• Nenhum resultado encontrado

Atendimento de Expectativas Anteriores à Entrada no EMI

3.1 ANÁLISE DO GRUPO FOCAL

3.1.3 Experiências dos Estudantes com o Ensino Médio Integrado

3.1.3.1 Atendimento de Expectativas Anteriores à Entrada no EMI

Quando questionados pela pesquisadora se as suas expectativas anteriores a sua entrada foram atendidas com o tempo, de um modo geral, os

alunos enfatizam o quanto foram surpreendidos positivamente ao iniciarem sua vida escolar no IFNMG – Campus Salinas.

Eu me surpreendi bastante, porque eu faço curso técnico em informática. Pensei que teria apenas um curso básico em informática. Mas quando a gente ingressou aqui no curso a gente descobriu que aqui é bem mais profundo; vem mostrar o início da coisa; é você criar o programa a ser usado, é você criar um sistema a ser disponibilizado a uma pessoa. Então, realmente o curso me surpreendeu principalmente para melhor. Realmente eu não encontrei o que eu procurava, mas encontrei um curso bem melhor do que eu esperava. E eu optei por este curso por ser uma área que eu acredito que é mais ampla em questão profissional, onde eu posso estar usando em qualquer ramo que eu entrar (R, 17 anos, 3ª série).

No meu caso também eu não esperava, sempre ouvia falando que aqui na escola era muito bom; só que eu não esperava que era tão bom assim. Sempre ouvia falar dos cursos técnicos que eram bons. Só que eu não esperava que era tão bom fazer as aulas práticas que a gente faz. Eu também fui muito surpreendida, muito surpreendida mesmo com o ensino daqui, com as atitudes dos professores, com tudo. (I, 18 anos, 3ª série).

Importante ressaltar a fala de um estudante que ressalta o índice de aprovação em vestibulares dos alunos no IFNMG – Campus Salinas:

Como eles já disseram, eu também fiquei muito surpreso, os comentários que a gente ouviu a respeito do ensino foram muito positivos, porque o índice de aprovação em faculdades das pessoas que saem daqui é realmente bom. (G, 17 anos, 2ª série).

Esta afirmativa dá margem ao questionamento que sempre está presente quando se discute quanto às finalidades do EMI. Neste sentido, Oliveira (2009) diz que, ao voltar-se a atenção para o Ensino Médio, especificamente quando se pensa sobre a sua função social, ainda coloca-se em discussão a possibilidade de conjugar-se, nesse nível de ensino, a preparação para o trabalho e a formação para a continuidade dos estudos. Nesta mesma perspectiva, salienta Ciavatta (2005, p. 85)

Como formação humana, o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para leitura do mundo e para atuação como pertencente a um país, integrado dignamente à sua sociedade política. Formação que, nesse sentido, supõe

a compreensão das relações sociais subjacentes a todos os fenômenos. (CIAVATTA, 2005, p. 85)

Ou seja, pensar em EMI é refletir sobre o caráter globalizante que envolve a existência humana. Não cabe mais aqui o discurso conservador de que as escolas técnicas federais estariam formando agora a classe mais abastada para o Ensino Superior e retirando dos desvalidos da sorte a formação profissional que a eles seria inerente. Ainda para Oliveira (2009) superar esse caráter dualista e excludente do Ensino Médio, tendo como referência a construção da escola unitária, é estar atento ao fato de que esse projeto só poderá ser efetivado fora dos limites da sociabilidade capitalista. Como ressalta Kuenzer (2009), para certos sujeitos o Ensino Médio é uma mediação para o mundo do trabalho. Por outro lado, há a expectativa nesses sujeitos de continuidade dos estudos em nível superior. Especialmente o EMI deverá responder ao desafio de atender a estas duas demandas: o acesso ao trabalho e à continuidade dos estudos.

Os estudantes enfatizaram, ainda, em maior ou menor grau, a relação do EMI com o mercado de trabalho. É a perspectiva de formação para o mercado de trabalho competitivo que leva os sujeitos a escolherem o curso que frequentam.

Eu me surpreendi muito com o curso, sei lá, eu esperava o básico, mas com o tempo foi passando, foi aprofundando ainda mais o ensino e as aulas práticas são uma forma muito boa de ensino que ajuda na qualificação. Eu fiquei muito surpresa e não esperava que fosse assim. Eu também me surpreendi porque os professores aprofundam bastante na matéria e com as aulas práticas, além de você estar ali fazendo, você aprende que, no futuro, quando você sair formada daqui, você já pode arrumar um emprego numa indústria. (I, 18 anos, 3ª série).

Guimarães (2008) salienta que os sujeitos aderem, sem questionamentos, ao discurso hegemônico que submete os objetivos pedagógicos aos desígnios do mercado. Nesse processo, afirma-se o caráter competitivo da lógica capitalista, reforçado em tempos de desemprego estrutural. A seleção do mercado é naturalizada e a exclusão se dá, consequentemente, por

deméritos individuais. Assim, cabe aos indivíduos optarem por itinerários formativos que lhes possibilitem maior capacidade produtiva.

A atuação dos professores também foi característica marcante na fala da maioria dos sujeitos pesquisados.

Mas quando a gente chegou aqui, a gente pode notar que a estrutura é bem melhor do que falaram, a qualidade do ensino chega a ser bem melhor do que falaram, os professores são mais capacitados do que a gente esperava. Então essa oportunidade que a gente tem aqui é muito mais do que a gente ficou sabendo antes. (C, 15 anos, 1ª série).

Eu surpreendi com o curso e também com ensino médio, porque os professores, em sua maioria, são realmente interessados em passar para os alunos o conhecimento e em questão da estrutura da escola ainda tem coisa que dá para melhorar, mas em questão do ensino realmente não tenho o que reclamar. (I, 18 anos, 3ª série).

Bom, o curso me surpreendeu tanto na disciplina, quanto no empenho dos professores em formar não só os profissionais; eles empenham em formar profissionais capacitados para desenvolver qualquer tipo de trabalho na área que escolheram. (I, 15 anos, 1ª série).

Eu achei uma grande diferença entre os professores da minha antiga escola e os daqui. Na minha cidade a gente era preocupado com nota. Depois de um tempo que eu vim para cá eu pude perceber que os professores queriam ajudar a gente; se você aprendeu, a nota era o de menos. Aqui eu pude perceber que você tem que aprender; se você aprender, a nota não importa. (P, 17 anos, 3ª série).

O que se evidencia nessas falas é que a ação docente foi preponderante na aprendizagem e na satisfação dos estudantes com o curso.

Quando questionados pela pesquisadora se houve expectativas que não foram atendidas, ouviu-se:

As minhas foram ultrapassadas. Até hoje eu sou surpresa com a escola. De vez em quando acontecem umas coisas que me surpreendem ainda. É estranho falar sobre isso, mas as expectativas ruins que não foram atendidas. (I, 18 anos, 3ª série).

Neste momento, os estudantes foram lembrados pela pesquisadora que poderiam ficar bem à vontade para falar o que pensavam.

Ninguém está aqui representando a gestão; a gente está fazendo a pesquisa mesmo, tá? Não é a voz da gestão ou dos ouvintes da gestão que está aqui. É a servidora/pesquisadora que quer entender acerca desta temática. (Hellen).