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A Mata Atlântica depende de proteção

O futuro da Mata Atlântica depende da preservação de seus remanescentes e de ações de recuperação, para que se atinja um índice de 30% a 35% de áreas florestais, considerado ideal para a manutenção da qualidade de vida humana, segundo dados da Organização das Nações Unidas (CAMPANILI; PROCHNOW, 2006, p. 199).

Assim como a destruição, que não foi obra do mero acaso, a recuperação também será tarefa de muitos setores da sociedade. Para isso, as organizações ambientalistas já vêm construindo parcerias com setores governamentais nacio- nais e internacionais, organismos multilaterais, Ministério Público Federal, minis- térios públicos estaduais, instituições privadas e de pesquisa, proprietários de terra e também contam com a participação ativa de muitos órgãos de imprensa, especialmente de alguns profissionais que passaram a divulgar cada vez mais no- tícias a respeito de crimes ambientais e de alternativas de desenvolvimento sem agredir o meio ambiente (SCHÄFFER; PROCHNOW, 2002).

Nos últimos dez anos, diversas organizações ambientalistas começaram a desenvolver projetos de recuperação e preservação da Mata Atlântica, demons- trando que essas atividades podem se tornar oportunidades de negócios, com geração de emprego e renda. Já em 1992, a pressão das organizações da socie- dade civil foi responsável pela criação do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, apoiado pelos países do G7. O PDA é voltado para o apoio de iniciativas das organizações não governamentais e já apoiou, com recursos a fundo perdido, 44 projetos de preservação, recuperação e uso sustentável dos recursos naturais na Mata Atlântica, além de outros 144 na Amazônia, nos últimos 8 anos.

Por causa do sucesso desses projetos, o governo brasileiro obteve, em 2002, doação do governo alemão no valor de 17,7 milhões de euros, para serem repas- sados, por meio do PDA, a novos projetos de organizações não governamentais que promovam a preservação, a recuperação e o uso sustentável dos recursos naturais na Mata Atlântica.

Apesar dos avanços, muita coisa ainda resta para ser feita a fim de garan- tir a preservação e a recuperação da Mata Atlântica. Assim como a consciência ambiental da sociedade evolui, as organizações da sociedade civil precisam estar atentas e acompanhar essa evolução.

Um exemplo dessa evolução é o surgimento, em 2002, da Coalizão Flores- tas, uma instituição formada pelas seguintes redes: Rede de ONGs da Mata Atlân-

tica (RMA), Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Juntas, essas redes congregam mais de 800 instituições, entre organizações indígenas, seringueiros, pescadores, ribeiri- nhos, quilombolas, agricultores familiares, organizações ambientalistas, grupos de mulheres, organizações de pesquisa e socioambientais da Amazônia e da Mata Atlântica.

Essa organização das redes é uma evolução natural no processo de organi- zação e amadurecimento da sociedade civil, que conta até mesmo com a partici- pação de órgãos públicos em seu conselho diretor. Essa evolução também amplia sua capacidade de participação nas políticas públicas, com um salto de qualida- de, passando das fases de contestação e discussão para uma nova fase, de imple- mentação e execução, ampliando a legitimidade das redes perante a sociedade em geral e perante o governo brasileiro e os organismos internacionais.

Tudo isso mostra que a consciência da população brasileira a respeito do meio ambiente vem mudando. Além disso, cada vez mais pessoas e instituições procuram conciliar o uso dos recursos florestais com a preservação da Mata Atlân- tica.

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

CAMPANILI, M.; PROCHNOW, M. (Org.). Mata atlântica: uma rede pela floresta. Brasília, DF: Globaltec Produções Gráficas 2006. 344 p.

CAPOBIANCO, J. P. R. Mata Atlântica: conceito, abrangência e área original. In: SCHÀFFER, W. B.; PROCHNOW, M. (Org.). A Mata Atlântica e você: como preservar, recuperar e se beneficiar da mais ameaçada floresta brasileira. Brasília, DF: Apremavi, 2002. p. 111-22.

CNA. Comissão Nacional de Agricultura. Brasília, DF, 2001. 189 p.

CONAMA. Resolução nº 002/1992. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/Port/conama/legipe sq.c&m?tipo=3&numeio=&ano=1992&texto=>. Acesso em: 19 set. 2011.

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE HUMANO, 1., 1972, Estocolmo.

Anais... Estocolmo: CNUMAD, 1972.

DEAN, W. A ferro e fogo: a história da devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 484 p.

HOEHNE, F. C. Araucarilândia: observações gerais e contribuições ao estudo da flora e phytophysiononia do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1930.

SCHÄFFER, W. B.; PROCHNOW, M. (Org.). A Mata Atlântica e você: como preservar, recuperar e se beneficiar da mais ameaçada floresta brasileira. Brasília, DF: Apremavi, 2002. 156 p.

Literatura recomendada

ATLAS da evolução dos remanescentes florestais e ecossistemas associados no Domínio da Mata Atlântica: período 1990 a 1995. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica: Instituto Socioambiental e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1998.

CAPOBIANCO, J. P. R.; LIMA, A. R. Mata Atlântica: avanços legais e institucionais para sua conservação. Brasília, DF: Instituto Socioambiental, 1997. 118 p. (Documentos do ISA, n. 4.). MEDEIROS, J. de D. Mata Atlântica em Santa Catarina: situação atual e perspectivas futuras. In: SCHÄFFER, W. B.; PROCHNOW, M. (Org.). A Mata Atlântica e você: como preservar, recuperar e se beneficiar da mais ameaçada floresta brasileira. Brasília, DF: Apremavi, 2002, p. 103-9.

PROCHNOW, M. Dinâmicas regionais da luta ambiental: o movimento em Santa Catarina. Revista

“A mãe conta que eles saíam para passear... ficavam uma semana passeando... que os parentes eram longe, tinham que ir a cavalo [...] e não achavam difícil fazer isso! Hoje em dia nem se visi- tam mais... parece que se queriam mais bem.”

As palavras da cambaraense dona Neiva demonstram a nostalgia por um tempo em que a distância entre as pessoas nos Campos de Cima da Serra não representava ausência de uma vida comum. A região, localizada na porção norte- nordeste do Rio Grande do Sul e caracterizada por extensas planícies pontuadas

por coxilhas1 e resquícios das matas de pinhais, vem sendo cenário de pesqui-

sas na área socioambiental. A experiência aqui relatada acumula os resultados de ações em educação ambiental, desenvolvidas mais precisamente no Município de Cambará do Sul, entre 1996 e 2002, como parte de um projeto de desenvolvi- mento sustentável para a região.

Partindo de uma visão de ambiente que não separa natureza e cultura, é importante perceber a interação dinâmica entre os aspectos naturais do local, as

baixas temperaturas, as longas distâncias, o silêncio dos cânions2, as belas paisa-

gens. São imagens que fazem parte da teia de significados que envolve a cultu-

1 Linha ou ondulação do cume de uma serra, contínuo de colinas em campo plano, paisagem

típica de regiões argentinas que se estendem ao Rio Grande do Sul, cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Rio de janeiro, 2001.

2 Do inglês canyon, sinônimo de canhão; garganta ou vale sinuoso e profundo, cavado por

um curso de água, cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, 2001.

Patrícia Vianna Bohrer