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As características de predisposição do indivíduo, o sexo e a idade não se mostraram como fatores associados à utilização habitual de serviços hospitalares.

Os dados da PNAD 1998 mostraram que o homem utiliza mais serviços hospitalares, ao passo que as mulheres, ambulatoriais. Com relação à idade também existe um relação direta com a USS, a partir dos 15 anos de idade, a medida que aumenta a faixa etária também aumenta a utilização de serviços hospitalares (BARATA et al., 2007).

No entanto, é preciso destacar que no presente estudo a amostra foi constituída apenas por crianças de 5 a 9 anos, ou seja, houve uma pequena mudança na faixa etária e talvez por isso, não tenha apresentado diferença no padrão do consumo.

A cor da pele do indivíduo apareceu novamente como fator associado, agora de forma diferente. Na utilização habitual dos hospitais, os indivíduos brancos tiveram mais chance de referirem o hospital como principal serviço de saúde utilizado.

A escolaridade da mãe também apareceu de forma diferenciada, à medida que aumenta a escolaridade também aumenta a chance de utilizar o hospital.

Com relação ao local de residência do indivíduo, o estudo mostrou que aqueles que moravam na sede do município apresentaram chance muito maior de utilizar os serviços hospitalares como referência. Vale relembrar que os hospitais eram localizados na sede do município e que nos distritos estavam disponíveis apenas as unidades do PSF.

Os resultados do estudo foram diferentes aos encontrados na PNAD 1998. Segundo Pinheiro et al. (2002), o hospital era mais utilizado por indivíduos da zona rural. Enquanto 19% das pessoas da zona urbana utilizavam o hospital como principal serviço de saúde, 26% dos indivíduos da zona rural utilizavam.

As melhores condições ambientais (escoadouro de dejetos e destino do lixo) aumentam a chance de utilizar o hospital. Indivíduos que tinham escoadouro de dejetos feitos em rede pública, fossa séptica e rudimentar, tinham a chance, de utilizar os hospitais, maior que os indivíduos cujo escoadouro de dejetos era a vala ou ao céu aberto.

A exceção é o grupo de indivíduos que o fazem em rio ou córrego. Tal fato poderia ser explicado pelo fato do principal hospital da cidade está localizado às margens do

rio e a população mais próxima (do hospital e do rio) utilizam mais o hospital e fazem o escoadouro de dejetos no rio.

Quanto ao destino do lixo, os indivíduos que tinham o lixo domiciliar coletado – direta ou indiretamente – tiveram mais chance de referenciar o hospital como principal tipo de serviço utilizado, quando comparado às outras formas de destinar o lixo.

Os indivíduos que mais tiveram chance de utilizar os serviços hospitalares tinham como característica sempre obter consulta no mesmo dia da procura e não terem sido cadastrados no PSF. Os resultados sugerem que são indivíduos que não acreditam na Atenção Primária, que buscam os serviços imediatos e não estão dispostos a esperar pelo agendamento de uma consulta médica. Pode-se supor também que este grupo pertença também, por relações de parentesco ou amizade, a redes sociais que facilitam o acesso a consultas hospitalares.

Apesar da distância11 entre a unidade do PSF e a residência não ter apresentado diferença significativa, quando analisado o tempo de deslocamento, verificou-se que à medida que o tempo para chegar ao PSF aumenta, cresce a chance de utilizar os hospitais.

Com relação aos gastos por problemas de saúde, os resultados do presente estudo mostraram que as famílias com muito ou não muito gasto tiveram mais chance de referenciar o hospital como serviço de saúde que habitualmente leva a criança, quando comparado às famílias que tiveram pouco gasto ou não gastaram.

Travassos et al. (2000) afirmam que os gastos crescem com a renda, ou seja, quanto maior renda familiar maiores são os gastos com plano de saúde e/ou com medicamentos.

No presente estudo isso também se verifica, indivíduos com menor renda tinham a chance de gastar pouco ou nada por problemas de saúde (dados não apresentados). No entanto, não foi possível diferenciar se esse gasto era com plano de saúde ou por compra de medicamentos, nem tampouco, o quanto representava esse gasto, em termos percentuais, na renda do indivíduo.

Um dado interessante é que mesmo no grupo de indivíduos do primeiro tercil de renda – até 0,21 SM/pessoa – quase 9% tiveram muito gasto por problema de saúde e mais da metade deles não procurou nenhum serviço de saúde (dados não apresentados), o que leva a crer que o gasto se refere à compra de medicamento.

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Distância avaliada pela mãe ou responsável pela criança, categorizada em “perto”, “nem perto nem longe” e “longe”.

Os dados da PNAD 98 mostraram que quanto menor a renda, maior era o percentual de comprometimento da renda em função do gasto com saúde, tanto com plano de saúde quanto compra de medicamento (TRAVASSOS et al., 2000).

Financeiramente falando, os indivíduos com melhores condições – famílias menores, com maiores rendas mensais e com mais bens de consumo no domicílio – tiveram maiores chances de utilizar os serviços hospitalares como referência.

O resultado é diferente do observado no Brasil, onde os indivíduos do primeiro tercil de renda utilizaram mais os hospitais, sobretudo na Região Nordeste (TRAVASSOS et al., 2006).

A ocorrência de problema de saúde não foi caracterizada como fator associado à escolha do serviço, o que leva a crer que a criança é levada ao hospital sem necessidade urgente – característica do serviço hospitalar – sendo assim ela poderia ter levado a unidade de saúde mais próxima.

Ribeiro et al. (2006) acreditam que a maior utilização dos hospitais por parte dos usuários do SUS pode ser pelo pior estado de saúde dessa população, maior oferta desse tipo de serviço ou ainda a procura pelo atendimento de emergência ao invés de procurar a unidade básica.

Com relação ao processo do cuidado médico, observou-se que as orientações do médico do serviço hospitalar, bem como, as devidas explicações sobre a doença, o tratamento e os exames não apresentaram diferença significativa.

Os indivíduos que não tiveram sua situação vacinal abordada e também não dispuseram de outro profissional para dar-lhes orientações de saúde tiveram mais chance de utilizar os serviços hospitalares como referência. São situações que não fazem parte da rotina de um profissional do serviço hospitalar, tais características estão ligadas à atenção primária, fazendo com que as crianças que utilizam habitualmente os hospitais percam a oportunidade de serem avaliadas de uma forma integral e interdisciplinar, não apenas baseada na doença e sob o único olhar do profissional médico.

O modelo final explicativo da utilização habitual de serviços hospitalares foi composto – com exceção da escolaridade materna – por variáveis referentes aos recursos disponíveis, repetindo o fato acontecido no modelo para utilização do PSF.

Após o ajuste a escolaridade materna passa a ser significativa a partir de 8 anos de estudos, ou seja, tomando como base a escolaridade até 7 anos de estudo, os indivíduos que tinham mãe com escolaridade maior ou igual a 8 anos, apresentavam a chance maior de utilizar o hospital como referência.

A utilização habitual dos serviços hospitalares foi mais frequente em famílias com escolaridade maior, que moravam na sede do município, com melhores condições sanitárias – exceto esgotamento no rio/córrego, já comentado anteriormente – e com melhores condições econômicas. Além do que eram indivíduos com menos condições de acesso ao PSF, pois não possuíam eram cadastrados, exigiam consulta no mesmo dia da procura, levavam mais tempo para deslocar-se até a unidade do PSF e não possuíam cobertura de plano de saúde.

Aqui é interesse destacar que na análise individual, a variável posse de plano de saúde não mostrou significância a 5%, somente após o ajustamento com outras variáveis, a mesma passou a ser um fator associado à utilização do hospital.

Analisando equidade do sistema de saúde a partir do modelo final de utilização habitual do hospital foi possível detectar uma desigualdade no acesso a esse serviço de saúde, uma vez que foi mais utilizado pelos grupos com melhores condições de vida, ao contrário do que seria o ideal, a busca do serviço por necessidade de saúde, que não foi sequer fator associado nem na análise individual, nem na utilização dos serviços hospitalares nos último 30 dias.