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A atuação das preceptoras e da tutora no processo formativo do assistente social na Residência Multiprofissional em Saúde: a percepção dos atores

4 A INTERDISCIPLINARIDADE COMO PRÁTICA FORMATIVA NO CENÁRIO DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL: A VOZ DOS SUJEITOS

4.4 A contribuição da Residência Multiprofissional em Saúde como espaço de formação na perspectiva interdisciplinar

4.4.1 A atuação das preceptoras e da tutora no processo formativo do assistente social na Residência Multiprofissional em Saúde: a percepção dos atores

As competências do tutor e preceptor constam na Resolução da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS) nº 2, de 13/04/2012, que dispõe sobre as Diretrizes Gerais para os Programas de Residência Multiprofissional e em Profissional de Saúde (BRASIL, 2012b).

De acordo com as diretrizes do Ministério da Educação, o preceptor é definido como o profissional vinculado à instituição formadora ou executora, com formação mínima de especialista, que tem como função a supervisão direta das atividades práticas desenvolvidas pelos residentes nos serviços de saúde onde se desenvolve o programa de Residência. Sobre esse aspecto, o depoimento de Orquídea aponta sua compreensão que coaduna o dispositivo

legal, ao afirmar que o “preceptor é um profissional que assume o campo da prática na

Residência e eles dão uma supervisão direta, colaborando na formação e na prática do

residente [...]” (Orquídea).

A Resolução nº 2, de 13/04/2012, daCNRMS, em seu Artigo 11º, dispõe sobre as competências do tutor:

A função de tutor caracteriza-se por atividade de orientação acadêmica de preceptores e residentes, estruturada preferencialmente nas modalidades de tutoria de núcleo e tutoria de campo, exercida por profissional com formação mínima de mestre e experiência profissional de, no mínimo, 3 (três) anos. (BRASIL, 2012b, p. 3).

Sobre o exercício da tutoria, Orquídea evidencia o aspecto da atuação compartilhada entre tutores e preceptores, a fim de compreender as questões relativas aos processos de trabalho do serviço social e a Residência, numa conspecção ampliada, considerando a normatização do programa, as diretrizes curriculares, a avalição e os elementos relativos à organização das disciplinas específicas do serviço social.

[...] O tutor tem uma visão mais de estar avaliando, construindo a questão da formação de acordo com as diretrizes curriculares do curso, o que preconiza o Ministério da Educação e, de forma específica, o Serviço Social também preconiza as diretrizes curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa no Serviço Social (ABEPSS), que também tem uma orientação curricular; e, principalmente, garantir a qualidade do Ensino, e que esses conteúdos, eles tenham toda uma visão acadêmica com o respaldo do nosso Projeto Ético-Político Hegemônico do Serviço Social [...] (ORQUÍDEA).

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As contribuições de Orquídea ressaltam também a importância do tutor no que tange a proporcionar apoio e orientação acadêmica, sobretudo buscando o alinhamento teórico-prático em consonância com o projeto hegemônico da profissão. Dessa forma, deve exercer a supervisão em relação às disciplinas e às ações em serviço, fortalecendo a sua

articulação com “formação em convergência com as dimensões teórico-metodológica, ético-

política e técnico-operativa do serviço social” (ORQUÍDEA).

[...] Então, o tutor ele atua assim, apoiando desde como as diversas disciplinas estão sendo oferecidas, se o residente está atendendo aos objetivos do programa; então, assim, o tutor está mais nessa questão de supervisionar a questão da qualidade desse ensino. (ORQUÍDEA).

Os elementos destacados por Orquídea convergem com os aspectos legais no que tange às competências do tutor preconizadas na Resolução nº 2, de 13/04/2012, da CNRMS, Artigo 12, inciso I:

[...] implementar estratégias pedagógicas que integrem saberes e práticas, promovendo a articulação ensino-serviço, de modo a proporcionar a aquisição das competências previstas no PP do programa, realizando encontros periódicos com preceptores e residentes com frequência mínima semanal, contemplando todas as áreas envolvidas no programa. (BRASIL, 2012b, p. 4).

Tomando como âncora a legislação, concorda-se com o discurso de Orquídea sobre a importância do desenvolvimento de práticas pedagógicas delineadas conjuntamente pelos tutores e preceptores em consonância com a Proposta Pedagógica da Residência Multiprofissional em Saúde, comprometidas com a formação de profissionais de elevada qualificação ética e profissional, observando a necessidade de qualificação de todas as profissões da saúde.

Conforme se identifica nos discursos, nos silêncios e nas frases não concluídas, no processo de implantação e na organização da Residência, percebe-se um hiato entre o que preconiza a Resolução supramencionada e a forma como as ações do tutor e dos preceptores estão se efetivando.

Ao refletir sobre o papel da preceptoria, a entrevistada ressalta a importância da experiência e do conhecimento do assistente social no contexto de formação do residente, compreendendo que a aprendizagem constitui um processo de socialização e trocas de saberes que ocorre de forma dinâmica, contribuindo para qualificar a atenção à saúde.

Eu como preceptora? Bom, a preceptora é aquele profissional que já tem certa experiência, uma história profissional, e que tem um conhecimento mais abrangente, até por a gente já vivenciar isso assim no hospital; nosso papel é realmente

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orientando esse profissional... E, assim, ter muito cuidado também, porque o Residente, ele é um profissional, ele vem também pra cá pra aprender, pra compartilhar novas experiências, mas a gente precisa estar à frente [...]. (DÁLIA).

Tais percepções se associam com as ideias das assistentes sociais, em relação à compreensão do papel do preceptor no processo de formação em serviço no contexto da Residência, as quais percebem a necessidade de o preceptor se capacitar para ampliar seus conhecimentos, sobretudo pela sua contribuição na formação de recursos humanos para atuar no SUS.

Considera-se que a Residência potencializa a apreensão de novos conhecimentos a partir do encontro preceptor/residente. As reflexões das preceptoras reafirmam as contribuições teórico-metodológicas dos residentes para o aprendizado dos preceptores:

[...] a gente precisa ter um manejo para conduzir isso de uma forma também cuidadosa; às vezes a gente tem que ter muito cuidado em não estar tratando o residente como estagiário. E, na verdade, a gente aprende muito com eles, eu aprendo demais, porque eles são profissionais estudiosos, não é à toa que eles estão aqui em uma residência; para estar numa residência, não é qualquer profissional, e a gente precisa também estar se capacitando, pra poder saber conduzir isso, ser realmente o preceptor. O preceptor tem que conhecer, ter experiência, acho que é mais ou menos isso. (DÁLIA).

Sobre as contribuições da preceptora para a formação, Jasmin reconhece que há um aprendizado compartilhado:

Pra mim? Não sei. Como uma pessoa de referência, que está aqui na casa há mais tempo, com mais vivência e mais experiência, e que da melhor forma possível vai poder colaborar com quem está chegando com o objetivo da residência, que é formar e capacitar novos profissionais naquilo que a extensão oferece, com os programas que existem. É assim, não vejo o preceptor como uma pessoa que sabe tudo; eu vejo assim um aprendizado junto com os residentes, que as residentes trazem novos conhecimentos, pelo menos teórico, e a gente aprende com elas também. (JASMIN).

Os discursos das assistentes sociais suscitaram diversas reflexões, que conduziram as palavras de Dallegrave (2014) sobre sua vivência como preceptora, uma vez que se percebem diversas semelhanças a partir dos depoimentos dos sujeitos desta pesquisa. Em sua

experiência, a autora fala do “fantasma” na cabeça de todo preceptor: não ter a resposta para

uma pergunta do residente – "O que eu faço?” – e continua:

Nem sempre os fantasmas assustam! Eles podem conduzir ao inesperado. O fantasma pode ser simplesmente a percepção de um corpo-vibrátil ao efeito dos encontros [...], daquilo que nos atrai e do que nos afasta de algo [...] As intensidades experimentadas no encontro entre preceptora e residente, entre colegas numa prática de preceptoria, constituem outros modos de pensar os casos de que cuidamos. (DALLEGRAVE, 2014, p. 165).

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Finalizando as análises no que diz respeito à percepção da atuação das preceptoras e da tutora, observa-se o empenho desses profissionais em se apropriar do processo que engloba as diversas dimensões da Residência, reafirmando o compromisso com o projeto ético-político e com a qualificação da formação no contexto do SUS e da assistência em transplante. Com base nessas considerações, no tópico seguinte, apresentam-se as percepções dos residentes acerca da materialização do processo formativo no contexto da Resmulti/UFC.

4.4.2 As contribuições da Residência Multiprofissional em Saúde no processo formativo: a