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Capítulo 1 – Indicadores para avaliar a gestão descentralizada

1.5 Considerações finais

O modelo de avaliação da gestão descentralizada da gestão da assistência farmacêutica básica, com ênfase no Protocolo de Indicadores e seus desdobramentos proposto pelo NEPAF/UFBA, adaptado do modelo de avaliação da capacidade de gestão das organizações sociais construído por Guimarães et al., 2004, se revelou consistente, uma vez que possibilitou:

■ identificar os constrangimentos à gestão, internos ou externos ao nível local do sistema;

■ promover discussões internas com a equipe sobre os deter- minantes e os condicionantes do comportamento de determinadas variáveis;

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■ definir e articular estratégias para superação dos cons- trangimentos identificados e/ou para manutenção das condições favoráveis, em curto, médio e longo prazos.

Essa potencialidade do modelo lhe confere a condição de ferramenta de gestão importante para avaliar e acompanhar os constrangimentos e oportunidades na condução da assistência farmacêutica básica no âmbito municipal e suas interfaces com as instâncias estadual e federal do SUS, além de subsidiar o planejamento do presente na direção da conquista de um desenvolvimento pleno da capacidade de gestão da assistência farmacêutica na atenção básica da rede SUS.

O reconhecimento dos pontos críticos e dos pontos altos da gestão da assistência farmacêutica se faz a partir da leitura crítica dos resultados obtidos através dos indicadores. Assim, esse modelo revela os pontos críticos que produzem constrangimentos à adequada gestão da assistência farmacêutica, não tendo, portanto, o intuito de julgar o que não foi feito ou o que foi feito inadequadamente no passado.

Vale registrar que a leitura geral dos resultados, com uma pontuação global dos indicadores, não se mostrou útil, uma vez que não é objetivo do referido modelo classificar o município em relação ao desempenho geral da assistência farmacêutica, mas identificar os aspectos que devem ser objeto de priorização na gestão da assistência farmacêutica, possibilitando correções de rumos e a minimização de obstáculos, além de divulgação de lições e aprendizagens.

Diante disso, comparar os pontos contabilizados entre diferentes municípios perde o significado, uma vez que o foco na leitura dos resultados passa a ser os aspectos revelados pelos indicadores individualmente e que alcançaram a pontuação total, intermediária ou nula. A estratégia de escala de cores para ser utilizada na apresentação dos resultados se mostra útil também na leitura desses resultados.

Observa-se, contudo, a necessidade de aperfeiçoamento desse modelo de avaliação, visando avançar para gradações de cores que possibilitem identificar as diferenças entre os indicadores nos limites de cada ponto de corte. Isso porque, para a gestão, faz diferença saber se o indicador que se encontra no campo da coloração verde refere-

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se a 100% da pontuação prevista ou a 75%. Há, na apresentação, portanto, um intervalo que obriga o retorno à pontuação quantitativa, pois a coloração congela um intervalo de 25% em cada ponto de corte, representado por uma cor.

De outra forma, é importante ressaltar que, embora a análise global dos indicadores não revele os problemas que mais interferem na gestão, nenhum indicador sozinho também tem significado expressivo para a análise da gestão. É necessário estabelecer um diálogo entre os indicadores para se obter uma informação mais consistente sobre os problemas enfrentados pela gestão, identificando aqueles que precisam de intervenção imediata ou mediata, ou seja, inter-relacioná-los, evidenciando uma rede de causalidade que facilite a definição de prioridades a serem assumidas pelo gestor. Assim, a leitura dos resultados ganha significado com a análise qualitativa dos indicadores, considerando o resultado individual e a inter-relação desses indicadores, tendo como base as premissas que nortearam cada indicador e suas respectivas dimensões.

Ressalta-se ainda que o maior desafio desse modelo está na necessidade de associar a avaliação dos resultados da gestão com os resultados finalísticos da assistência farmacêutica no Sistema de Saúde. Tal empreendimento requer a construção de um modelo ampliado de avaliação da gestão, envolvendo os efeitos e impactos da gestão da assistência farmacêutica no sistema de saúde baseado nos princípios da autonomia, da descentralização, da transparência e da participação. Por fim, é importante ressaltar que a proposta desse modelo metodológico não é uma fórmula pronta, é uma metodologia em construção dentro de um determinado contexto social, político e técnico.

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