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O resumo das diversas teorias de emoção que se segue está baseado em três textos: (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988); (DE SOUSA, 2014); e (BAILLIE, 2002). Seu objetivo consiste na contextualização da teoria utilizada a luz das diversas correntes de pensamento.

Vale ressaltar, considerando os textos em que o resumo se apoia, que algumas linhas de estudo da emoção não foram apreciadas. Particularmente não se descreve a visão da emoção sob a ótica das diversas correntes psicanalíticas e da neurociência. Se entende que essas linhas de pensamento trazem contribuições e serão alvo de estudo na continuação das pesquisas que se iniciam nessa tese.

O que é emoção? (BAILLIE, 2002) especula em sua tese de doutorado que a origem da não convergência em uma definição universalmente aceita deriva do fato de a palavra ser utilizada em diferentes domínios, tais como; neurologia; psicologia; e

inteligência artificial para “descrever um largo espectro de estados cognitivos e fisiológicos do ser que sente”.

Os autores (REISENZEIN et al., 2013) especulam que uma definição de emoção deve estar atrelada a uma teoria de emoção. A inexistência de uma teoria universalmente aceita, acarreta a ausência de uma definição.

Já (DE SOUSA, 2014) partindo das diversas abordagens teóricas reflete que emoção pode ser um processo fisiológico, ou percepção desse processo, de ser um estado neuropsicológico, de ser uma disposição adaptativa, de ser um julgamento avaliativo ou de ser um processo dinâmico. Vendo essas definições como parciais o autor propõe reformular a pergunta “Para o que serve a emoção?”. Emoção seria percebida no momento da ruptura das “funções adaptativas” como pensamento, percepção e planejamento racional. Serviria, então, para em um primeiro momento escolher uma subfunção reativa ao que levou à ruptura e, em um segundo momento, para desempenhar a função escolhida.

Entretanto uma definição se faz necessária, e, por nessa pesquisa se ter optado por sua teoria, foi escolhida a dada por (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988) onde “emoção consiste na reação com valência a evento, agente ou objeto, com sua natureza particular sendo determinada pelo modo como as situações que as provocam são percebidas” pelo ser que sente. Nesse caso valência consiste no atrativo intrínseco (valência positiva) ou aversão (valência negativa) ao referido evento, agente ou objeto40.

Essa escolha alinha essa pesquisa no paradigma da teoria cognitiva. (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988) chama o adjetivo que qualifica a teoria, no caso cognitiva, de variável, enquanto (DE SOUSA, 2014) o chama de “abordagem”.

A variável cognitiva de (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988) é dividida em duas abordagens por (DE SOUSA, 2014): “psicológica e evolutiva” e a teoria cognitiva propriamente dita.

A “psicológica e evolutiva”, na prática é uma subdivisão em duas classes: a psicológica e a evolutiva. Em sua subdivisão psicológica, o autor descreve que “emoção envolve avaliação” e que dessa avaliação emerge atração ou aversão dependendo da forma que é percebida pelo agente que a sente. O autor caracteriza teorias avaliativas como uma abordagem funcional à emoção, pois a avaliações levam a reações com a

finalidade de tratar com específicos tipos de situações com algum significado para o indivíduo. Essa caracterização de emoção se alinha com a definição dada acima. Já na subdivisão evolutiva a pergunta que emerge é “Por que temos tipos de emoções?”. Essa pergunta leva a uma resposta evolutiva onde “emoção consiste em uma adaptação cujo propósito é resolver um problema ecológico básico com o qual o organismo se depara”. Nessa subdivisão o autor classifica teorias que abordam a emoção como forma de expressão, valorizando a sua utilidade na comunicação com outros indivíduos. Segundo o autor seu caráter evolutivo fica acentuado por teóricos dessa abordagem terem se inspirado em Darwin, que entende que a “expressão emocional é uma importante parte do programa afetivo que consiste em respostas complexas encontradas em todas as populações humanas que são controladas por mecanismos operando debaixo da consciência humana”. Nessa linha o autor lista a teoria de (EKMAN, 1993) que trata com expressões, na literatura chamada de emoções básicas que são: alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e desgosto.

A segunda abordagem de (DE SOUSA, 2014) se diferencia da abordagem “psicológica e evolutiva” pelo fato dos teóricos dessa linha entenderem que emoção envolve uma atitude propositiva, ou seja, envolve alguma espécie de atitude direcionada a uma proposição. Essa posição identifica emoção com julgamento. Um exemplo seria que um indivíduo somente pode sentir raiva de outro se julgar que o último é o responsável por uma ofensa.

Exceto pela subdivisão evolutiva da primeira abordagem a teoria de (ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988) encontra semelhanças com as duas abordagens descritas em (DE SOUSA, 2014).

Segundo (DE SOUSA, 2014) as emoções básicas, acima listadas, seriam mecanismos integrados e implementados por circuitos naturais no cérebro de humanos, em particular, mas também no de todos os mamíferos. Os teóricos que seguem esse princípio entendem que as demais emoções seriam resultantes da composição ou mistura dessas emoções básicas.

(ORTONY; CLORE; COLLINS, 1988) rejeitam a ideia de que exista esse conjunto de emoções. Enquanto entendem que algumas, como alegria, tristeza, raiva e medo são encontradas em todas as culturas, rejeitam a universalidade das demais. Questionam se as emoções não básicas consistem em uma composição das básicas, levantando a dificuldade de se encontrar da emoção resultante as suas constituintes. Se

as emoções não básicas constituírem uma mistura das básicas, deveria ser observável na própria emoção resultante as suas componentes. Questionam também se emoções resultantes necessariamente ocorrem depois das básicas, não podendo ocorrer antes. Demonstram a inexistência de acordo entre os teóricos que advogam que essas constituem um conjunto ao enumerarem seu desacordo quanto as emoções componentes desse conjunto. Terminam argumentando que essas perguntas e divergências não aferem um caráter coeso dos atributos que afeririam a uma emoção ser caracterizada como básica.

(DE SOUSA, 2014) aborda a discussão do papel das emoções no processo racional. Os inúmeros caminhos existentes para alcançar um objetivo poderiam levar a uma explosão de alternativas tornando infinito o processo de escolha do caminho adequado. Os teóricos chamam esse o “Problema da Moldura”41. Emoção constituiria

em um mecanismo de restrição e direcionamento da atenção ao, em primeiro, definir os parâmetros a serem considerados na decisão e, em segundo, no processo decisório salientar uma pequena porção das alternativas, restringindo o número de caminhos para alcançar o objetivo. O autor opina que “a capacidade de experienciar uma emoção parece ser indispensável na condução de uma vida racional no tempo”. Levanta um estudo em neurociência (DAMASIO, 2005) onde indivíduos com lesões no córtex pré- frontal e somatossensorial com reduzida capacidade de sentirem emoção tiveram sua capacidade de decidir sobre questões práticas significativamente comprometidas. O autor conclui que “emoções são importantes para a racionalidade mesmo que elas não sejam consideradas racionais ou irracionais”.

A diversidade de teorias, sejam oriundas da psicologia, filosofia ou neurociência, tornam a compreensão da emoção em algo que (BAILLIE, 2002) chamou de “caos”. Não obstante (DE SOUSA, 2014) aponta para alguns pontos onde todas as teorias convergem na íntegra ou, pelo menos, em parte. Resumidamente as teorias concordam que emoção consiste em um fenômeno consciente, enquanto a disposição para manifestá-la, em alguns casos, pode ser inconsciente. Envolve mais manifestações corporais do que outros estados conscientes, mas não pode ser compreendida apenas fisiologicamente. Varia em intensidade, duração, valência e tipo. Muitas vezes se manifesta através do desejo, podendo ser modulada pelo humor. Tem uma reputação de ser antagônica à racionalidade enquanto é crucial na definição de objetivos e prioridades. Tem papel importante na qualidade e regulamentação da vida em sociedade.