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Seja qual for o tipo de patrimônio apresentado ao público como atração, o processo sempre exige uma clara concepção da interpretação e da comunicação que se pretende estabelecer com o visitante. E a partir daí que se desenvolve a apresentação e a promoção do produto.

O sucesso depende de muitos fatores e certamente envolve a localização e a qualidade do recurso, o mercado, a moda, a visibilidade na mídia. Mas há também uma série de elementos já testados que são fundamentais para o conforto, o entretenimento e a experiência do visitan­ te, tais como a orientação, a clareza e a riqueza das oportunidades informais de aprendizagem. Toda atração turística deve ser frequentemente avaliada, de forma a manter um padrão de qualidade que possa garantir um fluxo crescente de visitantes. Para se proceder a uma correta avaliação, é importante observar alguns itens que dizem respeito a aspectos fundamentais da apresentação e dos serviços oferecidos pela atração.

Apresentamos a seguir uma série de vinte itens que compõem um roteiro mínimo a ser seguido para avaliar a apresentação da atração:

1. promoção e imagem - a imagem, tal como veiculada, corresponde ao acervo ou sítio exibido? As impressões de imagens passadas e presentes estão apresentadas de forma equilibrada? A qualidade e acessibilidade do material promocional é adequada? 2. sequência da sinalização e acesso local - revisão das sinalizações de rua e do trans­

porte de massa para checar sua precisão e suas interligações, bem como a quali­ dade do acesso local;

3. estacionamento - checar o acesso, a conveniência, a qualidade e a localização dos estacionamentos e de seu entorno;

4. portão de entrada - é visível? Qual a sua qualidade? Estão expostos os preços e os horários de funcionamento? Verificar se existe informação suficiente para uma ori­ entação inicial;

5. serviços - checar a disponibilidade, a localização e a qualidade dos sanitários, lan­ chonetes e outras instalações;

6. linguagem das placas e letreiros - há um estilo próprio de sinalização e interpre­ tação? As sequências estão estabelecidas e mantidas, ou existem acréscimos e mudanças no estilo?

INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO PARA VISITANTES UM QUADRO CONCEITUAI

7. percurso de visitação - as rotas sinalizadas podem ser seguidas com precisão e clareza? Há sequência de informações?

8. temas e histórias - a organização do sítio ou do acervo está agrupada em temas de fácil absorção? E apoiada em histórias e casos que atraem os vários tipos de visitantes? 9. informação por etapas - verificar se existem níveis de informação, partindo do simples

para o complexo, com apelo tanto para o visitante casual quanto para o especialista; 10. consciência de mercado - verificar como as instalações se adequam às necessidades de

diferentes grupos de idade, de interesse, étnicos, de deficientes físicos e outros usuários; 11. atualização - a informação e a apresentação estão atualizadas em termos de con­

hecimento e valores?

12. manutenção - checar as evidências de limpeza, cuidados diários, consertos e reno­ vações com vistas à permanente qualidade da apresentação;

13. experiência focalizada - cada visitante ou grupo de interesse é capaz de manter seu próprio ritmo? Os conflitos entre ritmo, atividade e barulho estão equacionados? 14. oportunidade de re-sequenciar - é fácil para o visitante reverter, retomar ou recri­

ar a sua própria sequência, à medida que ele se situa no lugar?

15. compras - verificar se há oportunidades para adquirir informações adicionais, lem­ branças e objetos de qualidade que valorizam a visita. É fácil encontrar o produto ou a informação desejados?

16. lanchonetes - verificar se as instalações, produtos e preços são adequados à diversidade do público-alvo, se há áreas de piquenique e qualidade de atendimento ao consumidor; 17. valores - após a visita, reflita sobre os valores implícitos na apresentação. A atração

deve refletir uma gama variada de valores e fomentar o crescimento pessoal por meio da experiência;

18. novas visitas - há eventos e programações sazonais que estimulam o retomo de vi­ sitantes? O lugar é atraente para visitas regulares de diferentes grupos?

19. boca a boca - más notícias correm rápido e contatos pessoais são publicidade efi­ caz. Acompanhe discussões e comentários casuais sobre a atração, pergunte a opinião de amigos e familiares;

20. localização - a atração está bem divulgada em mapas, folhetos turísticos e estradas? De que forma ela se encaixa na programação de visitas curtas, de fins de semana e feriados? Existe conflito de horário e de programação com outras atrações da área? Estes são temas gerais que se aplicam à maioria dos lugares destinados à visitação públi­ ca, mas devem se adequar às peculiaridades de cada sítio. A questão da sustentabilidade

STELA MARIS MURTA E BRIAN GOODEY

econômica, certamente fundamental na montagem e manutenção de atrações turísticas, também se aplica hoje na gestão e apresentação de sítios históricos e naturais para visitação. Uma questão está sempre no centro de programas interpretativos: “deve-se cobrar ingresso?” No entanto, é mais eficaz adotar uma abordagem que privilegie a percepção do visitante: “vale a pena pagar para ver? vale a pena ver porque é grátis?” Se apresentados e interpretados de modo convincente, os lugares especiais podem acabar por atrair os gastos de visitantes e turistas, viabilizando, assim, a revitalização e a conservação de paisagens naturais e culturais.

11 Conclusão

A construção de atrações culturais e ecológicas é crucial para o desenvolvimento do turismo sustentado e necessário para reconciliar os interesses da preservação e do desenvolvimento.

Se uma boa atração é desenvolvida em tomo de um conceito construído a partir da inter­ pretação das histórias, lendas e segredos do lugar, um plano interpretative deve cuidar de res­ ponder a duas perguntas essenciais ao desenvolvimento de uma atração natural ou cultural: qual o sentido do lugar e de suas práticas culturais? Como transmiti-lo aos visitantes?

As respostas a essas perguntas estão em grande parte com a comunidade, que precisa ser estimulada a buscá-las na memória coletiva, em sua história oral e documentada. Uma boa tarefa conjunta para os órgãos de preservação e de turismo é envolver os moradores, desde o início, no levantamento do inventário cultural e turístico de suas localidades, proporcio- nando-lhes um canal de expressão para os vários sentidos que atribuem ao seu patrimônio.

As paisagens urbanas e naturais são multivocais: um mesmo objeto, lugar ou fenô­ meno tem geralmente vários sentidos e identidades, de acordo com quem os atribui ao longo do tempo. São as várias vozes da comunidade, as várias narrativas, tempos e motivos diferentes - os econômicos, os estéticos e os políticos. Assim, dar um canal de expressão para que as várias vozes da comunidade interpretem seu patrimônio enriquece a interpre­ tação e a experiência vivencial do visitante, ao mesmo tempo que valoriza o lugar.

A definição da estratégia e da mídia interpretativa a ser utilizada requer a participação de vários profissionais que deverão compor uma equipe necessariamente multidisciplinar. Convém lembrar que só um planejamento adequado poderá garantir a sintonia do traba­ lho de sociólogos e planejadores, designers e programadores visuais, escultores e artistas, arquitetos, biólogos e engenheiros florestais, especialistas em patrimônio e restauro, entre outros, necessários à montagem de uma atração turística de sucesso.

INTERPRETAÇÃO 0 0 PATRIMÔNIO PARA VISITANTES UM QUADRO CONCEITUAI

Notas

1. M uita, Stela Maris; Goodey, Brian. Interpretação d o p a trim ô n io para o turism o sustentado - um

guia. Belo Horizonte: Sebrae/MG, 1995.

2. Tilden, Freeman. In te rp re tin g o u r H eritage (S.I.): University of North Carolina Press, 1967.

3. Morales, Jorge. Guia Práctica para la Interpretacidn del Patnm onio. Andalucía: Tragsa, Junta de Consejería de Cultura, 1998.

4. Countryside Com m ission. Interpretive Planning at the Local Scale: a guide to the choice of facilities and media. Cheltenham: Countryside Com m ission, 1977.

5. Percival, Arthur. U nderstanding o u r Surroundings - a manual of urban interpretation. London: Civic Trust, 1979.

6. Yale, Pat. From Tourist A ttra c tio n s to Heritage Tourism. Elm: Huntingdon, 1991.

7. Lane, Bernard. Sustainable Tourism: a n ew concept for the interpreter. In te rp re tatio n Journal,

W inter 1991.

8. O M T - Organização M undial do Turismo. Desenvolvim ento do Turismo Sustentável: m anual para organizadores locais. OMT, 1993.

9. Uzzelí, David; Ballantyne, Roy. C ontem porary Issues in H eritage a n d E nvironm ental Interpretation.

London: The Stationery Office (TSO), 1998.

10. Tilden, Freeman. In te rp re tin g o u r Heritage. fS.I.J: University o f North Carolina Press, 1967.

11. Murta, Stela Maris. The Role o f In te rp re tatio n in Urban Planning. Tese de M estrado em Planeja­

m ento pela Oxford Brookes University. Oxford: School of Planning, 1992.

12. Goodey, Brian. Interpretive Planning as an Integral Element in Place Development. In te rp re tatio n Journal 50, Spring 1992.

13. Uzzell, David. Planning for Interpretive Experiences. In C ontem porary Issues in H eritage an d Environm ental Interpretation. London: The Stationery Office (TSO), 1998.

14. Pennyfather, Keith. Guide to Countryside Interpretation, P art II: Interpretive M edia and Facilities.

INTERPRETAÇÃO E COMUNIDADE LOCAL

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