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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.3 Autocuidado e diabetes mellitus

Lange et al. (2006) definem autocuidado como sendo as observações sobre o que as pessoas fazem em benefício da sua saúde, o que a família ou os amigos oferecem para cuidar de um doente e o que os grupos sociais e/ou comunidades desenvolvem em benefício da saúde coletiva, assim como a parte que cabe às diferentes instituições sanitárias e profissionais de saúde.

Umas das teorias mais relevantes da enfermagem, a Teoria do Autocuidado proposto por Orem (2001), define autocuidado como a prática de atividades que as pessoas realizam em seu próprio benefício na manutenção da vida, saúde e bem-estar e o desenvolvimento dessa prática está diretamente relacionado às habilidades, às limitações, aos valores, às regras culturais e científicas da própria pessoa.

Em pacientes com condição clínica crônica, a Teoria do Déficit de Autocuidado, de Dorothea E. Orem, é considerada uma opção para estruturação da prática de enfermagem e direcionamento das ações assistenciais para responder às necessidades do cliente. A teórica reflete o autocuidado quando as ações são realizadas pelos indivíduos e em seu próprio benefício, sendo necessário que o cliente esteja disposto ao autocuidado e tenha compreensão em relação à sua condição clínica (HARTWEG; FLECK, 2010).

O Diabetes mellitus tipo 2 destaca-se entre as doenças crônicas que apresentam baixas taxas de adesão ao tratamento, principalmente por requerer autocuidado a longo prazo. No entanto, estudos que empregam estratégias educativas revelam que diversas complicações decorrentes da doença podem ser prevenidas por meio de um rigoroso controle do nível de glicose no sangue, bem como através de dinâmicas lúdicas e interativas que permitem a troca de

experiências e a criação de vínculos entre usuários e profissionais da saúde (TORRES et al., 2011; GRILLO et al., 2013).

A American Association of Diabetes Educators (AADE, 2002) propõe sete comportamentos do autocuidado, são eles: comer saudavelmente, praticar atividade física, vigiar as taxas de insulina, tomar os medicamentos corretamente, resolver problemas, adaptar-se saudavelmente e reduzir os riscos. Os resultados almejados são a melhora do controle metabólico, a redução do risco cardiovascular e o controle das complicações crônicas relacionadas ao diabetes, estimulando o uso correto da medicação, de refeições regulares e de adesão a um programa de exercícios adaptados a cada paciente (MENSING et al., 2005)

Um dos planos de ações estratégicos para o enfrentamento destas doenças no país é a implementação de estratégias educativas e de comunicação em saúde voltadas ao fortalecimento da autonomia e do autocuidado para portadores de doenças crônicas não transmissíveis (BRASIL, 2011).

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) recomenda a educação para o autocuidado como forma de prevenir e tratar doenças crônicas, pois ela propicia o envolvimento da pessoa em seu tratamento e produz maior adesão ao esquema terapêutico, minimizando complicações e incapacidades associadas aos problemas crônicos. A participação dos usuários na prática educativa melhora o conhecimento, a atitude e a prática de autocuidado, melhorando o controle metabólico após a participação em grupos educacionais (TORRES et al., 2011).

Considerando que a maior parte dos cuidados diários necessários ao tratamento do diabetes é realizado pela pessoa com DM ou seus familiares, o maior desafio dos profissionais de saúde consiste em estabelecer um processo efetivo de educação para promoção do desenvolvimento do autocuidado (SBD, 2015).

O autocuidado é responsabilidade não somente do indivíduo e de sua família, mas também do profissional e das instituições de saúde (BRASIL, 2014). Ressalta-se a importância dos profissionais da saúde na estimulação e motivação bem como no desenvolvimento das habilidades de autocuidado dos pacientes mediante suas limitações. A maneira como os portadores reagem perante o diabetes mellitus interfere direta e indiretamente no desempenho da prática do autocuidado,

cabendo ao enfermeiro mediar o conflito entre as emoções e ações de autocuidado (SAKATA, 2007).

Os obstáculos ao autocuidado em Diabetes mellitus são diversos, dentre os quais estão: a não aceitação da doença, o componente emocional aliado à alimentação, a exigência de disciplina e comprometimento, a falta de conhecimento sobre a doença e os seus cuidados, uma situação financeira desfavorável, a depressão, o medo da insulina e uma comunicação inadequada com profissionais de saúde (CYRINO; SCHRAIBER; TEIXEIRA, 2009; PUN; COATES; BENZIE, 2009).

A linguagem técnica de difícil compreensão, utilizada por muitos profissionais da saúde, e instruções demasiadamente genéricas fornecidas por estes, impedem que o portador tenha clareza sobre quais são os comportamentos de autocuidado necessários (SILVA, 2010).

Nas ações de promoção e prevenção no autocuidado em DM2, os profissionais de saúde devem possuir uma visão sistêmica e integral, atuando com criatividade e senso crítico. No entanto, os profissionais que, na maioria das vezes, por iniciativa própria, desenvolvem ações educativas voltadas para os usuários com DM2, ressentem-se da falta de capacitação para a promoção do autocuidado (PACE, 2006).

Nesse sentido, as atuais “Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias” preconizam as atividades em grupo como um momento ímpar para a educação em saúde, permitindo o intercâmbio de informações e experiências entre usuários e equipes de saúde, além de fomentar práticas de autocuidado e mudança de atitude (BRASIL, 2013a). Trata-se de um recurso que pode auxiliar na melhor conscientização da importância da responsabilização pelo tratamento por parte do paciente como agente atuante, e não apenas como mero recebedor de prescrições (BROWNELL et al., 2010; CUNHA et al., 2015; BRASIL, 2013a).

A educação é um elemento importante no tratamento de pacientes com DM e, de acordo com a American Diabetes Association (ADA, 2013), todos os pacientes com DM deveriam receber educação para o autocuidado.

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