• Nenhum resultado encontrado

Avaliação da aptidão aeróbia

No documento Mário André Rodrigues Ferreira (páginas 74-77)

2.5. Aptidão aeróbia

2.5.1. Avaliação da aptidão aeróbia

A avaliação do PVO2 em laboratório é possível através do uso da

ergoespirometria, que consiste na análise direta do VO2 com o recurso a um analisador

de gases, durante a realização de um esforço máximo (Gore, Tanner, Fuller, & Stanef, 2013). Inicialmente estes equipamentos foram desenvolvidos para os adultos, mas torna-se fundamental a sua adaptação para o uso em crianças e adolescentes, como é o caso da escolha do tamanho das máscaras (Armstrong & Fawkner, 2007; Hebestreit & Beneke, 2008; Gore et al., 2013).

É possível aplicar testes máximos em crianças e adolescentes, desde que sejam explicados os objetivos e a essência do teste, bem como a existência de um período de habituação aos equipamentos e protocolos (Malina et al., 2004; Brown, Miller, & Eason, 2006; Heyward, 2006; Armstrong & Fawkner, 2007; Armstrong & Welsman, 2008; Hebestreit & Beneke, 2008; Ehrman, 2009). Um aspeto crucial é que os protocolos e equipamentos devem ser escolhidos de acordo com as questões de pesquisa, e com os objetivos e as características dos sujeitos, uma vez que todos os ergómetros possuem vantagens e desvantagens, sendo geralmente utilizada a passadeira rolante ou o cicloergómetro (Rowland, 1993; Armstrong & Fawkner, 2007; Hebestreit & Beneke, 2008; Armstrong & Welsman, 2008). A passadeira rolante parece ser o instrumento mais apropriado para determinar o PVO2 em crianças saudáveis

(Armstrong & Welsman, 2008).

O PVO2 é tipicamente 8-10% superior na passadeira rolante (Armstrong &

Davies, 1981; Turley, Rogers, Harper, Kujawa, & Wilmore, 1995; Mamen, Resaland, Mo, & Anderson, 2009), uma vez que envolve maiores massas musculares do que no cicloergómetro (Armstrong & Welsman, 2008), e por conseguinte, é mais provável que seja limitado por fatores centrais do que periféricos (Shephard, 1984; Yoon, Kravitz, & Robergs, 2007). Contudo, na passadeira existe o risco de queda e o teste pode terminar prematuramente devido ao medo de cair quando se desenvolve com velocidades mais elevadas (Malina et al., 2004), daí a necessidade de um período de habituação aos equipamentos e protocolos por parte das crianças e adolescentes.

Na passadeira rolante, diversos protocolos metodológicos tem sido adotados (Hebestreit & Beneke, 2008), no entanto, não parecem existir diferenças entre os

resultados de PVO2 alcançados por diferentes tipos de protocolos (Fredriksen, Ingjer,

Nystad, & Thaulow, 1998; Marinov, Kostianev, & Turnovska, 2003). Assim, utilizando o mesmo instrumento (e.g., a passadeira rolante), o PVO2 é uma medida robusta e tem

mostrado ser independente do protocolo utilizado (Armstrong & Welsman, 2008). Para atingir um PVO2 válido em passadeira rolante, a duração do teste deve

situar-se entre os 5 e os 26 minutos (Midgley, Bentley, Luttikholt, McNaughton, & Millet, 2008), designadamente entre 6-12 minutos em crianças e adolescentes atletas e não atletas (Armstrong & Fawkner, 2007; Hebestreit & Beneke, 2008).

A reprodutibilidade entre o teste e o re-teste tem mostrado a existência de um baixo erro de variação do PVO2 (Freedson & Goodman, 1993; Rivera-Brown &

Frontera, 1998; Welsman, Bywater, Farr, Welford, & Armstrong, 2005; Van Laethem, De Sutter, Peersman, & Calders, 2009; Saunders, Telford, Pyne, Hahn, & Gore, 2009).

Diversos autores (Armstrong & Fawkner, 2007; Armstrong & Welsman, 2008; Hebestreit & Beneke, 2008; Gore et al., 2013), referem as seguintes diretrizes para a determinação do PVO2 em crianças e adolescentes:

 atender à idade, maturação e capacidade de atenção dos participantes antes da escolha do protocolo;

 o teste deve ser realizado pelo menos 2 horas após a ingestão de alimentos;

 no mesmo dia do teste, não devem realizar exercício vigoroso antes do teste;

 uso de roupa e calçado adequado para a realização do teste;

 a explicação das regras de segurança, que devem ser transmitidas antes da realização do teste, certificando-se de que foi entendida a informação;  período de habituação ou familiarização à passadeira rolante;

 durante a realização do teste devem ser indicadas as condições de realização, como por exemplo o aumento da velocidade ou inclinação;  e realizar um aquecimento e retorno à calma.

Para além destas recomendações que devem anteceder a escolha dos protocolos e das condições de preparação dos participantes, é fundamental definir os critérios para a obtenção do esforço máximo e consequentemente a determinação do PVO2.

2.5.1.1. Garantia da obtenção do esforço máximo

Os critérios normalmente utilizados para a garantia da obtenção do PVO2

envolvem a frequência cardíaca, o quociente respiratório, atingir o fenómeno de plateau de VO2 ou a exaustão do participante (Malina et al., 2004; Fawkner & Armstrong,

2007; Armstrong & Welsman, 2008; Armstrong et al., 2008; Gore et al., 2013).

A frequência cardíaca aumenta com o aumento da intensidade do exercício, até atingir o PHR, ou seja, o valor máximo de batimentos cardíacos, que tende a estabilizar nos estádios finais do exercício até à exaustão. A determinação prévia à realização do teste da frequência cardíaca máxima estimada pode ser efetuada a partir da seguinte fórmula: 208 - (idade x 0,7) (Tanaka, Monahan, & Seals, 2001), de forma a prever o PHR que será obtida pelo participante.

Através de um teste progressivo até a exaustão, as crianças e adolescentes apresentam um PHR, que é independente da idade (Armstrong et al., 1991), maturação (Armstrong et al., 1991; Armstrong, Welsman, & Kirby, 1998; Armstrong & Welsman, 2001) e sexo (Armstrong, Balding, Gentle, Williams, & Kirby, 1990; Armstrong et al., 1991; Vinet et al., 2003). No entanto, é dependente do tipo de protocolo utilizado, sendo tendencialmente superior durante um teste em passadeira rolante, comparativamente com o teste realizado em cicloergómetro (Bloxham, Welsman, & Armstrong, 2005). Os valores de PHR geralmente obtidos na passadeira rolante são de aproximadamente 200 ± 7 batimentos por minuto (Armstrong & Fawkner, 2007; Armstrong & Welsman, 2008; Armstrong et al., 2008). Assim, um valor acima de 200 batimentos por minutos é considerado um indicador da obtenção de esforço máximo em crianças e adolescentes (Dencker et al., 2008; Hebestreit & Beneke, 2008).

O quociente respiratório também aumenta com o aumento da intensidade do exercício, refletindo o aumento da libertação de CO2, em consequência de uma maior

utilização dos glícidos, através do aumento do contributo do sistema anaeróbio (Kenney

et al., 2012), o que se verifica nos últimos instantes de um teste máximo. O valor máximo atingido durante um teste incremental até à exaustão identifica o pico de quociente respiratório (PRER – peak respiratory exchange ratio). Alguns autores (Armstrong & Fawkner, 2007; Armstrong & Welsman, 2008), referem valores de PRER obtidos em passadeira rolante, em crianças e adolescentes, de 1,05 ± 0,07. Dessa forma,

um valor acima de 1 é considerado indicador da obtenção de esforço máximo em crianças e adolescentes (Hebestreit & Beneke, 2008), sendo também sugerido um valor acima de 1,10 em atletas de elite (Gore et al., 2013).

Um critério mais importante é o facto de não se verificar um aumento superior a 2 mL·kg-1·min-1 no VO2, apesar do aumento da intensidade do esforço, assumindo-se o

fenómeno de plateau e a obtenção do VO2máx (Geithner et al., 2004; Malina et al., 2004;

Armstrong & Fawkner, 2007; Armstrong & Welsman, 2008; Armstrong et al., 2008; Hebestreit & Beneke, 2008; Gore et al., 2013). Porém, como foi referido anteriormente, o fenómeno de plateau de VO2 não se verifica em todas as crianças e adolescentes

(Rowland, 1993). Todavia, não parecem existir diferenças significativas nos valores entre crianças e adolescentes em que observa ou não o plateau (Rivera-Brown, Rivera, & Frontera, 1992; Rowland, 1993; Armstrong & Welsman, 1994; Armstrong et al., 1996).

Por outro lado, o teste poderá terminar devido à exaustão voluntária do participante, ou seja, a incapacidade deste em continuar o esforço, apesar do forte encorajamento verbal por parte da equipa de investigação (Malina et al., 2004; Armstrong & Fawkner, 2007; Hebestreit & Beneke, 2008).

Em suma, para a obtenção de um esforço máximo podem-se verificar um ou mais destes indicadores em simultâneo (Gore et al., 2013), devendo estar sempre salvaguardadas as questões de segurança inerente à realização do teste.

No documento Mário André Rodrigues Ferreira (páginas 74-77)