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A AUDITORIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

3 ESPAÇOS DE ORGANIZAÇÃO DA AUDITORIA EM SAÚDE NO BRASIL

3.1 A AUDITORIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

A auditoria no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) é compreendida em um conceito abrangente. Inclui aspectos de avaliação do cumprimento de metas previstas em planos de saúde e de trabalho, de apuração de resultados e de comprovação da qualidade, que precisam ser levados em consideração para o cumprimento das atividades de controle financeiro, contábil e patrimonial das instituições conveniadas e gestoras do SUS. Tem como objetivo principal viabilizar a racionalização e efetividade dos gastos com a assistência à saúde, evitando e detectando fraudes e malversação de recursos, aferindo a qualidade dos serviços desenvolvidos pelos sistemas locais e regionais, adotando um enfoque quantitativo e qualitativo, em busca da resolutividade, expressos pelo cumprimento das metas programadas. A auditoria visa também oferecer o suporte técnico, essencial à tomada de decisões a ser exercida pelo âmbito federal do SUS, concernente à aplicação dos recursos descentralizados (convênios e similares) e/ou repassados fundo a fundo, pelos estados e municípios (BRASIL, 1996).

O Sistema Nacional de Auditoria (SNA) foi criado pela Lei 8080 de 19 de setembro de 1990, mas somente instituído pela Lei 8689 de 7 de março de 1993. Foi regulamentado pelo Decreto-lei n. 1651 de 28 de setembro de 1995, que lhe conferiu competência para realizar a avaliação técnico-científica, contábil, financeira e patrimonial do SUS em todo o território nacional. O SNA se reveste das atividades de auditoria, suplementa outras instâncias de controle patrimonial e financeiro e subsidia o processo de planejamento das ações de saúde, sua execução, gerência técnica e avaliação qualitativa dos resultados obtidos. Desdobra-se nos três âmbitos de gestão que compõem o SUS: federal, estadual e municipal, onde a operacionalização do sistema de auditoria deve ocorrer de forma

descentralizada, com definição das competências de cada uma das esferas de governo (CALEMAN, 1998; BRASIL, 1998; BRASIL, 1996).

Quando observamos a abrangência das ações de auditoria no âmbito do SUS, identificamos que na sua operacionalização é relevante tanto a análise de dados quantitativos quanto qualitativos. Os auditores em saúde pública exercem a sua prática para a verificação do cumprimento da legislação federal, estadual e municipal e de normas específicas do setor saúde. Com suas ações, reúnem informações essenciais acerca dos serviços e da gestão em saúde, que ajudarão no planejamento de ações futuras e no cumprimento das bases legais que sustentam o SUS.

No âmbito federal, o Ministério da Saúde é o responsável em acompanhar a aplicação dos recursos repassados aos estados e municípios, através dos relatórios de gestão elaborados pelos auditores. Esta disposição, prevista na Lei 8142/90, tem como finalidade verificar como se organiza e funciona os Sistemas de Auditoria e os Sistemas Estaduais de Saúde (BRASIL, 1996). Na esfera estadual é da responsabilidade do governo regional criar o seu próprio Sistema Estadual de Auditoria do SUS, que integrará o seu controle interno na operacionalização do Sistema Nacional de Auditoria. No âmbito municipal, a Lei 8080/90 atribui-lhe competência para controlar e avaliar os serviços de saúde e também fiscalizar os procedimentos e a execução dos serviços privados de saúde (BRASIL, 1996).

Estas determinações visam estruturar de maneira descentralizada uma rede de controle da oferta de serviços de saúde no país. Entretanto, observamos que esta descentralização ocorre de forma parcial, já que em todos os âmbitos de governo os objetivos são determinados pelo Ministério da Saúde. Considero apropriado este modelo, dado às variadas condições de saúde da população brasileira e à necessidade de que se cumpram e sejam mantidos os princípios do SUS, de universalidade, equidade e controle social.

Sendo assim, configura-se em um desafio estimular a implementação de um sistema de auditoria que regule as ações em saúde para que atendam à diversidade das realidades do extenso território nacional, ao mesmo tempo em que garanta a sua uniformidade.

Conforme o Manual de Auditoria do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998, p.7), as principais finalidades da auditoria no SUS são:

- Aferir a preservação dos padrões estabelecidos e proceder ao levantamento de dados que permitam ao SNA conhecer a qualidade, a quantidade, os custos e os gastos da atenção à saúde;

- Avaliar objetivamente os elementos componentes dos processos da instituição, serviço ou sistema auditado, objetivando a melhoria de procedimentos, através da detecção de desvios dos padrões estabelecidos;

- Avaliar a qualidade, a propriedade e a efetividade dos serviços de saúde prestados à população, visando a melhoria progressiva da assistência à saúde; - Produzir informações para subsidiar o planejamento das ações que contribuam

para o aperfeiçoamento do SUS e para a satisfação do usuário.

É importante a valorização que a auditoria do SUS atribui aos aspectos qualitativos da prestação de ações e serviços de saúde, bem como da sua gestão, visando garantir o adequado uso dos recursos financeiros e de melhor assistir a população usuária do SUS e dos serviços privados.

Quanto à forma de execução no SUS, a auditoria divide-se em dois tipos: analítica e operativa. Ambas consistem em um conjunto de procedimentos especializados, sendo que na auditoria analítica é feito o delineamento do perfil da assistência à saúde e dos seus controles, através do exame dos relatórios, processos e documentos, a fim de analisar se os serviços e sistemas de saúde atendem às normas e padrões definidos previamente (BRASIL, 1998).

A auditoria operativa, por sua vez, compreende a verificação do atendimento de requisitos relativos à área de saúde, através do exame direto dos fatos, documentos e situações, em tempo real, para determinar a adequação, a conformidade e a eficácia dos processos em alcançar os objetivos definidos (BRASIL, 1998).

Estas atividades de auditoria são desenvolvidas por uma equipe multiprofissional, constituída predominantemente por médicos e outros profissionais de saúde, como enfermeiras e odontólogos, além de pessoal de apoio administrativo (LOPES, 1998).

Considero que a exigência do cumprimento das leis que regulamentam o sistema de saúde no país, através das ações do Sistema Nacional de Auditoria é, portanto, ato que merece a devida atenção por parte dos dirigentes e gestores em saúde. A busca pela melhoria da qualidade da atenção à saúde é condição indispensável para a consolidação de um Sistema Único de Saúde que atenda às necessidades da população e se impõem pela precariedade com que funciona a maioria dos serviços de saúde pública ofertados à população brasileira. As ações de auditoria, portanto, são fundamentais para operacionalizar a regulação e controle do sistema de saúde, através da análise dos serviços, do diagnóstico das falhas e da sugestão das correções para cada caso.