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Autonomia das escolas/Agrupamentos

Mas, não podemos falar de gestores escolares sem, ao mesmo tempo e paralelamente, falarmos de autonomia das escolas, local onde aqueles exer- cem a sua actividade.

Em entrevista dada à revista “Notícias Magazine”, suplemento dominical do Jornal de Notícias e Diário de Notícias, em 12 de Setembro de 2004, o ex-Ministro da Educação (entre 1987 e 1991), Roberto Carneiro, a propósito da criação de “um novo modelo de escola”, refere: “Há hoje um grande de- bate sobre a autonomia das escolas, mas muito pouca acção. Na minha opi- nião, a solução passa por criar comunidades escolares fortes. O actual mode- lo de educação é industrial, está demasiado burocratizado, é gerido de cima para baixo. A gestão de cada escola tem que ser descentralizada para a rea- lidade local. Actualmente, qualquer escola é comandada por um centro – nes- te caso, na Avenida 5 de Outubro – onde uma série de pessoas decide tudo a partir das secretárias, portanto longe da realidade. Assim, dilui-se a respon- sabilidade quando as coisas correm mal. Se a autonomia das escolas fosse maior, o ensino e a gestão seriam responsabilizados pela comunidade local e cada escola poderia investir em vertentes de ensino viradas para a realidade onde está inserida”.

A acrescentar ao que acima é dito por Carneiro, sugiro que se deixem as teorias, os decretos, os ofícios, as circulares, os despachos, as… secretárias

da “5 de Outubro”, e se passe para o campo, para a escola. Mais: nesta área, a da Educação, não nos podemos dar ao luxo de, por cada Governo que temos (e já vamos no décimo sexto) implementar novas políticas e medi- das, muitas vezes contraditórias com as anteriores, lançando a confusão entre os actores educativos e, o mais grave, sem tirarem ilações sobre as mesmas. Ora, isto desmotiva, levando a comentários que todos já ouvimos do género “mais uma reforma para nada.”

Roberto Carneiro, no livro da autoria de Joaquim Azevedo (2004), em que este o entrevista, tem uma ideia sobre o papel de um novo tipo de directo- res escolares, aquilo a que temos vindo a chamar de gestores. Refere este ex- Ministro: “Temos hoje excesso de gestão corrente e défice de liderança efecti- va nas nossas instituições educativas, assim como, num plano mais vasto, em todo o país.” Acrescenta que este novo tipo de directores escolares devem ter estatuto próprio e reconhecimento social, altamente capacitados e bem remu- nerados, seleccionados de entre os professores mais qualificados, com “… três missões fundamentais: criar – e disseminar – visão; mobilizar pessoas; «ali- nhar» recursos…” (p. 159)

Também neste particular – escolha do gestor escolar – a posição de Ro- berto Carneiro é muito válida, acrescentando-se, ou pelo menos aclarando-se, que o gestor teria de ser eleito pela respectiva comunidade educativa, de entre “os professores mais qualificados”.

Órgãos de Gestão

Evidente que a administração e gestão dos agrupamentos não pode con- tar somente com a figura do gestor. Num Conselho Executivo em que aquele seria a figura máxima, atendendo ao número de escolas, professores e alu- nos, o gestor deve ser acolitado por um professor de cada nível de ensino: pré-escolar, 1º ciclo e 2º,3º ciclo, num total de três elementos.

Ao mesmo tempo, e além do Conselho Executivo, outro órgão denomina- do Conselho Administrativo, deveria existir, formado pelo gestor, enquanto presidente, o presidente da Assembleia do Agrupamento (órgão de que fala- rei mais adiante) e o chefe dos serviços de administração escolar. Este órgão seria deliberativo em matéria administrativo-financeira do Agrupamento.

O terceiro órgão denominar-se-ia Conselho Pedagógico, formado por professores dos diferentes níveis de ensino, nas diversas áreas, representantes do pessoal não docente e pais e encarregados de educação. Seria um órgão de coordenação e orientação educativa do Agrupamento, nomeadamente nos

domínios pedagógico-didáctico, da orientação e acompanhamento dos alunos e da formação inicial e contínua do pessoal docente e não docente, responsá- vel pela política pedagógico-educativa do Agrupamento, no qual o gestor fa- ria parte, não tendo necessariamente de ser o presidente, a eleger de entre os membros docentes.

O último mas muito importante órgão de administração e gestão do Agrupamento, seria a Assembleia do Agrupamento, responsável pela defini- ção das linhas orientadoras da actividade deste, com respeito pelos princípios consagrados na Constituição da República e na Lei de Bases do, ainda, Siste- ma Educativo. Seria um órgão de participação e representação da comunida- de educativa, formado por professores, não docentes, representantes dos pais e encarregados de educação, da autarquia e das actividades de carácter cul- tural, artístico, científico, ambiental e económico da respectiva região.

Conclusão

A finalizar, e em jeito de conclusão, devo referir que a figura do gestor escolar já está inculcada nas mentes educativas nacionais, devendo ser pacifi- camente aceite, se, tal como é minha proposta:

* o gestor for professor com formação;

* o gestor, com o perfil acima referido, for eleito pela comunidade esco- lar;

* o gestor for reconhecimento socialmente, altamente capacitado e bem remunerado, seleccionado de entre os professores mais qualificados, com “… três missões fundamentais: criar – e disseminar – visão; mobili- zar pessoas; «alinhar» recursos…”.

Contudo, e paralelamente, os agrupamentos devem ser dotados de ver- dadeira e ampla autonomia, de forma a que a navegação no barco da edu- cação que cada Agrupamento faz, seja decidida em conjunto pelos próprios tripulantes e nunca por quem, no porto (leia-se “5 de Outubro”), só sabe da existência de novidades da embarcação quando a comunicação social resolve falar (normalmente mal e por mal) dele ou de algum dos seus tripulantes.

Ao mesmo tempo, e conforme acima explicitei, outros 3 órgãos de admi- nistração e gestão, com as competências e composições referidas, deverão in- tegrar os agrupamentos:

• Assembleia de Agrupamento; • Conselho Pedagógico e • Conselho Administrativo,

que, juntamente com o Conselho Executivo, liderado pelo gestor, definirão o rumo a dar a esta grande nau.

Julgo que, no novo Governo Constitucional, a opção dos nossos gover- nantes, passará, necessariamente, pelo que acima referi, sob pena de, mu- dando a forma de organização administrativa das escolas sem o devido acompanhamento evolutivo na área da gestão, o nosso sistema educativo con- tinuar a regredir, começando a atingir patamares negativos nunca dantes imaginados.

Referências

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