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Atividades de Leitura para o Início da Aprendizagem do Código Escrito

Em formações de professores uma das maiores preocupação quando são discutidos conceitos teóricos está em como mobilizar essa teoria na prática, então vamos apresentar algumas ideias de como você pode fazer isso.

Você deve estar percebendo que não conseguimos distanciar a leitura da escrita, mas, essas atividades apresentadas nesse capítulo focam mais a leitura que a escrita.

As Práticas Sociais de Leitura Capítulo 3

a) Bingo de letras

Para o início da familiarização das letras do alfabeto, e importante trabalhar atividades que façam os alunos refletirem e que sejam prazerosas, afinal de contas estamos trabalhando com crianças, vimos também no capítulo 2, os eixos para o ensino da linguagem, e o Bingo de letras é interessante para ser trabalhado diferentes tipos de letras.

O que eu vou precisar: Cartelas com 9 letras, ou posso entregar as cartelas para as crianças e cada uma delas escolhe as letras que irá compor a sua cartela.

As letras podem ser sorteadas.

Variações: O professor poderá apenas mostrar as letras sorteadas sem falar o nome das letras, para que os alunos as identifiquem nas cartelas (isso é interessante de ser feito se os alunos tiverem nas cartelas as letras minúsculas e forem sorteadas as maiúsculas). Outra opção também será falar as letras, que é a forma tradicional, e os alunos marcam nas cartelas.

Vencedor: ganha o jogo a criança que conseguir terminar de preencher toda a sua cartela e conseguir ler todas as letras que a compõem e falar uma palavra que inicia com cada uma das letras. Aqui, também o professor poderá fazer por temática, por exemplo, as palavras poderão ser apenas animais, objetos que tem na escola, etc.

b) Bingo de rótulos

Essa é uma atividade que além de mobilizar a leitura, trabalha com um gênero discursivo que os alunos têm acesso no cotidiano social, visto que às vezes podem acompanhar os pais ao supermercado. Para que essa atividade, e todas as que serão apresentados nesse material, tenha o sucesso é importante que o professor sempre faça uma contextualização e que os alunos consigam compreender por que estão fazendo isso, pensando nisso, observe um exemplo de contextualização para depois ir ao jogo.

A contextualização é um aspecto importante para todas as atividades que serão apresentadas em sala de aula, e o professor deve prepará-la de acordo com a realidade social dos alunos.

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Contextualização: O rótulo, sendo um suporte textual de fácil acesso, os alunos podem visitar um supermercado, ou cada um pode trazer rótulos para a sala de aula. É necessário conversar e mostrar para as crianças as estratégias publicitárias que são utilizadas na elaboração de um rótulo (cores, imagem, tipos de letra – observar como estas mudam de um produto para os demais, informações nutricionais, prazo de validade código de barras). O professor, neste momento pode observar que mesmo sem saber ler as crianças reconhecem o rótulo, pois utilizam os outros recursos (cor, forma, imagens...) então, isto faz com que os alunos comecem a refletir sobre a possibilidade de ler não apenas pela decodificação, e sim através de diversas estratégias, sendo este um bom exemplo da inserção da criança no mundo letrado.

Por isso, legal é se você conseguir ir com as crianças em um supermercado, assim elas irão identificar os produtos naturalmente. O professor também poderá trazer diferentes rótulos para a sala de aula e ver se os alunos conseguem identificar de qual produto eles pertencem e se ele é consumido em casa ou não.

O que eu vou precisar: crie cartelas com o nome das marcas/ produtos mais conhecidos pelas crianças, mas nessa cartela escreva as marcas com letra preta, e não utilize os recursos das cores, observe o exemplo a seguir:

Figura 14: Cartela de bingo

DANONINHO CLUB SOCIAL COCA-COLA

FANDANGOS LACTA MOÇA NESTLÉ

TRAKINAS PASSATEMPO ADES

Fonte: A autora

Para o sorteio, o professor deverá tirar uma caixa as embalagens dos produtos, fica a critério se será lido o nome da embalagem, ou apenas mostrado.

Variações: Poderá ser reproduzido o nome das marcas/produtos da forma como aparecem nas embalagens e o professor sorteia apenas o nome e lê para que os alunos marquem nas cartelas.

Vencedor: Quem completar a cartela deverá ler o nome das marcas/produtos que estiverem na sua cartela, ou poderá relacionar o nome com os produtos sorteados.

Depois do jogo, os alunos poderão criar propagandas para os produtos, slogan, ou um comercial. Use a sua criatividade e a variedade de gêneros A contextualização

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discursivos.

c) Calculadora de sílabas

Este jogo estimula as crianças a formarem palavras, e a reconhecer as sílabas que compõem as palavras, além de brincar com um objeto escolar e social – a calculadora.

O que eu vou precisar: de uma calculadora com as sílabas, legal é construir ela de forma grande, seja de EVA, ou pintar no pátio da escola, para que as crianças possam pular em cima das letras. Além disso, use a sua criatividade e utilize materiais recicláveis para construção da calculadora de sílabas.

Figura 15 – Calculadora de sílabas

BO RA MA

TA LA SO

DA FI FA

NE JU VE

Fonte: A autora

Além da calculadora é necessário construir as seguintes cartelas:

BOLA

Cartelas com a palavra completa em que a professora irá ler a palavras, e a criança deverá pular na sílaba /BA/, depois na tecla de mais (+), posterior a tecla de /LA/, e para finalizar na tecla de igualdade (=) e dizer a palavra novamente (BOLA).

Esse banco de sílabas poderá gerar em torno de 25 palavras.

BOLA - BO

Cartelas que possuem o símbolo da subtração, o professor irá sortear e ler o que está escrito na cartela, o aluno deverá pular da seguinte forma: primeiro na tecla de /BO/, posterior a isso na tecla de adição /LA/, em seguida na igualdade (=) e falar a palavra formada /BOLA/, para finalizar pula na tecla de subtração (-), e na sílaba que precisa ser retirada da palavra /BO/, novamente vai a tecla de

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As cartelas poderão ser feitas tanto com sílabas iniciais como finais.

BO + + BO

Cartelas que possuem a estrelinha são cartelas mágicas, pois o professor irá sortear a cartela e falará ao aluno, e este poderá formar palavras além do que está na calculadora, obedecendo apenas à terminação ou início da palavra conforme a cartela, por exemplo: De acordo com a primeira cartela, a criança deverá pular na sílaba /BO/, depois na adição (+), e por último na tecla mágica ( a da estrelinha), pulando na estrelinha, a criança poderá formar qualquer palavra iniciada com /BO/ ( boné, boneca, bolo, boca, entre outras). Se a estrelinha estiver no fim, isso é o contrário, ou seja, ela irá pular primeiro na tecla mágica, depois na tecla de adição, posterior a sílaba da cartela /BO/ e para finalizar na tecla de igualdade (=) e falará uma palavra (cabo, lobo, bobo entre outras).

Você deve estar pensando: o que esta atividade tem a ver com o letramento?

Estou apenas trabalhando com sílabas, està atividade além da aquisição do sistema de escrita em que as crianças irão ler as sílabas, ela poderá trabalhar com o uso e função social da calculadora, iniciar as discussões sobre a matemática, além de trabalhar conceitos de educação física (lateralidade...).

d) Calendário

Um dos gêneros discursivos que é interessante estar na escola desde os primeiros momentos é o calendário. Observe a imagem abaixo:

Figura 16 - Calendário Escolar

Fonte: Autora.

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Confeccionar um calendário móvel para que a cada dia uma das crianças completem o dia que está faltando, além disso, completar o nome próprio, tempo (nublado, chuvoso, ensolarado, chuva fina, ventoso, geada). Observe na imagem que os dias da semana estão grafados em preto, e o domingo em vermelho. A professora sorteia o ajudante do dia, e este deverá procurar entre os demais nomes o seu nome próprio e completar na TURMA, depois deverá procurar o desenho que represente como está o tempo e colocar em TEMPO, e por último completa o dia.

Posterior a isso, a professora faz as seguintes reflexões com as crianças:

Que dia foi ontem?

Que dia da semana é hoje? E amanhã?

Este dia está representado com que cor? Por quê?

Quantos dias falta para o final de semana?

Quantas semanas falta para o final do mês?

Quantas semanas já foram completadas?

(Diário de campo, 16 de junho de 2009)

Paralelo ao preenchimento do calendário, as crianças podem escrever na agenda escolar como estava o tempo. Observe que, nesta atividade, há dois gêneros discursivos sendo trabalhados de forma simultânea, pois enquanto um aluno preenche o calendário móvel, os demais procuram o dia que está sendo sinalizado no calendário na agenda escolar e fazem o desenho que representa com o está o tempo, e escrevem a palavra condizente ao desenho.

b) Biblioteca: um espaço escolar

Dentre todos os espaços escolares, a biblioteca é o lugar que não podemos deixar de conversar quando o assunto é leitura, pois ela é o espaço em que circula vários materiais escritos, de vários gêneros e suportes. Além disso, é na biblioteca que as crianças irão aprender a cuidar dos livros, a pegar o

livro emprestado e ter a responsabilidade de devolvê-lo.

É necessário que as crianças circulem na biblioteca antes mesmo de aprender a ler, para que possam manusear os materiais escritos, e compreender a função social tanto da biblioteca como dos livros em si.

Na biblioteca o professor poderá separar momentos em que irá ler histórias para as crianças, as crianças irão contar histórias aos colegas a partir das imagens. As escolas de forma geral, para incentivar a leitura,

podem criar grupos: de contadores de história, de leitura, de teatro, de poesia,

Na biblioteca o

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entre outros. Porém, é importante ver a leitura de obras literárias em sua inteireza e arte, sem reduzi-la a práticas escolarizadas, de identificação de palavras, e sim compreender e interpretar o que está sendo lido. De acordo com Góes

[...] literatura infantil é, antes de tudo, ‘literatura’, isto é,mensagem de arte, beleza e emoção. Portanto, se destinada especificamente à criança, nada impede (pelo contrário) que possa agradar ao adulto. E nada modifica a sua característica

‘literária’ se, escrita para o adulto, agradar e emocionar a criança.

[...] Literatura Infantil é linguagem carregada de significados até o máximo grau possível e dirigida ou não às crianças, mas que responda as exigências que lhe são próprias (1991, p. 3, grifos da autora).

A literatura é necessária para que a criança conheça diferentes tipos de textos, com diferentes estilos de escrita e, para que isso aconteça, deverá haver esses livros para que a criança faça escolhas, parâmetros e até preferências. A autora, Cecilia Meireles fala dos sentidos de leitura para as crianças

Evidentemente, tudo é uma literatura só. A dificuldade está em delimitar o que se considera especialmente do âmbito infantil. São as crianças na verdade que o delimitam com sua preferência. Costuma-se classificar Literatura Infantil o que para elas se escreve. Seria mais acertado, talvez, assim classificar o que elas lêem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, uma literatura infantil a priori, mas a posteriori. (1984, p.

20).

A partir disso, podemos compreender porque a biblioteca é um local privilegiado, pois é nele que a criança tem a possibilidade de fazer as suas escolhas e ir se constituindo um leitor.

f) Hora da leitura

Na escola pública, em que eu fiz a coleta de dados do meu mestrado, e que eu acompanhei as aulas do primeiro ano, durante todo o ano letivo, uma das práticas era a hora da leitura. Nesse momento, a professora colocava uma placa na porta, para sinalizar para os demais membros da escola que estavam lendo, e que não poderia haver interrupções. O momento era completamente diferente que o da biblioteca, pois eram escolhidas literaturas que obedecessem a temática do projeto didático que se estava estudando, ou algum livro que as crianças haviam trazido de casa.

Antes da leitura a professora apresentava o título, mostrava para os alunos quem escreveu o livro, quem ilustrou, qual era a editora, as vezes nesse momento, as crianças faziam um comentário sobre o livro que iria ser lido com outra obras já lidas. Por exemplo, no início do ano letivo a professora leu para as crianças Filhotes de bolso, as crianças adoraram a história, mais para o final do ano, a professora trouxe para a hora da leitura o livro Filhotes de bolso saem de férias, A biblioteca é um

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assim que a professora mostrou a capa, os alunos lembraram-se do primeiro livro.

Depois de lida a capa do livro, a professora pode perguntar para as crianças o que elas acham que irá aparecer no livro, e depois de finalizada a leitura poderá ser feita uma retomada entre as pré-intenções e o que realmente aconteceu na história. Um exercício interessante de fazer é construir o final da história e depois comparar com o original. Fazer uma releitura de uma obra a partir de desenhos. E lembre-se você não precisa ler histórias curtas para as crianças, as histórias longas também são interessantes, mas precisam ser lidas em capítulos. Observe a ilustração da criança a partir da história que foi lida

Figura 17 - Ilustração da história Vira-Lata

Fonte: A autora.

g) Interpretação de texto

A interpretação de texto é algo necessário desde o início da escolarização, pois além de relacionar os grafemas transformando-os em fonemas é necessário compreender o que está sendo lido, pois assim começaremos a pensar em letramento e alfabetização. Observe a imagem a seguir

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Figura 18 - Órgão apurado do cachorro

Fonte: A autora.

Nesta atividade a professora trouxe um texto que respondia a um dos questionamentos do projeto didático que as crianças estavam estudando, além de compreender o texto, as crianças não sabiam o que significa a palavra apurado escrita no texto, então a professora e as crianças procuraram no dicionário o significado e o aluno, ao desenhar o cachorro, fez um destaque ao órgão apurado do cachorro.

Vamos a mais um exemplo, a partir da leitura de folder sobre os cuidados que devemos ter com o cachorro, os alunos representaram através do desenho esses cuidados necessários, assim como listaram algumas palavras-chaves desse processo.

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Figura 19 - Cuidados com o cachorro

Fonte: A autora.

h) Receita culinária

Trabalhar o gênero receita culinária é uma boa opção no início do processo de escolarização, levar os alunos até a cozinha e fazer no coletivo a receita é uma das possibilidades do trabalho com esse gênero.

Assim, os alunos podem ver a dimensão do gênero e a sua função na sociedade. Observe o excerto do diário de campo

Hoje os alunos do terceiro ano, foram até a cozinha para fazer a receita do bolo formigueiro, os alunos liam os ingredientes da receita e a professora os separavam. No decorrer da leitura do modo de preparo, os alunos não compreendiam alguns processos “claras em neve”, “untar a forma”, “forno pré-aquecido”, essas informações foram trabalhadas no coletivo, e as dúvidas também foram sendo esclarecidas através da reflexão colorida. Para o tempo de cozimento do bolo, os alunos permaneceram na cozinha, para terem uma noção temporal. Depois de esfriado o bolo, eles calcularam através das frações como poderiam dividir o bolo de forma igual a todos. ( Diário de campo, 21 de setembro de 2010)

Com este relato é possível compreender como algumas práticas escolares podem fazer a diferença no processo de ensino aprendizagem, pois, os alunos começam a compreender atividades cotidianas.

Trabalhar o fazer no coletivo a receita é uma das possibilidades do trabalho com esse

gênero.

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Para ter vários gêneros discursivos circulando dentro da sala de aula, uma das metodologias possíveis de trabalho é a partir de projetos pedagógicos, pois as crianças motivam-se a ir à busca das respostas e com isso diferentes gêneros começam a aparecer na sala de aula.

Atividade de Estudos:

1) Faça um texto reflexivo sobre como você se tornou um leitor, neste texto é importante aparecer as seguintes reflexões:

a) Quais espaços e objetos foram importantes na minha história com a leitura?

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b) Quem foram os mediadores importantes na minha história com a leitura? Por quê?

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c) Quais foram os livros mais significativos para a sua leitura no mundo?

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2) Converse com outros professores que trabalham com você e membros da comunidade escolar, como eles aprenderam a ler?

E quais obras literárias marcaram a infância de cada um, depois construa um texto com memórias históricas.

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Algumas Considerações

Neste capítulo conversamos um pouco sobre práticas de leitura em sala de aula, claro que não podemos simplesmente destacar a leitura sem falar da escrita, então a escrita esteve presente nessas atividades como o suporte para a leitura.

Compreendemos que a leitura deve ter um espaço na sala de aula desde o inicio do processo escolar, para que os alunos compreendam a função social dela.

E o mais importante, para formar leitores é preciso o professor também ler.

Vimos também como a biblioteca é uma forte aliada nas práticas sociais de leitura, visto que nela podemos encontrar diferentes tipos de textos, e que as crianças podem conviver com textos curtos e longos, basta apenas adequar a metodologia de ensino para que estes sejam contextualizados.

No próximo capítulo iremos conversar sobre as práticas de escrita, além disso, conversaremos sobre os gêneros discursivos que podem ser trabalhados no início do processo de escolarização.

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Referências

BRANDÃO, Helena; MICHELETTI, Guaraciaba. Teoria e prática da leitura.In:

BRANDÃO, H; MICHELETTI, G. (Coords.). Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 2004.

GÓES, Lúcia Pimentel. Introdução à literatura infantil e juvenil. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1991.

MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 2. ed. São Paulo:

Summus Editorial, 1984.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:

Autentica, 1999.

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