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4.2.2 – AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA EM MOISÉS SANTANA

Inovações

A maior conquista da experiência até o momento foi o resgate da credibilidade da escola no bairro. Esse fato é ressaltado por todos os atores sociais entrevistados. A diferença entre uma escola com alunos evadindo ao ponto de se questionar a destinação do espaço físico, para uma escola em que os alunos permanecem o dia todo, motivados e interessados nas atividades demonstra onde a experiência avançou.

A experiência avançou ainda pelo abandono da idéia de “contra turno”. A integração dos turnos através da criação do turno intermediário e do horário de almoço possibilitou encarar sem fragmentação a experiência escolar. Do mesmo modo e no mesmo sentido, o ato de intercalar a oferta de atividades estabeleceu nova dinâmica entre professores e alunos. A distribuição “igual” ordenou de forma equivalente conteúdos antes vistos de forma desigual.

A mobilização das famílias pela escola deve ser ressaltada. Como a maior parte dos pais é da classe trabalhadora e tem compromissos desde as 8h da manhã, seria difícil contar com sua presença em reuniões. A mobilidade da Direção e dos professores em marcar reuniões com os pais a partir das 6:30h da manhã criou o necessário e oportuno espaço que lhes faltava. Com a oportunidade de participar, não deixaram de comparecer – como no caso de nossa entrevista, neste horário e com mais de 40 presentes. A inovação no horário das reuniões fez com que se percebesse a necessidade de gerar oportunidades de participação aos pais, como a realização do Programa Escola Aberta e de outros de seu interesse.

Questiona-se, entre os professores, o perfil do professor da educação integral. Concordam que não é no âmbito universitário, senão com uma disciplina introdutória como ocorre com muitos conteúdos pedagógicos, que a formação deve ocorrer. A prática no cotidiano, criando metas e desafios, superando problemas e obstáculos, é que seria a principal responsável pela formação deste professor. Entretanto, ressaltam que há maior carga horária despendida entre os que se dispõem à educação integral do que àqueles que trabalham no ensino regular. A dedicação passa pelos três períodos: o matutino, o intermediário e o vespertino. Diferentemente do ensino regular onde a preocupação do professor é com suas aulas e sua inserção no turno em que trabalha.

Tanto a Direção, quanto os professores e os pais, em algum momento, destacam a importância da iniciativa da educação integral no bairro. A escola conseguiu tornar-se uma referência de educação de qualidade. Contudo, com algum pesar, referem o limite reduzido das vagas. Como podemos observar na Figura 7, a escola situa-se em uma esquina, tendo seu terreno forma triangular. Com a construção da quadra de esportes quase todo o espaço útil foi ocupado. Seu limite é contingente ao perímetro que ocupa. Há previsão de construção de refeitório, mas dificilmente comportará ampliações e novas construções. Figura 7 – Escola Municipal de Educação Integral Moisés Santana

Dessa forma, podemos afirmar que não é possível incrementar a oferta de vagas. Há alunos matriculados que se deslocam até 30 km na cidade para lá serem atendidos. Registramos relatos desses alunos queixando-se de cansaço. Por sua vez, os professores referem que esses alunos, pelo mesmo motivo, apresentam menor rendimento acadêmico que os alunos que residem mais perto. Esses dados apontam que alguns pais preferem a educação integral (ainda que distante) do que uma escola regular perto de suas casas, e revelam também o desafio da Secretaria Municipal de Educação para ampliar o número de escolas em tempo integral no Município, atendendo cada vez mais alunos e os matricula, na medida do possível, mais próximo de sua residência.

Os professores desta escola apontam que a formação do professor para a educação integral deve contemplar conceitos como interdisciplinaridade e transversalidade. O aprendizado do desenvolvimento de projetos coletivos, que integrem alunos e professores de diferentes conteúdos, é meta a ser alcançada. Nesse sentido, a realização de cursos complementares, como extensão universitária ou mesmo mestrado strictu sensu, são apontados como caminhos fecundos e esperados em curto prazo, para a realização deste desafio.

De forma complementar ao papel do professor, os docentes desta escola questionam também o “perfil do aluno” da educação integral. A reflexão dos professores aponta tanto no sentido de um “tempo” ótimo, coletivo, para aprendizagem, quanto no sentido da inclusão e da convivência com alunos portadores de necessidades especiais. Os professores concordaram com uma colega ao afirmar que:

É necessário que tanto o espaço físico quanto as abordagens pedagógicas da escola sejam adequados a portadores de diferentes necessidades especiais. Nossa escola possui uma rampa que permite acessibilidade a cadeirantes. Não estamos preparados pedagogicamente para lidar com outras necessidades especiais, espalhadas em diferentes salas, especialmente em tempo integral. Temos que pensar que nem todo aluno pode estar na educação integral, pelo menos enquanto nós professores não estivermos preparados para recebê-los. (Professora “G”).

O desafio apontado pelos professores é aprender a lidar com esses alunos portadores de necessidades especiais em tempo integral convivendo com os demais. Foram sugeridos seminários e encontros entre os professores da educação integral a fim de se compartilhar experiências e criar um espaço de trocas permanente. Para dar conta do desafio, sugeriram a criação de uma atividade de formação ligada à Secretaria Municipal de Educação e à Universidade.

A Direção da escola ressalta que a escola tem desempenhado um papel relevante no âmbito da educação integral, tem alcançado metas como o IDEB, tem procurado participar de todas as iniciativas propostas pela SME, mas que, contudo, trabalha sua gestão no limite da falta de recursos. Apela para a necessidade de mais investimento na educação integral para que mais projetos pedagógicos de qualidade possam ser realizados e afirma que:

Somos uma escola diferenciada. Temos o projeto Mais Educação e o Projeto Escola Aberta, onde há verba diferenciada. Mas são verbas que tem propostas muito claras de como gastar e sobre o que e como fazer. Não dá a autonomia que precisamos. Quando falamos em repensar a questão da verba por aluno é pensar na autonomia da escola construir o seu PPP e poder efetivá-lo na parte financeira também. Porque na questão de pessoal nós temos conseguido avançar. Mas a questão dos recursos financeiros está pesando bastante. Por exemplo, temos um problema seríssimo que é a questão do gás de cozinha. A escola Moisés Santana gasta dez botijões de gás por mês. Isso significa R$ 450,00 por mês. No final de três meses significa R$ 1.500,00. Em uma verba total de R$ 5.000,00 reais, se você tem que tirar R$ 1.500,00 só para o gás, isso sem falar que o preço do gás não é estável e a verba dos projetos sim, é um problema. Esse per capita praticado desde o ano 2000 de R$ 13,00 por criança não dá. Esse recurso vem de quatro em quatro meses, é um valor “simbólico” e não atende às necessidades da escola. Hoje em dia a escola gasta mais com gás e com material de limpeza do que com material pedagógico. Isso é preocupante porque em uma escola de qualidade o material pedagógico tem que estar em primeiro lugar (Diretora Katia Callile).

Podemos compreender a preocupação da diretora, pois sem um reajuste no valor per capita recebido pela escola há dez anos as prioridades

podem acabar se invertendo; não podemos negar que itens, como o gás de cozinha, são de grande importância para o bom funcionamento da escola, mas eles não devem se tornar objeto de maior investimento, já que não fazem parte do objeto fim de uma instituição escolar: ensino e aprendizagem.

Finalmente, há a necessidade de se pensar o refeitório, os espaços de descanso e lazer do turno intermediário. O desafio que se põe, além da organização do espaço físico, é o aprimoramento das atividades intermediárias, responsáveis pela integração entre os turnos. Trata-se da definição de conteúdos “novos”, como lavar as mãos antes das refeições, almoçarem junto com o coletivo, compartilhar a mesa, escovar os dentes, conversar após o almoço, etc. A convivência é plena em prática e valores que, com certeza, devem constar no currículo de uma educação integral.