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Parte I Enquadramento Teórico 19

Capítulo 9: A PHDA em adultos 116

9.1. A PHDA em adultos 117

A maioria das crianças que sofre de PHDA durante a infância acaba por sofrer desta perturbação também na idade adulta.

A opinião de vários autores atesta esta teoria.

“Studies show that 30 percent to 70 percent of these children will continue to experience ADHD symptoms as adults.” (Speert, 2012:39-40).

“Pesquisas mostram que, em média, 67% de crianças diagnosticadas continuam tendo os sintomas quando adultos (…).” (Lopes, Nascimento e Bandeira, 2005: s/p.).

“(…) several (…) studies demonstrating persistence of symptoms of hyperactivity into adulthood in many cases.” (Mendelson et al., 1971; Menkes, Rowe & Menkes, 1967, citado por Barkley, 2006:17).

“Em cerca de 20% das crianças com PHDA, as dificuldades prolongam-se pela idade adulta de uma forma grave.” (Selikowitz, 2010:261).

Khurana e Schubiner (2007) apresentam dados de um estudo27 em que se afirma que a prevalência da PHDA nos adultos se situa entre os 4 e 5%. Os mesmos autores acrescentam que os números exatos são difíceis de demarcar, porque muitos adultos com esta perturbação nunca foram diagnosticados. A este propósito, referem um estudo que indica que apenas 25% dos casos de indivíduos com PHDA tinham sido diagnosticados na infância e que 75% não tinha sido.

A hiperatividade tem tendência a diminuir com a idade, pois a maturidade também ajuda. No entanto, não é assim com todos os adolescentes e adultos. Alguns mantêm alguns sinais de PHDA bem marcados, o que traz consequências para a sua vida profissional, familiar, social e pessoal.

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São apontadas as seguintes referências para este estudo: Murphy, K. e Barkley, R. (1996). Prevalence of DSM-IV symptoms of ADHD in adult licensed drivers: implications for clinical diagnosis. J Atten Disord,

Vários autores apresentam a mesma opinião acerca da evolução da hiperatividade desde a infância até à idade adulta.

“(…) a hiperactividade tende a diminuir consideravelmente com a idade, muitos adultos mantêm dificuldades de concentração e impulsividade, com consequências terríveis para sua vida social e profissional.” (Antunes, 2011:158).

“(…) their symptoms often change as they grow older, with less hyperactivity as adults. Problems with attention tend to continue into adulthood.” (Speert, 2012:50).

Lino (2005:6), reitera a opinião dos autores anteriores e acrescenta que “Os sintomas, em muitos casos, vão-se atenuando com a idade, estimando-se que os casos em que se continuam a manifestar pela idade adulta rondem os 30% a 50%.”

Já Selikowitz (2010:260) apresenta as idades em que se verificam essas alterações.

“Na maioria das crianças com PHDA, estas dificuldades diminuem no final da adolescência. Pode registar-se uma descida gradual, entre os 12 e os 18 anos, ou uma queda abrupta (geralmente entre os 16 e os 18 anos). Em algumas crianças, a melhoria nos últimos anos da adolescência é tão acentuada, que a perturbação pode considerar- se curada. Estes casos abrangem 20% de crianças com esta perturbação. Em cerca de 80% dos casos, a melhoria nos anos da adolescência não é associada à cura completa; em aproximadamente 60% vai persistir PHDA ligeira e em 20% aguda.”

Os adolescentes com PHDA tendem a ser menos ativos e menos irrequietos do que eram em crianças. São mais impulsivos, impacientes e demonstram dificuldades de concentração. Muitas vezes, estes comportamentos fazem com que sejam considerados alunos indisciplinados e rebeldes. Têm baixas prestações escolares, relações interpessoais frágeis e revelam uma baixa autoestima.

“Um número de estudos longitudinais acompanhou crianças hiperativas ao longo da adolescência até à idade adulta. Infelizmente, as conclusões de tais estudos sugerem que, apesar de a desordem por défice de atenção poder ser atenuada, em alguns casos pode ter efeitos crónicos. Apesar de cerca de cinquenta por cento das crianças hiperativas ultrapassar a desordem, antes ou durante os seus anos de adolescência, os outros cinquenta por cento, que constituem o grupo de adultos com DDA, continuam a ser afetados por ela, em diferentes graus, ao longo das suas vidas como adultos.”

Os adultos com PHDA são adultos inteligentes, mas não conseguem alcançar o exponencial máximo das suas capacidades, porque mantêm características da PHDA que os prejudicam: desatenção, impulsividade e hiperatividade (demonstrando-se, geralmente, através de muita energia).

Apesar disso, Selikowitz (2010) realça alguns aspetos positivos, ao dizer que a agitação excessiva pode fazer com que a pessoa seja considerada como sendo mais enérgica do que as outras e menos propensa ao cansaço; a impulsividade poderá ser uma vantagem numa profissão que exija pensamento criativo e o facto de dizerem tudo o que pensam, poderá ser uma vantagem, em situações profissionais em que a frontalidade seja bem vista.

De forma resumida, apresentam-se as principais dificuldades em adultos com PHDA:

 “têm dificuldades em assistir a uma palestra;  cometem erros por falta de atenção aos detalhes;

 fazem várias coisas em simultâneo, mas deixando tarefas por terminar;  estão sempre preocupados com alguma coisa;

 são desorganizados (em casa e no trabalho);  falam muito e depressa ou comem muito depressa;  são muito impacientes e exaltam-se com muita facilidade;  sofrem alterações de humor constantes;

 dizem o que lhes vai na cabeça, sem pensar;

 têm, muitas vezes, vícios (jogar, beber, estar na internet horas a fio, etc);  mudam frequentemente de objetivos e de planos;

 casam mais do que uma vez ou têm relacionamentos instáveis;

 têm problemas de hipo ou hiper-sexualidade e demonstram ter uma baixa autoestima.” (cf. APCH, com adapt.).

 “«perdem o fio à meada»;

 sentem dificuldades em lidar com a burocracia ou em cumprir certos procedimentos;

 são pessoas muito agitadas e não descontraem em atividades de lazer.” (cf. Selikowitz, 2010, com adapt.).

Os autores Fisher e Beckley (1999) fazem um conjunto de propostas do que poderão fazer as pessoas com PHDA e que tipo de emprego procurar, de acordo com as

suas características, apresentando também algumas estratégias para serem bem-sucedidos no emprego, como por exemplo:

 “dividir as tarefas em partes mais pequenas;  fazer intervalos entre cada tarefa,

 praticar exercícios de relaxamento;  ter sempre uma agenda;

 utilizar um gravador para armazenar informação, sempre que necessário;

 chegar mais cedo ao trabalho para organizar as tarefas e preparar-se mentalmente para mais um dia de trabalho;

 tomar a medicação regularmente;

 pedir ordens diretas e explícitas aos chefes e companheiros de equipa;  bloquear ou retirar qualquer estímulo ou distrator do ambiente de trabalho;  não atender telefonemas durante a realização de uma tarefa;

 se a tarefa exigir um elevado nível de concentração, chegar mais cedo ao trabalho ou trabalhar até mais tarde, pois são períodos habitualmente mais calmos.” (com adapt.).

Há casos em que o diagnóstico já foi feito na infância, mas noutros só é realizado na idade adulta. (cf. Selikowitz, 2010). Assim, um adulto que considere ter PHDA deve pedir ao seu médico assistente que o observe e avalie.

A PHDA nos adultos está muitas vezes camuflada por outros sintomas ou problemas, nomeadamente, ao nível do relacionamento interpessoal, das relações afetivas, da organização, problemas de humor, abuso de substâncias, etc.

Muitos investigadores se têm debruçado sobre a problemática da PHDA e identificaram nos adultos com diagnóstico de PHDA diversos problemas associados:

 relações afetivas instáveis (divórcios e separações);

 instabilidade profissional, que os acompanha ao longo da vida;

 baixo rendimento no trabalho;

 falta de capacidade de manter a atenção por longos períodos de tempo;

 falta de organização /disciplina;

 baixa autoestima;

 acidentes de viação;

 abuso de substâncias ilícitas (drogas, tabaco, álcool);

 insónias ou outras perturbações do sono;

 mudança constante de interesse nas coisas;

 intolerância a situações repetitivas e monótonas;

 variação frequente do humor e procura constante de coisas diferentes e estimulantes, entre muitas outras.

Marks (2004, citado por Lopes, Nascimento e Bandeira, 2005, com adapt.) operacionalizou um conjunto de critérios de diagnóstico para a PHDA em adultos, por achar os critérios de diagnóstico do DSM-IV-TR mais orientados para crianças. Segundo este autor devemos considerar que estamos perante um quadro clínico de PHDA na idade adulta, quando se registam os seguintes sintomas/sinais:

 “hiperatividade motora;  deficits de atenção;  labilidade28 afetiva;  temperamento quente;  reação emocional excessiva;  desorganização;

 impulsividade;

 características associadas (histórico familiar).”

Ao fazer-se o diagnóstico da PHDA, em adultos, é preciso lembrar que as comorbilidades associadas são de uma intensidade maior e mais grave do que nas crianças, pois muitas vezes aparecem comportamentos depressivos associados: ansiedade, Transtorno do Humor Bipolar, abuso de drogas e transtornos da personalidade.

Sobre as comorbilidades associadas à PHDA na idade adulta, Khurana e Schubiner (2007:52) dizem que:

“Até 70% das crianças e adultos com perturbação de deficiência da atenção/hiperactividade têm uma situação de comorbilidade psiquiátrica ou cognitiva durante a vida. (…) Deste modo, os médicos que avaliam um adulto com uma

perturbação de deficiência de atenção/hiperactividade necessitam de ter em consideração estas possibilidades como parte da avaliação diagnóstica.”

As comorbilidades associadas à PHDA em adultos são as mesmas já referenciadas neste trabalho. Apresentam-se, seguidamente, um sumário das mais frequentes em adultos (para além das já apresentadas anteriormente no subcapítulo Comorbilidades), caracterizando-se, quase sempre, por variações de humor, problemas comportamentais e antissociais:

 “Depressão: tem como principal característica a dificuldade de concentração, de atenção e memória, perturbações do apetite e do sono.

 Ansiedade: tem como principal característica a excitação e a dificuldade de concentração; também a preocupação exagerada e todos os sintomas característicos da ansiedade.

 Transtorno do Humor Bipolar: caracteriza-se pela hiperatividade, dificuldades em manter a atenção; oscilações de humor; insónia; ilusões; disforia29.

 Abuso de Substâncias químicas: tem como principais características a dificuldade de concentração, atenção; problemas de memória; oscilações de humor; consequências sociais e dependência psicológica.

Transtorno de Personalidade (ou Borderline e Antissocial): tem como principais características a impulsividade e a instabilidade afetiva; histórias judiciais (antissocial), comportamento prejudicial e suicida (borderline); falta de reconhecimento do seu comportamento autodestrutivo.” (cf. Lopes, Nascimento e Bandeira, 2005, com adapt.).

Khurana e Schubiner (2007) alertam para o facto de as comorbilidades poderem ter sintomas semelhantes aos da PHDA, pelo que se torna fundamental que não haja confusão no momento do diagnóstico, sendo essencial identificar os sintomas da PHDA e destrinçá- los das outras patologias associadas.

“(…) nenhum outro diagnóstico, como a esquizofrenia ou outra doença médica ou psiquiátrica, pode ser responsável pelos sintomas de perturbação de deficiência da atenção/hiperactividade.” (Khurana e Schubiner, 2007:51).

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Sensação de mal-estar; mudança repentina e transitória do humor. (cf. Lopes, Nascimento e Bandeira, 2005). Segundo Wozniak et al. (1995) e Biederman et al. (1996), a taxa de incidência de bipolaridade nos jovens com PHDA ronda os 23%. Segundo Strober e Carlson (1982) e Geller et al. (1994), a possibilidade

A PHDA em adultos tem um impacto muito grande nas suas vidas. Muitas vezes já na infância e adolescência mantinham episódios de indisciplina, elevadas taxas de insucesso académico, incapacidades de leitura, entre muitas outras dificuldades escolares e sociais. Os adultos com PHDA, geralmente, têm uma condição socioeconómica baixa, elevadas taxas de baixa autoestima, mudanças de emprego constantes e mais elevadas taxas de divórcio. (cf. Khurana e Schubiner, 2007).

Tal como acontece nas crianças, também nos adultos é muito difícil de diagnosticar a PHDA por ela estar muitas vezes associada a outras problemáticas ou por ter sintomas muito parecidos com os de outras sintomatologias. Há que continuar a fazer investigação para que se desenvolvam meios de diagnóstico mais adequados a esta perturbação para assim proporcionar, aos jovens e adultos, formas mais eficazes de tratamento e uma consequente melhoria nas suas vidas académicas, profissionais, sociais e pessoais.

O mais importante é que o diagnóstico, a avaliação e a intervenção sejam realizadas o tão atempadamente quanto possível – de preferência durante a infância –, para prevenir os efeitos que depois se repercutem na vida adulta.

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