• Nenhum resultado encontrado

Ao refletir sobre o cuidado nos leva a especular o que é o cuidar, quem cuida e por que cuidamos, e nessa perspectiva de compreensão, o cuidado tem diversos significados, por vezes, complexos, e sem uma concepção definida. O cuidado está inserido na sociedade desde o início da história do ser humano, acompanha a evolução do tempo, convive com as mais diversas formas de sociedade e está no interior das discussões nos diferentes contextos coletivos (SILVA et al., 2009).

Nesse sentido, buscar diferentes comportamentos em relação ao outro e discutir as singularidades do fenômeno do cuidado humano, compõe uma série de concepções teóricas no campo da saúde e enfermagem (SILVA et al., 2009).

O autocuidado foi mencionado pela primeira vez no âmbito da enfermagem, em 1958, quando a enfermeira Dorothea Elizabeth Orem passou a questionar acerca do porquê os indivíduos necessitam do auxílio de enfermagem e podem ser ajudados pela mesma. A partir dessa reflexão, formulou a teoria do déficit de autocuidado como uma teoria geral composta por três conceitos relacionados: a teoria do autocuidado (descreve e explica ao autocuidado), a teoria do déficit do autocuidado (explica as razões pelas quais a enfermagem pode ajudas as pessoas) e a teoria dos sistemas de enfermagem (descreve as relações que são essenciais estabelecer e manter que se dê enfermagem) (EBEM et al., 1994).

Agregados a essas três teorias, Orem preconiza seis conceitos centrais e um periférico. Os seis conceitos centrais são: autocuidado, ação de autocuidado, déficit de autocuidado, demanda terapêutica de autocuidado, serviços de enfermagem e sistemas de enfermagem. O conceito periférico a teórica denominou de fatores determinantes básicos, que é fundamental para a compreensão de sua teoria geral, são eles: idade, sexo, estado de desenvolvimento, condição de saúde, orientação sociocultural e os fatores do sistema de atendimento à saúde (FOSTER; BENNET, 2000).

O autocuidado é uma atividade do indivíduo apreendida pelo mesmo e orientada para um propósito. É uma ação desenvolvida em situações concretas da vida e que o indivíduo direciona para si próprio ou para regular os fatores que afetam seu próprio desenvolvimento, atividades em benefício da vida, saúde e bem-estar, (SILVA et al., 2009). Segundo Orem, o autocuidado tem como objetivo o emprego de ações de cuidado, seguindo um modelo que favorece o desenvolvimento do ser humano. As ações que constituem o autocuidado são os requisitos universais, de desenvolvimento e de alterações da saúde (OREM; TAYLOR; RENPENNING, 2001). Os requisitos universais do autocuidado são comuns a todos os indivíduos e englobam a conservação do ar, água, alimentos, eliminação, exercício e descanso, solidão e interação social, prevenção de risco e promoção da atividade humana (OREM; TAYLOR; RENPENNING, 2001). Os requisitos de desenvolvimento ocorrem quando há a necessidade de ajuste às mudanças que surjam na vida do indivíduo. Os requisitos por alteração da saúde acontecem quando o indivíduo em estado patológico necessita adaptar-se a tal situação (DIÓGENES; PAGLIUCA, 2003).

Quando esses requisitos são proporcionados de forma eficaz para estabelecer o autocuidado, se atinge o bem-estar e a saúde (OREM; TAYLOR; RENPENNING, 2001).

O autocuidado nas doenças crônicas está relacionado à manutenção de nível apropriado de bem-estar físico e psicológico, diminuição da morbimortalidade e do uso e custo dos serviços de saúde, aumento da satisfação do paciente, melhora do senso de controle e da qualidade de vida, razões pelas quais o autocuidado é preocupação central no cuidado às pessoas com doenças crônicas (SCHNELL- HOEHN; NAIMARK; TATE, 2009).

O conceito de autocuidado tem evoluído ao longo dos anos. Está agregado à autonomia, independência e responsabilidade individuais para comportamentos saudáveis, assim como para o desenvolvimento de atividades necessárias para gerenciar e monitorar as condições de saúde (RIEGEL; LEE; DICKSON; CARLSON, 2009).

No âmbito da IC, um dos principais problemas de saúde público na atualidade, um autocuidado adequado contribuiria para redução dos eventos adversos atrelados a complexidade e cronicidade da doença, como os altos índices de reinternação e mortalidade (RIEGEL; LEE; DICKSON, 2011).

No que se refere ao motivo de descompensação da IC, a falta de adesão ao tratamento foi identificada como causa principal. O fato pode estar associado a diferentes fatores, tais como: escasso conhecimento sobre a doença, o não acompanhamento do paciente por uma equipe multidisciplinar especializada, ou ainda, carência de orientações sistematizadas, fatores que influenciam no autocuidado (RABELO et al, 2012).

Apesar das novas tecnologias que têm sido desenvolvidas para melhorar a saúde, a qualidade de vida e diminuir os custos da população com as doenças crônicas, ainda são poucos os estudos que exploram o conhecimento do indivíduo com IC sobre sua doença e tratamento (FREITAS; PUSCHEL, 2013).

O pouco conhecimento sobre a insuficiência cardíaca e seu tratamento, bem como medidas de autocuidado, tem sido considerado como preditor de instabilidade hemodinâmica e consequente readmissão hospitalar. Acredita-se que a falta de informações acerca da doença contribua para piora da qualidade de vida, isolamento social, aumento das comorbidades, ausência de autocuidado, desconhecimento de sinais e sintomas e não adesão ao tratamento (MEDEIROS; MEDEIROS, 2017).

Por isso, a educação em saúde deve ser desenvolvida, visando o encorajamento do portador de IC para o conhecimento sobre a doença. A educação do paciente deve combinar o conhecimento popular e de senso comum com o conhecimento científico para que o indivíduo possa associar as informações e dar significado a elas (FREITAS; PUSCHEL, 2013).

O autocuidado inclui uma diversidade de comportamentos relacionados à saúde e é influenciado por diferentes fatores individuais, sociais e ambientes. Sendo assim, as intervenções de enfermagem devem ser desenvolvidas com o objetivo de

atender adequadamente as necessidades do paciente através de um planejamento meticuloso, escolha da melhor abordagem e uma avaliação rigorosa de sua eficácia na otimização da prática do autocuidado e de sua tradução em resultados clínicos (BOISVERT et al., 2015).