• Nenhum resultado encontrado

F ATORES NA ORIGEM DA NECESSIDADE DE REABILITAÇÃO E REFORÇO

Genericamente, as causas que justificam os trabalhos de reabilitação e reforço de fundações podem ser classificadas em três grandes grupos:

 Trabalhos de remodelação;  Trabalhos de proteção;

 Trabalhos de reparação e fortalecimento.

Uma parte significativa do volume de trabalhos de reforço de fundações existentes, é devido à realização de obras de remodelação nos edifícios. Habitualmente, a este tipo de trabalhos estão subjacentes transformações nos edifícios, com o intuito de os dotar de novas e mais atualizadas utilizações, isto é, mudanças na sua utilização-tipo (Carreto, 1985). Segundo Coelho (1996), estas operações envolvem muitas vezes o aumento do número de pisos, de cargas de utilização e a supressão e substituição de divisórias e apoios, contribuindo todos estes fatores para alterações na distribuição de pressões transmitidas ao solo de fundação, surgindo assim a necessidade de melhorar e reforçar as fundações que se tornaram insuficientes.

A remodelação de edifícios é efetuada por vários motivos, dando-se como exemplos a preservação de partes ou da totalidade de edifícios de relevo histórico, a adaptação aos novos códigos e regulamentações, a valorização comercial que se pode obter com a alteração das utilizações-tipo e também o facto de se minimizar as despesas com construções novas, aproveitando as já existentes, o que permite consequentemente uma poupança de recursos (Thorburn e Littlejohn,1993).

Quanto ao segundo caso, os trabalhos de proteção podem ser necessários nas seguintes situações (Thorburn e Littlejohn,1993):

 Construção de novos edifícios (que em vários casos envolvem grandes escavações) na proximidade de edifícios existentes, que justifiquem a realização de trabalhos de reforço das fundações, bem como de estruturas de contenção, com o objetivo de limitar os movimentos;

 A construção de caves em edifícios existentes ou em edifícios em remodelação;

 A construção de novas estruturas subterrâneas, como túneis e condutas, cuja execução pode levar a grandes deslocamentos;

 O crescimento de árvores em solos argilosos, que causam variações do teor em água no solo, provocando assentamentos;

 A construção de estruturas com instalações mecânicas que possam causar grandes vibrações;

 Rebaixamento do nível freático.

Como supracitado, a construção de caves é um dos muitos fatores que originam a necessidade de se reforçar as fundações de um edifício, já que as escavações necessárias à sua execução provocam deslocamentos suscetíveis de por em causa o equilíbrio do edifício onde se realizam as obras, ou dos edifícios contíguos. Deste modo, é pertinente a menção ao gráfico apresentado na Figura 3.1, interpretado por Peck (1969) e citado por Thorburn e Littlejohn (1993), que mostra os deslocamentos verticais passíveis de ocorrer em função da distância às fachadas dos edifícios, perto dos quais se executam escavações suportadas. Os assentamentos e as distâncias são adimensionais, já que se apresentam sob a forma de uma fração onde o denominador é a profundidade máxima da escavação. Apesar deste gráfico ter sido realizado para um conjunto relativamente pequeno de observações (em diferentes tipos de solos), este é bastante útil na medida em que possibilita uma avaliação aproximada dos assentamentos que os edifícios na proximidade da escavação podem experimentar, o que é uma

informação fundamental aquando da realização de trabalhos de reforço de fundações (Thorburn e Littlejohn,1993).

Chama-se a atenção para o facto das zonas apresentadas no gráfico dizerem respeito aos diferentes tipos de solos onde as escavações e as observações foram realizadas.

Fig.3.1 – Assentamentos ocorridos em edifícios perto de escavações suportadas [95]

Para além dos movimentos verticais, as escavações suportadas provocam também movimentos horizontais. As deformações sofridas pelos edifícios contíguos às escavações são dependentes dos tipos dos solos, do seu estado e do tipo de sustentamento dado à escavação (Figura 3.2), assumindo tipicamente a forma convexa ou côncava (Viana da Fonseca, 2005).

Fig.3.2 – Movimentos associados a edifícios adjacentes a escavações suportadas [89]

Por último, o terceiro caso, está relacionado com a degradação progressiva quer da capacidade de suporte do terreno, usualmente relacionada com fenómenos de erosão ou de alteração do nível freático, quer das fundações, como o apodrecimento das estacas de madeira devido ao rebaixamento dos níveis de água subterrâneos e a corrosão das estacas metálicas devido a ações químicas ou eletrolíticas (Carreto, 1985). A ss en tam en to A lt u ra m áxim a da esc ava çã o

%

Distância à escavação Altura máxima da escavação

Zona I: Areia e argila mole a dura; Zona II: Argila muito mole a mole até uma profundidade pequena

relativamente ao fundo de escavação; Zona III: Argila muito mole a mole até uma profundidade significativa relativamente ao fundo da escavação.

A construção de fundações em betão armado em meios agressivos, onde a presença de determinadas substâncias químicas, como os sulfatos, que levam à destruição das camadas superficiais do betão, provocando consequentemente corrosão das armaduras, é também um motivo para se proceder a trabalhos de reparação e reforço das fundações (Shvets et al., 1996).

Erros no estudo, projeto e construção das fundações também podem estar na origem dos trabalhos de reparação e reforço. Entre estes referem-se o insuficiente estudo do solo, fundações excêntricas em relação à carga, falta de consideração da sobrecarga atuante no nível térreo do edifício, estacas não cravadas até à profundidade adequada, rotura das estacas, sobretudo por sobrecravação, estacas com defeitos de execução na sua cravação ou betonagem, atrito negativo provocado pelo assentamento do terreno, que leva à ultrapassagem da capacidade de carga disponível na estaca, etc.