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2.2 Auto-Conceito

3- Correlações inter-dimensões

3.1- Resolução de Problemas/Auto-Conceito

O quadro-18 resume as correlações positivas e negativas, significativas e altamente significativas entre o coping e o auto-conceito. Os factores do coping que fazem apelo ao confronto e à resolução activa dos problemas relacionam-se com os factores do auto-conceito que dizem respeito à sensação de auto-eficácia, maturidade e impulsividade.

Além disso, a RPT (resolução de problemas total) correlaciona-se de forma positiva e altamente significativa com a dimensão de auto-eficácia do auto-conceito.

Estes resultados sugerem que quanto maior a sensação de eficácia, maturidade e de impulsividade-actividade, melhores serão as estratégias de resolução de problemas. Quanto à dimensão da impulsividade, ela é definida no

I.C.A.C. (Inventário Clínico de Auto-Conceito) como actividade, ou seja, tendência para tomar iniciativas.

Serra (1986) argumenta que o auto-conceito é um bom predictivo do coping, ou seja, as pessoas com um bom auto-conceito usam melhores estratégias de coping e vice-versa.

Um indivíduo com um bom auto-conceito parece desenvolver a crença de que o controle que tem das situações é mais devido aos seus esforços do que às características da situação (Serra, 1986).

Como sugerem Serra (1986) e Serra et ai. (1988) a sensação de auto-eficácia sentida pelo indivíduo influencia o coping, por ele achar que tem capacidade de confrontar e resolver activamente os problemas.

3.2 Resolução de Problemas/Estrutura Familiar

A maioria dos factores da resolução de problemas tem correlações negativas, não significativas, com as dimensões do coping e isto leva-nos a concluir que aquelas dimensões necessárias a um coping eficaz não podem estar relacionadas com aspectos de uma coesão e adaptabilidade altas (extremos).

De facto, o extremo das duas dimensões familiares não tem a ver com o saber lidar com a situação. As famílias que têm altos níveis de coesão e adaptabilidade são famílias disfuncionais (Oison et al. 1979).

As correlações negativas e altamente significativas encontram-se entre as dimensões do coping, que fazem apelo às estratégias de controle das emoções, o sentimento de auto-responsabilização e medo, e a coesão. A coesão alta é caracterizada por uma ligação emocional elevada e por pouca autonomia entre as

pessoas da família. Uma ligação emocional elevada não parece estar controlada e, se não há autonomia individual na família, as pessoas sentir-se-ão responsáveis pelo quê ?

Olson et ai. (1979) sugere que um grau equilibrado de coesão, e não uma coesão alta, permite um funcionamento familiar eficaz. Se considerarmos que o meio influencia as atitudes da pessoa, numa relação transacional (Bronfenbrenner, 1986,1994), então podemos supor que um meio equilibrado melhora a capacidade individual de gestão do stress, logo melhora a capacidade de resolução de problemas.

As dimensões agressividade (F7) e pedido de ajuda (F1) de resolução de problemas, demonstram correlação negativa altamente significativa e significativa, relativamente à adaptabilidade.

A adaptabilidade, no modelo de Oison, é caracterizada pela capacidade de mudança na estrutura familiar, na definição de regras e papéis. Uma adaptabilidade equilibrada é flexível e permite que os membros da família interajam entre si, de forma a contribuir para o equilíbrio familiar.

A estrutura familiar com uma adaptabilidade elevada não é funcional e características como a agressividade e a incapacidade de pedido de ajuda parecem enquadrar-se nas famílias disfuncionais.

3.3- Auto conceito/estrutura familiar

A dimensão aceitação/rejeição social (F1) do auto-conceito, tem uma correlação positiva significativa com a coesão, enquanto que a dimensão

impulsividade-actividade e o auto-conceito total têm uma correlação positiva significativa com a adaptabilidade.

Uma coesão e adaptabilidade elevadas reflectem uma disfuncionalidade na estrutura da família, fazendo com que o tipo familiar seja extremo (emaranhado/caótico) e uma aceitação e impulsividade elevadas também parecem não estar controladas ou bem percepcionadas, podendo acontecer que em famílias desequilibradas, a percepção da aceitabilidade e actividade-impulsividade sejam utilizadas como uma estratégia de negação do problema em que se encontram.

Altschuler (1997) refere que há famílias em que o medo de se desequilibrarem é tão grande que mesmo os pequenos ajustamentos são impensados, tomando-se rígidas. Ao mesmo tempo, essa rigidez é mantida pela incapacidade de utilizar um coping adequado.

3.4- Dimensões de saúde/auto-conceito

É surpreendente verificar que quase todas as dimensões de saúde têm correlações negativas, e algumas negativas significativas, com o auto-conceito. Estes resultados levam-nos a pensar que quanto melhor a pessoa se vê a si própria, mais exigente é com a sua saúde.

As escalas de desempenho, do SF-36, medem a limitação em termos do tipo e da quantidade de trabalho executado e são essas escalas (dimensão do desempenho emocional e desempenho físico) que obtêm correlações negativas significativas com o auto-conceito. Isto vem reforçar a ideia de maior exigência, em termos de desempenho, pelas pessoas com um alto auto-conceito.

Fits (1972, citado por Serra, 1988), argumenta que o auto-conceito é uma componente importante do comportamento humano e é um indicador valioso do estado de saúde mental do ser humano. Logo, se as dimensões de saúde variam na razão inversa do auto-conceito, um auto-conceito baixo indica níveis elevados nas dimensões de saúde então, será que a saúde pode ser avaliada objectivamente, ou vai depender da forma como o indivíduo a percepciona? E se a qualidade de vida está relacionada com o estado de saúde, poder-se-á dizer que uma pessoa com um baixo auto-conceito, não tem qualidade de vida ?

Rosser (1992) sugere que a qualidade de vida relacionada com a saúde é um conceito subjectivo e prende-se à percepção que os indivíduos têm do seu estado de saúde.

Outro aspecto que se torna pertinente é analisar a definição de saúde proposta pela OMS. Como podemos constatar, os dados estatísticos revelam não existirem correlações positivas significativas entre todas as dimensões; as que fazem apelo a um auto-conceito elevado, às estratégias de coping eficazes, à saúde e às dimensões da estrutura familiar.

O ser humano pode ter áreas de funcionamento óptimo mas, concerteza, que muito dificilmente conseguirá estar completamente bem em todas as suas dimensões, simultaneamente.

3.5- Dimensões de saúde/resolução de problemas

As dimensões Função Física (FF) e Vitalidade (VT) apresentam correlações positivas significativas com a resolução de problemas total (RPT). Isto parece

traduzir que quanto mais eficazes são as estratégias de resolução de problemas, mais as pessoas percepcionam ter uma boa capacidade física e vitalidade.

A forma como o indivíduo lida com o ambiente (coping) e a percepção que tem da sua actuação no meio vão influenciar positiva ou negativamente a qualidade de vida (Honari, 1999).