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3.1 ANÁLISE DO GRUPO FOCAL

3.1.4 Perspectivas após a Conclusão do Curso

A última questão do grupo focal dizia respeito às expectativas dos alunos após a conclusão do EMI.

Sparta e Gomes (2005, p. 46) entendem que a adolescência é uma fase da vida caracterizada por uma série de mudanças, não só fisiológicas, cognitivas e psicológicas, mas também em relação aos papéis sociais a serem assumidos pelo indivíduo. Entre estes, destaca-se o papel de trabalhador. O jovem brasileiro que chega ao fim do ensino médio é chamado a fazer escolhas profissionais e pode optar pela continuação dos estudos ou pelo ingresso imediato no mundo de trabalho.

Ainda de acordo os autores, o artigo 21 da Lei nº 9.394/96 (Brasil, 1996), que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), mostra que a educação brasileira é composta por dois níveis: 1) educação básica: formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; e 2) educação superior. O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 10.172 (Brasil, 2001a), define a educação profissional como uma modalidade de ensino, paralela ao ensino regular, que abarca três níveis distintos: básico, técnico e tecnológico. Os cursos de graduação são acessíveis a quem termina o ensino médio e se classifica em processo seletivo (Brasil, 1996). De acordo com o artigo 39 da LDB (Brasil, 1996), a educação profissional tem com objetivo a condução a um permanente processo de desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. A educação profissional técnica é de nível médio e pode ser integrada, concomitante ou subseqüente à conclusão do ensino médio regular, do qual depende a diplomação técnica; a educação profissional tecnológica é de nível superior de graduação e pós-graduação e sua regulamentação é regida pela legislação referente à educação superior (BRASIL, 2004a).

Ao jovem é oferecida uma série de possibilidades formativas tanto no campo da Educação Profissional de nível médio como no nível superior. Para Kuenzer (1997, p. 36) é com essa realidade que o Ensino Médio deverá trabalhar, ao estabelecer suas diretrizes curriculares: um imenso contingente de jovens que se diferenciam por condições de existência e perspectivas de futuro desiguais.

Para Corrêa (2005, p. 144) não há como ignorar a grande pressão existente para que a educação escolar continue sendo pensada a partir do mundo da produção, do perfil do novo trabalhador para o atual padrão de acumulação capitalista, da empregabilidade, da crise econômica, etc., como sendo os determinantes sociais e econômicos das propostas pedagógicas. Trata-se, portanto, de uma visão reducionista da formação humana e social, que decorre, em grande medida, da aplicação da concepção de mercado no sistema educacional. Nesse sentido, discorre um estudante:

Eis aí a vantagem do curso técnico em informática, pode não ser tão divertido como agropecuária, que mexe com água, com animal, mexe com planta, viaja, ou então tão flexível quanto a agroindústria. O nosso curso é muito monótono, é muito computador, mas quando sai da escola, eu posso trabalhar em qualquer área porque eu tenho um curso técnico em

informática, porque hoje em dia realmente é necessário em qualquer área. Então mesmo que eu não pretenda seguir a carreira em informática, eu vou ser Engenheiro de Petróleo, mas eu vou precisar do meu curso técnico em informática. (R, 17 anos, 3ª série).

Cinco dos oito estudantes pesquisados não pretendem seguir na área do curso técnico que estão cursando:

Pelo o que eu quero fazer, o meu curso técnico não vai ajudar não. Mas é uma coisa boa, que dá para eu conseguir alguma coisa. (L, 16 anos, 2ª série).

Eu quero fazer Engenharia de alguma coisa, não sei. Mas não quero fazer algo na área de alimentos não. Eu gosto do meu curso, mas não vai ser tão essencial, tão úti. (P, 17 anos, 3ª série).

Bom, como informática hoje está no mercado, qualquer curso que eu for seguir vai precisar de informática. Mas eu vou esperar alguma engenharia ai na vida, né? (R,17 anos, 3ª série).

Eu vou fazer jornalismo mesmo, eu acho que, pelo menos para nós do 3º ano, o curso técnico só vai ter interesse para nós em questão pessoal mesmo, para cuidar da casa, da família, da alimentação; mas não é algo que eu queira levar para frente, para o meu lado profissional. (I, 18 anos, 3ª série.

Eu também não quero seguir no meu curso. Eu, às vezes, até penso que eu fiz uma coisa errada. Eu deveria ter feito agropecuária, porque eu gosto de mexer com bicho e porque meu curso (agroindústria) não tem nada a ver com o que eu quero seguir. Eu tenho dúvida se eu quero fazer arquitetura ou medicina veterinária. (I, 15 anos, 1ª série).

Dois estudantes apontam indícios que podem continuar na área do curso técnico, indo para o mundo trabalho ou, através da verticalização, para o Ensino Superior, em área correlacionada a do curso técnico que está cursando.

No meu caso eu penso em uma carreira relacionada ao curso técnico. Quando eu entrei aqui na escola, eu não gostava do curso, mas depois, com o passar do tempo, eu fui percebendo que tinha matérias interessantes que eu gostava, que tinha a ver comigo e então, o que eu pretendo fazer hoje é engenharia civil ou arquitetura, que é uma coisa relacionada ao meu curso de Agropecuária. Tem a ver, né? (G, 17 anos, 2ª série)

Eu pretendo ingressar na área, eu quero fazer Engenharia de Alimentos, acho interessante, profundo. (C, 15 anos, 2ª série)

Um estudante ainda salienta:

Eu ainda estou passando pela maior indecisão da minha vida, não sei o que eu vou seguir. Toda minha família quer que eu faça bacharelado em química ou administração ou engenharia de alimentos para continuar o negócio deles. Mas eu quero fazer é engenharia espacial. Então, por isso que eu falo que foi meio a meio o curso técnico e o médio. No médio foi me preparar completamente para o vestibular para Engenharia Espacial na Universidade de Uberlândia ou sonhando bem mais alto no ITA. Mas eu acho que nunca vou tentar o vestibular, porque é muito complicado, né? Ainda mais que é na Universidade de Uberlândia. Então, até o 3º ano eu vou descobrir o que eu vou seguir, e espero então, estar preparado para qualquer uma das duas. (C, 15 anos, 1ª série).

Sobre isso, Saraiva e Ferenc, (2010) salientam que a escolha profissional em momentos de crise e mudança no mundo do trabalho leva a atitudes realistas e imediatistas, nas quais a profissão dos ―sonhos‖ muitas vezes é abandonada em função da realidade socioeconômica e de necessidades financeiras imediatas. Para esses autores, a atual situação do mercado de trabalho, o desejo de consumo e a pressão familiar fazem com que as profissões escolhidas levem em consideração muito mais os aspectos financeiros imediatos do que os sonhos e projetos.

Ao serem questionados se planejam, ao terminarem o Ensino Médio Integrado ingressar em uma faculdade, todos os estudantes responderam que sim.

Eu acho que hoje em dia sem uma faculdade não se consegue nada na vida, ainda mais que com a globalização, surgem novas profissões, novos mercados de trabalho. Então, é uma coisa que você pode escolher entre mil e uma opções. (R, 17 anos, 3ª série).

Eu esperava antes de vir para cá, fazer um curso técnico depois que eu formasse, e eu estou tendo essa oportunidade junto com o médio. (G, 17 anos, 2ª série).

Essas falas mostram que, mesmo que todos os estudantes tenham a intenção de entrar em uma faculdade após a conclusão do curso, não descartam

a possibilidade de trabalhar na área do curso técnico e, ainda, conferem importância a essa habilitação que se configura como um diferencial na formação dos mesmos.

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O ENSINO MÉDIO INTEGRADO NO IFNMG – CAMPUS SALINAS NA

PERCEPÇÃO DOS SEUS SUJEITOS

Esta etapa do trabalho objetivou pesquisar o universo total de estudantes do EMI no Campus Salinas com o intuito de traçar um perfil geral dessa população e chegar a uma melhor compreensão da realidade e expectativas desses sujeitos.