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As Condições Sensíveis a Atenção Primária (CSAP) são doenças que se apresentam como marcador indireto da qualidade da assistência prestada em nível ambulatorial. Portanto, sua ocorrência pode ser considerada evitável, em grande parte, mediante a oferta de seguimento ambulatorial efetivo, oportuno, adequado e suficiente (VIANA et al., 2006).

No Brasil, as doenças cardiológicas são classificadas em três grupos: insuficiência cardíaca (IC), hipertensão arterial sistêmica (HAS) e angina. O estudo dessas doenças ganha relevância devido à alta prevalência e impacto dessas patologias sobre a morbimortalidade global da população adulta. Essas doenças são denominadas de Condições Cardiológicas Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP) (MARTINS; FRANCO, 2013).

Diante disso, como perspectiva para a área de saúde, busca-se a valorização da atuação enfermeiro como educador na atenção primária junto aos pacientes portadores de IC. No âmbito da atenção básica o enfermeiro tem a possibilidade de direcionar seus esforços para o aumento do autocuidado, com orientações voltadas a redução de fatores de risco e adesão ao tratamento não farmacológico, visando redução dos episódios de readmissão hospitalar e aumento da qualidade de vida do usuário.

A avaliação, o acompanhamento e a prevenção dos fatores precipitantes de descompensação da IC são aspectos indispensáveis para um melhor controle da síndrome. Os enfermeiros têm papel fundamental na promoção à saúde dos indivíduos com IC na atenção primária, de modo a promover estratégias que os capacitem para o gerenciamento da doença e manutenção de uma condição de saúde satisfatória.

Enquanto membro de uma pesquisa do Grupo de Pesquisa - Insuficiência Cardíaca: da molécula a população, esta poderá contribuir para que o enfermeiro

direcione a sua assistência aos indivíduos ainda na atenção primária, de modo a reforçar as ações de intervenções não farmacológicas para o autocuidado relacionadas ao risco de desenvolvimento de insuficiência cardíaca, bem como àqueles indivíduos com esta doença crônica.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados estão apresentados em 04 ( quatro) dimensões de análise que compõem este estudo, ou seja, caracterização do perfil sociodemográfico, hábitos de saúde e clínico da amostra ( sexo, cor da pele, faixa etária, grau de escolaridade, estado civil e renda per capita; fumo e consumo de álcool; hipertensão, diabetes e dislipidemia); associação da frequência do grau de dependência dos indivíduos com a Escala Katz (sexo, cor da pele, faixa etária, grau de escolaridade, estado civil e renda per capita; fumo e consumo de álcool; hipertensão, diabetes e dislipidemia); associação do score do autocuidado dos indivíduos assintomáticos e sintomáticos com o domínio de “manutenção do autocuidado” da EAC-IC (adequado e inadequado); associação da frequência do autocuidado adequado ou inadequado dos indivíduos e respectivas variáveis com o domínio de “manutenção do autocuidado” da EAC-IC (sexo, cor da pele, faixa etária, grau de escolaridade, estado civil e renda per capita; fumo e consumo de álcool; hipertensão, diabetes e dislipidemia).

4.1 Caracterização da amostra

Dos 84 participantes, 13 (treze) foram classificados em estágio 0, ou seja, saudáveis; 28 (vinte e oito) como estágio A, pacientes assintomáticos para IC, porém com algum fator de risco para desenvolvê-la; e 39 (trinta e nove) em estágio B, isto é, assintomáticos para a doença, entretanto, com fator de risco para IC e alteração de estrutura cardíaca. No estágio C, sintomático para a insuficiência cardíaca, apenas 4 (quatro) pacientes foram identificados, conforme o Gráfico 1.

Inicialmente, cabe ao enfermeiro o uso de estratégias como a Educação em Saúde junto aos pacientes portadores de IC, tornando-se uma ferramenta importante para o ensino e aprendizagem dos cuidados voltados para o controle da síndrome. A utilização desse instrumento de ensino poderá auxiliar na melhora da adaptação desses indivíduos frente aos sintomas relacionados a IC, evitando complicações, além de melhorar a adesão a terapia prescrita e ao comportamento de autocuidado (GONÇALVES; ALBUQUERQUE, 2014).

Gráfico 1: Distribuição da insuficiência cardíaca segundo os estágios da doença. Niterói, 2018.

Estudo realizado por Mussi et al. (2013) constatou que um grupo que recebeu orientações de enfermagem teve um aumento de 20% na escala de comportamento do autocuidado, confirmando o efeito benéfico dessa abordagem. Esses resultados indicam que a educação sobre a IC e os aspectos que incluem o seu complexo tratamento, incluindo o não farmacológico, são fundamentais para o envolvimento e adaptação do paciente no seu tratamento, bem como para melhora do comportamento de autocuidado.

Segundo Aliti et al. (2007) a adesão as orientações visando um tratamento mais eficaz, depende, em grande parte, do conhecimento e da compreensão dos pacientes com IC acerca das informações fornecidas em um processo contínuo de educação. Nesse mesmo estudo foi constatado que o quanto mais o indivíduo com IC conhece a patologia, suas causas e suas complicações mais ele se torna disposto a praticar o autocuidado e que o conhecimento limitado dos pacientes sobre a doença e também sobre o autocuidado, estão envolvidos diretamente nas readmissões hospitalares.

Na Tabela 1 observa-se a distribuição das variáveis sociodemográficas, clínicas e hábitos de saúde por estágios de IC, demonstrando um impacto principalmente entre pacientes sob risco de desenvolver a doença.

Tabela 1: Distribuição das variáveis sociodemográficas, clínicas e hábitos de saúde segundo os estágios de insuficiência cardíaca na atenção primária. Niterói, 2018.

Estágios de Insuficiência Cardíaca (IC)

Saudáveis Assintomáticos Sintomáticos

0 n (%) 13 (15,5) A n (%) 28 (33,3) B n (%) 39 (46,4) C n (%) 4 (4,8) Variáveis sociodemográficas Valor-p Sexo 0,042 Feminino 5 (38,5) 18 (64,3) 29 (74,4) 1 (25,0) Masculino 8 (61,5) 10 (35,7) 10 (25,6) 3 (75,0) Cor da pele 0,445 Branco 9 (69,2) 16 (57,1) 15 (38,4) 1 (25,0) Pardo 4 (30,8) 9 (32,1) 17 (43,6) 3 (75,0) Preto 0 (0,0) 3 (10,7) 6 (15,4) 0 (0,0) Amarelo 0 (0,0) 0 (0,0) 1 (2,6) 0 (0,0)

Faixa Etária (em anos) 0,33

De 45 a 64 10 (76,9) 17 (60,7) 19 (48,7) 2 (50,0)

65 ou mais 3 (23,1) 11 (39,3) 20 (51,3) 2 (50,0)

Grau de Escolaridade 0,043

Até o 5º ano ou 4a série 1 (8,3) 12 (42,9) 20 (51,3) 1 (25,0)

Além do 5º ano ou 4ª serie 11 (91,7) 16 (57,1) 19 (48,7) 3 (75,0)

Estado Civil 0,571

Sem companheiro (a) /

Com companheiro (a) 4 (30,8) 8 (28,6) 14 (35,9) 2 (50,0)

Renda per capita 0,805

Até R$800,00 3 (23,1) 8 (28,6) 12 (30,8) 2 (50,0) Maior que R$800,00 10 (76,9) 20 (71,4) 27 (69,2) 2 (50,0) Variáveis de hábitos de saúde Fumo 0,476 Nunca fumou 9 (69,2) 11(39,3) 18 (47,4) 1(33,3) Fumo Atual 0 (0,0) 5 (17,9) 7 (18,4) 0 (0,0) Ex-fumante 4 (30,8) 12 (42,8) 13 (34,2) 2 (66,7) Consumo de álcool 0,353 Diariamente ou quase todos os dias 5 (41,7) 4 (14,8) 7 (18,4) 0 (0,0) Ocasionalmente 1 (8,3) 3 (11,1) 7 (18,4) 0 (0,0) Raramente 3 (25,0) 7 (25,9) 5 (13,2) 1 (50,0) Parou de beber 0 (0,0) 8 (29,6) 10 (26,3) 1 (50,0) Varáveis clínicas Hipertensão 0,005 Sim 3 (23,1) 21 (77,8) 23 (60,5) 1 (33,3) Não 10 (76,9) 6 (22,2) 15 (39,5) 2 (66,7) Diabetes 0,084 Sim 0 (0,0) 7 (25,9) 12 (31,6) 0 (0,0) Não 13 (100,0) 20 (74,1) 26 (68,4) 3 (100,0) Obesidade 0,647 Sim 7 (53,8) 13 (50,0) 15 (39,5) 2 (66,7) Não 6 (46,2) 13 (50,0) 23 (60,5) 1 (33,3)

De acordo com Tavares et al. (2004) o julgamento apropriado de sinais e sintomas sugestivos de agudização da IC, que é uma doença passível de frequentes descompensações, depende principalmente do conhecimento e habilidade dos pacientes para manter este comportamento.