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Capítulo 3 – Avaliação em saúde e avaliação da assistência

3.2 Avaliação da assistência farmacêutica

A assistência farmacêutica é definida na Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF) como “[...] um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e o seu uso racional” (BRASIL, 2004). Na prática, o termo é, muitas vezes, traduzido como “acesso a medicamentos”, o que gera uma demanda por produtos farmacêuticos de forma desconectada das ações das políticas de saúde.

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Segundo Santos (2011), o termo assistência farmacêutica é polissêmico e utilizado, tanto na gestão dos serviços quanto no meio acadêmico, com diversos significados. Esse fato tem refletido nos estudos de avaliação. Segundo a autora, na literatura, os trabalhos que tiveram como objetivo o desenvolvimento de avaliações foram, em alguns casos, limitados à descrição dos serviços e, em outros, não houve emissão de juízo de valor sobre os resultados encontrados. Alguns trabalhos utilizaram os indicadores propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 1993) para avaliação do uso de medicamentos, outros utilizaram a tríade de avaliação proposta por Donabedian3 (estrutura-processo-resultado),

embora, destaca a autora, muitos empreguem somente elementos relacionados à estrutura e processo.

Ainda de acordo Santos (2011), essa produção em avaliação está, em sua maior parte, restrita a descrições sobre aspectos estruturais dos serviços relacionados à aquisição, ao armazenamento e à distribuição dos medicamentos, sendo pautada por parâmetros normativos, com contribuições para um autodiagnóstico e posterior monitoramento no que diz respeito ao grau de adequação das instalações e dos procedimentos com este fim. Desse modo, segundo autora, essas produções pouco contribuem para a avaliação dos objetivos expressos no conceito corrente de assistência farmacêutica.

A assistência farmacêutica, como política, deve ser entendida como parte integrante da Política de Saúde e norteadora para a formulação de outras políticas setoriais. Como parte da Política de Saúde, deve atender aos princípios ideológicos e organizacionais do SUS: basear-se na responsabilização pela universalidade do acesso, na integralidade da atenção, da equidade, na participação social, de forma hierarquizada, regionalizada e descentralizada (BRASIL, 2004).

3 Aventis Donabedian desenvolveu um quadro conceitual fundamental para o entendimento da avaliação de qualidade em saúde, a partir dos conceitos de estrutura, processo e resultado, classicamente considerados uma tríade, que corresponde às noções da Teoria Geral de Sistemas: input-process-output (MALIK; SCHIESARI, 1998).

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CAPÍTULO 3 – A

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De forma geral, os municípios ainda não são capazes de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade, com vistas à promoção do uso racional e ao acesso da população aos medicamentos essenciais, propósitos maiores dessa política (BARRETO; GUIMARÃES, 2010). Segundo Nascimento Júnior (2000), esses problemas refletem atitudes e condutas de diversos atores: governos, prescritores, dispensadores, consumidores e da própria indústria farmacêutica, e se manifestam na falta de infraestrutura, de recursos humanos e de recursos financeiros ou orçamentários.

Considerando a relevância do processo de implementação de uma política de saúde e seus programas, na perspectiva de consolidação do SUS, alguns estudos vêm sendo realizados no sentido de acompanhar e avaliar esse processo, em particular, no âmbito dos municípios. No entanto, esses os estudos, em sua maioria, têm sido focados na avaliação restrita de aspectos operacionais dos serviços, e não na gestão, entendida como processo não só técnico mas também político e social.

Destacam-se aqui algumas avaliações sobre assistência farmacêutica, realizadas em âmbito nacional: em 1999, a Gerência Técnica de Assistência Farmacêutica do Departamento de Políticas de Saúde do MS realizou uma avaliação para identificar o cumprimento das responsabilidades das esferas estaduais e municipais (OPAS, 2005); em 2001, o Núcleo de estudos em Saúde Coletiva, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (NESCON/UFMG), participou do estudo multicêntrico Strategies for Enhancing Access to Medicines (SEAM) (MSH, 2003); no mesmo ano, o NESCON/UFMG conduziu um estudo com a finalidade de conhecer o estágio de organização da assistência farmacêutica em nível municipal (BRASIL, 2001), e, em 2003/2004, o Departamento de Assistência Farmacêutica – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do MS, em conjunto com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), coordenou a pesquisa “Avaliação da Assistência farmacêutica no Brasil: estrutura, processo e resultados” (OPAS, 2005, EMMERICK, 2006).

As metodologias validadas nacionalmente fornecem modelos para a realização de estudos locais. Em âmbito municipal, as

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avaliações relacionadas ao tema são restritas, na maioria dos casos, a questões específicas do ciclo logístico, como seleção, aquisição, armazenamento, distribuição, como se pode observar nos estudos de De Bernardi et al., 2006, Vieira et al., 2008, Oliveira et al., 2010, Souza et al., 2012, entre outros.

Com a descentralização das ações de saúde, os municípios passaram a assumir a responsabilidade direta pela atenção à saúde, incluindo as ações relacionadas à assistência farmacêutica. Para isso, é necessário a construção de um referencial de gestão ampliado que ultrapasse o foco nos procedimentos técnico-operacionais e se constitua em uma prática técnica, política e social capaz de produzir resultados.

Nesse sentido, destaca-se, aqui, por seu ineditismo e sua contribuição metodológica para a avaliação em âmbito municipal, o estudo realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Assistência Farmacêutica da Universidade Federal da Bahia (NEPAF/UFBA) sobre avaliação da gestão descentralizada da assistência farmacêutica em municípios baianos, apresentado no Capítulo 1.

3.3 O projeto de pesquisa “Assistência farmacêutica