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TRANGERACIONALIDADE/ LEGADO FAMILIAR /ADOLESCÊNCIA

5.3 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE

O Ministério da Saúde preconiza que alguns grupos de indivíduos recebam atenção prioritária, culminando em ações, programas e campanhas direcionados aos mesmos. Os adolescentes, assim como idosos, crianças, entre outros, fazem parte deste grupo, sendo alvo de programas como o Programa de Atenção à Saúde do Adolescente (PROSAD).

O PROSAD foi criado pela Portaria do Ministério da Saúde nº 980/GM de 21/12/1989 e, segundo Brasil (2007), fundamenta-se numa política de promoção de saúde, de identificação de grupos de risco, detecção precoce dos agravos com tratamento adequado e reabilitação.Este programa age de acordo com as diretrizes do Sistema Único de Saúde, diretrizes essas que são garantidas pela Constituição Brasileira de 1988, a qual representa um grande avanço para a sociedade brasileira da época, rompendo com a ditadura militar e tendo como princípios norteadores os direitos humanos.

Neste sentido, alguns avanços fazem parte desta constituição, a regulamentação do artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que facilitou o caminho para a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

De acordo com Brasil (2007), tal normativa traz uma importante mudança de paradigma para a proteção da infância e da adolescência. O Estatuto da Criança e do Adolescente reconhece todas as crianças e todos os adolescentes como sujeitos de direitos nas diversas condições sociais e individuais.

Portanto, como afirma Brasil (2007), os adolescentes brasileiros têm, como cidadãos, direito à saúde, e é dever do Estado possibilitar esse acesso de forma

universalizada, hierarquizada e regionalizada, dentro dos preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS).

O ECA ainda possui um capítulo próprio ao direito à saúde, no qual estabelece novas políticas públicas de atendimento para a infância e a juventude, com diretrizes similares a do SUS como descentralização e municipalização do atendimento, controle social, entre outros.

A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente determinam uma política de atenção integral à criança e ao adolescente. Segundo Brasil (2007), no setor Saúde, esse princípio se traduz na obrigatoriedade e priorização de ações e serviços que atendam às suas especificidades e contribuam para o desenvolvimento sadio e harmonioso.

O PROSAD pode ser encarado como uma materialização do que é preconizado, abrangendo áreas prioritárias como o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento, a sexualidade, a saúde bucal, a saúde mental, a saúde reprodutiva, a saúde do escolar adolescente, a prevenção de acidentes, o trabalho cultural, o lazer e o esporte.

De acordo com Brasil (2007), a adolescência e a juventude podem ser consideradas como as oportunidades privilegiadas para se garantir a plena expressão dos potenciais de crescimento e desenvolvimento de cada indivíduo.

Desta forma, é de extrema importância que os profissionais de saúde sigam a política de humanização do atendimento, acolhendo e vinculando, para que seja realizado o acompanhamento destes adolescentes nas unidades de saúde para investigar o crescimento físico, complementar o esquema vacinal, identificar problemas emocionais, contribuir para uma alimentação saudável e prática de exercícios, entre outros.

No contexto da doença crônica, o adolescente deve realizar um acompanhamento mais detalhado, com visitas regulares às unidades básicas de saúde para avaliação do quadro, evolução da doença, etc. Entretanto, alguns casos crônicos possuem períodos mais críticos de exacerbação da dos sintomas e acabam levando à hospitalização.

O que ocorre é que nas unidades hospitalares, muitas vezes, os profissionais priorizam apenas o tratamento do quadro de exacerbação da doença, para que o paciente possa sair da internação, negligenciando algumas áreas prioritárias de atenção como

crescimento e desenvolvimento, sexualidade, saúde mental, saúde reprodutiva, violência e maus tratos, por exemplo.

Assim, realizar o cuidado sob a perspectiva do cuidado, permite que o profissional de saúde preste uma assistência voltada para a integralidade, uma vez que, ao atentar-se para as potencialidades e vulnerabilidades do indivíduo, deve-se enxerga- lo como um todo, o que torna possível a identificação de aspectos objetivos e subjetivos, os quais, inevitavelmente, contemplam as áreas prioritárias de atenção.

Como aponta Lacadée (2011, p. 263) “o corpo do adolescente é o lugar da experiência da falha do saber que leva o sujeito ao exilio, ou seja, a se distanciar da autoridade dos pais, às vezes ao preço de um ato separador”.

Gurski coloca que, desde a psicanálise, sabemos que a adolescência, enquanto Operação psíquica, ocorre na medida em que o sujeito pode fazer a passagem do infantil ao sinthome. Tal passagem se dá quando é possível ao sujeito sair da condiçãõo de “indecisão” (Jerusalinsky, 2004), em geral presente na passagem adolescente, e tomar “nas mãos” a tarefa de encontrar os nomes-do-pai, no plural, “escolhendo” o seu sinto-me e inscrevendo a dimensãõo do novo em sua vida.

Para tratar da constituição psíquica, Lacan diferencia duas instâ ncias: o chamado “pequeno outro”, que seria o semelhante, o parceiro imaginá-rio, e o “Outro” (grande Outro), que ele conceitualiza como a instâ ncia simbó lica – e, portanto, da linguagem – que determina o sujeito, sendo de natureza anterior e exterior a ele; lugar da palavra,

lugar do tesouro dos significantes (ver Lacan, 1954-55/1985, p. 297).

5.3.1 ARTICULANDO ESCUTA À TEORIA

Os adolescentes que entrevistei e a partir dos quais descrevi os relatos das entrevistas tiveram os nome de flores para proteger a identidade e assegurar a não identificação, respeitando o sigilo. O material de estudo objeto desta pesquisa consiste em repensar as dimensões do cuidado e sua complexidade nos adolescentes que nasceram, através da transmissão vertical, com HIV/aids. Como forma de facilitar a comunicação, utilizei a entrevista aberta, realizada individualmente, com algumas questões norteadoras, que além de possibilitar maior liberdade de expressão ao sujeito, possibilita, também, a centralização no foco de interesse deste trabalho, ou seja, o significado do HIV/aids para cada entrevistado. As questões que destaco nas perguntas são: - Dados de identificação (idade, sexo, escolaridade); - Época do conhecimento do diagnóstico para o HIV e se antes já imaginava e o que pensava e sentia sobre isso; - Como e através de quem ficou sabendo sobre sua soropositividade; - Reações frente ao diagnóstico; - Relações familiares, afetivas e sociais antes e após o diagnóstico; - Relação com o tratamento; - Escola; - Projetos futuros. Nenhuma entrevista foi recusada pelos responsáveis e adolescentes.

CAPÍTULO III

6.1 DISTRIBUIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS SÓCIO DEMOGRÁFICAS DOS