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ESTUDOS DE CASO

6.3.3 CASO MAGNÓLIA

Magnólia é uma linda adolescente sorridente de 17 anos. Foi bastante solicita quando abordei ela para participar da entrevista. Expliquei a relevância e o propósito do estudo em que estava realizando e prontamente aceitou.

Perguntei sobre como era conviver com o HIV/Aids, ele disse que soube da doença através da madrasta e relata que não sabe nada sobre sua mãe pois isso “nunca foi dito” nem pela madrasta, ou pelo pai e pela família (sic). Fiquei intrigada sobre ela não saber o paradeiro da sua mãe biológica e consequentemente sobre essa história e me conta que já tentou saber mais sobre a de vida dela, mas seu pai virou morador de rua, é alcoólatra e que ele não gosta de tocar nesse assunto (sic).

Conta-me que é muito difícil conviver com a doença, mas leva a vida como se não a tivesse. Que já passou por algumas internações, pois o pai , ficava muito na rua e não se responsabilizava nos cuidados da medicação. Após se relacionar, com a sua madrasta, as coisas mudaram e ela é bem atuante nesses cuidados. Pergunto com quantos anos soube sobre a revelação do diagnóstico e diz que foi aos seis anos, que sua mãe conversava sobre isso assim como os profissionais do SAE. Pergunto com quem vive atualmente “Eu vivo

com minha madrasta, pois meu pai virou morador de rua, ele é alcoólico... Desde que perdi minha casa... Eu morava no morro do bumba... Aí aconteceu aquela situação e ficamos um tempo no abrigo... Depois conseguimos uma casa e meu pai nos deixou e eu acabei ficando com ela, minha madrasta tem minha guarda. Nós ainda convivemos com meu pai, pois às vezes ele aparece....”

Diz que tem um relacionamento instável com seu namorado e que tem um bebê de dois meses. Pergunto se foi planejada a gestação e conta que se prevenia algumas vezes e que para revelar sobre a sua doença para o namorado foi bastante difícil e que teve a ajuda presencial da mãe para explicar a tal situação. Relata que a mãe sempre a orienta a se prevenir e não contaminar outras pessoas(sic), questionei sobre o fato de fazer sexo sem camisinha, algumas vezes e se de fato acreditava que poderia contaminar seu namorado “ Acredito que posso contaminar, pois as médicas sempre falam... E na escola também sempre fala, sempre tem palestras”. Perguntei sobre a reação do namorado ao saber do seu diagnóstico e respondeu que foi normal (sic). Também perguntei sobre o bebê e disse que está fazendo tudo que é recomendado, desde vir às consultas, dar xarope ao bebê e não amamentar (sic). Questiono como realiza o tratamento em relação a ter que tomar as medicações “Agora estou melhor em relação ao tratamento, tomo todos os remédios, mas é difícil...Eu gosto de sair, mas devido essas coisas nem saio...Nem minha sogra sabe, somente uma das minhas cunhadas soube e poucas pessoas próximas também.” Pergunto se já sofreu algum preconceito “Em relação a família do meu namorado eu não sinto... Eu já sofri preconceito com meu primeiro namorado. Aonde eu moro, rolou um boato que eu tinha...A síndica de lá, aonde atualmente moro, não queria que fossemos para os apartamentos cedidos pela prefeitura, devido a situação do morro do bumba. Minha mãe contou para ela sobre minha situação, para ver se conseguíamos rápido um lugar para viver, pois eu já havia contraído duas vezes pneumonia no abrigo...A síndica contou para alguns moradores do prédio sobre minha situação. E na época a mãe do meu namorado esteve na minha casa para tirar satisfação e levou toda a família, eu na hora estava fazendo macarrão e até grudou todo! Por causa disso, terminamos...Eu não contei a verdade e falei que era mentira. Perguntei como lidou com tudo isso e disse que foi muito difícil e que não é fácil falar com as pessoas sobre isso “As pessoas ainda tem muito preconceito...Mesmo sabendo que não se pega nem tocando as pessoas, ainda se tem muito preconceito...Muita discriminação... É difícil, se me perguntarem eu nem sei o que vou dizer...Se eu terminar com essa pessoa? Eu me sinto estranha. Diferente”.

Pergunto sobre como é ser mãe e se pensa sobre a sua mãe em relação a ter contraído o HIV e diz: “Eu não tenho sentimento ruim...Eu sei que ela passou porque ela quis, porque ela não se preveniu...Sobre meu filho, vai ser difícil contar para ele, é estranho tenho medo dele crescer e de contar e ele falar para alguém. Esse segredo é somente meu não conto para ninguém”. Pergunto sobre o que espera do futuro “Eu queria trabalhar, mas tenho medo de trabalhar e descobrirem meu problema...” Explicou que as empresas e instituições são proibidas de fazerem exames específicos sobre o HIV e se ela pensa em alguma profissão, diz que não sabe. Atualmente está na escola de forma irregular e diz ter muita dificuldade em aprender(sic). Minha última pergunta foi sobre o que ela pensa dos adolescentes que assim como ela convivem com HIV e se teria algo a dizer “ Não sei o que dizer”.

Eu como pesquisadora pensei muito na importância do cuidado e como foi importante a função dessa madrasta na sua história de vida. Como seu investimento a “ salvou” de uma vida tão difícil e demandante. Segundo Boff acerca do cuidado: “Representa uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e envolvimento com o outro; entra na natureza e na constituição do ser humano. O modo de ser cuidado revela de maneira concreta como é ser humano. Sem cuidado, ele deixa de ser humano. Se não receber cuidado desde o nascimento até a morte, o ser humano desestrutura-se, definha, perde sentido e morre. Se, ao largo da vida, não fizer com cuidado tudo que compreender, acabará por prejudicar a si mesmo por destruir o que estiver à sua volta. Por isso o cuidado deve ser entendido na linha da essência humana. ( MAIA APUD BOFF, 2003,p.34).

A entrevista me causou muitas reflexões acerca de questões atrelados a pobreza, pois essa família conseguiu há pouco tempo uma moradia, em relação ao estudo na qual ela frequenta de forma irregular e sobre não ter perspectivas sobre futuro seja na escolha da profissão ou sobre ter algum sonho a realizar.