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Meio ambiente e biodiversidade

Os setores ligados à utilização da biodiversidade e à biotecnologia ambien- tal são emergentes no cenário brasileiro. No primeiro caso, pela necessidade de triagem de plantas, microrganismos e animais nativos, visando à descoberta de genomas, genes e moléculas de valor econômico. No segundo, pela demanda de biotecnologias para tratamento e utilização de efluentes industriais e biorreme- diação. Os dois setores são estratégicos para que o País estabeleça políticas de desenvolvimento sustentável. Essas políticas serão determinantes de competiti- vidade nas próximas décadas.

Segundo autores como Abreu et al. (1998), agrobiodiversidade é um com- ponente crítico da biodiversidade global e, já que mais de 75% da produção mun- dial de alimentos são produzidos por pouco mais de 25 espécies domésticas de plantas e animais, a manipulação e o manejo desses recursos genéticos são es- senciais para a segurança alimentar do mundo. Esse fato vai ao encontro de outra grande necessidade: a do aumento de produtividade e sustentabilidade dos siste- mas de produção. Assim, a identificação de germoplasma animal e vegetal – que seja altamente produtivo e adaptado às condições ecológicas – é uma prioridade mundial reconhecida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Tal prioridade se traduz em iniciativas para conservação e uso sustentável dos recursos. Dessa forma, o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (Tirfaa) da FAO tem por objetivos a conserva- ção e o uso sustentável dos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricul- tura, além da repartição justa e equitativa dos benefícios derivados de sua utili- zação, em harmonia com a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), tanto para uma agricultura sustentável quanto para a segurança alimentar. Esse tratado foi aprovado em Roma, em 3 de novembro de 2001 (FAO, 2011) sendo assinado pelo Brasil em 10 de junho de 2002, e ratificado e promulgado por meio do Decre- to nº 6.476/2008 (BRASIL, 2008).

O interesse mais imediato, no caso da biodiversidade, vem dos setores far- macêuticos e da agroindústria. Basta lembrar que a taxa de sucesso na desco- berta de princípios farmacologicamente ativos em plantas é de 1 em 125, e de 1 em 10 mil quando se escrutiniza compostos provenientes de síntese química. E, enquanto estão sendo descobertos genes em vegetais e microrganismos selva- gens que conferem a resistência a doenças em variedades comerciais de plantas, há também a possibilidade de se “domesticar” plantas para aplicações comerciais (MOREIRA FILHO, 1998). Já a agroindústria tem interesse em áreas como obtenção de tecnologias para detecção e controle de pragas e doenças, além de reprodu- ção animal e vegetal, medicamentos e vacinas, kits de diagnósticos, alimentos, técnicas de liberação controlada, etc.

A biotecnologia ambiental envolve não apenas os métodos de tratamento de efluentes e biorremediação (com grande demanda potencial no Brasil), mas também o desenvolvimento de sistemas para parques industriais, nos quais uma indústria possa aproveitar os resíduos da outra ou efetuar a remobilização desses resíduos. A grande preocupação com os problemas ambientais tende a tornar a degradação biológica de efluentes uma alternativa mais atraente que os métodos naturais e químicos, por acelerar o processo e por ser mais barata e aceitável que os métodos químicos.

No caso de alguns poluentes, como os cianetos, que são compostos po- tencialmente tóxicos a qualquer tipo de vida – altamente utilizados na lixiviação

de minérios, como intermediários químicos e de compostos farmacêuticos (da ordem de 3 milhões de toneladas/ano) –, a degradação biológica já conta com a utilização de organismos vivos como bactérias, fungos e algas. Esses organismos possuem sistemas enzimáticos e vias metabólicas específicas, capazes de trans- formar esses tóxicos em produtos menos agressivos ao meio ambiente.

Dessa forma, surge uma janela de oportunidade para o Brasil a partir das grandes possibilidades que emergem da agricultura alternativa, baseada na pro- dução de compostos naturais de alto valor no mercado internacional. Assim, qual- quer que seja a política do governo com relação à pesquisa em biotecnologia, essa deve levar em consideração a necessidade de se melhorar os conhecimentos sobre os valiosos princípios ativos escondidos na flora brasileira e também a ne- cessidade de se preservar aquelas espécies que, aparentemente, não têm valor no momento, mas que podem ter no futuro (JESUS et al., 2006).

O apoio público à atividade de pesquisa, desenvolvimento e inovação nas empresas é uma prática comum nos países desenvolvidos. No Brasil, a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia (PDB), por meio do Decreto nº 6.041/2007 (BRASIL, 2007), traz uma proposta para enfrentar os desafios e aproveitar as opor- tunidades para essa área, identificados no diagnóstico nacional elaborado pelo Fórum de Competitividade de Biotecnologia, que envolveu representantes do Governo Federal, do setor empresarial e científico, laboratórios públicos e insti- tuições relacionadas. A PBD prioriza as áreas de saúde humana, agropecuária, in- dustrial e ambiental. Nela são também estabelecidos objetivos específicos e dire- trizes para inovação, propriedade intelectual, biossegurança, bioética e acesso ao patrimônio genético, além de conhecimento tradicional associado e repartição de benefícios, entre outras regulamentações.

Com base nessa política, foi criado o Comitê Nacional de Biotecnologia (CNB), a quem compete coordenar sua implementação, atualização, harmoniza- ção com as demais políticas vigentes, integração de ações e seu monitoramento. O CNB foi instituído pelo art. 4º, do Decreto nº 6.041, lançado em fevereiro de 2007. Esse comitê coordena a implantação da PDB, visando ao desenvolvimento da indústria brasileira bem como à utilização da biotecnologia pela sociedade.

Atualmente, o comitê é composto por 21 membros de diversas esferas do Gover- no Federal, com representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que o coordena, da Casa Civil e dos Ministérios da Saú- de, Ciência e Tecnologia, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Meio Ambiente, Educação, Desenvolvimento Agrário, Justiça, Defesa e Pesca e Aquicultura. Além desses, conta também com representantes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Conselho Na- cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Na- cional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

O Fórum de Competitividade é o mecanismo do Ministério do Desenvolvi- mento, Indústria e Comércio Exterior para a elevação da competitividade de seto- res e áreas tecnológicas que apresentam impactos relevantes sobre o desenvolvi- mento econômico do Brasil. Criado em 2004, o Fórum da Biotecnologia tem tido uma participação relevante da sociedade. Desde então, os assuntos discutidos e encaminhados ao fórum e aos seus grupos de trabalho alcançam o Governo Fede- ral por meio do CNB (FÓRUM DE COMPETITIVIDADE DA BIOTECNOLOGIA, 2011).

A participação dos vários setores da sociedade civil está garantida na com- posição do Fórum de Competitividade de Biotecnologia. O fórum é aberto à par- ticipação de representantes de órgãos do Governo Federal, dos governos esta- duais, de organizações representativas do setor produtivo e da sociedade civil bem como da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Outras entidades, associações e/ou órgãos que forem considerados relevantes para as atividades do fórum poderão participar mediante solicitação de ingresso feita por meio de encaminhamento de ofício ao coordenador do fórum.

O fórum assessora o CNB, assim como outros colegiados do Governo Fede- ral: Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN),

Conselho Nacional de Saúde (CNS) e o Conselho Nacional de Segurança Alimen- tar e Nutricional (Consea), que poderão propor ações consideradas relevantes para o aperfeiçoamento da PDB, bem como outros colegiados e órgãos do Gover- no Federal, a critério do CNB.