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Com a diversidade de teorias elencou-se um conjunto de atributos que permitissem escolher a mais aderente aos objetivos dessa pesquisa. Foram eles:

1. Alinhamento com o paradigma das teorias de avaliação, a exemplo da teoria de linguagem. O recorte semelhante da realidade (reação a eventos, julgamento das ações de agentes e atratividade de objetos) facilitaria, ou mesmo, permitiria o alinhamento mencionado;

2. A relevância do uso da linguagem como evidência para estados emotivos, em detrimento de teorias que avaliam reações corporais internas (como variação do ritmo cardíaco) ou expressões faciais; 3. Uma estrutura que permita agrupar o, praticamente ilimitado, número

de situações com potencial para gerar emoções, diminuindo o tamanho da base de conhecimento para caracterizar cada um deles;

4. Uma estrutura que permita agrupar as inúmeras formas de se expressar uma mesma emoção, seja através do emprego de uma palavra ou cláusula;

5. Que possa ser utilizada por um agente artificial para inferir/raciocinar sobre emoção; e

6. Ter sido bastante referenciada, uma evidência indireta de sua aplicabilidade.

O propósito aqui é justificar como o modelo de Ortogny, Clore e Collins (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988), conhecido na literatura como modelo OCC adere aos atributos acima litados.

A própria definição de emoção dada pelos autores (ver seção 3.4.1) fornece evidências do alinhamento dessa teoria com a atributo 1. Emoção sendo uma reação com valência a uma ocorrência conforme avaliada pelo ser que sente pressupõe cognição. Adicionalmente, como descrito na figura 3.8, seu corte de mundo, exatamente por serem elaboradas sob o paradigma da teoria de avaliatividade, são semelhantes.

(ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988) enumeram quatro tipos de evidências que podem ser utilizadas para a compreensão de emoções. A primeira é chamada de

“linguagem das emoções” que vem “repleta de ambiguidades, sinônimos e uma abundância de lacunas e armadilhas linguísticas”, que no escopo dessa tese se apelida de ruído. Adicionalmente afirmam que “emoções não são coisas linguísticas, mas o mais disponível acesso não fenomenológico a elas é através da linguagem”. Como será discutido na seção 3.6, na estrutura do modelo, os autores propõem palavras que caracterizam tipos de emoção. Essa característica alinha o modelo OCC com o atributo 2. Entretanto ele alertam para o uso cuidadoso da linguagem como evidência para emoção. A segunda fonte de evidências está no preenchimento de questionários onde o indivíduo relata o que sente. Interessante é que até o momento da criação do modelo os autores afirmam não haver uma medida objetiva que pode de forma conclusiva estabelecer a emoção sentida. A premissa para a validade desse tipo de evidência reside no fato de a pessoa ter acesso direto ao que sente, por exemplo medo, tornando válidas as suas respostas. O terceiro tipo de evidência é o comportamental que tem sua importância diminuída pelos autores em função dos objetivos do modelo. Eles ponderam que alguns comportamentos resultantes de emoções podem não ser executados, pois seriam prejudiciais ao alcance de objetivos do agente. Por exemplo reagir com agressão física à raiva. Entretanto os autores não consideram essa modulação que é pertinente nas demais evidências. O quarto tipo de evidência é o fisiológico, mas, enquanto reconhecem sua importância, descartam por fornecerem pouca evidência aos aspectos cognitivos.

Esse modelo, por partir do paradigma da teoria de avaliatividade, recorta o mundo de tal forma que o alinha com o atributo 3. Nesse paradigma o agente reage ao resultado de um evento, às ações de um agente e aos aspectos de um objeto.

O modelo oferece um pequeno dicionário (130 palavras distribuídas em 22 tipos de emoção), mas que serve como ponto de partida para ampliação, de palavras que caracterizam cada tipo de emoção. Isso o alinha com o atributo 442.

A justificativa do alinhamento desse modelo com o atributo 5 é dada em (BAILLIE, 2002) onde o autor afirma que “o modelo se presta admiravelmente a sistemas em IA e, apesar de não ter sido proposto para sintetizar emoções em computador, é utilizado como base em pesquisas na computação afetiva…”.

Até o momento da escrita dessa tese esse modelo havia sido citado em 5.315

42 Vale ressaltar que não se utilizou esse dicionário nessa pesquisa, embora haja pretensão de se utilizá-lo na continuação dos trabalhos.

artigos. Isso serviu de “proxy” para o atendimento do seu alinhamento com o atributo 6.

3.5.1 O “Relógio de Areia” das emoções

Na revisão bibliográfica identificou-se outro modelo que adere a 5 dos 6 atributos de escolha descritos na seção 3.5. Até o momento da escrita dessa tese esse modelo havia sido citado 30 vezes, ferindo o 643. Intitulado “The hourglass of emotions”

foi feito para reconhecer, compreender e expressar emoções na iteração homem- máquina (CAMBRIA; LIVINGSTONE; HUSSAIN, 2012). Nesse modelo os estados afetivos são desmembrados em quatro dimensões: agradabilidade; atenção; sensibilidade e aptidão. Cada dimensão é dividida em seis níveis, uma escala numérica que varia no intervalo [-3, 3], que fornece a intensidade da emoção. Dada as dimensões e as intensidades os autores classificam 24 emoções, sendo 12 positivas e 12 negativas. A emoção medo, por exemplo, estaria na interseção da dimensão sensibilidade com o nível -2. Para o tratamento de texto, os autores apoiam-se em dicionários que englobam as palavras que caracterizam cada emoção. A figura 3.7 contém uma descrição do modelo.

A intensidade de uma emoção consiste em uma das variáveis de entrada na função que “dispara” uma reação com valência no modelo OCC. Não foi objeto central elaborar um dicionário de palavras. Portanto sua ausência constitui uma lacuna, potencializada pela inexistência da discussão de como extrair sua intensidade da evidência linguística. Na prática, por exemplo, a palavra “medo” tipifica a emoção do tipo medo e os autores sugerem que sua intensidade seja neutra. Já a palavra “apavorado” seria uma emoção do tipo medo, porém com intensidade alta. A palavra “preocupado” seria uma emoção do tipo medo com intensidade baixa.

A discussão proposta por (CAMBRIA; LIVINGSTONE; HUSSAIN, 2012) foi utilizada como um dos dois apoios teóricos, o outro é (HEISE, 1970) para calcular a intensidade de uma emoção. Duas são as diferenças do aqui desenvolvido para o modelo “The hourglass of emotion”. A primeira diferença reside nas dimensões que no caso da tese aqui descrita foi apenas a intensidade. A segunda consiste na escala, que consistiu em um número no intervalo entre [-1,1] (ver seção 3.3).

Figura 3.7: “The hourglass of emotion” (extraído de(CAMBRIA et al., 2012)) Agradabilidade Atenção Sensibilidade Capacidade 3 êxtase vigilância fúria admiração 2 alegria expectativa raiva confiança 1 serenidade interesse aborrecimento aceitação

0 - - - -

-1 melancolia distração apreensão tédio -2 tristeza surpresa medo aversão -3 pesar espanto terror repugnância