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Atuação da expertise interna da Petrobras no Licenciamento Ambiental da UTGCA

Capítulo I Em busca de legitimação e justificação ambiental: mobilização de expertise técnico-científica pela Petrobras no

1.3 Atuação da expertise interna da Petrobras no Licenciamento Ambiental da UTGCA

Diferentemente da maioria das empresas no país, a Petrobras possui uma equipe interna de

experts que trata e se dedica exclusivamente dos processos de licenciamento ambiental de novos

projetos da empresa. Trata-se do setor de Engenharia de Avaliação Ambiental (EAMB), que está inserido na divisão de Engenharia. Atualmente o EAMB é formado por um grupo multidisciplinar de 25 profissionais, sendo 4 geólogos, 6 biólogos, 6 engenheiros químicos, 2 economistas, 2 agrônomos, 1 engenheiro florestal, 1 oceanógrafo, 1 engenheiro sanitarista e 2 profissionais de geoprocessamento.

Esses profissionais são responsáveis por oferecerem subsídio técnico às diversas Unidades de Negócio da empresa na fase preliminar e durante os processos de licenciamento ambiental de

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novos empreendimentos ou projetos em expansão. Do ponto de vista tecnológico, segundo seus técnicos, o setor está estruturado e equipado com os mais modernos softwares e programas para a avaliação ambiental:

Usamos para nossas atividades internas de avaliação ambiental softwares de GIS, de processamento digital de imagens de sensoriamento remoto e softwares específicos de cálculos e modelagens nas áreas de análise de risco e simulações de emissões atmosféricas, além de outros que recorremos de acordo com as

especificidades de cada projeto (ENTREVISTA COM FUNCIONÁRIO DO

EAMB - MAIO DE 2012).

Um bom exemplo da existência de um alto grau de expertise técnica e científica do EAMB foi expresso por um funcionário do próprio IBAMA em entrevista para esta pesquisa. Segundo um membro da Coordenação da Diretoria de Licenciamento Ambiental (DILIC) do IBAMA, nós sempre comentamos por aqui que a estrutura do EAMB do ponto de vista de

recursos humanos e tecnológicos é nosso sonho de consumo aqui no IBAMA (ENTREVISTA

COM TÉCNICO DA DILIC- IBAMA – Março de 2011).

A análise da atuação dos profissionais do EAMB constituiu uma situação relevante para compreensão da ação e estratégia da empresa frente às exigências técnicas e legais do licenciamento ambiental. Como será analisado, trata-se de um núcleo estratégico e de inteligência da empresa no que se refere aos assuntos ambientais dos novos empreendimentos, pois além da geração de dados e informações, são justamente estes técnicos os responsáveis pela mediação técnica/científica entre a empresa e os órgãos licenciadores nos processos de definição e negociação de riscos e impactos ambientais.

Muitos destes profissionais, além de possuírem o grau de mestre e doutor, têm publicado com frequência em importantes periódicos científicos e eventos nacionais e internacionais relacionados ao setor de petróleo e gás, engenharia e geociências, em parceria com pesquisadores de importantes universidades e centros de pesquisa no Brasil como a UFRJ, UNICAMP, UNESP, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC RJ) e Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) (RODRIGUES et al 2004; OLIVEIRA et al 2008, MAGALHÃES et al 2011;

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PABÓN et al 2011; OLIVEIRA et al 2004; SECRON et al 2008; SOUZA FILHO et al 2008; PEREIRA JUNIOR et al 2007; MENDES et al 2010)

É conveniente destacar o modo como estes profissionais foram identificados e delimitados empiricamente por esta pesquisa. Diferentemente dos demais atores sociais analisados nesta investigação, a atuação da expertise do EAMB não estava registrada em nenhum dos documentos oficiais, mesmo tendo tido uma forte e constante atuação no processo de licenciamento da UTGCA. A atuação destes profissionais não foi explorada ou evidenciada publicamente pela empresa no processo de licenciamento, como ocorreu com os experts externos contratados pela mesma27.

Esses atores foram então identificados pelo pesquisador por meio de dois artigos publicados em conferências científicas relacionadas à temática de petróleo e gás que ocorreram na Alemanha e no Canadá no ano de 2008. Nestes artigos um grupo de experts do EAMB descreveu o papel deste setor no âmbito da Petrobras e a atuação que tiveram justamente na avaliação ambiental da UTGCA e do GASTAU. Estes artigos (SECRON et al 2008, OLIVEIRA

et al 2008) tornaram-se documentos fundamentais para análise, juntamente com as entrevistas

que foram realizadas posteriormente com esses profissionais na sede do próprio EAMB. A análise destes documentos e informações possibilitou compreender o papel desses profissionais do EAMB nas decisões da empresa relacionadas à localização da unidade de tratamento de gás (UTG) e posteriormente em seu processo de licenciamento ambiental.

Constatou-se por meio destes artigos e por entrevistas com esses profissionais que o EAMB não teve participação na decisão sobre a escolha do município no qual seria instalada a UTG28. Esta decisão envolveu principalmente as unidades de Gás & Energia, UN-RIO e

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Diferentemente do artigo 7o da Resolução CONAMA nº 001 de 1986, que exigia que o estudo de impacto ambiental deveria ser realizado por equipe multidisciplinar habilitada, não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto , o Art. 11 da Resolução CONAMA n 237, não obriga mais o empreendedor a contratar equipe técnica independente para a realização do EIA-RIMA, afirmando apenas que os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser realizados por profissionais legalmente habilitados, às expensas do empreendedor. Neste sentido mesmo não havendo qualquer ato de ilegalidade da Petrobrás em utilizar sua expertise interna para atuar ou subsidiar o EIA-RIMA do projeto analisado, a empresa não explorou o capital técnico e científico de seus experts nas audiências públicas e nos documentos técnicos elaborados.

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É importante apontar neste ponto que a consideração de aspectos ambientais na seleção da localidade para instalação do empreendimento é uma exigência legal e institucional. No Termo de Referência, documento norteador

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ENGENHARIA/IEMX29. Mesmo o EAMB não tendo participado do processo de escolha por Caraguatatuba, os técnicos do setor afirmam em Oliveira et al (2008) que tal seleção resultou de uma análise macro regional envolvendo diferentes localidades (figura 2) nas quais foram elencados um conjunto de critérios de variadas ordens, sendo o elemento ambiental um dos fatores inseridos neste processo como se observa na tabela 2.

Ainda para esses técnicos, em Secron et al (2008), o município de Caraguatatuba foi selecionado frente a outras alternativas pois possuía uma área que melhor se enquadrava nos critérios definidos pela empresa: a) menor distância em relação ao campo de Mexilhão; b) melhor logística para transportar o gás tratado; c) baixa densidade populacional; d) disponibilidade de área tanto para instalar a UTG quanto para sua expansão; e) maior facilidade no licenciamento ambiental.

Fonte: Oliveira et al (2008)

Figura 2 - Localidades avaliadas pela Petrobrás para a instalação da Unidade de Tratamento de Gás do Projeto Mexilhão.

para a realização do EIA-RIMA que foi elaborado pelo IBAMA essa questão está inserida no item que trata das análises das alternativas tecnológicas e locacionais.

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Tabela 3 – Resultado da avaliação regional empregada pela Petrobras para decisão sobre a localidade de instalação da Unidade Tratamento de Gás.

Fonte: Oliveira et al (2008)

Essas informações sugerem que foram considerados pela Petrobrás uma série de fatores técnicos, logísticos, de engenharia e ambiental30. Quanto ao aspecto ambiental, por meio destes

30 Além desta avaliação ambiental interna da Petrobras que sugere a consideração do fator ambiental em suas decisões, é importante salientar que a partir de 2002 a ANP teve que inserir o critério ambiental no processo de concessão de novos blocos de exploração de petróleo e gás no Brasil. A partir da quebra do monopólio de exploração

CRITERIA ALTERNATIVE 1