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Para a realização da Autoconfrontação Cruzada, foram utilizadas as seguintes estratégias:

a – As professoras foram convidadas a assistir, juntamente com a pesquisadora e assistente de pesquisa, aos mesmos episódios que haviam assistido durante a

autoconfrontação simples. Foi solicitado a cada professora que fizesse comentários sobre a atividade da colega.

b – Foi explicado para as professoras que poderiam fazer concomitantemente, observações acerca dos comentários que eram feitos pelo outro professor.

c - Apoiada nas entrevistas realizadas anteriormente, e nos comentários espontâneos realizados durante o item b, a pesquisadora solicitou a cada professora que comentasse acerca de cenas específicas que desvelavam pontos contraditórios entre fala e ação de sua colega.

As confrontações simples e cruzadas foram filmadas e gravadas em K7 para serem utilizadas como material de análise acerca da atividade docente.

2.6.2 – Estratégias para Análises

A análise é um dos momentos mais difíceis do processo de pesquisa pois ela deverá deixar claro a articulação que o pesquisador faz entre o pressuposto teórico, o pressuposto metodológico e as informações coletadas.

2.6.2.1 Primeiras Reflexões

Parafraseando Szymanski (2002, p. 66), embora saibamos que “é na prática que se definem os procedimentos de análise”, antes de passarmos para a análise das informações colhidas propriamente ditas, entendemos ser importante e necessário apresentarmos algumas reflexões e pressupostos que nortearão o nosso processo de análise.

Segundo Mazzotti & Gewandsznajder (2002, p.169), a pesquisa qualitativa, na maioria das vezes, gera uma enorme quantidade de informações / dados que precisam ser organizados e compreendidos. Recomendam que o pesquisador deva estar consciente das dificuldades inerentes à análise e que seja suficientemente competente para realizá-la. Para eles a forma de organização vai depender do referencial teórico adotado pelo pesquisador, sendo sempre importante apontar para os leitores os procedimentos gerais que permitirão o emergir de dimensões e categorias, bem como suas relações e significados. Segundo eles a análise

[...] se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo complexo, não-

linear, que implica um trabalho de redução, organização e interpretação dos dados que já se inicia já na fase exploratória e acompanha toda a investigação. À medida que os dados vão sendo coletados, o pesquisador vai procurando tentativamente identificar temas e relações, construindo interpretações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que por sua vez, o leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações, num processo de “sintonia fina” que vai até a análise final (MAZZOTTI & GEWANDSZNAJDER, 2002, p.170-171)81.

Gatti, ao tratar das limitações do conhecimento, escreve que os procedimentos para a procura das respostas desejadas devem ser coerentes com a natureza da abordagem pretendida, seja fenomenológica, materialista-histórico-dialética, empírico-análitico, estruturalista, etc. Nas palavras dela,

ouso dizer que, para o espírito científico, importa antes e sempre, a consistência do método investigativo desenvolvido, a coerência que se estabelece entre teoria e fato, a lógica que se consegue defender e sustentar, os corolários e conseqüências das análises, tanto de uma perspectiva científica como ética, e, também, o espírito crítico sobre o próprio método. Do cuidado com esses aspectos nascem a crítica científica e social e a consciência das limitações das interpretações e conclusões aventadas (GATTI, 2002, p. 58).

Concordando com as idéias expostas referentes aos cuidados para se proceder a análise, ou seja de se zelar pela coerência entre a técnica escolhida e o pressuposto teórico que a subsidia, julgamos que a Estratégia de Análise dos Núcleos de Significação82 que serão utilizadas nesta pesquisa para a análise das Entrevistas de Narrativa de História de Vida, Entrevista Centralizada Semi-dirigida e Recorrente – Atividade e Entrevista Centralizada Semi-dirigida e Recorrente – Inclusão, e a Estratégia de Análise Autoconfrontações Simples e Cruzadas aqui elaboradas, sejam coerentes com os pressupostos epistemológicos da Psicologia Sócio-Histórica; desta forma a escolhemos para ser utilizada nessa tese.

2.6.2.2 – O Processo de Análise dos Núcleos de Significação

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Aspas no original.

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Aguiar e Ozella (2007), em recente artigo, nos apresentam, de forma minuciosa, a descrição dessa metodologia. Segundo eles, a palavra impregnada de sentido é o ponto de partida da análise.

Devemos, entretanto, levar sempre em consideração que a palavra que é expressa não possui uma relação direta com o que se pensa e/ou sente, pois ela não consegue expressar todas as articulações psicológicas presentes na subjetividade do sujeito. Como afirma Vigotski (2001a, p.409), “o pensamento não se exprime na palavra, mas nela se realiza”.

Segundo Aguiar (2001b, p.130-131), a palavra com significado é tomada como “unidade de análise, uma vez que ela encerra as propriedades do pensamento por se constituir numa mediação deste”. Apreendemos por meio dela “[...] os aspectos cognitivos/afetivos/volitivos constitutivos da subjetividade, sem esquecer que tal subjetividade e, portanto, os sentidos produzidos pelos indivíduos são sociais e históricos”. Quanto a este último aspecto da palavra, ou seja, a sua historicidade, Bakhtin, diferentemente de lingüistas de sua época que a tratavam de forma abstrata e desvinculada de sua realidade de circulação, afirma que ela é um elemento concreto de feitura ideológica e traz consigo valores e emoções de uma dada época e dos grupos sociais existentes. “A palavra é a arena [...] onde se confrontam os valores sociais contraditórios” (BAKHTIN, 1986, p.14).

Minayo (1996, p. 108), ao abordar a questão da palavra, aponta que ela é reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles), e ao mesmo tempo, ela tem a capacidade de transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas.

Isto posto, voltemos às explicações de Aguiar e Ozella (2006) sobre o processo de análise. Sabemos que organizar sistematicamente o processo de elaboração da análise e as interpretações analíticas decorrentes deste, de forma a evidenciar seus passos (e impasses), e as articulações que o pesquisador realizou entre o referencial teórico, o metodológico e as informações coletadas, talvez seja o momento mais desafiante e difícil da pesquisa.

A fim de vencer/superar este desafio, passaremos, a seguir, a descrever como realizamos a articulação entre estes elementos constituintes da pesquisa. Assim sendo, como já anunciado, o processo de inferência e sistematização dos núcleos de significação dessa pesquisa teve como base as orientações de Aguiar e Ozela (2006). Primeiramente,

foram realizadas várias “leituras flutuantes” das entrevistas a fim de nos familiarizarmos e nos apropriarmos das informações ali expressas, mesmo que subjacentes.

Em seguida, iniciamos um trabalho de fazer recortes, de buscar as unidades do discurso, as partes que revelam o todo. Assim, destacamos os eixos temáticos que revelavam conteúdos que surgiram reiteradas vezes, ou com ênfase emocional. Neste momento, constituímos os pré-indicadores. Ao destacarmos estes conteúdos bastante calcados no empírico, a intenção foi não perdermos a base material de sustentação de nossa análise. Neste momento, verificamos um grande conjunto de pré-indicadores que, num movimento seguinte, foram analisados com a intenção de aglutinarmos aqueles que mantinham entre si alguma semelhança ou complementaridade, como mostra a tabela abaixo.

Passamos, em seguida, a reorganizar os conteúdos de forma a buscar a integração da parte ao todo, de não perder a totalidade sem perder também a especificidade da parte. Organizamos, deste modo, os Indicadores, ou seja, articulações de temas/conteúdos que, nesta nova articulação, revelam o sujeito com mais propriedade, como exemplifica o quadro abaixo.