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2.3 Os preditores da utilização dos serviços de saúde

2.3.6 Auto-avaliação do estado de saúde

A auto-avaliação do estado de saúde é uma classificação do indivíduo em relação à sua saúde. Frequentemente é utilizada nos inquéritos populacionais e tem relevância na explicação de serviços de saúde.

Nas pesquisas realizadas no Brasil, geralmente são utilizadas as seguintes categorias: muito bom, bom, regular, ruim e muito ruim. Já em outros países, como nos Estados Unidos, são utilizadas outras categorias: excelente, muito bom, bom, razoável, ruim e não sabe (BELTRÃO; SUGAHARA, 2002).

Apesar da importância, poucos estudos têm avaliado o estado de saúde autorreferido como fator determinante para USS. No Brasil, apenas os estudos realizados a partir de dados da PNAD, utilizaram a variável como possível fator associado.

Os estudos mostraram que existe associação entre a USS e a auto-avaliação do estado de saúde, no entanto, existe diferença entre os tipos de serviços utilizados. No caso dos serviços hospitalares de urgência e internações, os indivíduos que auto-avaliaram o estado de saúde como ruim/muito ruim têm maior chance de utilizaram esses serviços.

Ribeiro et al. (2006) encontraram uma associação entre USS nos últimos 15 dias e auto-avaliação ruim/muito ruim, especialmente nos casos decorrentes de acidentes e lesões, uma vez que eles são encarados de forma urgente e quase sempre são atendidos.

Castro, Travassos e Carvalho (2005) também encontraram associação. Tanto para crianças como para idosos, as piores condições de saúde autorreferidas foram determinantes para internação e re-internação hospitalar. Resultados semelhantes foram encontrados para consultas ambulatoriais e hospitalização nos últimos 12 meses (BARATA et al., 2007; CASTRO, 2006).

Já nos casos de processos preventivos, o quadro se inverte, indivíduos com piores quadros de saúde têm menor acesso aos serviços (RIBEIRO et al., 2006; BARATA et al., 2007). Também no caso de serviços odontológicos, Matos e Lima-Costa (2007) tiveram como resultado do seu estudo que, idosos com auto-avaliação de saúde regular ou ruim/muito ruim têm menor probabilidade de procurar o atendimento.

A utilização da variável auto-avaliação das condições de saúde revela um gradiente social bastante evidente, desfavoráveis aos grupos de menores rendas. Assim, alguns autores têm se dedicado em estudar os fatores determinantes para o estado de saúde do indivíduo.

Dachs (2002); Dachs e Santos (2006) estudaram as desigualdades nos determinantes da auto-avaliação do estado de saúde, a partir dos dados das PNAD 1998 e 2003. Os autores identificaram uma forte relação entre as variáveis socioeconômicas – raça, renda e escolaridade – os pretos têm menor escolaridade e renda do que os brancos e amarelos.

Essa relação também determina o estado de saúde, indivíduos com maiores rendas se consideram melhor de saúde que os de renda mais baixa. Segundo Dachs (2002), a porcentagem de classificação na categoria muito bom sobe de 28,5% no decil mais baixo de renda a 39,1% no decil mais alto de renda, enquanto que a porcentagem de classificação ruim e muito ruim cai de 3,7% a 1,6%.

O mesmo acontece com a escolaridade, das pessoas sem nenhuma instrução ou com menos de um ano de estudo, 15,5% classificam a saúde como ruim ou muito ruim, enquanto que os indivíduos com 15 anos ou mais de escolaridade apenas 1,1% estão classificados nas duas categorias (DACHS, 2002). Dachs e Santos (2006) concluem que o nível de escolaridade é o principal mediador entre as condições socioeconômicas e a percepção de saúde.

Dachs (2002) não observa relação significativa com a raça/cor da pele, ou seja, o que prevalece são as condições sociais do indivíduo que determina a percepção do seu estado de saúde. No entanto, no trabalho de Barata et al (2007) essa relação foi constatada, apesar de diminuir a diferença entre negros e brancos quando as variáveis de renda, escolaridade, sexo e idade são controladas, o efeito da raça persiste.

Os negros, de uma forma geral, relataram pior estado de saúde do que os brancos. Situação também observada por Beltrão e Sugahara (2002) ao explorar a situação auto- referida de saúde apenas para os grupos classificados como negro4 ou branco, excluindo as demais categorias. A classificação é melhor para os indivíduos de raça branca tanto no Brasil como nos Estados Unidos. Apenas para indivíduos com rendas mais baixas, a medida que aumenta a idade e os problemas de saúde, desaparece a diferenças entre raças (BARATA et al., 2007).

As diferenças entre negros e brancos foram mais marcantes na auto-avaliação do estado de saúde do que na USS. O sistema de saúde de caráter universal pode ter compensado essa diferença.

Além dos fatores citados, podem ser incluídos ainda, o sexo e a idade do indivíduo. Os estudos mostraram que em geral as mulheres referem piores condições de saúde do que os homens, com exceção das idades extremas, os mais jovens (até 15 anos) e os mais velhos (acima de 80 anos).

Quanto à faixa etária, a classificação do estado de saúde piora à medida que a idade aumenta para ambos os sexos. Em estudo realizado por Beltrão e Sugahara (2002) comparando a taxa de condição de saúde ao longo dos grupos etários entre 15 e 75 anos de idade, observa-se um declínio à medida que os anos se passam, sendo que no Brasil o declínio é mais rápido do que observado nos Estados Unidos.

De uma forma geral, o americano sempre declara a saúde melhor que o brasileiro, sendo que a diferença entre os sexos é mais acentuada nos Estados Unidos. As condições gerais de saúde referidas no Brasil são piores do que as declaradas nos Estados Unidos. Além disso, as taxas de deterioração dessas condições, ao longo dos anos, são maiores entre os brasileiros que os americanos (BELTRÃO; SUGAHARA, 2002).

A região em que o indivíduo mora também determina a auto-avaliação do estado de saúde, na zona rural, tanto homens quanto mulheres, referem piores situações de saúde

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(20,6% e 25,9%, respectivamente), enquanto que os indivíduos com domicílio em área urbana apresentam percentuais de 17,5% e 22,9%, respectivamente (PINHEIRO et al., 2002).

Apesar da importância da variável auto-avaliação do estado de saúde do indivíduo como determinante da USS, a mesma apresenta algumas limitações. Há quem critique o seu caráter subjetivo, além disso, para o grupo etário até 14 anos, o responsável é quem responde pelo o estado de saúde do indivíduo. Outra desvantagem se dá pelo fato das pessoas que estão fora do domicílio ter seu estado de saúde referido por algum morador da casa e até mesmo por pessoas que não são moradoras do domicílio.