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AUMENTO DA POLUIÇÃO E SEUS EFEITOS NOS PRINCIPAIS RIOS DA RMSP

3.3. O DESENVOLVIMENTO DA RMSP E SEUS RIOS

3.3.3. AUMENTO DA POLUIÇÃO E SEUS EFEITOS NOS PRINCIPAIS RIOS DA RMSP

experimentou não tardou em trazer problemas para a várzea do Tietê. Um desses problemas foi o processo de impermeabilização do solo de São Paulo, quando a cidade recebeu os primeiros paralelepípedos em 1873. O aumento drástico da população somado às falhas na gestão da ocupação do solo, também culminou no desmatamento de áreas de proteção aos mananciais e de proteção ambiental (FRACALANZA, 2004).

O rio foi represado desde a sua nascente até a sua foz, sofrendo modificação no seu chamado regime reofílico. Foram feitas inúmeras dragagens e retificações; as corredeiras, cachoeiras e saltos, em sua maioria, ficaram submersas. As cidades foram crescendo à beira do rio, lançando os seus esgotos industriais e domésticos no mesmo, e as matas na sua orla foram sendo destruídas. No século XVII, o rio, embora não com a intensidade que hoje conhecemos, já sofria alterações da qualidade da água. A exploração do ouro e ferro em várias regiões traziam implicações à cor e à turbidez da água, devendo lançar metais pesados, cujas implicações, à época, eram desconhecidas (ROCHA, 1991).

Entretanto, a poluição e a contaminação não haviam comprometido totalmente o rio. Suas margens ainda eram vistas como um lugar pitoresco e agradável. Apenas na década de trinta, com a intensificação das descargas poluidoras, houve um agravamento da situação sanitária das águas. Pouco antes dos anos quarenta, João Havelange, atleta do Fluminense F.C. do Rio de Janeiro, em uma das disputas da tradicional Travessia de São Paulo a Nado, se contaminou com febre tifoide (ROCHA, 1991).

Após construir a represa Billings, e reverter o Pinheiros em 1942, o reservatório que até 1949 se constituiu em local aprazível, isento de poluição, passou gradativamente a ter o comprometimento da qualidade sanitária das águas. Nesse sentido, inúmeros são os trabalhos evidenciando a degradação do lago artificial (ROCHA, 1991).

A década de 1950 marcou como um momento de concentração industrial no Estado de São Paulo, com a instalação da indústria pesada de bens de produção, na região da Grande São Paulo (FRACALANZA, 2004). Tal fato igualmente levou ao aumento da poluição do rio Tietê e de seus afluentes, pelo lançamento de maior volume de esgotos industriais nesses rios.

várzea e o avanço da urbanização pelas terras inundáveis. Nessas regiões também começaram a surgir habitações da população de baixa renda. Essas áreas eram ocupadas, muitas vezes, de forma irregular, avançando sobre as margens do rio Tietê e seus afluentes (ZANIRATO, 2011).

A preocupação com as crescentes enchentes levou a Companhia de Melhoramento do rio Tietê a solicitar em 1920, ao Engenheiro Saturnino de Brito, um projeto para a retificação desse rio (ALVIM, 2006). Saturnino previa a preservação das áreas alagadas, como recurso natural para ajudar na contenção das enchentes.

O seu projeto também previa um grande parque metropolitano que seria a faixa do leito maior, preservado como várzea ao longo do rio para as grandes vazões do Tietê na época das cheias. Na foz de cada afluente deveria ser preservada uma área para constituir um lago. Para Saturnino de Brito, a preservação dos rios Tietê, Pinheiros e Guarapiranga era importante para o abastecimento de água não só na Capital, como de grande parte do interior do estado (DAEE).

O projeto de Saturnino de Brito foi descartado pela administração seguinte que preferiu implantar o “Plano de Avenidas”, elaborado pelo engenheiro Francisco Prestes Maia, coordenador da Comissão de Melhoramentos do Rio Tietê. A partir deste plano, as várzeas foram aproveitadas para a construção de duas avenidas marginais, loteamentos e logradouros públicos, além da instalação de um grande terminal ferroviário (DAEE; ZANIRATO, 2011).

Foi realizada então a canalização e a instalação de empresas ao longo das margens do Tietê. O antigo leito foi aterrado o máximo possível a fim de possibilitar o loteamento e venda dessas áreas públicas (DAEE). O Tietê foi, assim, progressivamente sufocado com a ocupação de suas várzeas, ocupação urbana e industrial, sem controle. Os interesses econômicos impulsionaram o crescimento desordenado de loteamentos nessas regiões.

Consequentemente, as enchentes e a poluição do rio se intensificaram. Ocorreram enchentes históricas como a catastrófica de 1929, consequência da intensa urbanização que reduziu a área de absorção das chuvas, como também a má gestão das áreas de contenção das águas fluviais (DAEE).

A partir do “Plano de Melhoramentos do Rio Tietê” de 1922 e “Plano de Avenidas” de Prestes Maia de 1930, o aproveitamento dos fundos de vale para a construção de sistema

viário passou a ser uma ótima solução para ampliar a infraestrutura viária, transformando completamente o sistema hídrico da cidade de São Paulo. Portanto, as várzeas dos rios Tietê, Pinheiros e Anhangabaú, que até a década de 1920 ainda se constituíam em grandes vazios urbanos, foram aterradas e urbanizadas. (JACOBI et al., 2015).

Junto com a degradação das águas do Tietê, ocorreu uma mudança na percepção da população paulistana em relação aos seus rios. Entretanto, o rio Tietê, que na região da capital é hoje visto como imundo e fétido, já foi, em décadas passadas, local de recreação, onde grande parte da população desfrutava de diversos clubes. O Tietê era considerado um rio de lazer, um lugar de pescaria e esportes aquáticos. Suas margens eram repletas de piqueniques, partidas de futebol, serenatas, pescarias, esportes náuticos, como provas de remo e de natação. Os clubes possuíam canoas, piscinas naturais, cercadinhos de madeira feitos dentro do próprio rio, e proporcionavam aulas de natação para crianças e adultos, entre outras atividades de lazer (DAEE).

Entretanto, a degradação e a poluição reduziram os usos e utilidades do rio na RMSP apenas à função de auxiliar a drenagem, afastar esgotos sanitários e gerar energia elétrica. Com isso, os rios foram perdendo identidade e importância na visão da população, e acabaram sendo canalizados e retificados para ceder espaço para uma cidade que continuava crescendo em ritmo acelerado.

Essa mudança na utilização dos rios do município pode ser vista na história. A partir das décadas de 1920 e 1930, clubes a beira do Tietê já começaram a construir piscinas em suas dependências e o rio já não era amplamente usado para o lazer dos paulistanos. Em 1944, a tradicional “Travessia de São Paulo a nado” foi cancelada. As provas de remo foram transferidas para a Raia Olímpica de Remo da Universidade de São Paulo (DAEE).

Com a construção das rodovias nas margens do rio, os clubes foram perdendo seus atrativos. O rio Tietê, que antigamente era visto como fonte de alimento, sobrevivência e lazer, foi aos poucos perdendo sua utilidade. O aumento da poluição no rio obrigou os clubes de remo a abandonarem as competições. Consequentemente, a percepção da população em relação ao rio foi se transformando na medida em que ele foi sendo degradado. O rio passou a ser visto como algo negativo e inútil, algo que atrapalhava o crescimento e desenvolvimento da cidade. Este processo fez com que a cidade perdesse o seu mais importante recurso natural (DAEE).

Com o objetivo de restaurar a qualidade das águas e a percepção positiva da população em relação aos rios paulistanos, várias ações foram implementadas ao longo dos últimos anos e décadas, que serão comentadas no próximo tópico.