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1 URBANIZAÇÃO E MIGRAÇÃO NO PARAGUAI: UMA DINÂMICA

1.2 A questão feminina nos fluxos migratórios no Paraguai

1.2.1 Asunción

Asunción foi fundada em 1537, em torno da baía de Asunción, às margens do Rio Paraguay, e se constituiu historicamente como a origem das cidades no solo paraguaio, de onde partiram contingentes populacionais espanhóis, mestiços e indígenas para fundarem uma série de cidades na América espanhola, justamente por isso, foi denominada de madre de ciudades.

Conforme registro no Atlas (DGEEC, 2004), a cidade de Asunción faz fronteira a noroeste com a região ocidental e ao sul com o território argentino, em frente à confluência dos rios Pilcomayo e Paraguay.

apesar de algumas variantes no transcurso do tempo, desde sua fundação até nossos dias, Asunción é o centro da atividade nacional. Da capital saem as principais resoluções e os projetos dos poderes do Estado, lá se centralizam os bancos, as entidades econômicas, culturais, diplomáticas, sociais, agremiativas e industriais do país (GALEANO, 2004, p. 4, tradução minha).

Como ilustra a figura 03, a AMA, atualmente, integra outros distritos, formando a Gran Asunción. A migração conduziu grande quantidade de pessoas em direção à capital, configurando-se em deslocamentos voltados ao assentamento humano em espaços no entorno do centro, contribuindo para o processo de urbanização e de criação da área do conurbado.

Figura 03 – Área Metropolitana de Asunción

Fonte: https://maps.google.com.br

Destacam-se, a seguir, as cidades que compreendem a AMA. Nela há uma expressiva concentração de população urbana, conforme a tabela 04. Esta tabela apresenta a discriminação da população por gênero.

Tabela 04 - População urbana e rural na Área Metropolitana de Asunción segundo o Censo 2002

Fonte: DGEEC, 2002 Elaboração própria.

Os dados aqui reportados são do censo 2002, o que dificulta uma maior aproximação com a realidade atual. Porém, os dados disponíveis são significativos e permitem uma visão da dinâmica demográfica. Segundo dados mais atuais (2013), Asunción tem uma população de pouco mais de 740 mil habitantes, mas sua área metropolitana atinge 2.068.036 habitantes, sendo a maior aglomeração urbana do Paraguai (OIT; DGEEC, 2013).

No caso de Gran Asunción, o que mais nos interessa é a tendência sempre à maior da população feminina sobre a masculina. Mesmo nos casos em que a população rural masculina se apresenta em quantidade superior, como em Luque, a diferença da presença masculina no ambiente rural não chega a cobrir a discrepância entre homens e mulheres no ambiente urbano, permanecendo, assim, maior o número de mulheres.

População urbana e rural na Área Metropolitana de Asunción. Censo 2002 Homens

urbanos Mulheres urbanas Homens rurais Mulheres rurais homens Total mulheres Total urbano Total Total rural Total Asunción 238.815 273.297 0 0 238.815 273.297 512.112 0 512.112 Luque 84.292 86.694 7.131 7.010 91.423 93.704 170.986 14141 185.127 Fernando de la Mora 53.845 59.715 0 0 53.845 59.715 113.560 0 113.560 San Lorenzo 98.888 105.468 0 0 98.888 105.468 204.356 0 204.356 Lambaré 57.152 62.643 0 0 57.152 62.643 119.795 0 119.795 Mariano Roque Alonso 32.208 33.021 0 0 32.208 33.021 65.229 0 65.229 Ñemby 35.429 36.480 0 0 35.429 36.480 71.909 0 71.909 Capiatá 76.613 77.661 0 0 76.613 77.661 154.274 0 154.274 Limpio 36.643 36.515 0 0 36.643 36.515 73.158 0 73.158 San Antonio 18.819 18.976 0 0 18.819 18.976 37.795 0 37.795 Villa Elisa 25.871 27.295 0 0 25.871 27.295 53.166 0 53.166 Total 758.575 817.765 7.131 7.010 765.706 824.775 1.576.340 14.141 1.590.481

O saldo negativo de 59.069 homens na AMA nos motiva a pensar que esta diferença não se deve apenas aos melindres imponderáveis da natalidade18, mas sim a um conjunto de fatores socioeconômicos que favorecem a chegada e a permanência de mulheres no meio urbano. Podemos considerar como um dos fatores de permanência a maior rapidez na inserção da mulher no mercado de trabalho e como um dos fatores de chegada ou acesso à cidade e também de permanência no espaço urbano a acolhida e o apoio recebido por ONGs, como no caso deste trabalho, o Hogar de Tránsito Santa Librada, onde foram feitas as entrevistas relatadas nesta dissertação.

Estas mulheres chegam a Asunción, estabelecem moradia na área metropolitana, mas as dificuldades financeiras e a especulação imobiliária as empurram para mais longe. A tabela 05 demonstra o deslocamento populacional dentro da área metropolitana.

Tabela 05 – Migração interdepartamental, considerando a moradia nos 5 anos anteriores segundo o Censo 2002

AMA (Área Metropolitana

de Asunción) Imigrantes (interdepartamentais)

Emigrantes (interdepartamentais) Migração líquida Asunción – homens 20.980 37.956 -16.976 Asunción – mulheres 29.475 40.831 -11.356 Luque – homens 7.058 2.805 4.253 Luque – mulheres 7.772 2.832 4.940

Fernando de la Mora – homens 5.255 2.392 2.863

Fernando de la Mora –

mulheres 6.966 2.607 4.359

San Lorenzo – homens 8.684 3.690 4.994

San Lorenzo – mulheres 10.711 3.609 7.102

Lambaré – homens 4.691 2.481 2.210

Lambaré – mulheres 6.401 2.535 3.866

Villa Elisa – homens

Villa Elisa – mulheres 2.518 3.060

753 769

1.765 2.291 Mariano Roque Alonso –

homens 3.560 1.479 2.081

Mariano Roque Alonso –

mulheres 3.855 1.422 2.433 Ñemby – homens 3.444 1.288 2.156 Ñemby – mulheres 3.967 1.332 2.635 Capiatá – homens 6.861 2.560 4.301 Capiatá – mulheres 7.452 2.562 4.890 Limpio – homens 4.332 1.109 3.223 Limpio – mulheres 4.480 1.060 3.420

San Antonio – homens 1.689 287 1.402

San Antonio – mulheres 1.860 231 1.629

Total homens 69.072 56.800 12.272

Total mulheres 85.999 59.790 26.209

Total 155.071 116.590 38.481

Fonte: DGEEC, 2002 Elaboração própria.

Os dados da tabela 05 apresentam um saldo negativo de migrantes para a cidade de Asunción. No entanto, aumentou o número de pessoas na área metropolitana, por exemplo, em Villa Elisa, em Lambaré e em Luque.

Pode-se inferir que o custo de vida no centro da cidade tornou-se mais elevado em relação ao das cidades do entorno, o que motivou a expansão urbana para as “periferias”. Junto a isso, provavelmente, ocorreu uma crescente valorização da propriedade imobiliária impossibilitando às pessoas de baixa renda pagar um aluguel,

o que impulsionou a busca por moradia no entorno da grande cidade, onde o valor do aluguel é mais baixo, resultando, por conseguinte, em novas segregações sociais. Esta mudança de lugar de moradia, muitas vezes implica também mudança de trabalho, que por sua vez resulta em novas configurações nas relações das redes sociofamiliares. Tal fato aparece no depoimento dado por Acácia:

Eu trabalhei seis meses numa casa de família, no centro de Asunción. Eu recebia duzentos e cinquenta mil guaranis por mês (G$ 250.000). Pagava um aluguel de quarenta mil guaranis (G$ 40.000) no início, depois o aluguel passou para setenta mil guaranis (G$ 70.000). Então precisei mudar de residência. Saí e fui morar em Lambaré. Aí precisei sair do trabalho também porque tinha que pagar dois ônibus e o que eu recebia não compensava (ACÁCIA).

Como se pode perceber, a migração urbana-urbana tem impactos econômicos reais que afetam profundamente a escolha de moradia e nas condições de deslocamento para o trabalho. Os dados da tabela 05 referentes à cidade de Asunción revelam o maior número de mulheres entre os migrantes, evidenciando um total de 29.475 mulheres que tem como destino a AMA, enquanto o número de homens é de 20.980. Em suma, chegam à Área Metropolitana de Asunción mais mulheres que homens. Assim, dentro do conjunto de migrantes, a situação das mulheres assume uma importância particular.

É importante sublinhar que, ao se colocar em destaque os aspectos de mobilidade populacional intrínsecos aos processos migratórios, foram usados prioritariamente os dados censitários. Os dados oficiais servem para contextualizar esta pesquisa, pois os mesmos confirmam, no caso em estudo, a presença significativa de mulheres migrantes em Asunción.