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III- Engenharia Participativa e Projeto Pedagógico

4.3 Coleta de Dados

O processo da pesquisa qualitativa, não se apresenta com visões estanques, parceladas ou isoladas do fenômeno mas em constante interação com as diversas partes, retroalimentando-se, adaptando-se e reformulando-se constantemente, como forma de compreender o objeto em suas múltiplas dimensões, convergindo para uma apreensão unitária e integral das partes e do todo.

A pesquisa qualitativa, utiliza os mesmos instrumentos ou técnicas de coleta de dados que a pesquisa quantitativa, porém o enfoque para a mensuração dos dados é que pode variar, por exemplo um questionário com perguntas fechadas, fica mais fácil de tabular e obtém-se dados quantitativos precisos, já o questionário com perguntas semi-diretivas ou abertas, a análise sobressai sobre o processo e o produto do objeto em estudo, apresentando uma validez preditiva, comprovada pelos resultados objetivos num tempo futuro. Normalmente o pesquisador qualitativo considera sua participação e a do sujeito como elementos de seu fazer científico, sendo dado atenção especial ao informante, às anotações de campo e ao

observador pois segundo Dilthey “...a sociedade é o resultado da intenção humana consciente e que as inter-relações entre o objeto pesquisado e o investigador são inseparáveis; portanto, não era forma de se distanciar dos eventos da vida para , com isso, descrever o que significam.” Com base nessa perspectiva:

“Os seres humanos são ao mesmo tempo sujeito e objeto de investigação nas ciências sociais e o estudo do mundo social é, em essência, o estudo de nós mesmos.” (Smith, 1983:35)

Diante da multiplicidade de recursos que o pesquisador qualitativo lança a mão para a coleta e análise dos dados, encontra-se a técnica da triangulação(Triviños,1987) que objetiva compreender o fenômeno em sua máxima amplitude descritiva e explicativa, partindo do princípio que é impossível conceber a existência do fenômeno fora do contexto social, sem suas raízes históricas e culturais, desvinculadas de um sistema macrosocial. Esta técnica, conjuga três suportes analíticos centrados no:

-Processos e produtos centrados no sujeito; -Elementos produzidos pelo meio dos sujeitos;

-Processos e produtos originados pela estrutura sócio-econômica e cultural do macro- sistema, onde se inserem os sujeitos.

O primeiro enfoque enfatiza os processos e produtos elaborados pelo pesquisador, através das entrevistas, realizadas com os atores sociais que participaram da construção do projeto político da instituição.

Nos elementos produzidos pelo meio, evidenciam-se os documentos produzidos, no caso o projeto pedagógico, como documento oficial e identitário das ações escolares, com vistas a dinamizar o processo curricular, metodológico, de diretrizes e filosófico da organização escolar.

A terceira perspectiva, processos e produtos originados pela estrutura sócio-econômica e cultural do macro sistema da qual o sujeito pertence, evidencia os modos de produção que determina a vida das pessoas numa dada sociedade, no caso especifico do Brasil, o capitalismo de certa forma dependente dos países de primeiro mundo, com uma dívida

externa muito elevada que, somente seus juros, dariam para oportunizar acesso e permanência à educação básica a uma grande maioria de brasileiros, analfabetos que não tiveram a oportunidade de freqüentar escola. Esse caso é típico das regiões Nordeste e Norte do país, onde as desigualdades sociais são mais acentuadas, confirmando os contrastes econômicos, sociais, políticos e culturais, presentes num mesmo país.

Para compreender melhor o fenômeno em estudo, com o propósito de dar-lhe validez e confiabilidade, torna-se necessário fazer a recolha dos dados ou materiais , junto as pessoas que participaram da elaboração do projeto político pedagógico, da Escola Família Agrícola do Pacuí, onde os primeiros contatos foram feitos informalmente em novembro do ano passado (2002) para verificação in locus da realidade a ser pesquisada, do público participante do projeto, para melhor definição do tipo de técnica que mais se adequaria à obtenção de dados e para passar informações à respeito da pesquisa, com o intuito de promover parceria entre pesquisador e o público envolvido.

A Escola Família Agrícola do Pacuí, situada na zona rural do município de Macapá, apresenta características marcantes de público, metodologia, currículo, paisagem geográfica, fatores sócio-econômico e culturais que a diferem por oferecer uma educação voltada para as características regionais de homens e mulheres amazônidas, ressaltando uma consciência preservacionista e de valorização do meio, tendo como aporte a Pedagogia da Alternância que parte dos saberes tradicionais e empíricos para os saberes sistematizados e acadêmicos, seguindo a filosofia dos Centros de Formação Familiar em Alternância(CEFFA’s) que encontra suas raízes vinculadas ao movimento francês das Maisons Familiares Rurales(MFR’s) na década de 30, no século passado. E para o registro dessa história, a partir de 2000 a escola resolve escrever seu projeto político pedagógico, como forma de sistematizar suas ações e dar uma identidade própria ao processo ensino- aprendizagem que ali se desenvolve. Essa ação foi reforçada, pela obrigatoriedade da Lei de Diretrizes e Bases de Educação 9394/96 em seus artigos 12,13 e 14 que preceitua a elaboração de propostas pedagógicas, como forma de organização e autonomia escolar dos estabelecimentos de ensino.

Daí então, surge nosso interesse em conhecer mais essa proposta desafiadora que se traduz na concepção de execução do projeto pedagógico, alavancada pela participação e interação

de diferentes atores que comungam do processo, cabe aos especialistas, técnicos em educação e quando muito, a uma certa representatividade de docentes, configurando num documento burocrático, feito apenas para satisfazer exigências legais e para constar nos arquivos, como afirma VEIGA “O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova de cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola” (2002, p.13). É com esse propósito, que pretendemos verificar como ocorreu esse processo na escola, como se organizaram? Quem participou de sua elaboração e se o mesmo está sendo porto em prática? Essas são algumas inquietações que pretendemos desvelá-las no decorrer da pesquisa e no processo de análise dos dados. Antes porém, precisamos definir o público envolvido e a técnica a ser utilizada.

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