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Silva (2001) levanta o aspecto de que a escola é uma organização burocrática e, portanto, cumpre as normas dadas pelo sistema educacional, assim como apresenta um corpo de valores e princípios que são reelaborados em seu interior, através das interações que se dão em seu cotidiano. Autoridade e hierarquia são, assim, constantemente colocadas em discussão neste contexto.

De acordo com Silva e Salles (2008) frente aos problemas que estão no ambiente escolar e frente a uma nova realidade do alunado, caracterizados pela diversidade, insubordinação e até mesmo pela agressividade, a escola, muitas vezes, tende a uma exacerbação dos procedimentos disciplinares, ou seja, os mecanismos de imposição de controle e de ordem são fortalecidos, mesmo que estes ocasionem danos nos conteúdos escolares e nos métodos pedagógicos estabelecidos.

Porém a imposição exacerbada dos procedimentos disciplinares, podendo chegar a um autoritarismo é questionada, pois “as posturas autoritárias restringem a autonomia do aluno

e não permitem a construção de um pensamento autônomo e crítico” (SILVA e SALLES,

Essas criticas as posturas autoritárias da escoa tem contribuído para que os educadores abrem espaço para discutir as propostas dos alunos sobre as normas disciplinares. Isto ocorre devido à pressuposição de que desta maneira os parâmetros e normas de conduta serão respeitados, já que foram frutos de uma discussão conjunta, fazendo com que os alunos se sintam co-responsáveis pela organização do espaço escolar refletindo sobre a legitimidade das regras (AQUINO, 2003).

Dentro deste contexto Roure (2007) afirma que a autonomia é um principio incondicional, um ideal a ser estabelecidos para todos. Nesta perspectiva, é que se abrem as discussões a cerca da autoridade, pois esta quando transformada em autoritarismo fere o principio de autonomia:

(...) grande parte dos autores acusa certa vulnerabilidade das figuras de autoridade em exercerem o domínio pela força e pela imposição. Se, por um lado, se afirma que autoridade não é o mesmo que autoritarismo, e que essa noção pode ser preservada na educação para a autonomia, por outro é possível constatar que a modernidade expressa um viés autoritário a ser estabelecido também a partir das instituições responsáveis pela formação da criança (ROURE, 2007, p.7).

Roure (2007) relata que nas relações de educação além de vivenciar uma tensão entre autoritarismo e permissividade, em alguns momentos e em certas condições as figuras de autoridade podem se converter em instrumentos de dominação. Portanto a autora relata à importância de se entender a maneira pela qual a escola passa a engendrar sentidos específicos de autoridade ou sua negação, já que este entendimento:

(...) revela um passo fundamental para compreender tanto os caminhos pelos quais se dá a dominação, como os princípios que norteiam uma educação para o esclarecimento e para a autonomia, estabelecendo a percepção crítica do autoritarismo e do movimento por meio do qual ele transmuda a própria concepção de autoridade. Ademais, o estudo da conversão de um conceito em outro pode revelar também a face da contradição que se instala a partir das determinações objetivas que consolidaram a sociedade moderna, convertendo autoridade em domínio e em violação da autonomia, e educação em mero instrumento de conformação social (ROURE, 2007, p.7).

Roure (2007) levanta o aspecto de que se a família esta sofrendo um processo de deslegitimação de sua autoridade, o mesmo ocorre com a escola que perde a referencia de seu papel formador. Neste contexto, a escola assume um papel meramente disciplinador, passa a ser destituída de seu valor social expropriado do fator legitimador de sua autoridade, isto é, sua autonomia frente à razão. O professor é visto como um servo que tem como função treinar o educando para a sociedade competitiva, através das imposições e dos castigos. Assim, Roure (2007) citando Adorno (1995) diz que:

(...) a redução da razão à sua expressão instrumental e “do intelecto a mero valor de troca” faz com que, o professor se torne um simples vendedor de conhecimentos, um servo do sistema produtivo capitalista e da sociedade de consumo. Perdidas as bases de sua autoridade, sobra-lhe o exercício do autoritarismo ou a opção pelo laissez- faire (p.11).

Portanto, Roure (2007) citando Adorno (1995) relata que a noção de autoridade se apresenta como uma das questões nevrálgicas de uma educação orientada para a formação de indivíduos autônomos. Pois o modelo das relações escolares implica conscientemente ou inconscientemente atitudes autoritárias e, mesmo assim, ainda é alvo de amplo discurso que combate a noção de autoridade. Isto ocorre porque o conceito de autoridade é constantemente vinculado às experiências totalitárias e fascistas, indo contra o ideal de autonomia.

Porém Adorno (1995) salienta que ao contrario da tendência da educação moderna em tomar como incompatíveis os conceitos de autoridade e autonomia, deve-se ter em mente que o processo de formação da consciência crítica não se dá pela simples negação de todo e qualquer tipo de autoridade. Roure (2007, p. 13) se refere a Adorno (1995) dizendo que: “Ao

pressupor que a emancipação exige “certa firmeza do eu”, dá a perceber que tal firmeza dificilmente seria resultado de uma educação do tipo laissez-faire”.

Neste sentido Roure (2007) salienta que seria impossível pensarmos em uma educação onde não existissem relações de autoridade envolvidas, pois a ausência desta prejudicaria a formação de indivíduos autônomos, ao contrario do que dizem:

Pode-se constatar, então, que a lacuna da autoridade na experiência da formação humana representa um alto preço a ser pago, pois, ao contrário do que poderia se supor, a sua ausência compromete o processo de individuação e não implica maiores possibilidades de autonomia e liberdade. Isso porque a autoridade parece se apresentar como um requisito cuja existência e posterior superação forjam o homem capaz de governar-se a si mesmo e de usufruir da liberdade enquanto princípio universal para todos (ROURE, 2007, p.15).

Portanto, podemos perceber que a escola se encontra em ambiguidades ao se colocar entre duas posturas, pois ora vai para o autoritarismo e ora para uma não imposição de regras, discussão conjunta etc, como resposta contraria a um sistema autoritário. Embora, autoridade e autoritarismo sejam coisas distintas, algumas vezes são confundidas, o que ocasiona não somente discursos de negação contra o autoritarismo mas também contra a autoridade, como podemos perceber que ocorre, em alguns casos, dentro da escola.

CAPÍTULO 3. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA E DOS JOVENS ENTREVISTADOS

Nesta parte do trabalho, faremos a apresentação da escola onde foram realizadas as entrevistas e também dos jovens que participaram dessa pesquisa. Por fim serão apresentados os dados coletados acerca da família desses alunos.