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ATRASO NA ENTREGA DA UNIDADE IMOBILIÁRIA E DANO MORAL

No documento RDJ 109 n. 2 (páginas 145-147)

Há dois entendimentos no TJDFT acerca do cabimento de indenização por dano moral ao consumidor, quando decorrente de atraso na entrega de unidade imobiliária adquirida de incorporadora. No primeiro, julga-se improcedente o pedido por interpretar-se que o referido atraso configura mero inadimplemento contratual, não gerador de direito a esse tipo de compensação. Os danos morais em razão do retardo na entrega do imóvel são considerados indevidos, porque não há violação a direito da persona- lidade do cliente, e o descumprimento obrigacional constitui dissabor ou incômodo a que todos os cidadãos se sujeitam em algum momento da vida. Consigna-se que a reparação a esse título acabaria por banalizar o instituto, o que não deve ser incentivado pela atividade jurisdicional.

Já aqueles que decidem pelo cabimento da reparação entendem que o evento ultrapassa o simples aborrecimento cotidiano. A fixação de um valor para ressarcir os danos morais na espécie não só é uma forma de reconhecer a violação a direito da personalidade, mas também possui a finalidade peda- gógica de evitar a reiteração do comportamento do ofensor. Essa corrente confere primazia ao consumidor, como parte mais frágil na relação jurídica, e utiliza o dano moral como instrumento de proteção do hipossuficiente.

Acórdãos representativos do não cabimento de reparação por dano moral nos casos de atraso na entrega de unidade imobiliária:

Des. Angelo Passareli

Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima, ofendendo os direitos da persona- lidade. No entanto, não é qualquer dissabor comezinho da vida que pode ensejar indenização, mas as invectivas que atingem a honra alheia, causando dano efetivo. A insatisfa- ção sofrida pela Autora é comum a todo tipo de inadimple- mento, não configurando dano que ocasione um distúrbio ou desconforto anormal na vida do indivíduo. [...] Portanto, embora se reconheça que o atraso na entrega do imóvel ad- quirido pela Autora tenha lhe causado transtornos e abor- recimentos, não há como se reconhecer a ocorrência de vio- lação aos direitos da personalidade, de maneira a motivar a fixação de indenização por dano moral (TJDFT, 5ª Turma Cível, Acórdão n. 1094967, APC 07093648120178070003, Relator Des. Angelo Passareli, DJe de 14/5/2018).

Desª. Leila Arlanch

Salienta-se que apesar do incômodo causado com o descum- primento, não é possível afirmar que o todo mau entendi-

REVISTA DE DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA. 53. BRASÍLIA. 109 (2). JURISPRUDÊNCIA / JAN - JUN 2018 mento entre contratantes resvalem na esfera do direito fundamental destes; caso contrário, haveria uma desvirtuação e banalização do instituto. [...] No caso ora em análise não se en- contram elementos que possam evidenciar sofrimento de natureza psíquica indenizável e como bem ponderado pelo Ministro João Otávio no RESP nº 876527-RJ, a frustração com o contrato não cumprido é certa, mas não se apresenta suficiente para produzir o dano moral, o qual pressupõe ofensa anormal à personalidade. Assim, incabível a indenização a título de dano moral pleiteada pelos autores-apelantes (TJDFT, 7ª Turma Cível, Acórdão n. 1091907, APC 00335932620158070001, Relatora Desª. Leila Arlanch, DJe de 3/5/2018) .

Des. Romeu Gonzaga Neiva

No que pertine ao pedido dos autores de serem ressarcidos por dano moral, vejo não proce- dente na medida em que, apesar de terem tido insatisfações, estas não refletem dano capaz de acarretar ofensa ao direito da personalidade. Os dissabores e as chateações vivenciadas decorreram de situações de vida comum que regem as relações em sociedade, com refle- xos no direito patrimonial e não moral (TJDFT, 7ª Turma Cível, Acórdão n. 1076462, APC 07094107620178070001, Relator Des. Romeu Gonzaga Neiva, DJe de 27/02/2018).

Des. João Egmont

O inadimplemento motivado pelo descumprimento de obrigação contratual, em regra, não causa, por si só, dano moral, que pressupõe ofensa anormal à imagem, ao patrimô- nio imaterial da vítima. Na hipótese em exame, o atraso na entrega do imóvel, apesar de ter sido causa de muitos dissabores, não enseja reparação por danos morais, diante da não ocorrência de ofensa a direitos de personalidade do demandante. Isto é, ainda que frustrada a expectativa de receber o imóvel, tal circunstância, embora extremamente desagradável, não chega a caracterizar dano moral (TJDFT, 2ª Turma Cível, Acórdão n. 1089141, APC 20160710082016, Relator Des. João Egmont, DJe de 17/4/2018).

Des. Fernando Habibe

Todavia, em regra, o imperfeito cumprimento de contrato não ocasiona o direito de re- paração civil por dano moral, pois o inadimplemento, total ou parcial, constitui fato que pode ocorrer na vida em sociedade, e que não importa ofensa à dignidade humana. Nada mais que um dissabor que pode ou não ocorrer no trato comercial, diante de negócios ou interesses frustrados ou retardados. De fato, é preciso ofensa anormal à personalidade para configurar o dano moral, não bastando o inadimplemento de contrato ou dissabor dele decorrente (TJDFT, 4ª Turma Cível, Acórdão n. 1070936, APC 20150310154502, Rela- tor Des. Fernando Habibe, DJe de 5/2/2018).

Desª. Maria Ivatônia

No que tange à pretensão de reparação por danos morais, é certo que, salvo circunstância excepcional que coloque o contratante em situação de extraordinária angústia ou humilha- ção, o simples atraso na entrega do imóvel, embora possa gerar frustração e aborrecimen- tos, não tem aptidão para, por si só, atingir os direitos da personalidade. No caso dos au- tos, depreende-se que a situação vivenciada pelos autores/apelantes ultrapassa a barreira do mero descumprimento contratual, considerando as condições em que foi entregue um imóvel novo, com grave problema de infiltração, umidade e mofo no quarto do casal (fls. 299/303 e 432/444) causado por vício de qualidade da obra - falha na calafetação/imperme- abilização do peitoril externo - tornando-o inutilizável conforme atestado pela perícia (fls. 472/474) e reconhecido em sentença (fl. 525), vício este que, apesar de apontado em soli- citações de serviços de assistência técnica datadas de 16/12/2011 e 17/01/2012 (fls. 145/146), não foi devidamente sanado pelas requeridas/apeladas, impondo-se, por conseguinte, o reconhecimento do dano moral invocado e o dever de reparação (TJDFT, 5ª Turma Cível, Acórdão n. 1089616, APC 20130710136197, Relatora Desª. Maria Ivatônia, DJe de 20/4/2018).

Acórdão representativo do cabimento de reparação por dano moral nos casos de atraso na entrega de imóvel:

Des. Roberto Freitas

O dano extrapatrimonial não se caracteriza apenas quando há lesão à ofensa aos direitos da personalidade, tendo também uma finalidade pedagógica, direcionada ao comporta- mento do agente ofensor. Trata-se de medida que, além de satisfazer o direito do ofen- dido, tem o condão de coibir condutas ofensivas e reiteradas, de modo a desestimular a sua reiteração. Não obstante tenha a doutrina solidificado o entendimento de que o dano moral guarda relação com os direitos da personalidade, não há como se desconsiderar que também pode ser adotado como instrumento de proteção do consumidor contra con- dutas lesivas de agentes econômicos, denominados litigantes habituais. Com efeito, já se verifica alguns julgados do Superior Tribunal de Justiça, reconhecendo a ocorrência de dano independentemente de prova do prejuízo (dano in re ipsa) (TJDFT, 1ª Turma Cível, Acórdão n. 1085967, APC 20141110069268, Relator Des. Roberto Freitas, DJe de 5/4/2018).

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NOTAS DE JURISPRUDÊNCIA

COBRANÇA DE TAXA CONDOMINIAL

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