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Autonomia da Escola e Projeto

III- Engenharia Participativa e Projeto Pedagógico

3.2 Autonomia da Escola e Projeto

Repensar o papel e a função social da escola, implica buscar alternativas viáveis de formação, que correspondam às exigências, vitais para homens e mulheres, num certo contexto geográfico, principalmente num país de contrastes como o nosso, onde se observa grandes desigualdades sociais, econômicas, culturais e políticas, que de certa forma caracterizam e influenciam as escolas e a ação pedagógica desenvolvida.

A construção do projeto político pedagógico para a escola é, antes de tudo, o resultado de uma ação política que aposta na descentralização do poder, com repasses de gestão administrativa jurídica, pedagógica e financeira para os conselhos e caixas escolares, objetivando maior autonomia e participação da comunidade na condução do processo educativo. Entretanto essa “descentralização” e “autonomia”, não acontecem como num passe de mágica, de uma hora para outra, ou que a construção do projeto solucionará tais situações, até porque a escola está inserida num contexto de diversidades multiculturais, onde estamos aprendendo a conviver com as diferenças, exercitando o poder democrático participativo, assumindo o papel de cidadão e cidadã do mundo.

Autonomia vem do grego, que significa capacidade de auto determinar-se, de auto realizar- se, é uma auto construção, um autogoverno. Autos = si mesmo e nomos =lei .É a faculdade que possui determinada instituição de traçar as normas de sua conduta, sem que sinta imposições restritivas de ordem estranhas; direito de um indivíduo tomar decisões livremente, liberdade, independência moral ou intelectual. Segundo Kant (1724--1804) capacidade apresentada pela vontade humana de se autodeterminar, segundo uma legislação moral, por ela mesma estabelecida, livre de qualquer fator estranho ou exógeno com uma influência subjugante, tal como uma paixão ou uma inclinação afetiva incoercível.

Para o filósofo Sócrates, a autonomia se apresentava através do método dialógico, na interlocução com os discípulos na praça de Atenas, instigando-os para que buscassem respostas dentro de si, para seus questionamentos, através de reflexão ética e antropológica.

Foi através do Movimento Escolanovismo com John Dewey, Maria Montessori, Jean Piaget,Célestin Freinet e outros que a tônica da autonomia ganha mais ênfase, como oposição a uma corrente positivista, onde o professor era o centro do processo pedagógico. A partir daí, há uma reversão de papéis; o aluno passa a ser esse centro, tudo gira em torno dele, emprega-se métodos livres e ativos, para o desenvolvimento de suas potencialidades. O aluno constrói seu próprio conhecimento, intermediado pela ação do professor.

“A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações. A autonomia é também um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade: somos mais ou menos autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas causas e não ser em relação a outras. A autonomia é , por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis” (Barroso, 2001)

A descentralização não implica em isolamento ou desligamento do sistema, mas em repasses de funções, tarefas, encargos e responsabilidades, com o intuito de promover e assegurar a soberania educacional a quem de fato forma a escola, no caso a comunidade escolar, legitima direta do processo ensino/aprendizagem, que precisa segurar e assegurar seus direitos, dentro dos princípios éticos e políticos, evitando com isso uma auto limitação por parte dos poderes que promovem uma autonomia vigiada ou pseudo- autonomia. Como exemplo temos diretores (as) escolhidos por partidos políticos, por autoridades do serviço público, etc. que vão para as escolas, assegurar a hegemonia partidária ao invés das causas educacionais.

Não basta simplesmente elaborar leis, para que fiquem nos papéis, nos planos ou em projetos. É necessário dar condições para que elas se efetivem para que ganhem corpo, forma e apresentem resultados, subsidiados pela ação coletiva de seus atores. A autonomia das escolas não é uma questão de regulamentação , mas um processo de construção, construído com as singularidades e especificidades locais, em consonância com os princípios e objetivos do sistema publico nacional de ensino.

A escola ao construir seu projeto pedagógico, estará democratizando suas ações, principalmente no que concerne aos eixos pedagógicos, jurídicos, administrativos e financeiros que subsidiarão para uma gestão autônoma e partilhada.

EIXO PEDAGÓGICO: característica suprema da escola, realizada através do processo ensino aprendizagem,nas diversas áreas do conhecimento, consubstanciado pelo ensino e pesquisa, numa organização curricular, realizada por meio de metodologias específicas, nas diversas modalidades de ensino, tendo a avaliação como parâmetro de mediação entre os objetivos e os resultados propostos por cada unidade escolar, dentro do sistema nacional. É imprescindível à ação do setor técnico (especialistas educacionais),como condutores e orientadores da práxis pedagógica, junto aos professores, propondo novas metodologias, realizando sessões de estudo ou encontros de formação, avaliando os diversos segmentos escolares, com um só objetivo, onde as partes vão convergir para o todo, dando origem ao corpo da escola que se traduzirá no seu projeto pedagógico, redimensionando as funções e as práticas de uma nova escola, representada pela ação de seus indivíduos na formação da coletividade.

EIXO JURIDICO: as escolas possuem poder para elaborar seus estatutos e regimento, delimitando às ações de sues setores, como forma organizacional de otimizar suas atividades, seguindo uma hierarquia horizontal dos diversos segmentos que a constituem. Diante dos poderes que lhe são constituídos, realiza matrículas, expede transparências, outorga certificados, diplomas e outros com validades nacionais e internacionais;

EIXO ADMINISTRATIVO: gerenciamento autônomo das ações por parte da comunidade escolar, através de uma gestão co-participativa entre a escola, a família e a comunidade, como condutoras do processo e do produto, no ato formativo, em seus diversos papéis e responsabilidades, frente às exigências sociais. A escola precisa ousar e garantir seu espaço, sua independência, mesmo que seja parcial, nos diversos setores que a constituem e não esperar pelos órgãos públicos ou secretarias.

EIXO FINANCEIRO – mesmo com as quotas definidas pela União, Estado ou Municípios para as escolas publicas, é de fundamental importância que elas busquem outros recursos em outras esferas ou junto às comunidades para ampliação, equipamentos, laboratórios,

intercâmbios, quebrando o circulo vicioso, esperando que tudo venha do governo. Não se concebe uma autonomia totalmente dependente, cada uma precisa fazer a sua parte, assumindo diretamente o processo formativo.

Esses são os grandes eixos em que se assentam às escolas, são indissociáveis, se completam rumo à democratização e autonomia dos estabelecimentos de ensino, resultantes de diversas lógicas e de vários interesses, sendo necessários saber conduzir o processo com gerenciamento e negociações, diante dos confrontos e diversidades, presentes no meio interno e externo à escola, talvez com perdas e ganhos de ambas as partes, como fenômeno natural de situações vivenciais.

As características atribuídas aos eixos supra citados, se resumem a partículas, diante da imensidão do fenômeno educacional, na qual a escola se constitui imperativa no ato pedagógico, geralmente permeada de inúmeros fatores, os quais influenciam a ação dos atores sociais como os docentes, oriundos de diversos contextos, de diversas concepções ideológicas, alguns apresentando deficiências na formação escolar e ou acadêmica,baixa estima afetiva/ familiar, baixos salários, pouco incentivo para a formação profissional inicial e continuada,dentre outros, afetando consideravelmente a docência. O corpo discente, outro protagonista dessa ação, apresenta-se bastante heterogêneo no que concerne à questão de gênero, raça, religião economia, classe social, etc, itens que por si só, dariam estudos bastante extensos.

Diante disso, faz-se necessário repensar o papel e a função social da escola, frente à complexidade que ela representa, onde ela de certa forma representa a sociedade e a sociedade representa ou é fruto da escola, embora com objetivos e funções diferenciadas, que nem sempre atende aos seus fins e pressupostos, cada uma com suas peculiaridades e funções específicas, seguindo o seu ritmo e construindo sua história, política ou apolítica, emancipadora ou alienante.

“Eu acredito muito na escola, no seu papel social. Creio que o seu potencial transformador não foi ainda suficientemente explorado nas democracias modernas.Mas não podemos perder de vista os seus limites. Ela não é certamente a alavanca de transformação social. Pouco pode sozinha. Pretender mudar a sociedade somente por intermédio da escola me parece uma grande ilusão.Seria não levar em

conta o passado e o presente, a história, o homem concreto. A escola não pode tudo, mas precisa urgentemente recuperar o seu papel dirigente, valorizando sobretudo o professor”.(Gadotti,2001,p168)

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