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Para entender melhor as relações entre pais e filhos foi perguntado aos alunos o que na família era permitido e proibido por seus pais. Com isto foi possível perceber que o relacionamento que em outro momento foi caracterizado como bom, neste momento apresentou alguns conflitos provocados principalmente por discordâncias dos adolescentes frente às restrições impostas pelos pais.

Aluna (1) - Proibido é a gente assim, a gente tem horário pra entrar dentro de casa, e o permitido é fazer uma coisa que tenho que fazer, tem que entrar no horário certo e não desobedecer a ordem dela pra ela permitir alguma coisa.

Aluna (5) - Não é permitido fumar drogas, sabe, bebidas, e o que é permitido...pode sair, mas, tem uma condição, tem que voltar no horário certo, ou se atrasou tem que falar o porque atrasou, o porque que não chegou no horário certo.

Aluna (8) - Proibido...é, meu pai proíbe eu namorar agora e minha mãe também me proíbe desacatar regras, é proibido isso, que nem teve uma vez que ela pediu pra mim ligar, mas eu demorei um pouco, ai ela me ligou, tava no toque, mas tava no toque baixo, daí eu não escutei, mas depois eu retornei, mas ela fico muito brava comigo, por isso é proibido quebrar regra. Permitido é assistir televisão, brincar, dar risada, escutar radio um pouquinho alto. Proibido também é não fumar, não beber, ficar com boas companhias né, quer dizer, não andar com, mas companhias.

Aluna (9) - O permitido é ir na escola e estudar e ir pra igreja, só, o proibido era me deixar sair, meu pai não gostava não.

Aluno (11) - Nossa! Drogas na minha família é proibido totalmente. Minha mãe e meu pai falam que se pegar um dia vai taca na rua. Permitido é trabalhar, vagabundiar não é, quando fiquei desempregado não saia da rua, ai meu pai ficava muito bravo. Pra sai eles não falam nada, posso voltar a hora que eu quiser, mas isso faz pouco tempo, porque antes ele colocava hora pra mim voltar, queria colocar ordem. Agora qualquer coisa eu falo: “Ah! Já tenho 18 anos, mas ai ele fala que enquanto eu tiver morando debaixo do teto dele, tenho que fazer o que ele quer. Eu tenho que engolir, não posso falar nada.

O proibido pela família se trata, principalmente de regras para sair, horários, namoro e o uso de drogas e de bebidas que são severamente condenados pelas famílias. Há, também parece uma distinção conforme o gênero como diz a aluna 10:

Aluna (10) - Permitido é sair, agora volta a hora que quer, ser independente no que a gente quer, e não permitido é uso de drogas, chegar na hora certa, pro meu irmão não, eu tinha que chegar tinha que ser de noite ainda, agora meu irmão, as vezes nem volta pra casa, ele faz o que quer.

Para alguns alunos parece não existir regras. Parece não existir diferença entre o permitido e o proibido, em suas casas, como dizem os seguintes alunos:

Aluno (7) - É proibido fazer coisas erradas, como me envolver com pessoas ruins, não responder. Ah é permitido tudo de bom.

Aluno (15) - Olha...meu pai não proibiu nada, ele diz que tudo são escolhas, você escolhe pra que lado você quer ir.E permitido então é você fazer as coisas que você acha que é melhor. Tinha proibições mesmo quando eu era criança, por exemplo, meu pai nunca deixou e ficar na rua, hoje em dia eu agradeço a ele.

Aluna (16) - Proibido acho que...engravidar antes de casar, namorar escondido, é difícil porque meus pais são assim bem legais, então é difícil responder, não tem um permitido e proibido.

Este fato nos faz perceber que nestas famílias as regras não são colocadas claramente, inclusive não são debatidas entre os membros da família.

Todos os adolescentes entrevistados relataram não cumprir sempre as regras impostas e também com suas obrigações na família. É interessante perceber que para burlar as normas e alcançar o que deseja os alunos se utilizam de estratégias de comunicação com seus pais.

Como parte das estratégias grande parte dos alunos relataram se utilizar da insistência para convencer os pais. Com relação a este aspecto Wagner, Carpenedo, Melo e Silveira (2005) relataram que os filhos se utilizam da insistência para persuadir os pais a dar permissão para o que é desejado. No caso dos adolescentes entrevistados, estes relataram que essa forma muitas vezes tem resultado positivo por conseguir tornar flexíveis as regras dos pais. A fala a seguir mostra melhor estes aspectos:

Aluna (8) – Ah, às vezes eu to assistindo TV e minha mãe fala que ta na hora de parar, eu fico insistindo pra ela me deixar ficar lá, falo pra ela: só um pouquinho, só um pouquinho, ai ela deixa. Outra coisa também é que fazia tempo que eu tava querendo vir de bicicleta pra escola, ela não deixava de jeito nenhum, fiquei quase um mês pra convencer ela, todo o dia eu ficava insistindo, uma hora ela cansou de me ouvir e deixou...

A Aluna (9) relata que para escapar das regras se utilizou varias vezes da mentira e da omissão. Esta foi uma maneira encontrada para conseguir o que deseja, uma vez que, se falar a verdade não será bem sucedida:

Aluna (9) - Eu brigava muito com a minha mãe, e eu pulava a janela pra fugir.Eu fechava a porta do meu quarto e pulava a janela, eu esperava ela dormir.Um dia ela pego brigou muito comigo, falando que eu não podia fazer aquilo, ela tinha muito medo que eu ficasse grávida, ela tinha razão.Eu demorei 3 meses pra contar pra ela, mas ai não dava mais pra esconder.Meu pai não queria de jeito nenhum que meu namorado assumisse o filho falando que eu era muito nova, ele demorou muito tempo pra aceitar.Minha mãe chorou muito, eu era o bebe dela, e eu achava ela

muito quadrada, sempre pensava: “Nossa, não tem nada a vê que ela fala”,agora eu penso que ela falava as coisas pro meu bem.Se eu tivesse escutado mais ela...

Esta aluna demonstra através de sua fala que não levava em consideração as regras da mãe por considerá-la “quadrada”, por isso não as obedecia. Porém somente quando sofreu as conseqüências de desrespeitar as regras foi que se sentiu culpada e arrependida.

Outros alunos falam do confronto direto com os pais, procurando ignorar sua autoridade:

Aluna (1) - Falo pra minha mãe que não deu pra mim fazer ou então a professora passa uma tarefa eu falo que esqueci,que não fiz.

Aluno (2) - Quando é na minha casa assim, e eles pedem pra mim ajudar eles, eu vou pra rua, saio com meus colegas.

Aluna (3) - Ai eu falo pra minha mãe eu to cansada, não to com vontade, ai ela acha meio ruim, mas eu não faço não.

Aluno (14) - Ah, eu do um perdido. Minha mãe manda fazer alguma coisa eu fico enrolando. Saio escondido.

Aluno (15) - Tem horas que não tenho vontade de vir pra escola, eu chego cansado do serviço ai eu não venho, ai vou pra casa e durmo.Em casa também não cumpro sempre, ai tem as conseqüências dos pais ficarem meio estranhos com a gente, meio chateados, mas nada que o dialogo não resolva também.

Todos os adolescentes deixaram transparecer em suas falas que existe uma grande flexibilidade nas regras dos pais, o que pode representar uma perda de autoridade destes. Todos os alunos relataram que os pais não possuem atitudes firmes quando desafiam sua autoridade:

Aluno 2) Não acontece nada.Só minha mãe briga assim porque eu não ajudo, mas normal, mas depois deixa quieto.

Aluna (3) - Ah, as vezes ela fica sem falar comigo, sabe,mas depois volta, ai... Aluno (4) - Ah, ele só briga um pouco, mas depois passa.

Aluna (5) - Ela nem briga.Ela deixa quieto. Aluna (10) - Meu pai xinga.Mas eu não ligo.

Aluno (11) - Ah! Fica meio brava, mas logo passa. Aluno (12) - Eu evito contar pra ela.

Estes aspectos nos permitem inferir que os adolescentes às vezes estão em conflitos com a autoridade dos pais, o desafiando e o confrontando.

No entanto, os pais não sabem como agir frente a estas situações, assim como é demonstrado pelas falas dos adolescentes. Eles passam a hesitar sobre suas normas e sobre o que é certo e o que é errado e acabam cedendo aos adolescentes.