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Autonomia do aluno: questão de ensino e de aprendizagem

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CAPÍTULO 2 As tecnologias e a autonomia do aluno na Educação à Distância

2.3 Autonomia do aluno: questão de ensino e de aprendizagem

Diversas tendências pedagógicas colocam ênfase na ação daquele que aprende sobre vários aspectos que envolvem o processo educacional; algumas propõem que o aluno deva intervir na instituição escolar, outras que este deva participar ativamente do processo de seleção de conteúdos, por exemplo. Este tema é abordado no quadro das teorias que fundamentam as denominadas pedagogias libertárias, as pedagogias ativas e as que propõem a individualização do ensino.

Ao se considerar uma perspectiva instrucional, o objetivo da educação pauta-se na aprendizagem que compreende o acúmulo de informações a serem reproduzidas. Para acumular e reproduzir informações basta que o aluno realize provas e receba a certificação o mais rápido possível, para que possa atingir às demandas do mercado. Para isto, não seria necessário um aluno autônomo. Ao contrário, a passividade é mesmo uma característica desejada.

As pedagogias libertárias apresentam uma grande diferença em relação à pedagogia tradicional. A primeira delas seria a livre expressão das crianças, que passariam a ser o centro do processo de ensino e da escola. Os alunos são reconhecidas como seres originais em sua individualidade, que possuem suas próprias necessidades e interesses. Nesta perspectiva, as crianças não podem ser consideradas como adultos em miniatura.

Nas denominadas pedagogias ativas, o centro passou a ser o ensino voltado para a construção de um indivíduo autônomo, tomando por base suas necessidades e capacidades. “Nessa tendência inseriu-se o pensamento de John Dewey (1859-1952), um dos expoentes máximos da Escola Nova, que elaborou os conceitos de “aprender fazendo, aprender pela vida e para a democracia”” (MARTINS, 2000, p. 225).

A concepção Deweyana defende que a educação é uma constante reconstrução da experiência, de modo a dar-lhe cada vez mais significado e a

habilitar as modernas gerações a responder aos desafios da coletividade. Assim sendo, educar é mais do que reproduzir conhecimentos, é impulsionar o desejo de desenvolvimento ininterrupto, preparar sujeitos para transformar alguma coisa.

Para Dewey, o professor necessita oferecer os conteúdos escolares na forma de questões ou problemas. Uma das lições fundamentais passadas por Dewey é que, não existindo separação entre vida e educação, haverá um constante desenvolvimento. O autor exprime que alunos desde pequenos não estão sendo preparados para a vida e, em outro momento estão vivendo. A pedagogia ativa forma um aluno ativo que pode intervir na ordem social, ou seja, este aluno tem um papel ativo nesta concepção.

A ideia de autonomia se consolida com a teoria construtivista de Piaget e com a teoria sócio-histórica de Vygostsky. Para entender a concepção de autonomia em Vygotsky (PETRONI; SOUZA, 2009), temos que observar a relação existente entre o sujeito que aprende e seu meio social, que por sua vez são mediados por sistemas simbólicos. Percebemos que estes sistemas simbólicos são compreendidos como representações da realidade. Esta realidade por sua vez mediada essencialmente pela linguagem. Esta linguagem que admite o sujeito interaja de maneira crítica com o meio onde está inserido, este meio conhecido como físico e social. Por sua vez, esta interação pode ocorrer de modo deliberado e também derivado do seu próprio anseio, também conhecido como agir autonomamente.

Assim sendo, do ponto de vista de Vygotsky, a autonomia do sujeito aprendiz permanece sujeita ao movimento externo a ele mesmo, que nesta ocasião procede da interação com o meio sócio-histórico. Deste modo tanto o sujeito que aprende quanto este meio, são igualmente transformadores e transformados, produtos e produtores da cultura e conhecimento elaborados por eles meio e sujeito. Em seguida, ao movimento externo podemos notar outro distinto movimento que é intrapessoal, igualmente voluntário, com intencionalidade, sujeito autônomo, onde aprendizagem ganha significado singular (PETRONI; SOUZA, 2009).

Portanto, ao se considerar este movimento intrapessoal de Vygotsky (2002) que se torna objeto deste repertório particular de conhecimentos que

diversas novas e incontáveis interações com o mundo cultural. Com o mundo cultural há também uma relação dialética, portanto dinâmica e ativa. Também existe relação de intervenção, transformação e construção de novos saberes, e ainda uma síntese de contínuo renova-se e recria-se (VYGOTSKY, 2002).

Assim, diferentemente das pedagogias ativas, a concepção histórico- cultural enfoca os processos internos de elaboração do conhecimento, envolvendo a aprendizagem significativa, as formas de ajudar o aluno a desenvolver um pensamento autônomo, critico, criativo, a ativação de processos mais complexos de pensamento e desenvolvimento cognitivo, em contextos socioculturais e institucionais.

Libâneo (2007) explica que as habilidades cognitivas não seriam ações mecânicas, repetitivas, mas mediadoras do processo de aprender. As estratégias cognitivas, uma vez internalizadas pelo aluno, beneficiariam a organização do raciocínio para lidar com a informação, o fazer relações entre conteúdos, finalmente, tornar a informação conhecimento significativo, levar a uma generalização cognitiva em outras situações e momentos de aprendizagem do indivíduo.

Daí a necessidade atual para Libâneo (2007) do ensinar a pensar, do ensinar a aprender, e da necessidade de os professores ao mesmo tempo aprenderem a tornar-se sujeitos pensantes, como condição para poderem a orientar a atividade cognitiva do aluno, isto é, orientar os alunos naquilo que fazem, fazê-los perceber o processo mental que estão aplicando naquela tarefa, ensiná-los a encarar o fracasso como passos para o aprender a pensar e a aprender. Assim sendo, segundo esta teoria da aprendizagem a autonomia do aluno ou a aprendizagem autônoma é algo desejado, esperado e, portanto, uma tarefa da educação e do professor.

Desta forma, encarar a autonomia do aluno implica fundamentalmente renunciar a uma visão instrucionista do processo de ensino e aprendizagem centrado no professor que tudo define: objetivos, meios, estratégias, materiais didáticos. Encarar a autonomia do aluno é dar prioridade à aprendizagem em detrimento do ensino e colocar o aluno no centro das preocupações didáticas. Num sistema educacional ainda centrado no ensino – como podemos

considerar tanto a educação presencial como à distância - a autonomia precisa ser aprendida, ela não está dada.

A autonomia é construir um projeto de ação e gerir a realização deste projeto no seio de uma estrutura que possui limites e que oferece apoio quando este é necessário. Para poder realizar o seu projeto, o aluno deve estar consciente de seus conhecimentos, estratégias e competências de que dispõe. Por isto a autonomia significa tomar consciência de seus próprios limites e a capacidade de buscar ajuda.

Temos compreendido que o alcance da autonomia do aluno amplia-se, em mais ou menos, em conformidade ou conflito com as orientações educacionais, como dimensão integrante do seu desenvolvimento individual e social, podendo auxiliar ou atrapalhar a construção da autonomia.

Vieira (2003) discorre sobre autonomia elucidando que este tema faz alusões éticas, política e pedagógica, pois para ponderar a propósito de tal aluno autônomo é indispensável arrazoar sobre valores e orientação que envolva democracia e sociedade. A autora traz à baila valores tais como liberdade, responsabilidade, colaboração, criticidade, tanto individual quanto social.

Vieira (2003) faz a distinção entre a “despolitização” e a concepção de autonomia em determinadas configurações da sua operacionalização. Ele explana sobre o exercício de direito à autonomia do aluno, indicando que este modifica-se em função da autonomia do professor. É preciso desenvolver estratégias que aproximem as práticas realizadas às práticas idealizadas.

Ela faz referência também quanto

ao desenvolvimento desta capacidade deverá concorrer para um papel mais interventivo dos professores e dos alunos na transformação dos contextos e práticas escolares. Quando eles assumem um maior controle sobre a sua ação, as possibilidades de mudança são muito maiores do que as que podemos esperar de qualquer reforma ou decreto (VIEIRA, 2003).

Considerando todos estes aspectos, colocar em prática um enfoque autonomizador não é uma tarefa fácil porque requer, na maioria dos casos, uma mudança de atitude tanto do aluno como do professor.

O processo de aquisição de autonomia requer da parte do aprendiz uma dupla preparação: em nível psicológico (distanciamento do próprio processo de aprendizagem) e quanto à metodologia da aprendizagem (formulação de seus objetivos, por exemplo). Além disto, a utilização das TIC comporta também seus próprios problemas e requer um processo de aprendizagem por parte de alunos e professor, o qual precisa explorar as possibilidades dos meios sem perder a consciência de suas limitações.

Se à EAD apresenta seja como objetivo, seja como pré-requisito, a formação de um aprendiz responsável, a prática tradicional educativa não favorece a iniciativa do aluno mantendo-o em situação de dependência. A utilização das TIC através do fluxo de informações colocado a disposição do aluno pode tornar-se um espaço de aprendizagem da autonomia. O desenvolvimento da autonomia na educação à distância baseada no uso das TIC será abordado a seguir.

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