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CATEGORIAS INTERMEDIÁRIAS

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 O Olhar dos Burocratas de Médio Escalão sobre o processo de implementação

5.1.3 Fatores humanos

5.1.4.1 Autonomia financeira

Esta categoria pretende abordar as limitações da autonomia financeira do burocrata de médio escalão nesse campo da universidade federal. A categoria é mencionada 13 vezes por 4 entrevistadas.

No momento em que as entrevistas foram realizadas muito se discutia sobre a instabilidade política que se assolava na universidade dificultando discussões orçamentárias e de planejamento de ações. Numa votação completamente remota pelo cenário da pandemia da COVID-19, a reitora Márcia Abrahão havia sido votada pela comunidade universitária para a reeleição com 54% dos votos, equivalente a 16.325 votos de servidores técnicos, discentes e docentes, numa disputa com 4 chapas. As universidades federais realizam eleições internas para chegar a uma lista de tríplice das chapas mais votadas, então, o Poder Executivo, que possui a prerrogativa de indicar qualquer chapa que esteja na lista tríplice, fazia a nomeação final. Havia

o costume de respeitar o resultado das urnas, entretanto, essa tradição foi quebrada durante a gestão presidencial de Jair Bolsonaro, que, segundo a UNE, o 12 instituições de ensino superior federais tiveram a escolha de gestão em discordância com a opção mais votada pela comunidade universitária, com casos de escolha até do terceiro colocado na lista tríplice, como foi o caso da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A instabilidade política de se essa decisão seria respeitada ou se seria indicada uma outra chapa da lista tríplice dificultava o avanço das discussões na universidade em especial das discussões orçamentárias; situação que preocupava alguns diretores diante o cenário em que o recurso da PNAES sofreu um congelamento de 40% de 2019 para 2020. Ao fim da elaboração deste trabalho a lista tríplice havia sido respeitada para o caso da UnB e a reitora Márcia Abrahão foi nomeada pelo Presidente da República como reitora da UnB pelos próximos 4 anos.

Genericamente as pessoas entrevistas enxergam a autonomia financeira a partir do trecho abaixo:

Na verba, a gente não pode mexer, então a gente tem que mexer em como operacionalizar essa verba. [...] Você pode ter uma verba pra pagar estudantes de vulnerabilidade socioeconômica para participar de eventos, congressos, seminários e tudo mais, ou seja, essa autonomia nós temos na utilização dos recursos de acordo com os fins que foram estabelecidos, agora o “como”, a forma de utilizar, nós temos essa essa autonomia, mas essa autonomia limitada a respeitar os princípios deste decreto (DC1, 2020).

Apesar da autonomia financeira para propor propostas seja algo muito caro às pessoas entrevistadas que perpassam por essa categoria, percebe-se reações mistas quanto aos limites institucionais. Ocorre que é desejado ter autonomia financeira no sentido de não haver limitações orçamentárias ou algo nesse sentido e ao mesmo tempo, talvez por um quesito segurança jurídica, como abordado anteriormente, há uma preocupação bem presente – e justa – de que o recurso esteja sendo aplicado corretamente e respaldado institucionalmente. No quesito dessa autonomia tolhida, o seguinte trecho resume a percepção da pessoa entrevistada frente a essa autonomia financeira:

Eu entendo que a autonomia ela não nos dá a independência pra tomar atitudes, então a autonomia tem que ser, a gente tem que entender a autonomia com certos critérios

pra que a gente também não esteja utilizando ou mal versando um dinheiro público

Um dos motivos que instigou a equipe da DDS a ser uma equipe participativa foi a inclusão desses servidores nos debates orçamentários. Acontece na gestão da professora Márcia, a criação de um grupo de trabalho para discutir os recursos da ação 4002, o GT 4002, composto pela reitora, os decanos das universidades e em destaque a Decana de Planejamento, Orçamento e Avaliação Institucional. Nesse sentido, as pessoas entrevistadas acreditam que a partir da criação do GT, os Decanatos passam a ter uma menor autonomia financeira:

Eu vejo que foi retirado do decanato a utilização do recurso do PNAES. Essa autonomia de distribuição autonomia de utilização do recurso, foi retirado do decanato e foi montado uma figura do GT né, GT4002. Que começou a administrar junto com outros decanatos [...] (C3, 2020)

[...], mas ainda que se entenda que o dinheiro é só do DAC ou só para ações voltadas para estudantes com perfil ou de cotas ou de assistência estudantil, que isso é bem definido no decreto, esse GT é ainda o que define como que o dinheiro vai ser gasto. Então a gente saiu de uma realidade em que tava a mão da Decana a verba e ela passava para discutirmos com as equipes como que vai ser pra existir um grupo de gestores do alto escalão da universidade pra falar como é que no final isso vai ser (D1, 2020).

Aquela autonomia que a gente tinha de falar “olha, tem X milhões, vamos sentar aqui, galera, pra gente ver como que vai ser”, agora é ‘tem X milhões, vamos ver o que vamos propor pra ver se isso vai ser acatado ou não pelo GT, né?’ (D1, 2020)

Uma das entrevistas demonstra ter reações mistas com a criação do GT 4002 e o papel que ele passa a exercer na discussão orçamentária, pois apesar da perda de autonomia, a entrevista assume agora “você tem uma pessoa que sabe te dar respostas que você que não é da área às vezes não sabe e você tem um certo acesso a ela, que talvez não fosse o GT, não seria tão fácil, porque o GT se encontra a cada 15 dias (D1, 2020).”.

Estes gestores enxergam a questão da autonomia essencial para a atuação pois enxergam que ao se ter autonomia financeira, você consegue gerenciar melhor a política porque você consegue fazer propostas. Nessa linha, a entrevistada demonstra muitas preocupações com o atual cenário de cortes orçamentários e finaliza com o comentário abaixo:

Eu acho que o PNAES ele traz uma mudança, né? Ele traz uma mudança expressiva mesmo assim, ele vai dar um lugar para assistência estudantil. E se esse lugar começa a se perder, ele vai se diluir, se ele se diluir positivamente isso é bom, ele se dilui assim porque todas as políticas começa a ser pensados com política de permanência, mas se ele se dilui negativamente ele volta para aquele campo novamente, que é o do residual. Então é o que eu te falei, ele ainda é muito residual, mas ele ficará, se for nessa tendência [de cortes] ele ficará mais residual e ele perde a importância, e aí é complicado, né? Então a perda de autonomia financeira, ela perde poder político também, ela perde capacidade de propor, então os alunos da assistência estudantil é que saem perdendo nessa história, né? (DC2, 2020).