dificuldade. Nega-se a assistência estudantil como direito de todos os discentes, mesmo em um cenário em que as condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora têm sido fortemente afetadas pelas transformações em curso, como apontado por uma das participantes desta pesquisa:

Essa demanda tem aumentado cada vez mais, porque como eu já disse: as necessidades das famílias têm aumentado com essa crise. A gente vê muitas pessoas perdendo o emprego e aqui mesmo a gente vê os estudantes trazendo: “não, meu pai trabalhava em tal coisa e não tá mais trabalhando. Saiu do emprego”. A gente vê muito isso. [...] Vê no dia a dia, porque eles trazem: “não, meu pai tava trabalhando, não tá mais. Agora tá só minha mãe”. Ou então: “não tem ninguém em casa trabalhando”. Isso a gente viu que aumentou muito do ano passado para cá. [...] E a grande maioria é o quê? Trabalho autônomo. “Não, eu trabalho por conta própria. Eu vendo pipoca [...]”. (Assistente Social 01).

As transformações societárias chegam com intensidade na vida dos estudantes, materializando-se em diversas expressões da questão social que ganham concretude, dentre outras, no desemprego, agora estrutural, nas formas precárias de trabalho, no subemprego, na desproteção social e trabalhista que marca o seu cotidiano e de suas famílias. É por essa mesma realidade que terão suas necessidades ampliadas e, a partir destas, a demanda por ações de assistência no âmbito das IFEs como condição a sua permanência na educação.

Todavia, é nesse mesmo cenário da sociedade brasileira, que ataca e ameaça as políticas sociais, dentre as quais a assistência estudantil, que as respostas as suas necessidades serão restringidas.

É nesse contexto que as assistentes sociais inseridas nas IFEs passam a se deparar com o aumento das demandas pela assistência estudantil e, de forma inversa, como consequência da redução da ação do Estado na área social, com o corte de recursos direcionados a sua operacionalização. Chamadas a viabilizar esse direito e os meios de exercê-lo, veem-se tolhidas em suas atividades, “que dependem de recursos, condições e meio de trabalho cada vez mais escassos para operar as políticas sociais e serviços sociais públicos” (IAMAMOTO, 2002, p. 52).

Sabendo ser essa assistência condição indispensável à efetivação do direito à educação, as profissionais de Serviço Social têm ampliados, diante de si, o estresse e o desgaste físico e emocional que essa realidade impõe, sofrendo na carne, conforme Matos (2015), os efeitos do afrontamento expresso na redução de recursos e no enxugamento das políticas sociais. Nesse sentido, têm-se argumentos das entrevistadas ao enunciarem,

Não tem previsão de aumento para o próximo orçamento. Já foi dito isso para a gente. Ou seja, a gente tem que trabalhar no mínimo que a gente já vinha trabalhando e isso só afeta mais ainda o nosso trabalho, porque é a gente que vai decidir assim, dentre tantos, a gente tem que fazer aquela peneira [...] para saber quem vai entrar e quem não vai entrar no programa, sabendo que todos precisam. [...] Então assim, eu acho que vai ser muito mais impactante e estressante a gente tá exercendo a atividade na assistência estudantil diante dessa questão, porque a gente defende o direito. Então como defender um direito se você tem um recurso mínimo? (Assistente Social 04).

Eu vejo que o aluno tem perfil, eu vejo que ele precisa, eu escuto isso, eu sofro com isso, porque nós somos humanos. É impossível não sentir o outro. E assim, torna o nosso trabalho muito mais difícil, muito mais sofrido, muito mais desgastante, porque eu tenho uma demanda e com essa demanda de pessoas com todo esse sofrimento que vem dos estudantes e da família, e às vezes a gente não tem como incluir todos. Inclui uma parte e fica uma parte. E também tem aquela cobrança: E por que que eu? E, às vezes, você escolhe entre... Pessoas na mesma situação e você tem que escolher entre um e outro. (Assistente Social 08).

Então tem um desgaste emocional, assim, e que tem repercussões físicas, que você fica com dores nas costas, da pressão, da sobrecarga. No meu caso, dores nas costas. Colegas que precisam, às vezes, se afastar pra poder cuidar da saúde emocional, que adoeceram fisicamente também. (Assistente Social 02).

São diversos, portanto, os efeitos da precarização da política de assistência estudantil, que contribui para a precarização do trabalho no espaço da educação, sobre as assistentes sociais, que diante da crescente restrição da capacidade de atendimento, veem-se, institucionalmente, cada vez mais compelidas “[...] a exercer a função de um juiz rigoroso da pobreza, técnica e burocraticamente conduzida, como uma aparente alternativa à cultura do arbítrio e do favor” (IAMAMOTO, 2014, p. 161; grifos da autora).

Na tensão entre a ampliação da demanda e a diminuição dos recursos para respondê-la, as assistentes sociais veem-se ainda constrangidas a decidir entre aqueles que terão ou não acesso aos programas da assistência estudantil55. Sabendo ser esta assistência condição indispensável à permanência dos estudantes na educação e estando o seu trabalho orientado, dentre outros, pelo princípio da universalização do acesso aos direitos, as profissionais deparam-se com o desafio da materialização dos próprios princípios do Serviço Social em seu cotidiano profissional, enfrentando, por isso, o estresse e o desgaste físico e emocional.

O cenário atual tem sido definido, como é possível apreender, por uma série de implicações, que, resultantes das transformações societárias, rebatem nas condições de trabalho e nas próprias assistentes sociais, desafiando-as a buscar estratégias para resistir as suas determinações.

A construção dessas estratégias passa pela exigência de conhecimento da realidade, dos efeitos dessas transformações, impulsionadas pelo capitalismo contemporâneo, sobre a vida da classe trabalhadora e sobre o assistente social como parte desta classe. Pressupõe, nesse sentido, ter clareza de que esse profissional está sujeito aos mesmos constrangimentos que os demais trabalhadores.

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Consiste nessa realidade uma verdadeira tensão entre o direito ao acesso a um determinado serviço/programa de assistência estudantil para os estudantes que dela precisam e a insuficiência de recursos para atendê-los. Nessa perspectiva, observa-se, conforme Iamamoto (2015), uma inversão e uma subversão, uma vez que não é o direito constitucional, com base na universalidade, que impõe e orienta a distribuição das verbas orçamentárias, mas a disponibilidade de recursos. O resultado dessa lógica “é a subordinação de necessidades sociais e sua satisfação à mecânica instrumental do orçamento público” (IAMAMOTO, 2015, p. 149).

Questionadas sobre as estratégias construídas na resistência à precarização do trabalho, as participantes desta pesquisa apontam, sobretudo, aquelas relativas ao enfrentamento da precarização da política de assistência estudantil, que passa, como afirmado por elas, pelo diálogo com os estudantes, pela necessidade de sua formação política, a fim de que, como sujeitos políticos, possam somar na luta pelos direitos sociais e pela educação como parte destes. As assistentes sociais reconhecem, porém, que esta estratégia se reveste de desafio, uma vez que a realidade de seu cotidiano profissional, marcado pela sobrecarga de atividades, pela exigência de respostas imediatas e pela intensificação, tende a limitar o contato com os discentes, contribuindo para a fragilização da dimensão educativa de seu trabalho no espaço das IFEs.

Na defesa da assistência estudantil como condição necessária ao acesso e permanência no espaço educacional, ainda que o cenário presente aponte para o crescimento da seletividade e da focalização, as profissionais respondem com dados da realidade, com o acervo de informações construído com base nas demandas dos estudantes, nas suas condições de vida e nas necessidades que trazem consigo, revelando a ameaça que o contexto atual representa para o direito à educação.

Revela-se, nessa estratégia, a importância da dimensão teórico- metodológica (direção intelectual) que dá conta da leitura e interpretação dessa realidade, viabilizando a sistematização das informações que compõem o exercício profissional, isto é, a produção de conhecimentos acerca das experiências que se desdobram por meio dele, como parte constitutiva de um processo reflexivo e investigativo. Por meio deste processo, as assistentes sociais passam a dispor de argumentos (com competência crítica) e perspectivas de ação, firmados em dados da realidade, construídos a partir do contato diário com as demandas dos estudantes. Tomada como estratégia, a construção e exposição desse acervo é também forma de denúncia de uma sociedade produtora de desigualdades, que é em si fonte de injustiça.

O enfrentamento à precarização passa também, como apontado pelas assistentes sociais, pela resistência à superexploração de sua força de trabalho e às intensas cobranças, que pode ser feita com base na realidade das próprias condições em que desenvolvem as suas atividades, a partir dos dados que mostram ser as demandas, muitas vezes, superiores a capacidade de resposta profissional.

A construção das estratégias não poderia passar, numa profissão como o Serviço Social, sem a necessária articulação e embasamento com a legislação profissional e com os órgãos de representação da categoria. É nesse sentido que a

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