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5. AULAS DE FÍSICA DO ENSINO MÉDIO SOB A VISÃO DA

5.9 AULA 9 – ESPIRAS E SOLENOIDES

A aula 9 é marcada pela presença dos vários jogos de linguagem já abordados nas aulas anteriores, como o jogo de perguntas e respostas, o jogo de linguagem gestual, o jogo de linguagem “maior…maior, maior...menor”, jogo associativo. Nesta aula, porém, o professor faz uso desses jogos para significar o que é uma espira, o conceito físico de solenoide e/ou bobinas e mostrar a equação que descreve o campo magnético em um solenoide. Dessa maneira iremos apresentar alguns episódios que colaboram com essa observação, não fazendo maiores detalhamentos acerca dos jogos de linguagem empregados. Observemos o episódio 1:

P A partir de hoje (...) nós vamos falar sobre bobinas - Então é interessante a gente discutir um pouco como é que ela funciona e porque que ela funciona dessa forma. (...) Bem, a primeira coisa que a gente vai começar a falar é o que é uma

bobina (...) nós vamos utilizar o termo bobina com

frequência aqui em sala de aula. (...) vamos utilizar o termo chamado solenoide. (...) Quando eu falar para vocês solenoide, vocês podem fazer uma leitura, da bobina como solenoide. Mas, o que é a

bobina? Bem, uma bobina é um conjunto de espiras. (...) Bem, essa definição não parece muito

útil se a gente não souber o que é uma espira.

Então, eu trouxe aqui para vocês um fio com o objetivo de mostrar o que é uma espira. Uma espira nada mais é do que um fio enrolado. (...)

36 Os exercícios se encontram no Anexo M.

É eu pegar o fio e fechar ele em alguma forma tipo isso daqui. Pegar o fio e fazer isso. Essa coisa aqui...

(Episódio 1, A9)

Destacamos neste episódio que o professor através do jogo de linguagem gestual de dobrar um fio em formato circular atribui sentido ao que é uma espira, isso vem ao encontro da ideia de Wittgenstein (2013), quando diz:

Tem-se em mente que o aprendizado da linguagem consiste em denominar objetos. Ou seja, pessoas, formas, cores, dores, disposições, números, etc. Como foi dito - dar nome é semelhante a afixar uma etiqueta em uma coisa. Pode-se chamar isto de preparação para o uso de uma palavra. (WITTGENSTEIN, 2013, IF 26, p.28)

Neste sentido dizemos que o professor ao “etiquetar”, pelo termo

espira, um fio enrolado, através do jogo de linguagem citado, está

“preparando/alfabetizando” os estudantes em um termo físico possivelmente desconhecido por eles, embora pareça muito simples esse jogo de linguagem, ele é importante, pois mostra concretamente para os estudantes o que é uma espira.

Já no episódio 2 podemos perceber o jogo de linguagem “maior... maior, maior... menor” que trata acerca das relações de proporção direta e inversa como podemos observar:

P: A primeira coisa que a gente pode pensar é a corrente elétrica. Tem uma corrente elétrica que vai atravessar o fio da espira. A gente viu que se a gente aumentar a corrente elétrica, o campo criado tende a aumentar ou a diminuir? (...)

E5: Aumenta.

P: Ele aumenta. A gente vai escrever, então, que o

campo ele tem uma relação com a corrente, mas

a relação dele com a corrente é uma coisa tipo assim vezes alguma coisa aqui (...)

E5: Assim.

P: (...) ou uma relação tipo assim, ou, alguma coisa aqui sei lá dividido pelo campo assim, oh? (...) E5: Em cima.

P: A de cima. Percebe a diferença entre a de

cima e a de baixo, o que que elas querem dizer?

Essa daqui ela quer dizer que é a corrente vezes alguma coisa vai dar o campo. Se a corrente

aumenta, o campo aumenta. Eles estão numa proporção direta ou inversa aqui?

E5: Aí é direta. Eu acho que direta.

P: Essa é uma proporção direta. Na de baixo se a corrente aumenta o campo diminui. Uma proporção, inversa. Isso é uma proporção inversa e isso é uma proporção direta.

(Episódio 2, A9)

Esse jogo faz parte da significação das variáveis da equação que descreve o campo magnético em uma espira, que permite situar o estudante de uma relação que está sendo usada e contém as relações de proporção, e é semelhante ao jogo que define o campo magnético em um fio reto, assim através da associação o estudante tem a possibilidade de retomar os jogos de linguagem já utilizados para significar elementos de uma nova equação, que é muito semelhante àquela que eles já conhecem, mas que descreve o campo magnético em um fio reto.

Continuando com a intenção de significar e apresentar a nova equação que descreve o campo magnético em uma espira o professor insere a “permeabilidade magnética” no jogo como apresentamos no episódio 3:

P: Bem, então nosso campo vai ser a corrente vezes alguma coisa. O que mais poderia ser? A gente viu quando estava estudando a equação que dependia de três coisas. Dependia da distância, dependia da corrente e dependia do que? Do meio, não é? (...) Então o que a gente vai fazer é: a gente vai ter que fazer esse campo depender também da permeabilidade magnética. Quanto maior a

permeabilidade magnética, maior o campo ou menor o campo? Se eu aumento a permeabilidade do meio, eu aumento o campo

(…).

(Episódio 3, A9)

Novamente através da associação entre a equação já trabalhada, o jogo de linguagem “maior...maior, maior...menor”, o fenômeno que

acontece na espira e as regras do jogo de linguagem, os quais o estudante já conhece, o professor fornece os elementos para a constituição de uma equação ainda incompleta, mas que descreve parcialmente o campo magnético na espira.

O episódio 4 que segue, introduz as outras variáveis que faltam para a construção da equação do campo como podemos observar:

P: (...) a gente vai pensar em como agora mais duas coisas que podem influenciar no campo no interior do solenoide. (…) Imagina que eu tenha um solenoide com uma espira só - é uma espira só sozinha e um com duas, um com três ou com quatro ou com cinco ou com seis... quanto mais espiras

o solenoide tiver, vocês esperam que maior deve ser o campo aqui no meio ou menor? Se eu

começo a adicionar mais espiras o que que vai acontecer com o campo magnético aqui no meio? Deve aumentar ou deve diminuir?

E3: Aumentar.

P: Ele deve aumentar, não é?! Se eu vou adicionando espiras, eu espero que o campo magnético seja maior. E não vai depender só da

corrente e da permeabilidade. Ele vai depender também do número de espiras, mas é uma

relação tipo assim ou é uma relação tipo assim, oh? É tipo a de cima ou de baixo?

(Episódio 4, A9)

Destacamos que neste episódio o estudante possivelmente já compreendeu a intensão do professor em construir e significar a equação do campo magnético em espiras e solenoides, através da associação com os elementos da equação para campo magnético em um o fio reto.

Tentamos mostrar que nesta aula o professor através dos variados jogos de linguagem trabalhados (gestual, “maior... maior, maior... menor”, associativo, etc.), atribui sentido aos termos físicos acompanhados de significados matemáticos, com o objetivo de facilitar a compreensão do campo magnético em um solenoide percorrido por corrente elétrica.