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Parte I Enquadramento Teórico 19

Capítulo 7: Avaliação da PHDA 80

7.1. Avaliação 81

A avaliação é um momento muito importante e crucial, pois é ela que permite confirmar o diagnóstico e a utilização mais eficiente de um determinado tratamento.

Selikowitz (2010:150) diz que “É essencial fazer uma avaliação pormenorizada das áreas mais fortes e mais fracas de uma criança para se conseguir um diagnóstico correcto e planear as estratégias apropriadas de apoio à criança.”

Além disso, esta deve ser feita o tão antecipadamente quanto possível, face às consequências sociais, escolares e familiares que daí podem advir. Para que esta avaliação seja feita de forma rigorosa, os pais e os professores, em primeiro lugar, e depois o médico, deverão estar alerta para todos os sinais indicadores de comportamentos disruptivos.

Depois de identificada a problemática, a criança é sinalizada e faz-se uma avaliação. Será necessário, para isso, recolher elementos sobre a criança, i.e., fazer uma recolha anamnésica15, fazendo-se consulta dos processos médicos e psicológicos da criança.

Esta informação deverá:

“(…) conter dados relativos à história pré, peri e pós-natal, ao desenvolvimento infantil, à história clínica e médica, à história familiar, social e escolar, às dinâmicas familiares, ao comportamento disruptivo que a criança actualmente evidencia nos diversos contextos (…), entre outros factores que possam ser igualmente importantes para o diagnóstico.” (Barkley, 1991; Lopes, 2003; Rohde & Halpern, 2004, citado por Moura, 2008:7).

Velasco Fernández (1980, citado por Vásquez, in Bautista, 1997:167):

“considera que a história clínica é a mais importante fonte de dados: o desenvolvimento evolutivo da criança, a sintomatologia actual, o ambiente familiar, as normas educativas, etc. Esta informação deve ser completada com os dados que (…) serão proporcionados pelo professor sobre o comportamento da criança, através de relatórios ou escalas de observação.”

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A avaliação deverá ser feita por especialistas na área, de forma rigorosa. Depois da primeira fase de recolha de dados sobre a criança, passa-se à fase seguinte, a da aplicação de diversas escalas/testes, aos pais, à criança e aos professores ou outros que estejam em contacto com a criança.

São, atualmente, utilizadas e validadas as seguintes escalas ou checklists16, entre muitas outras conhecidas.

“A SNAP-IV Rating Scale e a SWAN Rating Scale (ambas de James M. Swanson) são questionários baseados nos critérios de diagnóstico do DSM-IV-TR. Na SNAP-IV Rating Scale encontram-se listados os 18 sintomas, tal como estão descritos no DSM-IV-TR, categorizados numa Escala de Likert de 4 pontos. A SWAN Rating Scale é uma evolução da escala anterior, onde os 18 itens refletem um comportamento normativo da criança, encontrando-se categorizados numa escala de 7 pontos (pontuação entre -3 e +3) que são indicativos do grau de severidade dos comportamentos evidenciados.

As escalas de Conners (Conner´s Rating Scales- CRS-R) são, provavelmente,

os instrumentos clínicos mais utilizados no diagnóstico da hiperatividade em crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 17 anos. Existem duas escalas (escala para pais e escala para professores) e duas versões (versão completa e versão reduzida). A sua versão completa avalia as seguintes dimensões: Oposição, Problemas Cognitivos e Desatenção, Hiperatividade, Ansiedade/Timidez, Perfeccionismo, Problemas Sociais, Problemas Psicossomáticos17 (presente apenas na escala para pais), Índices Globais de Conners, Sub-Escalas DSM-IV-TR e Índices PHDA. (Conners, 1997).

A ADHD Rating Scale-IV (DuPaul, Power, Anastopoulos & Reid, 1998) que é

constituída por 18 itens relativos aos critérios de diagnóstico do DSM-IV-TR. Existem duas versões (versão casa e versão escola) que avaliam o comportamento da criança relativamente aos três subtipos da PHDA.

As escalas desenvolvidas por Russell A. Barkley, designadas por Home

Situations Questionnaire (HSQ) e School Situations Questionnaire (SSQ), são instrumentos que permitem aos pais e professores classificarem, em termos de severidade, os problemas de atenção e concentração que a criança exibe (estas escalas não apresentam itens relativos à hiperactividade-impulsividade). A escala para pais é constituída por 14 itens, enquanto que a escala para professores apresenta 8 itens.

Os instrumentos de avaliação clínica de Achenbach, apesar de não serem

específicos para a avaliação da PHDA, são bastante utilizados, pois para além de apresentarem um significativo poder discriminativo da PHDA (factor: Problemas de Atenção), revelam também outros importantes indicadores clínicos. O Child Behavior Checklist (CBCL) é de aplicação aos pais de crianças entre os 4 e os 18 anos, o Teacher Report Form (TRF) é de aplicação a professores de crianças em idade escolar,

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enquanto que o Youth Self Report (YSR) é para administração às próprias crianças com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos. Estes três instrumentos possuem uma estrutura análoga, constituída por 8 factores: Isolamento, Queixas Somáticas, Ansiedade/ Depressão, Problemas Sociais, Problemas de Atenção, Problemas de Pensamento, Comportamento Agressivo e Comportamento Delinquente.” (Moura, 2008:7-8, com adapt.).

Vásquez (in Bautista, 1997, com adapt.) sugere a consulta de um conjunto de baterias de testes que poderão ser usados, presentes na obra de Miranda e Santamaria (1986):

 “Inventário de situações em casa (Barkley, 1981);  Inventário de situações na escola (Barkley, 1981);

 Escala de autocontrolo de Kendal e Wilcox (para crianças dos 8-12 anos);

 Inventário de problemas de comportamento de Bekar e Stringfield (1974) (para crianças dos 3-6 anos);

 Inventário de Block e Block (1980);

 Inventário de comportamento para crianças em idade pré-escolar.”

Outra forma importante de avaliação é a observação direta da criança e dos seus comportamentos, isto para evitar os chamados falsos comportamentos, quando são avaliados numa situação clínica.

A avaliação neuropsicológica também é um marco importante na avaliação, na medida em que permite a avaliação das alterações nas funções executivas em crianças com PHDA e as suas implicações na aprendizagem. (cf. Moura, 2008).

Pode ser ainda necessário procurar uma avaliação de outras especialidades médicas para identificar possíveis problemáticas que podem gerar problemas de atenção: problemas visuais, auditivos, análises intelectuais ou de outras patologias.

Outro tipo de testes que permitem fazer uma avaliação da PHDA. São os testes psicológicos.

Segundo Lino (2005, com adapt.) podemos considerar os seguintes testes, divididos da seguinte forma:

 Testes de Inteligência

Weschler Intelligence Scale for Children (WISC)

Escala de medição da inteligência, aplicada a crianças entre os 6 e os 16 anos de idade; é constituída por gravuras, cubos, puzzles, labirintos, etc.

Weschler Adult Intelligence Scale (WAIS)

Escala de informações verbais aplicada aos adultos (geralmente aos pais e professores) para determinar o Q.I. da criança; também é constituída por imagens, cubos, objetos, etc.

Matrizes progressivas de Raven

Teste de escolha múltipla, que também serve para avaliar a inteligência da criança.

Teste de Binet-Terman

Teste para cálculo do Q.I.

Desenho da figura humana

Teste projetivo da personalidade ou teste cognitivo com propósitos psicométricos, através de desenhos para além da figura humana.

 Testes de avaliação perceptivo-psicomotor

Teste de Bender-Gestalt

Teste que serve para detetar possíveis lesões cerebrais. Este consiste num conjunto de cartões que são mostrados à criança. Depois, é-lhe pedido que os copie para uma folha branca. Este teste demora entre 7 a 10 minutos.

Cópia de figuras geométricas

Teste onde se pede que sejam copiadas 9 figuras para uma folha branca. Demora entre 7-10 minutos.

 Provas projetivas

Children Apperception Test (CAT)

Teste aplicado a crianças entre os 3 e os 10 anos de idade, para medir traços da personalidade, atitudes, psicodinâmica, etc.

Thematic Apperception Test (TAT)

Teste que avalia os padrões de pensamento, atitudes, capacidade de observação e emoções.

Os testes nem sempre são os que dão ao profissional de saúde a indicação conclusiva sobre o diagnóstico, visto que todos eles são realizados em ambiente de consultório, onde à partida, e sabendo que vai realizar um teste, a criança poderá demonstrar níveis de concentração e atenção elevados, sendo os resultados “falsos”, ou, pelo menos, não totalmente indicativos do que se pretende aferir.

Existem ainda outras formas de sinalizar a PHDA nas crianças e adultos:

1. A avaliação neurológica – apesar de haver consenso que esta desordem não está marcada por graves problemas neurológicos, as lesões por vezes a ela associadas, podem explicar outros sintomas como a descoordenação motora, movimentos involuntários, falta de atenção.

2. A avaliação através de exames de imagem - estes exames poderão ser aplicados para despiste de suspeita de eventuais lesões cerebrais ou de verificação da atuação da medicação estimulante, nas áreas afetadas, embora não exista correlação entre a PHDA e uma lesão cerebral específica. (cf. Lino, 2005).

A avaliação passa um pouco por todos os intervenientes na vida da criança/jovem: família, professores e profissionais de saúde. Cada um terá um papel importante no despiste da PHDA e no seu tratamento.

Os professores são os primeiros a ter contacto com a criança podendo, por isso, notar, desde logo, se ela apresenta sintomas ou sinais diferentes dos demais alunos e alertar os pais.

A família, por sua vez, deverá informar-se sobre a PHDA, sobre como atuar perante o seu filho e procurar ajuda médica.

Ao médico caberá fazer o diagnóstico baseado numa avaliação cuidada e criteriosa, através do historial clínico, de testes e do acompanhamento quando for recomendada a toma de medicação.

É um trabalho conjunto, como já referido neste estudo várias vezes.

Sobre isto, Parker (2003:18) afirma que “Os pais necessitarão de coordenar as atividades com os membros da equipa de tratamento, de forma a trabalharem em conjunto

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