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ATIVIDADES PROFISSIONAIS (1836)

No documento O grande ABC paulista: o fetichismo da região (páginas 149-191)

Ainda sobre o mesmo esquema, mas agora traduzido para o plano cognitivo e do conhecimento, temos:

ATIVIDADES PROFISSIONAIS (1836)

Carpintaria 77 Sapataria (oficina) 69 Ferraria 54 Alfaiataria 49 Olaria 38 Ourivesaria 30 Marcenaria 28 Selaria 13 Pintura 10 Lataria 7 Construção 7 Padaria 7 Botica 7 Construção de violas 6 Barbearia 6 Entalhe 3 Tecelagem 3 Tanoaria 2 Serraria 2 Caldeldeiraria 2 Chapelaria (oficina) 2 Fabricação de foguetes 2 Sirga 2 Relojoaria 1

Fonte:Tabela de profissões recenseadas em 1836, resgatada por Daniel Pedro Müller no “Ensaio dum Quadro Estatístico da Província de São Paulo”, reedição literal de “O Estado de São Paulo”, S.Paulo, 1923, in vol. III de Azevedo, pág. 28)

Em seguida, Mattos passou à análise da segunda metade daquele mesmo período, salientando que não havia naquele momento uma economia agrícola suficientemente importante para exercer atração sobre novas implantações, significando, em suas palavras, o advento de uma nova modalidade da luta Homem-Meio. As dificuldades em operacionalizar a fixação das iniciativas de povoamento ocorreram desde os primórdios, quer pelas vicissitudes “humanas e econômicas”, como “pobreza demográfica e falta de recursos financeiros”, quer pelas “geográficas”, como “dificuldades de relações com o exterior, subsolo paupérrimo e ausência de fontes de energia de fácil utilização” (MATTOS, pág.29). Apenas a partir da notícia alvissareira da cafeicultura, foram abertos os caminhos

para o início da fase de relações com os mercados externos, assim como, a expansão territorial da área habitada, implicando no estancamento industrial em face do cartaz conseguido por aquele cultivo. Situação essa rompida na inauguração da primeira grande fábrica de tecidos (1872), cujo proprietário vislumbrava abastecer o mercado interno concorrendo com os tecidos de procedência inglesa.

“(...) Diogo Antônio de Barros, percorrera a Europa, tomando conhecimento do seu progresso industrial; espírito avançado, regressou ao Brasil com o firme propósito de montar uma fábrica de tecidos, não de tipo subalterno, apenas destinado a cobrir o “déficit” dos produtos importados (...).”(MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág. 30)

Juntamente com esse empreendimento, outros ramos chegaram a São Paulo, como o de alimentos e o da construção civil. Apesar disso, até o século subseqüente, o estado continuaria a figurar no segundo posto do “ranking” constituído pelo grupo dos estados brasileiros, e isso em termos numéricos de unidades, das cifras correspondentes aos valores monetários gerados e, afinal, de absorção de operários. Tão-somente em 1912, por ocasião do arrolamento promovido com fins aos cálculos do recolhimento público de impostos sobre o consumo, que a indústria instalada em território paulista despontou em primeiro lugar, invertendo a colocação antecedente e adiante confirmada no recenseamento geral de 1920. Indústrias de alimentos e de produtos têxteis encabeçavam assim a lista dos ramos elencados, seguidas das manufaturas ligadas ao vestuário, a insumos químicos e à metalurgia.

Do exame dessas estatísticas, o autor remontou os três principais períodos em que houve a elevação nos indicadores fabris e de suas motivações. O primeiro registrado, a partir de 1880, teve por base a força de trabalho migrada predominantemente da Itália; o segundo, entre os anos de 1910 e 1914 e, por fim, o terceiro nos anos vinte; ambos influenciados pela Segunda Grande Guerra. Mas foi com o levantamento de 1940 que concebemos o princípio da liderança inequívoca do parque paulista sobre os demais do país e da América do Sul. Em 1950, tivemos o seguinte quadro de indústrias no estado:

“(...) possuía em 1950, 27,5% dos estabelecimentos fabris localizados no território brasileiro, e 38,6% dos operários que neles trabalhavam. Além

disso, concentrava 44% do capital empregado na indústria nacional, produziu 46,8% do valor da produção industrial e utilizou 39,7% da força motriz empregada em tais atividades.” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág. 37)

Ora, mas o que esses dados nos revelam de importante?

De início a concentração patente à geografia, que se confirma em diversidades regionais, e que viria a se aprofundar com as medidas coercitivas veiculadas por intermédio dos futuros episódios da história de formação brasileira. E, se pensarmos nas dimensões territoriais desse país, tal concentração de estabelecimentos somando-se às crescentes demandas por força de trabalho, por matérias-primas e por energia, é ainda mais impressionante, porque inusitada em qualquer outra parte do país.

Além do mais, a responsabilidade por cerca da metade das cifras advindas de tais atividades, a assimilação da mão-de-obra sempre crescente dirigida ao estado paulista, assim como o consumo energético em torno de 40% do total brasileiro, demonstram a idéia de que a implantação da grande indústria contou com equipamentos qualitativamente superiores aos dos demais pontos manufatureiros. E esse passo, com efeito, constituiu uma espécie de divisor de águas no que diz respeito às relações internacionais de produção e de comércio.

A chamada “grande indústria”, ao mesmo tempo em que ofereceu a ampliação quanto às possibilidades de acumulação privada do capital de origem estrangeira, fomentou a indústria nacional que passou a tê-la como destino final.

Assim sendo, não foi por acaso que nos escritos desse geógrafo surgiu a denominação ABC paulista, como para testemunhar ocultamente a centralidade ocupada por esses municípios que já, de maneira evidente, passavam a constituir.

Com algumas alterações numéricas e demonstrando as novas prioridades fabris, os dados referentes a 1950 apontam novamente os ramos de alimentação e têxtil como àqueles que atingiram maiores valores, mas agora seguidos de forma imediata pelos setores metalúrgico e mecânico, químico e farmacêutico, estendendo esta série à confecção de cerâmica, vidros e cristais, para daí reaparecer com o de vestuário, os materiais de transporte, entre outros.

“A maior parte dessas indústrias encontra-se concentrada na Região de

Capital, de São Caetano do Sul, de Santo André, de São Bernardo do Campo e de Guarulhos, como também em alguns municípios satélites da grande metrópole (...).”(MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág.42)

Mas observemos as informações que o autor distinguiu com esse resgate: em 1940, a produção alcançou o valor de cerca de 4.884.030 cruzeiros, ocupando por volta de 221 mil operários; dez anos mais tarde, a cifra obtida foi de 33.017.000, com aproximadamente 260 mil trabalhadores. Temos, então, uma multiplicação de quase sete vezes a cota produzida em 1940 enquanto que a força de trabalho ganhou tão-somente 39 mil postos, não acompanhando a acentuação dos ganhos e, portanto, da acumulação privada na esfera produtiva. Entretanto, esses mesmos braços foram capazes de referendar a insígnia de pólo industrial paulista.

E, é com certa ubiqüidade que o caráter ufanista a respeito da realidade de crescimento econômico e expansão urbana paulistanos se revela nos escritos de Matos,

”(...) a Capital paulista constitui uma imensa oficina de trabalho, em que todos procuram contribuir com sua parcela de cooperação e de sadio entusiasmo, num admirável esforço coletivo, vigoroso e contagiante. O Paulistano orgulha-se (...) de suas indústrias e do papel por elas representado (...)” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III; pág.42)

Seguem-se a esse apanhado geral as especificidades produtivas e de localização dos ramos têxtil, alimentício, metalúrgico e mecânico, químico e farmacêutico, fechando com aqueles de menor expressão. Vejamos o que nos apresentou Mattos, sobre cada um.

Em sendo as pioneiras do parque paulistano, e após superação das condições que obstaculizaram seus momentos iniciais, as tecelagens ganharam importância, ocupando, conforme mencionado, o primeiro posto no conjunto total da produção fabril. A “região de São Paulo”, até então constituída pelos municípios da Capital e os de São Caetano do Sul, Santo André e São Bernardo do Campo, eram sede da mais respeitável fabricação têxtil latino-americana, imediatamente seguida pela Argentina e México. A matéria-prima fundamental com que contou foi o algodão preponderantemente paulista ou àquele cultivado nos estados

nordestinos. Em 1848, somente essa atividade absorveu por volta de 35% do operariado especializado presente nos municípios citados. Entretanto, temos um aparente paradoxo. Ora, ausentaram-se na região de São Paulo, grandes estabelecimentos relacionados à tecelagem, ou seja, os de maiores proporções se encontravam fora do estado. De tal modo que pequenas e médias unidades fabris pulverizaram-se entre as demais atividades que nutriam áreas urbanas, sendo esta, uma de suas peculiaridades de conformação. E Mattos debitou esse dado mais às condições atreladas à exportação e ao consumo voltado para o abastecimento interno, que pela falta de nível técnico e como relata, a seguir:

“O mercado externo só acidental e transitoriamente chegou a adquirir certa importância e isto no decorrer das duas últimas Guerras Mundiais. (...) O mercado interno, aliás é mantido graças ao protecionismo alfandegário.” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pgs.46-7)

Observemos essas formulações por partes. O mercado interno, em suas palavras, ainda incipiente pela baixa capacidade de consumo que o caracterizava, foi capaz de entravar a associação das pequenas e médias iniciativas que, uma vez fragmentadas, não comportaram a concorrência em face das grandes organizações. De seu lado, esse mercado interno sofreu com a política de proteção exercida em meio às ações do Estado brasileiro, encarecendo os produtos finais manufaturados. Vale ressaltar que, a despeito das matérias-primas predominantemente nacionais – o algodão dos estados de São Paulo e nordestinos, a lã do Rio Grande do Sul, ainda que com a participação sul-africana, australiana e inglesa, a juta tendo sua ampliação estimulada –, tanto o linho, como a seda natural, dependiam da importação dos insumos a elas necessários. No que tange à origem dos capitais utilizados nesse ramo,

“(...) em parte, originaram-se de atividades agrícolas e comerciais e, em parte, da reinversão dos lucros da própria atividade industrial. (...) a rigor, é um tipo de sociedade anônima de cunho familiar, garantida por capitais domésticos.” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pgs.48-9) Assim, mesmo de importância cabal no quadro manufatureiro paulista, foi incapaz de gerar uma paisagem em que a tônica fosse a presença maciça de fiações pelas mesmas razões dantes, ou seja, a intensa fragmentação desses empreendimentos, pois:

“(...) ocultam-se na paisagem urbana, envolvidas pelas instalações de outros tipos (...). Pertencem elas (...) à grande área do eixo da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, desde o bairro da Lapa e da Água Branca até aos confins do município de Santo André.” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág. 49)

Feitas as considerações sobre a indústria têxtil, o autor seguiu fazendo análise do feitio da produção de alimentos, levantando as qualidades em comum por elas compartilhadas. Ambas as seções dividem várias semelhanças com o número de unidades fabris de que dispõe, o contingente fixo de operários utilizado, o montante de capitais exigidos para sua manutenção e o destino de consumo. Admitindo por objetivo, escolhido ou circunstancial, o mercado interno, o autor comenta:

“(...) grandes inversões de capitais estrangeiros foram realizadas em determinados setores das indústrias de alimentos, particularmente nos da carne (“Armour”, “Wilson”), do trigo (“Moinho Santista”) e dos óleos vegetais (“Anderson Clayton”, Moinho Santista”). (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág. 49)

Porém, o aspecto vago do termo “inversões de capitais” não nos permite o acesso às informações sobre os conteúdos a que se remete, ou seja, o que expressa do ponto de vista dos trajetos que perfaz. Ora, podemos facilmente especular sobre algumas das possibilidades mais simples entronizadas naquela expressão. Tais “inversões” podem abranger desde remessas de recursos financeiros aqui obtidos na forma de lucros para as matrizes multinacionais, ou para unidades secundárias implantadas em outros países, até investimentos diretos na própria linha de produção do parque brasileiro, ou mesmo, no mercado valores de ações, enfim, uma gama de perspectivas que não desenvolve ou elucida.

Ainda, na direção de confrontá-las em sua qualidade, alguns tipos de manufaturas de alimentos têm no mercado externo a totalidade das matérias- primas de que demandam a despeito do que igualmente se dá com a moagem do trigo.

Na seqüência, o autor estende-se à tarefa de organizar os termos de exposição de três subgrupos entre os quais enquadra a produção de alimentos. São eles: a transformação direta da matéria-prima; aqueles dedicados aos

mercados locais e os voltados ao comércio exportador. No primeiro, ressaltou-se a moagem do trigo porque antes de 1930, apenas duas empresas se dedicavam a essa atividade por conta da importação. Com a expansão da triticultura, cresceu o número de moinhos em São Paulo, todavia estes estavam nas mãos de grupos multinacionais, pois somente esse porte de organização poderia suportar as variações das regras de funcionamento a que estão submetidas as indústrias do trigo. Por isso grande parte das empresas empenhou-se em outros negócios.

Também o refino do açúcar se encaixou no mesmo grupo, apesar das usinas serem responsáveis pela primeira transformação. A produção destinava-se aos mercados locais assim como os regionais porque dependiam da produção de usinas fora do estado, que interferiam diretamente em sua capacidade e volume. Esse produto de consumo direto também servia de insumo para outras produções. Chamou a atenção do autor, o nível demasiado de mecanização donde a limitada absorção de força de trabalho e de empregos ofertados. Observou, uma vez mais, as formas de regulação promovidas pelo Estado, e especificamente as afamadas cotas de produção que limitavam a quantidade de açúcar frente ao total produzido nos canaviais paulistas e com base na importação do nordeste.

Somadas a essas atividades produtivas, incluíam-se a panificação, a torrefação e a moagem do café, a pasteurização do leite e derivados. Todavia, os dois primeiros tipos de negócios realizavam-se a partir de pequenos estabelecimentos, o que não se repetia com a produção de artigos exportáveis, cuja propriedade e o controle se dispunham muitas vezes ao capital externo. Neste último caso, se encontram os frigoríficos e a produção de carnes em conservas e os óleos vegetais detidos por tais grupos.

Importante lembrar que na década de 50 tiveram início parcerias nacionais e estrangeiras, a despeito do ocorrido com a indústria de bebidas e estimulantes, período em que apenas começavam a ganhar força no mercado brasileiro, empresas como a Coca-Cola.

Todas essas descrições nos valem para remontar o arranjo geográfico das especificidades que as implicaram, o caráter menos ou mais adensado das fábricas, a origem dos empreendimentos e o nível do retorno que proporcionaram;

a permanência ou a instabilidade do montante acumulado em território nacional, o desenvolvimento do exército de reserva da força de trabalho, assim como o acirramento das condições de especulação imobiliária; o estrangulamento de infra- estruturas que, pelo próprio nome, denotam as bases necessárias à dinamicidade paulista e assim por diante. Efetivamente, proporcionam um amplo material sobre o qual podemos verter nossas ponderações e construir a imagem de um passado recente, que definiu os contornos da região metropolitana, do destaque ao ABC paulista e do próprio estado de São Paulo.

Depois da indústria alimentícia, segue a apreciação dos setores metalúrgicos e mecânicos, ressalvando que se comparadas às regiões industriais espalhadas pelo mundo, a paulista possuía modestas proporções. Contudo, confrontando-a ao restante do Brasil a situação se invertia, ou seja, São Paulo disparava na frente dos demais estados, tal a situação de incipiência no restante do país.

“(...) a posição de liderança, todavia, deve ser encarada mais como reflexo de nosso precário desenvolvimento no setor das indústrias básicas do que como testemunho real de um grande centro metalúrgico- mecânico em São Paulo;” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág.58)

Não obstante, o autor observou que os bens de produção do tipo máquinas e equipamentos alcançavam taxas de evolução expressivas, em relação à quantidade, sobretudo a qualidade técnica e dos produtos finais, ambos conquistados por meio das crescentes importações: Sua característica básica configurava essa dependência tanto de matérias-primas quanto de máquinas que permitiam confeccionar outras máquinas. Nesse ponto, a indústria paulistana passou a constituir uma espécie de “(...) oficina de montagem de peças compradas lá fora, além de ser um bom freguês das indústrias metalúrgicas estrangeiras.” (MATTOS).

Mesmo nesse contexto marcado predominantemente pela dependência do mercado externo, a Capital responsabilizou-se pela fabricação de artigos outrora importados, como também passou a comercializar matérias-primas do Rio de Janeiro (Volta Redonda) e de Minas Gerais. Desse modo, a paisagem criada pela

indústria de base guardou muito da fragmentação anterior analisada porque assim como a têxtil e a de alimentos, a maior parte das unidades computadas pelas estatísticas da época, não ultrapassavam os limites de oficinas para conserto ou reformas com investimentos extremamente acanhados. As exceções apareceram quando o autor se remeteu à intensa concentração de capitais em Santo André e São Caetano do Sul, desenhando uma geografia de maior nitidez funcional, que considerou:

“(...) não corresponde exatamente às áreas industriais do Velho Mundo ou dos Estados Unidos, pelo menos pode ser considerada o embrião dessas regiões altamente industrializadas.” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág.61)

No que se refere aos ramos químico e farmacêutico, o autor denotou não serem ambos capazes de fugir muito ao padrão de comportamento precedente, isto é, pequenas fábricas com algumas poucas exceções, espalhadas pelos municípios paulistas sem propriamente formarem uma paisagem característica, além disso, dependentes de importações. Entretanto, uma de suas peculiaridades repousa sobre o fato de haver um fluxo de exportação em que boa parte dos insumos necessários às fábricas envolvidas é levada em estado bruto e destina-se a fomentar as produções em outros países. A seu ver, tal situação seria alterada se fossem criadas as condições para que recebessem os primeiros beneficiamentos “in loco”. Desse adiamento, resultou a quase inexpressiva participação no quadro manufatureiro regional e nacional. De outro lado, os produtos demandados no mercado interno buscaram novamente a importação.

Mas temos aqui um lapso de atenção, pois nosso autor não remontou as origens dos empreendimentos que recobriam àqueles ramos. Significa dizer, nos anos 50 tivemos um contexto internacional de instauração dos grandes monopólios, entre os quais a própria “Companhia Química Rhodia”, instalada em Santo André. Portanto, o conjunto de causas que levaram às limitações impostas à indústria farmacêutica e química se pautou dentro de uma perspectiva ampla do processo de acumulação do capital transnacional.

Desse modo, chegamos ao último subgrupo que o autor averiguou que se intitula “outras indústrias paulistanas” composto por uma gama variada de

mercadorias. Essa parte da exposição inicia-se pelos “artefatos de borracha” e, imediatamente, recompõe a pouca relevância desses artigos até 1930, tendo essencialmente em São Paulo o lugar de sua produção. Datam desse período a implantação de fábricas não pouco importantes como a “Good-Year”, a “Firestone”, a “Pirelli” e a “Órion, apenas está última tem ascendência nacional. Tal atividade, distinta das demais arroladas, formou um arranjo concentrado, vinculando as unidades fabris. Ao analisá-la numericamente, Mattos verificou as deficiências quanto à construção dos dados disponíveis e por isso capazes de falsificar sua envergadura. Vejamos, então:

“(...) as estatísticas podem levar-nos a lamentáveis erros de apreciação. Dos 45 estabelecimentos registrados em 1945, apenas 3 eram realmente produtores de pneumático e câmaras-de-ar. (...) em compensação, surgiram muitas fábricas de artefatos de borracha para uso doméstico e para fins industriais.” (MATTOS in AZEVEDO (org.), 1956 v.III;pág. 65)

Devemos ressaltar que, dos grupos pertencentes a essa fração, somente um era ligado ao capital privado nacional, o que demonstra, uma vez mais, o peso da importância dos investimentos estrangeiros no parque industrial paulista.

Nesse subgrupo encontramos indústria de papel completamente vinculada ao mercado externo, exceto pela Companhia Melhoramentos de São Paulo que manteve sua fonte de matéria-prima com o cultivo do Pinheirinho, a fim de alimentar a linha produtiva. Semelhante situação se deu com a confecção de calçados, ou seja, a condição dominante de importador, mesmo com a gradativa inserção de suprimentos internos. Por sua vez, os equipamentos necessários à produção eram alocados da “United Shoe”, empresa que os monopolizou desde os tempos da primeira Guerra Mundial. A indústria de vestuário existente no estado caracterizou-se por absorver a força de trabalho de alfaiates e modistas, ou seja, por certo distanciamento da estandardização vigente em outros países. Finalmente, a fabricação de cigarros, datada do final da primeira Guerra Mundial, tendencialmente marcada pela concentração técnica e financeira.

Ao fechar essa etapa de seus escritos, não vimos uma só vez o autor indagar as razões que levaram à concentração de certos ramos arrolados, nas mãos de grupos multinacionais, ou sequer os motivos da dependência em relação

ao mercado internacional de matérias-primas e/ou de equipamentos. Assim, Mattos não tocou no âmago do processo de divisão internacional do trabalho e sua efetivação em escala nacional e, portanto, paulista. Entretanto, nossas

No documento O grande ABC paulista: o fetichismo da região (páginas 149-191)

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