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No capítulo anterior pudemos constatar, no quadro-12, que a análise estatística não revelou diferenças nas médias obtidas pelos dois grupos, no que respeita ao Auto-Conceito Total. No entanto, as mães de crianças portadoras do síndroma de Down revelaram uma média superior.

Parece que estes resultados vêm ao encontro daquilo que Leventhal e Nerenz (1985) e Moss-Morris et ai. (1999) sugerem sobre as cognições da doença. O modelo de auto-regulação de Leventhal e Nerenz (1985) argumenta que um problema que surge na vida de um indivíduo o motivará para encontrar o equilíbrio e voltar ao seu estado de normalidade.

Mesmo numa situação de doença crónica nos filhos, as mães parecem desenvolver mecanismos de defesa do self que permitem o seu equilíbrio interno, de tal forma que não prejudicam a imagem que têm de si próprias.

Se o auto-conceito avalia os traços de personalidade estáveis, podemos tentar analisar se é o auto-conceito a influenciar a avaliação da situação, ou se a situação em si é que determina o auto-conceito. Uma vez que não há diferenças significativas entre o auto-conceito apresentado pelos dois grupos podemos inferir que a situação de doença crónica, no grupo experimental, não provocou alterações a nível da personalidade que pudessem perturbar os seus traços estáveis.

1.3- Estrutura familiar

Os resultados encontrados em relação à estrutura familiar dividem-se em 3 tipos: relacionados com a coesão, com a adaptabilidade e com o tipo familiar.

Relativamente às dimensões "coesão" e "adaptabilidade" verificou-se que, tanto as famílias das crianças não portadoras do síndroma de Down como as das crianças portadoras revelam, primeiramente, uma estrutura familiar ligada/flexível seguida de uma estrutura familiar emaranhada/caótica. Contudo, as mães das crianças não portadoras apresentam, em último plano, uma estrutura familiar que se caracteriza por uma coesão desmembrada e uma adaptação rígida ou estruturada enquanto que as famílias de crianças portadoras de síndroma de Down demonstram encontrar-se em segundo plano numa estrutura familiar em que a coesão é separada e a estrutura da família separada. De facto, o quadro-16 mostra que as famílias com crianças portadoras do síndroma de Down caracterizam-se por tipos familiares mais equilibrados, do que as famílias de crianças não portadoras.

A argumentação de Altschuler (1997) de que, quando a doença surge, as famílias têm tendência a organizarem-se, parece ser confirmada com estes resultados enquanto que a perspectiva de Moos (1988) sobre as influências da

doença crónica na família parecem não se revelar. Moos (1988) para além de sugerir que as famílias tentam encontrar aspectos positivos fazendo com que os seus membros se sintam capazes, refere também que a doença crónica tende a desmembrar o funcionamento normal da família, enquanto que nos casos de doença breve, a família aceita restruturar-se.

Parece que a segunda perspectiva de Moss, não se confirma neste estudo, ou será que estas mães vêem a doença dos seus filhos como breve ? Ou ainda, terá havido uma reorganização da família, ou será que nem houve necessidade de se reorganizar? Como referem McCubbin e McCubbin (1993), as famílias adaptam-se com sucesso à doença, fazendo-o através da coesão.

1.4- Dimensões de saúde

Para os dois grupos do estudo, não se verificam diferenças significativas nas médias obtidas nas dimensões de Saúde. Contudo, as mães de crianças não portadoras do síndroma de Down, revelam médias superiores em relação às outras mães, em quase todas as escalas, excepto nas da Função Física (FF), Saúde em Geral (SG) e Mudança de Saúde (MS).

Estes resultados podem levar-nos a sugerir que pelo facto da doença crónica exigir das mães um aumento de trabalho relativamente aos cuidados com as crianças, elas possam sentir-se com menos capacidade física e, por isso mesmo, vêem a sua saúde geral mais debilitada e com maiores mudanças. Há alturas em que a recaída da doença e o seu agravamento provocam nas mães perturbações em relação ao seu estado de bem-estar por um aumento do stress (Altschuler, 1997).

Moos (1988), por exemplo, refere que as mães de crianças com doenças crónicas podem ficar esgotadas com a situação em que se encontram, levando-as a sentir pouca energia. Selye (1974) refere que o impacto do stress psicológico real ou percebido sobre o organismo, pode manifestar-se através de sintomas físicos.

O síndroma de Down é uma doença que provoca diferentes afecções e um atraso no desenvolvimento da criança, exigindo aos pais que recorram, frequentemente, aos cuidados de saúde. As mães, principalmente, são as que acompanham as crianças e para além disso têm que cumprir com as suas tarefas familiares e é natural que se sintam mais cansadas em relação às outras mães que não estão na mesma situação. Contudo, como os resultados do estudo demonstram, isto não quer dizer que a forma como se sentem, seja muito diferente das outras mães. Aliás, o auto-conceito que as mães com crianças portadoras de síndroma de Down têm é mais elevado e talvez seja por isso que avaliam a sua saúde de forma mais negativa por serem mais exigentes.

2-Correlações intra-dimensões

2.1- Dimensões de Resolução de Problemas

Todos os factores relacionados com a resolução de problemas apresentam correlação positiva altamente significativa com a resolução de problemas total (RPT), excepto com o factor de agressividade intemalizada/externalizada (F7).

Lazarus e Folkman (1984) sugerem que o coping focalizado na avaliação (o IRP coloca o indivíduo perante diferentes situações exigindo uma avaliação) engloba uma série de atitudes, que são desenvolvidas no sentido de compreender a situação e encontrar um significado para ela. A avaliação da situação envolve três tipos de

conjuntos de coping: análise lógica, que consiste em tornar controlável o evento stressante, a redefinição cognitiva, que implica a aceitação da situação e sua redefinição de forma positiva e controlada, e o evitamento e a negação, que correspondem à minimização da gravidade da situação. De facto, a resolução de problemas engloba uma série de factores que se relacionam com aquilo que Lazarus e Folkman (1984) sugerem. Os diferentes factores apelam a diversos comportamentos que na sua globalidade levam a um coping eficaz.