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O trabalho do assistente social na educação: ampliação do espaço ocupacional e precarização na assistência estudantil

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SHEINE SANTOS DO NASCIMENTO

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO: ampliação do espaço

ocupacional e precarização na assistência estudantil

NATAL/RN 2018

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O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO: ampliação do espaço

ocupacional e precarização na assistência estudantil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Linha de Pesquisa: Serviço Social, Trabalho e Questão Social

Orientadora: Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau

NATAL/RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Nascimento, Sheine Santos do.

O trabalho do assistente social na educação: ampliação do espaço ocupacional e precarização na assistência estudantil / Sheine Santos do Nascimento. - 2018.

115f.: il.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Natal, RN, 2018.

Orientador: Maria Célia Correia Nicolau.

1. Serviço Social - Dissertação. 2. Educação - Dissertação. 3. Ampliação do espaço ocupacional - Dissertação. 4.

Transformações societárias - Dissertação. 5. Precarização do trabalho - Dissertação. I. Nicolau, Maria Célia Correia. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 364:37

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O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO: ampliação do espaço

ocupacional e precarização na assistência estudantil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Aprovada em 31/07/2018

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau (UFRN)

Orientadora

________________________________________________ Profa. Dra. Eliana Costa Guerra (UFRN)

Membro Titular Interno

________________________________________________ Profa. Dra. Erlenia Sobral do Vale (UECE)

Membro Titular Externo

________________________________________________ Profa. Dra. Ilka de Lima Souza (UFRN)

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Para os meus pais (João e Célia), pela força e coragem, por nos apontarem sempre o melhor caminho: o conhecimento.

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Agradecer é o ato de reconhecer que sozinhos não seríamos capazes de grandes coisas, nem mesmo das pequenas. É ter a alegria de perceber que o caminho foi trilhado de forma coletiva, em companhia de mãos sem as quais seria difícil (e até impossível) percorrê-lo.

Agradeço aos meus pais, João e Célia, pela força e coragem, pelos ensinamentos diários, pela compreensão, amor e cuidado. Por terem me ensinado tudo, inclusive a buscar aquilo que desejo. Por sonharem por mim e comigo e por realizarem sempre ao meu lado. A vocês o meu amor, admiração e gratidão por tudo o que são e representam em minha vida!

Aos meus irmãos e irmãs, pelas ausências compreendidas, pelas orações e preces realizadas, pela torcida e companhia, que não me deixaram esquecer que, para além dos dias difíceis, a luz continuaria a brilhar. A você, meu irmão, que acredito interceder por nós junto a Deus.

Aos meus sobrinhos, pela presença doce, por me trazerem leveza e sorrisos em todos os momentos.

Ao meu namorado, Diogo, presença constante, força que impulsiona, por sempre acreditar em mim, por não me permitir vacilar, por permanecer ao meu lado em tudo. De você aprendi (e tenho aprendido) os melhores sentimentos. Obrigada por ser fonte de fé, certeza em meio a tantas incertezas, cuidado nas minhas angústias, amor e compreensão na minha falta de tempo e de paciência. Meu bem, te amo muito! Chegar aqui tem muito de você!

Aos meus amigos e amigas, pela torcida, pelas partilhas, pelas orações, pela fé, por desejarem que este momento chegasse, por me fazerem crer na coletividade que ele encerra. Sonhamos juntos! “Eu acreditei, vocês acreditaram e Deus agiu”. Agiu de forma linda e perfeita! A vocês a minha admiração e afeto.

À querida Ozi, pela possibilidade de trilhar esse caminho em sua companhia, por dividir comigo as angústias, as dificuldades, as preocupações e as incertezas que a vida na pós-graduação nos apresentou. Os encontros, os sorrisos, a fé no que estava por vir se tornaram o combustível para que chegássemos ao ponto mais alto, aquele que só pode ser conquistado por quem compreende que nunca se chega lá sozinho. Obrigada por ter sido força, cuidado e coragem nesta caminhada!

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vocês mais esta etapa da nossa formação profissional e humana.

A minha turma de Mestrado em Serviço Social (Ada, Ana Ketsia, Ana Lígia, Elizângela, Floriza, Leonardo, Monally, Caio, Érika, Karina, Ozileia, Márcia, Edsângela e Angely), pelos debates e discussões, pelos lanches e cafés partilhados, pelo respeito e laço de amizade, pela alegria do encontro. Não tenho dúvidas de ter tido as melhores companhias nesse processo de formação!

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro indispensável à realização desta pesquisa e a minha permanência no Mestrado. Reitero a relevância do papel desta agência na formação de pesquisadores, na produção do conhecimento como fonte libertadora.

A todos os que formam o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN, pelo acolhimento, empenho e cuidado na formação de profissionais comprometidos com um projeto de sociedade mais humano e igualitário. A Lucinha, como parte deste programa, pela disponibilidade e paciência em ouvir e sanar as nossas muitas dúvidas.

A minha sempre orientadora, Profa. Célia, pelos ensinamentos, que ultrapassaram, em muito, o âmbito acadêmico, pela compreensão, paciência e presença, pela fé e confiança em mim depositadas. Guardo a certeza de que o nosso encontro, em 2014, não foi em vão e é por tudo o que aprendi desde lá que conseguimos chegar aqui. A você a minha admiração, respeito, gratidão e carinho pelo ser lindo que és e pelo significado que tens em minha trajetória.

A todos os docentes que fizeram parte do meu processo de formação, aqui representados pelas Profas. Carla, Iris, Dalva, Célia e Eliana Andrade, por todo o conhecimento partilhado, pelo compromisso com o que acreditam e defendem: uma educação de qualidade, ainda que em um contexto imerso e definido por desafios.

Às Profas. Eliana Guerra, Ilka e Erlenia, que compuseram a minha banca de qualificação e a de defesa desta dissertação, por somarem conosco, pela disponibilidade e cuidado na leitura do meu trabalho, pelas grandes e valiosas contribuições na sua produção.

Às assistentes sociais participantes desta pesquisa, pela confiança, pela abertura e partilha na produção do conhecimento. Os resultados deste estudo

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A Maria Santíssima, minha mãe e intercessora, pelos cuidados, pelo colo, pela proteção e amor. Que alegria ser tua!

Por fim, e não por último, porque é a essência e início de tudo, ao meu Deus, meu Mestre, pela força, por tomar em suas mãos as minhas dificuldades, medos e angústias, transformando-os em fé, por me lembrar de que nunca caminharei sozinha, por me convencer de seu amor e de que “tudo posso Naquele que me fortalece”.

Foram vocês a força que me impulsionou a chegar aqui. Por tudo o que significaram nessa caminhada e pelo que representam em minha vida, minha gratidão e meu abraço!

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particularidade da assistência estudantil. Parte-se do pressuposto de que, enquanto trabalhador assalariado, o profissional de Serviço Social não está imune aos rebatimentos das transformações societárias e de suas implicações sobre a classe trabalhadora, dentre as quais a precarização. Tomando como lócus de pesquisa as Instituições Federais de Educação (IFEs) do município de Natal/RN, tem por objetivo analisar os determinantes e as formas através das quais a precarização se expressa no trabalho profissional na educação, no contexto de ampliação do espaço ocupacional na assistência aos estudantes. Alicerçada no método crítico dialético, buscou problematizar, a partir da expansão do ensino superior no Brasil, notadamente a partir da primeira década do século XXI, os elementos que contribuíram para a ampliação do mercado profissional e as condições sob as quais essa ampliação tem sido materializada. Como forma de subsidiar as análises teórico-metodológicas, foram realizadas a pesquisa de campo, por meio de entrevistas semi-estruturadas com assistentes sociais inseridas nas IFEs, a revisão bibliográfica, que acompanhou todo o processo de realização deste estudo, e a pesquisa documental, que envolveu, dentre outros, a análise de documentos relativos às instituições pesquisadas. As reflexões tecidas permitiram apreender que, ainda que guardadas especificidades, o trabalho do assistente social nas IFEs é atravessado pela precarização, que se torna estrutural no capitalismo contemporâneo, expressando-se nesses espaços, dentre outras formas, na sobrecarga, na elevação do ritmo e intensidade do trabalho, na extensão da jornada e na cobrança por resultados imediatos; sofrendo ainda os rebatimentos da assistência estudantil como política seletiva e focalizada. Atravessando o trabalho profissional, reflete não só no desenvolvimento das atividades, mas também nas próprias assistentes sociais, provocando, além do desgaste físico e emocional, o seu adoecimento. Tal realidade, definida pela precarização objetiva e subjetiva do trabalho, desafia as profissionais a buscarem estratégias para enfrentá-la, materializadas no cotidiano de sua prática na denúncia e resistência à superexploração de sua força de trabalho e na luta pela assistência estudantil como elemento indispensável à concretização do direito à educação.

Palavras-chave: Serviço Social. Educação. Ampliação do espaço ocupacional.

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student assistance. In assumption that as a paid employee, a social worker professional is not immune of society transformation and its implications over the working class, among them it is the precariousness. Taking as the research place the federal institutions of education (IFEs) of Natal/RN, this work will analyze the determinant factors and the forms through which the precariousness express itself in the professional educational work, in the context of amplification of the occupational space in the students assistance. Based on the dialectical critical method, sought to problematize, from the expansion of college education in Brazil, noticeably since the first decade of the 21st century, the elements that contributed for the extension of the professional market and the conditions under which this extension have been materialized. As a way of supporting the theoretical methodological analysis, a field research was held through semi-structured interviews with social workers in the federal institutions, a bibliographic review that followed all the process of this study; and the documentary research that included, among other things, the analysis of documents related to the researched institutions. The reflections allowed us to learn that although stored specificities the work of a social worker in the federal institutions is crossed with precariousness which becomes structural in the modern capitalism, expressing itself in these spaces, among other things, in the overload, in the increase of rhythm and intensity of work, in the extension of work hours and in the demand of instant results; still suffering the refutations of the student assistance as a focused and selective policy. Trespassing the professional work reflects not only on the development of activities, but also on the social workers themselves, creating besides of physical and mental, wear their illness. Such reality defined by objective and subjective precariousness of work challenges the professionals to search for strategies to face it materialized in the daily life of their practice in resistance of overexploitation of their work force and in the fight of student assistance as a crucial element to the concretization of the right to education.

Keywords: Social Work. Education. Amplification of occupational space. Social

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CEFET: Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica; CERES: Centro de Ensino Superior do Seridó;

CFESS: Conselho Federal de Serviço Social; CLT: Consolidação das Leis do Trabalho; CONSAD: Conselho de Administração;

CRESS: Conselho Regional de Serviço Social; DEPEN: Departamento Penitenciário Nacional; EaD: Educação a Distância;

EBSERH: Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares; ETFRN: Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte; FACISA: Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi; FIES: Fundo de Financiamento Estudantil;

FONAPRACE: Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis;

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; IES: Instituições de Educação Superior;

IFEs: Instituições Federais de Educação;

IFRN: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte; INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;

MEC: Ministério da Educação;

PEC: Proposta de Emenda à Constituição;

PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios; PNAES: Programa Nacional de Assistência Estudantil;

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PROAE: Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis; PROUNI: Programa Universidade para Todos;

REUNI: Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais;

SIGAA: Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas; SINAES: Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior; UAB: Universidade Aberta do Brasil;

UFERSA: Universidade Federal Rural do Semi-Árido; UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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1. INTRODUÇÃO... 13

2. SERVIÇO SOCIAL, PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO OCUPACIONAL NA EDUCAÇÃO... 28

2.1. A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: implicações para a classe trabalhadora e para o assistente social como trabalhador assalariado... 28

2.2. A EXPANSÃO DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE EDUCAÇÃO E A AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO OCUPACIONAL PARA O ASSISTENTE SOCIAL: elementos para a análise do trabalho profissional na assistência estudantil... 50

3. A PRECARIZAÇÃO E SUAS EXPRESSÕES NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN: análise das condições e relações de trabalho na assistência estudantil e estratégias de enfrentamento... 76

3.1. A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO: expressões e implicações no fazer profissional no espaço da assistência estudantil... 76

3.2. ASSISTENTE SOCIAL / TRABALHADOR ASSALARIADO: os efeitos do trabalho precarizado sobre as profissionais e as estratégias de enfrentamento... 93

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 103

REFERÊNCIAS... 106

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1. INTRODUÇÃO

A cena contemporânea envolta por transformações societárias, que trazem implicações para o conjunto dos trabalhadores, convida a refletir sobre a realidade do assistente social como trabalhador assalariado, sofrendo, portanto, os mesmos dilemas que a classe trabalhadora na sociedade capitalista, dentre os quais a precarização. Nesse sentido, a reflexão sobre o trabalho desse profissional nos diversos espaços em que se insere, dentre os quais os espaços que implementam a política de educação, não pode se dar sem que se considere tais transformações. Isto porque o Serviço Social se configura e se reconfigura na dinâmica da sociedade burguesa, resultante das macros-determinações sociais, econômicas, ideopolíticas, terreno sócio-histórico em que transita e se exerce em diferentes espaços ocupacionais, enquanto profissão inserida na e a partir da divisão social e técnica do trabalho, como uma das especializações do trabalho coletivo (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014).

Parte-se do entendimento que as transformações operadas no mundo do trabalho e no âmbito do Estado rebatem de forma direta na profissão de Serviço Social, expressando-se nas condições e relações de trabalho dos assistentes sociais, refletindo em suas competências e atribuições, nas respostas às demandas que lhes são postas e, consequentemente, na qualidade dos serviços prestados. São profissionais que vendem sua força de trabalho, a qual assume um valor de uso no espaço institucional, passando a ser consumida como instrumento útil a serviço dos interesses da instituição contratante.

Considerando a existência de diferentes processos de trabalho nos quais se inscrevem, particulariza-se, neste estudo, o processo de trabalho no âmbito do Estado, na especificidade das Instituições Federais de Educação (IFEs), estando o fazer do assistente social, em uma perspectiva teleológica, orientado para a defesa do direito à educação e das condições indispensáveis a sua concretização, viabilizadas no âmbito dessas instituições e pela mediação de sua atividade profissional, por meio da assistência estudantil1.

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Como um trabalho especializado, expresso sob a forma de serviços, o Serviço Social é, de modo geral, apreendido como um trabalho improdutivo, já que os produtos de seu trabalho (contribui na reprodução da força de trabalho e no processo de reprodução sociopolítica e ídeo-política dos indivíduos sociais, conforme Iamamoto (2014)), não resultam diretamente na criação de mais-valia, de valorização do capital. Vale destacar, porém, que a atividade profissional do assistente social pode

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O interesse pela discussão do trabalho do assistente social na educação é fruto de um processo de amadurecimento iniciado ainda na graduação em Serviço Social, despertado por duas singulares e ricas experiências: o estágio curricular obrigatório, realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) Campus Cidade Alta, e a vivência da iniciação científica, que me permitiu um contato mais direto com essa discussão e com a precarização como elemento também presente no trabalho desse profissional2.

O aspecto generalista, característico da formação em Serviço Social, possibilita um amplo olhar por parte de seus profissionais sobre os diversos espaços em que pode ser materializado o seu trabalho, tornando possível, a partir das experiências de cada um, o adensamento e aprofundamento do conhecimento em determinadas áreas. No caso particular da minha experiência, a curiosidade foi convertida em força impulsora para leituras e reflexões sobre o trabalho do assistente social na educação.

Estando o trabalho profissional, no IFRN, vinculado, sobretudo, ao desenvolvimento de atividades junto aos estudantes, mediadas pela política de assistência estudantil, o estágio possibilitou o conhecimento e a aproximação com as principais demandas postas aos assistentes sociais, com as suas competências e atribuições neste espaço, bem como com os desafios que atravessam o seu cotidiano e as estratégias, necessárias, possíveis e urgentes de serem construídas, no contexto da atual sociabilidade capitalista, na perspectiva de consolidar o acesso, a permanência e o êxito na educação. Foi no sentido de análise dessas demandas e com a finalidade de identificar e problematizar os desafios e as estratégias que atravessam e envolvem a efetivação do direito à assistência estudantil e o exercício assumir diferentes significados na relação com o processo de produção ou de redistribuição da mais-valia, a depender dos processos de trabalho nos quais se insere. No espaço de uma empresa capitalista, por exemplo, o assistente social como parte de um trabalho coletivo não produzirá diretamente riqueza, mas, juntamente com outros trabalhadores, estabelecerá as condições necessárias para que esse processo seja possível. É diferente do que acontece no âmbito do Estado, em que o assistente social, inserido na prestação dos serviços sociais, exerce a sua atividade profissional no sentido de redistribuição de parte da mais-valia via fundo público por meio das políticas sociais. O resultado da atividade desenvolvida por esse profissional depende, portanto, das características particulares dos diferentes processos de trabalho em que se insere.

2

Como aluna de iniciação científica, com o plano de trabalho “A inserção do assistente social no mercado de trabalho: a precarização nas condições e relações de trabalho nos espaços sócio ocupacionais”, pude me aproximar de problematizações acerca da intensificação da precarização do trabalho como consequência das estratégias adotadas pelo capital no enfrentamento a sua crise estrutural iniciada nos anos 1970. A investigação realizada permitiu identificar nos baixos salários, na extensa jornada de trabalho, na terceirização e na desregulamentação dos direitos trabalhistas e sociais formas contemporâneas de precarização que também atingem o assistente social em sua condição de trabalhador assalariado.

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profissional do assistente social nesse espaço institucional que se deu o meu Trabalho de Conclusão de Curso.

Os resultados da pesquisa realizada naquele momento, junto a profissionais de Serviço Social inseridas nos campi do IFRN, permitiu identificar, dentre outros desafios, a insuficiência de recursos para atendimento às demandas dos estudantes, resultando em uma assistência estudantil focalizada e seletiva; o número limitado de assistentes sociais para dar respostas às inúmeras e variadas demandas, culminando no desafio em acompanhar, de forma efetiva, por meio da capacidade/tempo/atividades, os discentes assistidos pelos programas dessa política e na dificuldade em ultrapassar o trabalho restrito às análises socioeconômicas e seleção dos estudantes para acesso aos programas que dela derivam. Tais condições objetivas têm sufocado as possibilidades da atuação do assistente social nesse espaço, sobretudo, no que diz respeito às respostas profissionais.

Ao se expressarem no espaço da educação, esses desafios convidam a uma análise do trabalho profissional, de suas atuais configurações, das tensões que o atravessam, de suas características e das reais condições sob as quais tem sido materializado; condições estas que acabam por refletir na forma de condução das atividades e nos serviços prestados.

Analisar a educação como espaço ocupacional para o assistente social pressupõe considerá-la no contexto da sociedade capitalista, na qual ela transita e se exerce, sendo, portanto, passível a incorporação de rebatimentos e características dessa sociabilidade. Com efeito, por não constituir espaço isolado da vida social, as instituições de educação têm sido atravessadas pela questão social, base sócio-histórica e matéria de intervenção desse profissional na realidade. Questão social (e suas expressões) definida por Iamamoto (2001) como o conjunto das desigualdades sociais engendradas no seio da sociedade capitalista, resultante da contradição capital/trabalho, da produção social da riqueza e da apropriação privada de seus resultados. Questão social que deve ser apreendida como indissociável/produto da sociedade capitalista, criadora de um contexto de desigualdade e exploração em que aqueles que produzem a riqueza social, por meio do trabalho, se veem privados de seus resultados.

Intrínseca à sociedade capitalista e, portanto, presente em todos os espaços da vida social sob o capitalismo, a questão social, em suas diversificadas

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expressões, tem se manifestado no âmbito escolar, dentre outras formas, na ampliação da desigualdade, da pobreza e da miséria, na drogadição, nas disparidades de gênero, na violência, no preconceito e na discriminação, que se apresentam de maneira mais intensificada em decorrência das transformações no atual contexto da sociedade brasileira. As instituições de educação não constituem, portanto, ilhas sociais, espaços cuja dinâmica e organização sejam forjadas sem a interferência e implicação dos processos mais gerais ocorridos em sociedade (CFESS, 2011).

Nessa perspectiva, inseridas na totalidade dos processos sociais, e marcadas por problemáticas que atravessam o cotidiano de seus estudantes, as instituições de ensino passam a demandar a força de trabalho do assistente social como uma das especialidades capaz de formular respostas e atuar no enfrentamento dessa realidade atravessada por expressões da questão social e por seu agravamento na cena contemporânea.

A requisição por profissionais como os assistentes sociais no âmbito da política de educação é reveladora não apenas da presença da questão social nos seus diferentes espaços, mas também de um contexto em que apenas os professores já não podem e não conseguem dar conta da complexidade de questões que envolvem o cotidiano escolar. Concordando com essa assertiva, Almeida (2005) salienta que o enfrentamento dessa complexa realidade não é competência exclusiva de nenhum profissional.

Por não constituir competência de uma categoria profissional, o enfrentamento das expressões da questão social manifestas na educação tem demandado a presença de equipes interprofissionais3, nas quais se inserem os assistentes sociais. Como parte desse processo coletivo de trabalho, cujo produto é resultado de um trabalho cooperativo4, os profissionais de Serviço Social, conforme Iamamoto (2002), mesmo desenvolvendo atividades partilhadas com outras profissões, dispõem de seus próprios ângulos de observação na interpretação dos mesmos processos sociais e de competência também distinta no encaminhamento das ações.

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Ao encontrarem no trabalho integrado e coletivo o centro de sua ação, a equipe interprofissional é aqui compreendida com base na troca de saberes, na articulação das diferentes habilidades no enfrentamento a uma dada realidade, reservadas as particularidades de cada profissão.

4 De acordo com Marx (1985, p.374), a cooperação constitui “a forma de trabalho em que muitos

trabalham juntos, de acordo com um plano, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas conexos”.

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É por meio das diferentes habilidades, dos diferentes olhares acerca da leitura e interpretação da questão social, que a equipe desenvolve competência para enfrentá-la em sua totalidade. Isso significa dizer que o trabalho em equipe não dilui as particularidades de cada profissão, mas, de modo contrário, abre espaços para que, fazendo uso de suas competências teórico-metodológicas na leitura e interpretação da realidade, os profissionais possam responder, de forma qualificada, às demandas que lhes são postas no cotidiano.

A análise acerca do trabalho do assistente social na educação não pode se dar distanciada também das transformações que incidem sobre essa política nos últimos anos, mais especificamente a partir da abertura do século XXI, e que acabam por demandar uma maior presença desse profissional nos espaços em que é materializada. Nessa direção, é preciso considerar o processo de “democratização5” da educação superior no Brasil, que, imerso em contradições, expressa, além de um movimento de formação de mão de obra para atendimento às necessidades do capital, de massificação da oferta dessa política social como mercadoria, a possibilidade de acesso a esse nível de ensino, também em instituições públicas, por imensa parcela da classe trabalhadora que não tinha acesso a esse direito.

Na discussão dos resultados das transformações na educação superior, particulariza-se a expansão do acesso a esse nível de ensino por meio das IFEs, possibilitada pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e pela expansão e interiorização dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. A ampliação do acesso traz para essas instituições uma nova realidade, definida pela maior heterogeneidade de seu corpo discente, marcado por frágeis condições socioeconômicas, uma vez que não se dá desvinculada das várias problemáticas sociais que atravessam e definem as condições de existência da classe trabalhadora. Desse modo, ao adentrarem o espaço de ensino, os estudantes levam consigo uma série de dificuldades que se

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Temos presente, nesse contexto, uma política de educação associada aos interesses do capital, o qual, por meio de um aparente processo de “democratização”, vem incentivando o seu empresariamento, mediante a privatização interna das universidades públicas e a abertura e diversificação de instituições e cursos na rede privada, conforme orientação do Banco Mundial e de outros organismos internacionais. Isto sob a gestão dos últimos governos brasileiros pós-ditadura militar, que vêm investindo em ações de reformulação do ensino superior no país, desde Collor de Melo (1990-1992) até o Governo Dilma (2011- 2016), chegando aos nossos dias no governo Temer (2017-2018). A discussão relativa ao processo de “democratização” da educação poderá ser encontrada no eixo 2.2 desta Dissertação.

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colocam como entraves a sua permanência na educação, podendo até mesmo inviabilizá-la.

Nesse sentido, tendo por base a questão social, seu agravamento na cena contemporânea e expressões no tecido da vida social, tem-se que somente o acesso à educação não é garantia de sua concretização. É nesse contexto que a assistência aos estudantes ganha centralidade como condição a efetivação desse acesso; o que significa dizer que a expansão realizada, seja através do REUNI ou da explosão no quantitativo de Institutos Federais, tem significado a necessidade de ampliação das condições de permanência. Nessa perspectiva, torna-se possível apreender o significado e a relevância das ações de assistência estudantil, indispensáveis à concretização do direito à educação.

A demanda por ampliação das ações de assistência resulta, como parte de um mesmo processo, na necessidade de contratação de uma série de profissionais especializados, dentre os quais os assistentes sociais, para operarem no planejamento, execução e implementação de programas e projetos. Tais elementos permitem inferir que a expansão das IFEs e a centralidade da assistência aos estudantes, no contexto das transformações que envolvem a sociedade brasileira e que agudizam as expressões da questão social, têm resultado no crescimento do espaço ocupacional para os assistentes sociais na educação.

Com base nesta assertiva, Almeida (2005) destaca alguns elementos importantes que incidem na requisição de profissionais de Serviço Social no espaço educacional, dentre os quais aponta a ampliação e a interiorização da rede federal de educação profissional, as demandas por programas e ações de assistência aos estudantes, a aprovação da política nacional de assistência estudantil e a afirmação do direito à educação de largos contingentes populacionais antes destituídos do acesso a este direito.

A ampliação do espaço ocupacional para o assistente social na educação, além de ser uma consequência direta das transformações no âmbito dessa política, sobretudo no nível superior, que culminam na expansão das IFEs, é também resultado das reivindicações da categoria profissional pelo reconhecimento da inserção nesse espaço enquanto possibilidade de luta pela efetivação do direito à educação. Todavia, apesar de relevante, é necessário considerar que essa ampliação não ocorre sem contradições, sem que sofra os impactos das

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transformações societárias que afetam os trabalhadores e, de modo específico, o assistente social em sua condição de trabalhador assalariado.

Desse modo, na sua problematização é preciso ter claro o processo de crise estrutural do capital, com suas estratégias de superação alicerçadas na reestruturação produtiva, na mundialização do capital e na ofensiva neoliberal, difundido no contexto brasileiro a partir de 1990, e os influxos provocados por tais estratégias sobre a classe trabalhadora, dentre os quais o aprofundamento da precarização do trabalho; revelado como estratégia do capital em sua incessante busca de redução dos custos com a força de trabalho e na crescente subordinação dos trabalhadores.

As implicações desse contexto, expressas na precarização, se expandem, atingindo os diversos segmentos de trabalhadores e os assistentes sociais nos vários espaços em que se inserem, pelas constantes inseguranças resultantes da flexibilização nas formas de ingresso nos espaços institucionais, pelo “fantasma” do desemprego, que assume feições estruturais no capitalismo contemporâneo, pela intensificação do trabalho, resultante das extensas e intensas jornadas e da sobrecarga, bem como pela violação de seus direitos.

Os impactos das transformações produzidas em sociedade sobre o trabalho profissional são ainda agravados pela contrarreforma do Estado. Encontrando no espaço estatal, em suas diversificadas esferas (municipal, estadual e federal), o seu maior empregador, e nas políticas sociais o âmbito privilegiado de sua atuação, o assistente social terá suas condições e relações de trabalho agravadas pela crescente diminuição de recursos direcionados ao financiamento de tais políticas como resultado da ofensiva neoliberal. É por essa realidade que passa a vivenciar no desenvolvimento de suas atividades, com intensidade cada vez maior, a tensão entre a demanda por um determinado serviço/programa e a redução das possibilidades de seu atendimento. Além disso, a precarização das políticas sociais incide, diretamente, na diminuição da realização de concursos públicos, com implicações diretas na forma de inserção nos espaços institucionais, interferindo também na qualidade dos serviços prestados, como decorrência da sobrecarga de trabalho que traz aos profissionais.

A ampliação do espaço ocupacional na educação se dá, portanto, em um contexto de metamorfoses no mundo do trabalho, de contrarreforma do Estado, de reordenamento de suas ações e de ajustes e cortes na área social, que incidem, de

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forma direta, sobre as relações e condições de trabalho dos profissionais de Serviço Social e sobre o seu fazer. Com base em tais problematizações, parte-se do pressuposto de que, embora apresentem uma maior estabilidade e segurança no emprego, por se tratarem de profissionais com vínculo de trabalho estatutário, cuja inserção no espaço institucional é realizada por meio de concurso público, os assistentes sociais inseridos nas IFEs também enfrentam à precarização do trabalho resultante dessas transformações.

Tais reflexões conduziram ao seguinte problema de pesquisa: considerando ser o assistente social trabalhador assalariado, não podendo, por isso, estar isento às determinações e inflexões do capital, quais as formas por meio das quais a precarização se expressa em seu trabalho no âmbito das IFEs, tendo em vista a ampliação do espaço ocupacional no contexto das transformações societárias?

Na perspectiva de dar resposta a essa indagação, o objetivo principal desta pesquisa está em analisar os determinantes e as formas por meio das quais a precarização se expressa no trabalho do assistente social na educação, no contexto de ampliação do espaço ocupacional na particularidade da assistência estudantil. Para o seu alcance, definiu-se como objetivos específicos analisar as condições objetivas e subjetivas do trabalho do assistente social, demarcando as expressões da precarização nesse espaço ocupacional; analisar as implicações das expressões da precarização nas respostas às demandas dos estudantes, nas competências e atribuições profissionais; e analisar as estratégias tecidas pelos profissionais de Serviço Social no enfrentamento à precarização do trabalho na assistência estudantil.

Considerando o objeto deste estudo, qual seja, o trabalho do assistente social na educação, no contexto de ampliação do espaço ocupacional na assistência aos estudantes e de precarização do trabalho e das políticas sociais, como parte de uma totalidade concreta e complexa que é a sociabilidade capitalista, tomam-se as abstrações que o envolvem, indispensáveis ao processo de investigação, como mediação necessária ao desvelamento de suas determinações.

Nesse sentido, na busca de tornar esse objeto conhecido, tendo por base os princípios do pensamento crítico, foi adotado como método o materialismo histórico-dialético, de modo a se partir da aparência, como um nível que não pode ser descartado, visando, porém, ir além desta, de modo a se chegar à essência do objeto investigado, como forma de dar resposta as indagações que deram origem ao

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problema de pesquisa. Esse método tornou possível a problematização da realidade da qual o objeto faz parte, das relações que o configuram, permitindo, assim, capturar a sua estrutura e dinâmica. De outra maneira, constituiu base para problematizar a expansão do espaço ocupacional para o assistente social na assistência estudantil, permitindo apreender as condições que dão sustentação a essa ampliação e as formas por meio das quais a precarização se expressa no trabalho profissional.

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, aplicada, conforme Minayo (2013), ao estudo das histórias, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, resultado das interpretações que os homens fazem da forma como vivem, sentem e pensam. A opção por essa abordagem se deu, justamente, por considerar as apreensões dos sujeitos acerca de sua realidade, das experiências que vivenciam. Deve-se ressaltar, porém, que a ela foram associados elementos quantitativos, indispensáveis à análise e problematização dos resultados. As informações e os dados sobre os quais se estrutura foram colhidos nas Instituições Federais de Educação Superior do município de Natal/RN, lócus de sua realização: a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o IFRN.

Instalada em Natal/RN em 1958 e federalizada em 1960, a UFRN está presente em três mesorregiões do estado do Rio Grande do Norte. Na mesorregião Leste Potiguar, representada pelo Campus Central, na capital, e pela Escola Agrícola de Jundiaí, em Macaíba; na Central Potiguar, pelos Centros de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus Caicó e Currais Novos; e na mesorregião Agreste Potiguar, na qual está localizada a Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA), em Santa Cruz.

No que se refere ao IFRN, a sua história tem início em 1967, quando a antiga Escola Industrial de Natal é transferida para as instalações do atual Campus Central6. Constituía, até a inauguração da primeira Unidade Descentralizada da Escola Industrial, em 1994, na cidade de Mossoró/RN, a única sede da Instituição. Com a política de expansão e interiorização da Rede Federal de Educação

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A Escola Industrial de Natal é transformada, em 1965, em Escola Industrial Federal do Rio Grande do Norte, sendo denominada, em 1968, Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN). Em 1999, a Escola Técnica é transformada em Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica (CEFET-RN) e, em 2008, através da Lei n° 11.892/2008, em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN), denominação que recebe hoje.

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Profissional e Tecnológica, no Brasil, o IFRN chega a vários municípios do Rio Grande do Norte, permitindo registrar, já em 2015, a existência de seus 21 (vinte e um) Campi (sendo 01 (um) de educação a distância), distribuídos em todo o território potiguar. Está presente na mesorregião Leste Potiguar por meio dos Campi Central, Cidade Alta, Zona Norte, Parnamirim, Canguaretama, Ceará-Mirim e São Gonçalo do Amarante; na mesorregião Agreste Potiguar pelos Campi João Câmara, Nova Cruz, Santa Cruz e São Paulo do Potengi; na Central Potiguar por meio dos Campi Caicó, Currais Novos, Macau, Lajes e Parelhas e na Oeste Potiguar pelos Campi Ipanguaçu, Apodi, Pau dos Ferros e Mossoró.

O recorte territorial desta pesquisa abrange IFEs da mesorregião Leste Potiguar, uma vez que foi desenvolvida no Campus Central da UFRN e nos Campi Zona Norte, Cidade Alta e Central do IFRN; todos localizados em Natal/RN. A escolha por esses espaços justifica-se por se tratar daqueles que concentram o maior número de estudantes, como resultado do processo de expansão dessas instituições nos últimos anos, e, consequentemente, de assistentes sociais para atendimento as suas demandas.

No Campus Central da UFRN, compõe o quadro de técnicos administrativos em educação na assistência estudantil 06 (seis) profissionais de Serviço Social. No IFRN, na particularidade do Campus Cidade Alta, 02 (dois) profissionais; no Campus Central, 05 (cinco); e no Zona Norte, 02 (dois) assistentes sociais.

Considerando o universo apresentado, de 15 (quinze) assistentes sociais atuando na assistência aos estudantes no espaço dessas instituições, foi definida uma amostra de 08 (oito) profissionais, sendo 03 (três) da UFRN e 05 (cinco) do IFRN, 02 (dois) destes últimos do Campus Central, 02 (dois) do Cidade Alta, tendo em vista estar o Campus dividido em dois espaços, um na Avenida Rio Branco e outro na Comunidade das Rocas, e 01 (um) do Campus Zona Norte. A definição do quantitativo de entrevistas por instituições pesquisadas deu-se de modo a realizar um maior número naquelas que concentram mais profissionais de Serviço Social e estudantes.

Dentre alguns resultados iniciais, pode-se apontar que todas as assistentes sociais participantes desta pesquisa são do sexo feminino7, acompanhando a tendência histórica da profissão no Brasil, composta majoritariamente por mulheres.

7

Considerando ser a amostra composta apenas por assistentes sociais mulheres, serão utilizadas as formas nominais no feminino quando na referência aos sujeitos desta pesquisa.

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São profissionais, em sua maioria, com idade entre 31 e 50 anos, apresentando até 12 anos de formação em Serviço Social. Todas com algum tipo de pós-graduação

lato ou stricto sensu.

Dado relevante a se ressaltar, no que se refere à formação das profissionais, é que todas advêm de instituição de educação pública, aqui representada, em sua totalidade, pela UFRN. Sobre a modalidade de ensino, apesar da expansão desenfreada da Educação a Distância no curso de Serviço Social, registrando uma ampliação de 21.581 (vinte e uma mil, quinhentas e oitenta e uma) matrículas entre os anos de 2010 e 2016, conforme dados do INEP (2017), todas as assistentes sociais realizaram o curso de forma presencial.

Como mecanismo para a coleta desses e de outros dados problematizados no decorrer deste estudo, foi utilizada a entrevista semi-estruturada. Para Minayo (1994), esta técnica não constitui uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se caracteriza como um meio de coleta de fatos relatados por atores, sujeitos objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo analisada. A entrevista possui um propósito definido, que permite a apreensão de elementos do problema estudado por meio dos entrevistados, bem como a percepção e compreensão destes acerca dos aspectos que o determinam. Na entrevista semi-estruturada, definida pela combinação de perguntas abertas e fechadas, o participante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em análise, uma vez que ela, apesar de orientada por um roteiro, não apresenta uma estrutura rígida.

Nessa direção, esta técnica possibilitou o aprofundamento das problematizações acerca do objeto, a partir da interação direta entre pesquisadora e pesquisadas. Com o consentimento das participantes, as entrevistas foram gravadas, sendo preservado o sigilo das informações. Como forma de complementar esta técnica, a observação também foi utilizada como fonte para a coleta de dados, o que foi possível pela realização das entrevistas nos locais em que as assistentes sociais desenvolvem o seu trabalho profissional. Procurou-se observar, dentre outros elementos, a dinâmica do espaço ocupacional, o fluxo das demandas e a busca dos estudantes pelo Serviço Social.

Realizadas as entrevistas, procedeu-se a sua análise, estabelecendo as mediações necessárias com as bases teórico-metodológicas que orientam a discussão desenvolvida. Neste processo, foi adotada a análise de conteúdo,

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designada por Bardin (1977) como o conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens, indicadores que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. A relevância desta técnica está, assim, em permitir uma análise aprofundada das falas dos entrevistados, de modo a tornar conhecidos os significados e determinações que carregam.

Nas instituições em que fossem entrevistadas mais de uma assistente social, foi proposto, inicialmente, a realização de pelo menos uma entrevista com uma profissional que estivesse a mais tempo na instituição e com outra que a ocupasse mais recentemente, de modo que se pudesse estabelecer uma comparação entre as informações dadas pelas profissionais que desenvolvem a sua atividade nas IFEs antes da expansão e as prestadas por aquelas que adentraram os seus espaços após essa realidade. Procedendo dessa maneira, seria possível apreender o modo como percebem a ampliação no quantitativo de assistentes sociais em concomitância com o aumento das demandas e da quantidade de trabalho, considerando a também expansão no número de discentes nessas instituições. Todavia, não foi possível proceder desta maneira, tendo em vista a particularidade das próprias IFEs no que diz respeito ao número de profissionais de Serviço Social em atividade no momento de realização da pesquisa empírica.

Tal comparativo seria possível, sobretudo, no Campus Central da UFRN e no Campus Central do IFRN. Quando da realização desta pesquisa, porém, havia, na primeira instituição, das assistentes sociais que têm seu trabalho ligado diretamente à assistência estudantil, apenas 03 (três) em exercício, todas com inserção após 2011. Na particularidade do Instituto Federal, a situação era ainda bem mais complexa, pois o Campus apresentava apenas 01 (uma) profissional de seu quadro permanente em atividade8. A realização das duas entrevistas nesse espaço só foi possível pela cooperação mantida com o Campus São Paulo do Potengi. Essa cooperação pode ser entendida como o desenvolvimento das atividades profissionais, ao menos duas vezes por semana, por parte das assistentes sociais lotadas neste Campus, no IFRN Central. Resulta, conforme as

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Quando na referência às assistentes sociais do quadro permanente do IFRN, consideram-se, nesta pesquisa, apenas as que desenvolvem o seu trabalho profissional no contato direto com os estudantes, respondendo, pela mediação de seu trabalho, às demandas relativas à assistência estudantil.

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entrevistadas, de uma necessidade deste último Campus, em decorrência da grande demanda de trabalho e do número insuficiente de profissionais de Serviço Social para dar resposta a esta.

Considerando a cooperação entre os campi e tendo em vista a disponibilidade e interesse da assistente social, além de suas possíveis contribuições para que se pudesse compreender os aspectos que se colocam por trás deste processo, optou-se pela sua participação, sendo ela considerada, nesta pesquisa, como pertencente ao quadro profissional do Campus Central do IFRN.

Ressalta-se que, sendo esta uma pesquisa que envolve seres humanos, a sua realização se deu em conformidade com as Resoluções do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012, que estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras das pesquisas com seres humanos, e nº 510/2016, que dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados obtidos diretamente com os participantes. Foi desenvolvida, portanto, observando os cuidados necessários e recomendados por estas resoluções, assegurando às participantes confidencialidade e garantia do resguardo das informações prestadas.

Tendo por base o percurso indicado, a realização deste estudo compreendeu quatro momentos intimamente articulados. O primeiro foi definido pela revisão bibliográfica, que acompanhou todo o processo de desenvolvimento desta pesquisa, com a finalidade de aprofundamento das discussões acerca do objeto estudado. Contribuíram nesse processo de revisão estudos como os de Alves (2007 e 2016), Antunes (2005 e 2010), Carvalho (2014), Druck (2011 e 2013), Guerra (2005), Iamamoto (2015), Mota (2012), Netto (2005), Raichelis (2011), Mészáros (2008), Pereira (2006), Tonet (2012) e outros.

Esse momento envolveu também a pesquisa documental, que permitiu, dentre outros elementos, o contato e conhecimento com os dados relativos ao processo de expansão da educação superior no Brasil e nas IFEs participantes deste estudo, por meio de Relatórios de Gestão dessas instituições, do Decreto nº 6.096/2007, que instituiu o REUNI, da Lei nº 11.892/2008, que cria os Institutos Federais, e de documentos elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), a exemplo das Sinopses Estatísticas da Educação Superior e dos Censos relativos a esse nível de ensino. Além desses documentos, é preciso mencionar ainda aqueles expressivos da

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legislação social, tais como o Decreto que instituiu o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e outros.

O segundo momento foi reservado à pesquisa empírica, à realização das entrevistas nas instituições, lócus de trabalho das assistentes sociais, para coleta dos dados. O terceiro foi definido pelo processo de análise das informações colhidas, como forma de problematizá-las, de confrontá-las com as indagações iniciais do processo de investigação, procedendo à definição dos eixos e categorias a serem analisadas. Por fim, o quarto momento indica o método de exposição, a construção deste trabalho dissertativo.

As questões e análises demarcadas na realização desta pesquisa, traçadas com base no percurso indicado, constituem pressupostos fundamentais à problematização do trabalho do assistente social na educação, ao desvelamento das formas pelas quais a precarização tende a se expressar e a atingir a sua atividade no espaço da assistência estudantil. A relevância deste estudo está, portanto, no voltar o olhar para o Serviço Social e para os seus profissionais, de modo que possibilite apreendê-los imersos na trama das relações sociais, na dinâmica do ordenamento do capital, que, encontrando sustentáculo na exploração do trabalho, torna a precarização um fenômeno estrutural, a atingir todos aqueles que vivem da venda da sua força de trabalho, e que, por isso, não poderia passar à margem dos assistentes sociais inseridos nas IFEs.

Nessa perspectiva, espera-se, com este estudo, contribuir nas reflexões sobre o trabalho profissional, sobre o conhecimento da realidade que o envolve e que desafia, cotidianamente, os assistentes sociais, inclusive a buscarem estratégias para enfrentar e resistir às armadilhas que a ordem social dominante impõe. Assim sendo, este trabalho é constituído, além desta introdução e das considerações finais, por dois capítulos.

No primeiro deles é realizada a discussão da precarização do trabalho na sociedade capitalista, a partir das transformações societárias impulsionadas pela crise estrutural do capital, que, iniciada em 1970 nos países cêntricos, assola, com suas estratégias, a realidade brasileira já na década de 1990. Toma-se a precarização como uma dimensão estrutural e estratégica do capitalismo contemporâneo, que traz consequências devastadoras para a realidade de todos os trabalhadores e também para o assistente social em sua condição de trabalhador assalariado. Na problematização da forma como essa precarização atravessa o

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trabalho profissional, busca-se apreender e discutir as suas implicações sobre as condições e relações de trabalho do assistente social, assim como sobre as políticas sociais como campo e mediação necessária ao desenvolvimento de suas atividades. Ainda nesse capítulo, é realizada a discussão da educação como espaço para o Serviço Social e problematizadas as transformações que atravessam essa política social na cena contemporânea, sobretudo, no ensino superior, instaurando um aparente processo de “democratização”, que guarda, na sua essência, a ampla mercantilização desse direito. Problematizam-se também os mecanismos que determinam a expansão do acesso a esse nível de ensino na esfera pública, por meio das IFEs, e aqueles que resultam na ampliação do espaço ocupacional para os assistentes sociais nessas instituições, sobretudo para atuarem com programas e projetos da assistência estudantil. Tais reflexões são tecidas à luz das transformações societárias que atravessam o mundo do trabalho e o Estado, apontando, por isso, não estar à atividade profissional, nesses espaços, isenta das determinações e implicações da precarização.

No segundo capítulo, é realizada a discussão do trabalho do assistente social nas IFEs do município de Natal/RN, de modo a apontar e problematizar as expressões da precarização que o atravessam e as suas implicações nas respostas as demandas dos estudantes e nas competências e atribuições na assistência estudantil. Discutem-se também os efeitos do trabalho precarizado sobre as assistentes sociais, no que se refere ao adoecimento e ao desgaste físico e emocional que ele provoca. Tendo presente os desafios que a realidade impõe, buscam-se apontar, ainda, as estratégias construídas pelas profissionais na resistência à precarização, como expressão de sua luta por melhores condições de trabalho e pelo direito à educação, que, imerso nas determinações do capital, não prescinde das condições necessárias à permanência dos estudantes nas instituições de ensino para que seja efetivado.

Por fim, são tecidas as considerações finais, que permitem reafirmar, apesar dos desafios, a relevância da ampliação no espaço ocupacional na educação, na especificidade das IFEs, e a necessidade permanente da luta contra as determinações do capital e as suas investidas sobre os trabalhadores, dentre os quais os assistentes sociais, assim como sobre os direitos que arduamente conquistaram.

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2. SERVIÇO SOCIAL, PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO OCUPACIONAL NA EDUCAÇÃO

Problematizar a precarização do trabalho como uma expressão do capitalismo, intensificada na cena contemporânea, afetando toda a classe trabalhadora, constitui eixo de discussão nesta seção. Tal debate embasa a problematização da precarização como aspecto também presente no trabalho do assistente social na educação, no contexto das transformações que atravessam essa política social, sobretudo, no ensino superior, e que resultam, dentre outros elementos, na ampliação do espaço ocupacional na assistência estudantil.

2.1. A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:

implicações para a classe trabalhadora e para o assistente social como trabalhador assalariado

A análise do Serviço Social no processo de produção e reprodução das relações sociais capitalistas é inaugurada na década de 1980, a partir das contribuições de Iamamoto e Carvalho (1982). As reflexões realizadas, alicerçadas na teoria social de Marx, particularizaram a sua inserção na divisão social e técnica do trabalho e permitiram identificar o assistente social como trabalhador assalariado, provocando avanços na interpretação da profissão e em seu significado social.

A sua institucionalização como profissão se dá no contexto do capitalismo monopolista, quando a questão social, em suas diversificadas manifestações, ganha expressividade no cenário social, exigindo a intervenção do Estado no seu enfrentamento. A profissionalização do Serviço Social está relacionada, portanto, a uma progressiva ação estatal na vida social, a partir do ingresso da classe trabalhadora no cenário político, em sua luta por melhores condições de existência, momento em que as políticas sociais passam a constituir estratégias da burguesia no enfrentamento aquela questão. De outro modo, é somente na ordem monopólica que se gestam as condições histórico-sociais que estabelecem as bases para a fundamentação de um espaço profissional em que se possa mover a prática do assistente social (NETTO, 2005).

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O ordenamento do capital, definido em seu estágio monopolista, cria, nesse sentido, um espaço de trabalho para esse profissional, e para o conjunto de outras profissões; espaço este que, tensionado pela luta de classes, expressa a contradição que a institucionalização do Serviço Social carrega, qual seja, a sua necessária decorrência dos interesses e demandas das classes sociais (capitalista e trabalhadora) que se põem como antagônicas no processo produtivo (GUERRA, 2014). A atuação do assistente social se institucionaliza, nessa direção, polarizada por interesses contrapostos, respondendo, pela mesma atividade, tanto a demandas do capital quanto do trabalho, uma vez que intervém nos mecanismos de preservação e controle da força de trabalho e, simultaneamente, dá resposta a necessidades da classe trabalhadora.

O processo por meio do qual a ordem monopolista passa a demandar a força de trabalho do assistente social tem a ver, nesse sentido, com as formas adotadas pelo Estado no enfrentamento às diversas expressões da questão social, materializadas nas políticas sociais. Será, especificamente, na implementação dessas políticas, imersos numa prática de natureza essencialmente executiva, conforme Netto (2005), que esses profissionais irão desenvolver o seu trabalho, no sentido de formular estratégias para responder as necessidades mais imediatas dos segmentos atingidos pelas sequelas da questão social.

Contribuindo para a análise da profissão na ordem monopólica, Netto (2005) aponta que

O caminho da profissionalização do Serviço Social é, na verdade, o processo pelo qual seus agentes – ainda que desenvolvendo uma

auto-representação e um discurso centrados na autonomia dos seus valores e da sua vontade – se inserem em atividades interventivas

cuja dinâmica, organização, recursos e objetivos são determinados para além do seu controle. [...] o agente passa a inscrever-se numa

relação de assalariamento e a significação social do seu fazer passa

a ter um sentido novo na malha da reprodução das relações sociais (NETTO, 2005, p. 71-72; grifos do autor).

O que se quer dizer é que a formação de um mercado de trabalho para o assistente social se dá com todas as implicações que dele decorrem, inclusive com a transformação desse profissional em assalariado, circunscrevendo às condições

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através das quais a sua atividade se insere no processo de mercantilização e, por conseguinte, no reino do valor, no contexto de valorização do capital.

Na definição da força de trabalho do assistente social imersa nesse processo, é preciso retomar a apreensão de que, na sociabilidade capitalista, o que era finalidade básica do ser social, qual seja, a sua realização produtiva e reprodutiva no e pelo trabalho, é transfigurada e transformada. O processo de trabalho é convertido, conforme Antunes (2005), em meio de subsistência, de manutenção da existência física do sujeito que o realiza, e a força de trabalho9 é transformada em mercadoria, realidade da qual o profissional de Serviço Social, como trabalhador assalariado, não se distancia.

A atividade do assistente social é, nesse sentido, definida por uma relação de compra e venda de sua força de trabalho especializada, pressupondo a presença do equivalente geral (dinheiro) que, manifesto no salário, exprime o valor de troca dessa força, tornada mercadoria, e a transformação “[...] de seu trabalho em atividade subordinada à classe capitalista [...]” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014, p.92).

Inserida em um processo de assalariamento, a força de trabalho desse profissional expressa um valor de uso e um valor de troca, conceitos marxistas indispensáveis à problematização da categoria trabalho no capitalismo. É valor de uso na medida em que atende a uma necessidade social, historicamente determinada, que confere a ela a sua razão de ser e de existir, isto é, que a justifica socialmente. Materializada em meio às relações estabelecidas na sociedade capitalista, só é tornada útil pela mediação do mercado de trabalho, que a transforma em mercadoria, passível de ser trocada por um salário, revelando, portanto, o seu valor de troca10. É em decorrência desses processos que se pode

9 De acordo com Marx, a força ou capacidade de trabalho consiste “no conjunto das faculdades

físicas e espirituais que existem na corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez que produz valores de uso de qualquer espécie” (MARX, 1996, p. 285).

10

Na análise dos processos de trabalho na ordem metabólica do capital é necessário considerar o duplo caráter que ele assume, enquanto trabalho concreto e trabalho abstrato. O primeiro, fonte de produção de valores de uso, é condição necessária à formação e existência do ser social, indispensável à vida humana e presente em quaisquer formas de sociabilidade. O segundo, no entanto, se expressa como o seu reverso, como negação desse ser, destinado à produção de valores de troca, à satisfação dos interesses dominantes, próprio da sociabilidade capitalista. Acontece que, nesta sociabilidade, a dimensão abstrata subordina a dimensão concreta do trabalho, sendo a valorização do capital assumida como o principal objetivo a ser alcançado através da produção. A atividade criadora perde, nesse sentido, o seu caráter primeiro de atendimento às necessidades humanas para tornar-se meio de satisfação das necessidades do capital, em um processo em que é inteiramente subsumida por este. Ver a propósito Antunes (2005) e Alves (2007).

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atribuir ao caráter social do trabalho desenvolvido pelo assistente social uma dupla dimensão: a de trabalho concreto e trabalho abstrato11.

Como parte do trabalho coletivo na sociedade, dispondo de uma força de trabalho especializada, conquistada através de formação universitária, o assistente social encontrará na questão social a base para a sua intervenção na realidade. Será esta questão, em suas diversas expressões, na forma como experimentada pelos sujeitos na família, no trabalho, na educação, nos diversos espaços da vida em sociedade, a base fundante do seu trabalho, o objeto sobre o qual incidirá a sua ação. Este profissional encontrará no conhecimento, nas bases teórico-metodológicas que iluminam e direcionam a sua intervenção, conforme Iamamoto (2014), um meio fundamental para a realização de seu trabalho12. O conjunto de conhecimentos e habilidades adquiridos no decorrer de seu processo formativo é, nesse sentido, parte constitutiva do acervo de seus meios de trabalho.

Todavia, a condição de trabalhador assalariado faz com que o assistente social não disponha de todos os meios (recursos humanos, materiais e financeiros) necessários à realização de sua atividade profissional. Estes lhes serão fornecidos pelas instituições empregadoras, que definirão as condições de realização de seu trabalho, as expressões da questão social sobre as quais deverá intervir, bem como suas competências e atribuições13, impondo limites e desafiando a ação profissional

11

Na discussão do caráter concreto e abstrato assumido pela atividade profissional do assistente social, é possível mencionar o debate que vem sendo travado no interior da categoria quanto a sua definição ou não como trabalho. A caracterização da profissão como uma especialização do trabalho no capitalismo é inaugurada, em 1982, por Iamamoto e Carvalho. Alicerçada em Marx, a autora sustenta a tese de que, ainda que não participe, diretamente, do processo produtivo, o Serviço Social é trabalho. Os princípios desta afirmação, contudo, não passam sem contrassensos no interior da categoria profissional. Dentre os principais opositores à tese sustentada por Iamamoto está Sérgio Lessa, que defende que o Serviço Social não pode ser considerado trabalho, porque “não realiza a transformação da natureza nos bens materiais necessários à reprodução social. Não cumpre ele a função mediadora entre os homens e a natureza; pelo contrário, atua nas relações puramente sociais, nas relações entre os homens” (LESSA, 2000, p. 18). Para além das polêmicas que encerra, este debate é expressivo do crescimento da produção teórica no interior da profissão.

12

No processo da formação profissional do assistente social, segundo Guerra (2009), é determinada “a necessidade de um sólido referencial teórico-metodológico, que permita um rigoroso tratamento crítico-analítico, um conjunto de valores e princípios sociocêntricos adequados ao ethos do trabalho e um acervo técnico-instrumental que sirva de referência estratégica para a ação profissional. Daí a necessidade de formar profissionais capazes de desvendar as dimensões constitutivas da chamada questão social, do padrão de intervenção social do Estado nas expressões da questão social, do significado e funcionalidade das ações instrumentais a este padrão, através da pesquisa, a fim de identificar e construir estratégias que venham a orientar e instrumentalizar a ação profissional, permitindo não apenas o atendimento das demandas imediatas e/ou consolidadas, mas sua reconstrução crítica” (GUERRA, 2009, p. 01).

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