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2.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.1 Respostas das avaliações descritivas, correlações e análises multivariadas

2.3.1.1 Atributos químicos do solo

Os resultados referentes à análise descritiva dos atributos químicos do solo nas diferentes profundidades avaliadas (0-7, 8-14 e 15 a 30 cm), após um ano de implantação dos sistemas e em função do uso (Sol Pleno, SSP 30, SSP 60 e floresta) são apresentados na Tabela 2. Em todos os ambientes os maiores teores de MO, Ca, Mg, P, K, pH, SB, CTCefetiva, CTCpH7 e V%,foram registrados nas camada superficial (0-7 cm), diminuindo a medida que aumentava a profundidade (CERRI et al., 2004; GEISSEN e GUZMAN, 2006). Isto é o resultado da contínua deposição de material senescido (liteira do pasto e serrapilheira da floresta) na superfície do solo, onde sua decomposição permite a liberação de elementos na superfície (TORNQUIST et al., 1999; PANG et al., 2006)). Cerri et al. (2004) mencionam que a maior parte da MO do solo (48%) pode estar na camada de 0-10 cm. Maior nível de fertilidade na camada superficial também pode ser resultado da correção e adubação realizada na implantação dos sistemas, já que não houve incorporação às camadas mais profundas.

Já as características Al, H+Al e m% apresentaram os maiores valores nas camadas mais profundas (CERRI et al., 2004). Este pode ser o resultado da exportação de cátions básicos (ALFAIA et al., 2004) pelas raízes da forrageira e das árvores das camadas mais profundas, tornando essas regiões com maiores quantidades de Al e H para serem adsorvidos aos coloides do solo.

As características químicas do solo se modificaram em função da sua ocupação (Tabela 2). De modo geral o ambiente mais fértil foi a floresta, embora não tenha recebido calagem e adubação nitrogenada, potássica e fosfatada. Nela foram registrados valores médios (três profundidades) de MO, Ca, Mg, P, K, pH, SB, CTCefetiva, CTCpH7 e V% da ordem de 1,62; 9,85; 3,45; 20,16; 27,04; 5,44; 18,77; 19,21; 20,20 e 76,57 respectivamente. O SSP 60 apresentou valores parecidos com os verificados na floresta, a saber: 1,72; 8,88; 3,05; 20,21; 25,34; 5,23; 19,85; 20,13; 24,99 e 75,38 para MO, Ca, Mg, P, K, pH, SB, CTCefetiva,

48 CTCpH7 e V% respectivamente (médias das três profundidades) (BHAGWAT et al., 2008).

Os resultados apoiam que o processo de revegetação natural ocorrido neste ambiente desde seu abandono até a implantação do sistema restaurou as condições químicas do solo (BHAGWATT et al., 2008). Ainda, isto indica que a alteração ambiental imposta para instalar o SSP com 60% de sombreamento, que incorreu em baixa retirada de árvores, afetou pouco os atributos do solo (BHAGWATT et al., 2008).

Paudel et al., (2011), ao avaliarem diferentes tipos de cobertura vegetal, também reportam que sistemas integrados perenes sofrem menos impactos de perturbações, e o motivo pode ser a MO do solo. Tornquist et al. (1999) relata que SSPs podem imitar os ecossistemas naturais. McGrath et al. (2001) não encontraram significativa diferenças na concentração de C do solo entre SSPs e floresta primária. Recco et al. (2000) observaram que SSPs mostraram tendência de recuperação e manutenção do C orgânico semelhante a floresta primária na Amazônia ocidental. Schroth et al. (2002) e Verchot et al. (2008) e Bilnn et al. (2013) mencionam sob a recuperação de áreas abandonadas pelo processo de formação de florestas secundárias. Contudo, a reutilização destas áreas para monocultivo tende a reduzir o C do solo. Eles ainda reportam que SSPs são mais viáveis no sequestro de C que monocultivo.

A área a Sol Pleno apresentou, em média (três profundidades), os menores valores de MO, Ca, Mg, P, K, pH, SB, CTCefetiva, CTCpH7 e V%, a saber: 0,68; 4,93; 2,00; 19,74; 10,02; 5,42; 10,31; 13,94; 14,95 e 66,55 respectivamente (Tabela 2). Esta área foi considerada a mais modificada em relação as condições naturais observada na floresta. Isto pode ter ocorrido devido o maior tempo de mau uso desta área sob forma de pasto não manejado, o que pode ter favorecidos os processos de perda de MO e nutrientes, sendo que tal processo só foi mitigado por ocasião do abandono e formação de capoeira rala. Desta forma esta área teve menor tempo de restauração natural do que os SSP 30 e 60 (PANG et al., 2006). Isto tende a confirmar que a presença de árvores em ambientes antropizados e degradados tende a restaurar as condições do solo (BHAGWATT et al., 2008; FUJISAKA et al., 1998).

49 O SSP 30 apresentou valores médios (três profundidades) para MO, Ca, Mg, P, K, pH, SB, CTCefetiva, CTCpH7 e V% intermediários aos observados nas área de Sol Pleno e SSP 60, (Tabela 2) a saber: 1,16; 5,83; 1,97; 20,30; 17,69; 5,18; 12,44; 12,75; 16,87 e 69,74, respectivamente. Esta área teve valores médios de MO, Mg, K, CTCefetiva, CTCpH7, V% e m% mais parecidos com a área a Sol Pleno do que com a floresta. Isto evidencia que a maior retirada de árvores em relação SSP 60 para obter-se o sombreamento de 30%, bem como o maior uso desta área para pastoreio por ovinos, alterou mais tal ambiente, favorecendo a depleção dos estoques de nutrientes.

Como os processos de abertura, uso, abandono, regeneração e implantação do sistema integrado SSP 30 foi semelhante ao do SSP 60, excetuando-se apenas o manejo do raleamento, e consequentemente, o número de árvores (120 árvores ha-¹ em SSP 30 e 180 árvores ha-¹ em SSP 60), infere-se que a densidade arbórea dos SSPs possua efeito primordial sob a conservação (BHAGWATT et al., 2008) dos atributos do solo, haja vista que o maior raleamento (SSP 30) permitiu a redução dos teores de nutrientes do solo enquanto o menor raleamento (SSP 60) permitiu a manutenção das condições químicas do solo, exceto para P, seu apresentou valores semelhantes entre os sistemas, o que pode ser resultado de sua adsorção coloides do solo.

Neste sentido Pang et al. (2006) estudaram o efeito de seis populações arbóreas sob as características do solo. Eles observaram que solo sob maior stand era mais fértil na camada superficial; ele possuía menor densidade, maior porosidade, maior teor de MO, e P. Neste estudo a área com maior densidade arbórea também se revelou mais fértil.

Quanto ao estoque de carbono (EC) verificaram-se valores iniciais médios de 60,05; 70,20; 70,20; e 57,60 Mg ha-¹ para as áreas de SP, SSP 30, SSP 60 e Floresta. Os valores finais, após um ano de uso, foram de: 32,11; 35,28; 62,52; e 56,25 para as áreas de SP, SSP 30, SSP 60 e Floresta respectivamente. A área com maior redução de C, em relação a condição inicial, foi SSP 30 (-49,75%) seguida de SP (-36,5%). A área SSP 60 apresentou redução de 11% e na floresta praticamente não houve variação (-2,34%). A maior decomposição em SSP 30 pode estar relacionada a redução do aporte devido o raleamento, ao maior trânsito de animais, que promovem degradação física da MO e a adubação

50 nitrogenada que potencializa a ação de microorganismos. A maior degração em SSP 30 em relação SP pode esta relacionada a umidade do solo que favorece a biota decompositora. Já menor redução em SP pode estar associada ao incremento de MO oriunda da pastagem, que ao longo do tempo pode restaurar a MO perdida durante a abertur da área. SSP 60 foi pouco afeta devido o amenor raleamento e a pouca frequência de uso para pastejo, além do pequeno desenvolvimento do pasto.

Para quantificar o grau de aleração da qualidade química do solo considerou-se a porcentagem dos atibutos em relação a condição inicial de cada área e em relação a condição natural. Foi observado que a reabertura das áreas e a implantação da forrageira reduziu o teor de MO, em relação a condição natural, em 64; 49,72 e 25,13% para as áreas de SP, SSP 30 e SSP 60. A condição da MO da floresta praticamente não se modificou (-3,30%). Comparando-se a floresta com as áreas manejadas houve redução de 37,54% do teor de MO.

Em relação os teores de Ca e K, constatou-se redução da ordem de 33,81; 11,11 e 20,53%, e 78,55; 55,63 e 42,28%, respectivamente, para as áreas SP, SSP 30 e SSP 60 comparando-se a condição inicial e final. Na floresta houve pequeno acréscimo de Ca e K: 9,42 e 10,09%. Comparando-se a floresta com as áreas manejadas houve redução de 27,36 e 51,14% dos teores de Ca e K. Quantos aos valores de SB, CTC efetiva e V% verificaram-se reduções de 25,00 e 11,61%; 21,18 e 12,19%, e 20,57 e 13,37% respectivamente para as áreas SP e SSP 30. Na área SSP 60 os teores de SB e CTC elevaram-se em 26,23; 27,31%. Na floresta a variação foi relativamente baixa, a saber: +4,40; +6,71 e - 10,52% para SB, CTC e V% respectivamente. Comparando-se a floresta com as áreas manejadas houve redução de 26,22; 26,40 e 9.92% para SB, CTC e V% respectivamente. Os teores dos elementos Mg e P foram elevados em 15,89; 4,13 e 2.89% e 79,00; 42,97 e 43,96% respectivamente nas áreas SP, SSP 30 e SSP 60, em relação a condição inical. Para a floresta as modificações de Mg e P foram baixas (+7,87 e +7,00% respectivamente).

O P foi o nutriente menos afetado pelos tipos de uso do solo (Tabela 2), e isso pode ser o resultado da adubação fosfatada nas áreas Sol Pleno, SSP 30 e SSP 60. Assim, pode-se observar que inicialmente (ocasião de implantação dos sistemas) os teores de P da floresta eram mais altos (Tabela 1), sendo

51 posteriormente alcançados pelas outras áreas após a adubação fosfatada. Tornquist (1999) também verificou que SSPs e florestas naturais podem apresentar maiores valores de P, o que pode estar relacionados aos exsudados das árvores (principalmente ácidos orgânicos de baixo peso atômico). Isto também pode estar associado a absorção de P a partir de um maior volume de solo em profundiadade, seguido pelo retorno a superfície do solo através de serapilheira. Alfaia et al. (2004) também observaram pouco efeito do uso do solo (SSPs , floresta e pastagem em monocultivo) sob os teores de P, estando de acordo com os dados deste experimento. Isso ainda pode ser resultado de processo de coplexação com óxidos e hidróxido de Fe e Al, típico de solos tropicais (GEISSEN e GUZMAN, 2006). Neste estudo a condição inicial médias das áreas era de 14,11 mg dm-³. Após a adubação fosfatada este valor elevou-se para 21 mg dm-¹, homogenizando todas a área experimental, e permaneceu até o diagnóstico final, o que pode ser causado pela sua adsorção ao solo.

Os teores médios dos nutrientes na camada de 0-30 cm profundidade foram classificados como: MO baixa em Sol Pleno e SSP 30 e média em SSP 60 e Floresta; Mg e SB: muito bom em todas as áreas; V%: classificado como bom em todas as áreas; Ca e P: classificados como bom em Sol Pleno e muito bom nas demais áreas; Al, pH e K: classificados como baixos em todas as áreas; m%: classificado como muito baixo em todas as áreas (ALVAREZ et al., 1999). De modo geral todo o solo da área experimental pode ser classificado como fértil na ocasião da implantação dos sistemas (Tabela 1) e após um ano de uso (Tabela 2). Contudo, a forma de uso promoveu algumas alterações nestas características que anteriormente se encontravam mais homogêneas em toda a área. Um dos fatores que pode ter concorrido para manutenção das condições do solo em SSP 60 mais semelhantes a floresta é a baixa extração pela forrageira, que se desenvolveu menos e a menor exportação de nutrientes, já esta áreas suportou menos animais (1/2 da taxa de lotação de SSP 30 e 1/3 da taxa de lotação de Sol Pleno).

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Tabela 2. Atributos químicos do solo (Argissolo Vermelho Eutrófico plíntico) sob pastagem de capim Mombaça cultivada em

sistema de monocultivo (Sol Pleno – SP), sistema agloflorestal com 30 e 60 % de sombreamento (SSP 30 e SSP 60) e floresta nativa, após um ano de implantação dos sistemas.

Áreas Atributos químicos dos solos

MO Ca Mg Al H+Al P K pH SB CTC ¹ CTC² V% m%

Profundidade (%) ---(cmolc dm-³)--- ---(mg dm-³)--- (H2O) ---(cmolc dm-³)---

0-7 1,01 5,97 2,26 0,28 4,28 21,26 14,16 5,55 8,26 18,78 8,78 66,41 3,27 Sol Pleno 8-14 0,61 4,64 1,87 0,32 4,68 19,43 9,22 5,54 6,53 11,32 6,96 58,40 4,69 15-30 0,42 4,18 1,89 0,32 4,96 18,54 6,24 5,48 6,08 11,56 6,92 57,01 4,86 0-7 1,80 8,0 2,52 0,27 4,33 21,79 26,86 5,17 10,58 14,65 10,51 68,89 3,32 SSP 30 8-14 1,11 5,22 1,69 0,32 4,50 20,31 13,96 5,18 6,83 11,33 7,15 59,15 4,24 15-30 0,59 4,29 1,72 0,33 4,47 18,82 12,26 5,11 6,04 10,73 6,68 59,00 4,70 0-7 2,68 11,33 3,70 0,26 5,82 21,94 34,94 5,27 15,11 20,65 15,24 71,42 2,17 SSP 60 8-14 1,58 8,17 2,81 0,27 5,00 19,69 22,90 5,00 11,31 16,32 11,58 68,59 2,56 15-30 0,92 7,15 2,65 0,32 4,68 19,00 18,20 4,68 9,84 15,15 10,16 68,29 2,66 0-7 2,93 11,61 3,64 0,31 5,23 22,84 52,12 5,10 15,33 20,04 15,64 76,49 1,98 Floresta 7-14 0,97 9,93 3,39 0,21 4,92 19,27 25,14 4,92 13,38 18,30 13,59 73,11 1,74 15-30 0,97 8,02 3,36 0,23 5,10 18,39 25,87 4,23 11,44 18,48 11,67 61,90 1,97

CTC¹: capacidade de troca catiônica a pH 7. CTC²: capacidade de troca catiônica efetiva; SB: soma de bases; V%: saturação por bases; m% saturação por alumínio.

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