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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 A INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA NA VISÃO DA EMPRESA

2.2.2 Atividades de interação

As empresas podem utilizar atividades de interação bem diferentes para acessar o conhecimento das universidades, variando de acordo com suas características (AGRAWAL; HENDERSON, 2002). Segundo Capaldo et al. (2016), as interações das empresas com universidades assumem múltiplas formas, apresentando interações que vão desde relações interorganizacionais como, pesquisa conjunta ou pesquisa por contrato, até a criação de empresas de spin-off para transferência de PI, incluindo patenteamento e licenciamento (BONACCORSI; PICCALUGA, 1994; COHEN; NELSON; WALSH, 2002; D’ESTE; PATEL, 2007; SCHARTINGER et al., 2002). Os tipos de interações mais frequentes são o recrutamento de recém-graduados, as trocas de pessoal, a pesquisa conjunta, a pesquisa por contrato, a consultoria, a P&D, as patentes, as publicações, as licenças, as empresas derivadas, os laboratórios financiados pelo setor industrial e outras instalações, além de contatos informais, como reuniões e conferências (CLOSS; FERREIRA, 2012; D’ESTE; PATEL, 2007; MUSCIO, 2010).

Embora grande parte dos estudos sobre a IUE tenha se concentrado na transferência de PI (PERKMANN; WALSH, 2007), foi possível identificar uma série de autores apresentando diversos outros canais ou mecanismos de transferência de conhecimento entre universidade e empresa (ANKRAH; AL-TABBAA, 2015; COHEN; NELSON; WALSH, 2002; D’ESTE; PATEL, 2007; PERKMANN et al., 2013; SCHARTINGER et al., 2002).

Segundo D’Este e Patel (2007), a IUE ocorre através de uma grande variedade de canais, sendo mais frequentes a consultoria, a pesquisa por contrato, a pesquisa conjunta e o treinamento, do que atividades de patentes ou spin-out1. Já Perkmann et al. (2013) classificaram

os tipos de IUE em comercialização e engajamento acadêmico. A comercialização (ou transferência de tecnologia) tem como objetivo colher recompensas financeiras através do empreendimento acadêmico, ou seja, a constituição de uma empresa para explorar comercialmente uma invenção patenteada ou, em alguns casos, um corpo de experiência não patenteado. Já o engajamento acadêmico é mais amplo, envolve um número de acadêmicos maior do que a comercialização e é perseguido por objetivos variáveis. O engajamento acadêmico ocorre através de várias interações formais e informais, como as consultorias da universidade, a pesquisa colaborativa, a pesquisa por contrato, os conselhos da universidade, os treinamentos e as redes com profissionais (PERKMANN et al., 2013).

Bonaccorsi e Piccaluga (1994) classificaram os tipos de relações entre universidades e empresas de acordo com o nível de envolvimento de recursos organizacionais, com a duração do contrato e com o grau de formalização. Os autores chegaram em seis grupos: (1) relações informais pessoais (consultoria individual paga ou gratuita, fóruns e workshops de intercâmbio de informações, palestras conjuntas ou individuais, spin-offs acadêmicos e publicações de pesquisa); (2) relações formais pessoais (bolsas de estudo e vínculos de pós-graduação, participação de estudantes em projetos industriais, estagiários e cursos sanduíche, períodos sabáticos para professores e emprego de cientistas relevantes pela indústria); (3) terceiros (escritórios de ligação, consultoria institucional, agências governamentais, associações industriais e institutos de pesquisa aplicada); (4) acordos diretos formais (pesquisa por contrato, treinamento de funcionários e projetos de pesquisa cooperativos); (5) acordos formais não direcionados (acordos amplos para colaboração, P&D patrocinados industrialmente em departamentos universitários, bolsas de pesquisa e doações); e (6) estruturas focalizadas (contratos de associação, centros de inovação/incubação, parques de pesquisa, ciência e tecnologia, e fusões) (ANKRAH; AL-TABBAA, 2015; BONACCORSI; PICCALUGA, 1994). Cohen, Nelson e Walsh (2002) comentaram que os principais canais, através dos quais pesquisas universitárias afetam o P&D industrial, são artigos e relatórios publicados, conferências e reuniões públicas, troca informal de informações e consultoria. Além disso, os autores descobriram que a influência da pesquisa da universidade em P&D industrial é expressivamente maior para empresas maiores, do que para as PMEs.

Em se tratando especificamente da interação entre universidade com PMEs, não existe uma extensa literatura abordando os tipos de interação como na literatura que trata desta interação com empresas maiores. Buganza, Colombo e Landoni (2014) sugeriram que, primeiramente, as PMEs abordam as universidades através de tarefas claras e facilmente definíveis, como treinamentos, e somente depois de terem uma experiência positiva com a universidade, essas empresas buscam relações mais complexas e baseadas em confiança, como P&D em conjunto. Outra importante diferença é que as grandes empresas preferem adotar pesquisa contratada e implementá-la em um mecanismo de cooperação de longo prazo. Já as PMEs, além da pesquisa por contrato, se interessam em pesquisa conjunta devido aos baixos requisitos de investimento desse tipo de pesquisa. Ainda, as PMEs não estão tão interessadas quanto as grandes empresas em manter cooperações de longo prazo (LIN; KUNG; WANG, 2015).

O estudo de Zubielqui et al. (2015) revelou como ocorrem as principais interações entre a universidade e as PMEs, como a utilização dos resultados de pesquisas publicadas pela universidade e a contratação de recém-graduados. Já o uso de patentes, projetos ou outros direitos de PI e a contratação de pesquisadores, consultorias e professores universitários foram identificados como as interações menos frequentes em se tratando de PMEs. O Quadro 2 apresenta os principais tipos de interação entre PMEs e a universidade, bem como uma breve definição de cada uma dessas interações.

Quadro 2 – Tipos de interação entre universidade e PMEs Tipos de

interação Descrição Autores

Publicações científicas

Utilização pelas empresas do conhecimento científico provindo das pesquisas da universidade.

Zubielqui et al. (2015); Jones e Zubielqui (2017).

Contratação de recém- graduados

Contratação pelas empresas de alunos ou egressos das universidades.

Zubielqui et al. (2015); Jones e Zubielqui (2017).

Treinamento

Atividades de ensino oferecidas pela universidade para as empresas ou demandadas pelas empresas (de acordo com as suas necessidades). Os principais exemplos são cursos e capacitações para colaboradores.

Buganza, Colombo e Landoni (2014); Pittayasophon e Intarakumnerd (2017).

Interações informais

Formação de relações sociais e redes, contatos diretos informais, principalmente através de conversas de empresários com professores e/ou pesquisadores.

Jones e Zubielqui (2017); Vaaland e Ishengoma (2016); Capaldo et al. (2016); Ranga, Miedema e Jorna (2008).

Consultorias

Serviços de aconselhamento técnico das universidades, prestados para as empresas que, geralmente, não se envolvem com pesquisa acadêmica.

Zubielqui et al. (2015); Pittayasophon e Intarakumnerd (2017); Perkmann e Walsh (2007).

Pesquisas conjuntas

Atividades de pesquisa original envolvendo a colaboração formal da universidade com a empresa.

Buganza, Colombo e Landoni (2014); Lin, Kung e Wang (2015); Jones e Zubielqui (2017); Yokakul e Zawdie (2009); Fontana, Geuna e Matt (2006); Pittayasophon e Intarakumnerd (2017); Vaaland e Ishengoma (2016); Perkmann e Walsh (2007); Kodama (2008); Ranga, Miedema e Jorna (2008); Bjerregaard (2010).

Pesquisas contratadas

Atividades de pesquisa realizadas pela universidade que é contratada pelas empresas. Essas atividades possuem objetivos, entregas e recursos financeiros estabelecidos e formalizados, sendo regidos por contratos de prestação de serviço.

Buganza, Colombo e Landoni (2014); Lin, Kung e Wang (2015); Jones e Zubielqui (2017); Fontana, Geuna e Matt (2006); Pittayasophon e Intarakumnerd (2017); Perkmann e Walsh (2007).

Incubação

As empresas ficam sediadas dentro de parques tecnológicos da universidade, visando gerar inovações e desenvolvimento.

Malairaja e Zawdie (2008). Propriedade

intelectual

Transferência para empresas de PI gerada pela universidade, como patentes, geralmente via licenciamento.

Zubielqui et al. (2015); Jones e Zubielqui (2017); Pittayasophon e Intarakumnerd (2017); Perkmann e Walsh (2007).