CAPÍTULO III CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS DOS MOTORISTAS DE
3.2 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS DOS MOTORISTAS
O perfil psicossocial de motoristas precisa ser conhecido para identificar os aspectos
comportamentais dos infratores e assim promover programas de educação e qualidade de vida
aos participantes do sistema de trânsito na busca de redução do número de acidentes. Análise
das informações obtidas por meio dos exames psicológicos, denominados psicotécnicos, em
condutores no Brasil contribui para o avanço na produção de conhecimento científico sobre
uma população, bem como na avaliação da técnica utilizada. Moro (1996), em seu estudo
sobre motoristas profissionais infratores no limite de velocidade, investigou a existência de
características comuns de motoristas profissionais que transgridem a velocidade estabelecida
para determinados locais e a opinião ou crenças desses sujeitos a respeito da velocidade. A
autora concluiu que existem características psicológicas comuns nesta população e correlação
entre os indicadores da entrevista.
O conhecimento sobre os aspectos comportamentais à atividade de dirigir é essencial
para a atuação dos profissionais de Psicologia na realização da avaliação psicológica. Moro
(1997), ao pesquisar sobre a importância da avaliação psicológica dos motoristas, acrescenta
que os custos e sofrimentos fazem dos acidentes de trânsito no Uruguai um indiscutível
problema de saúde pública. Os acidentes de trânsito repercutem como um problema de saúde
pública, haja vista a diversas ações (profissionais, materiais, transporte, hospedagem em
hospitais, sinalizações, recapamentos, equipamentos, entre outros), necessárias para prevenir e
remediar a situação proporcionada por esse evento, de ordem técnica, médica, mas também
psicológica.
A realização continuada da avaliação psicológica, não somente na primeira avaliação,
propicia um maior controle da ocorrência de acidente, evitando decorrências psicológicas aos
participantes do sistema de trânsito. No Brasil, os psicólogos credenciados do Departamento
de Trânsito - DETRAN ao realizarem o exame psicológico avaliam aptidão das condições
psicológicas à atividade de dirigir. Esse exame é realizado para adquirir a Carteira Nacional
de Habilitação (CNH), consistindo na 1ª habilitação do candidato, mudança de categoria e
renovação aos motoristas que exercem atividade remunerada no transporte de bens e pessoas.
Os motoristas de transporte de passageiros e de cargas participam de reciclagens sobre o
sistema de trânsito, contribuindo aos psicólogos no processo de conhecer as condições
psicológicas necessárias a esses trabalhadores.
A Resolução 80/98
5do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) torna obrigatória
a avaliação psicológica tanto na primeira habilitação quanto para renovação da CNH. O
exame psicológico ou psicotécnico é um procedimento da avaliação psicológica em que o
psicólogo utiliza instrumentos psicológicos como principal recurso de observação do
fenômeno. A avaliação psicológica consiste no modo de conhecer fenômenos e processos
psicológicos por meio de procedimentos de diagnóstico e prognóstico, incluindo os
instrumentos psicológicos (Alchieri & Cruz, 2003). A avaliação psicológica permite
prognosticar a condução arriscada por meio de aspectos cognitivos, perceptivos, atenção,
fadiga, coordenação psicomotora, orientação espacial e características da personalidade. Por
outro lado, é possível o psicólogo identificar traços de agressividade, de instabilidade
emocional, de planejamento, capacidade de tolerar contrariedades, sentimentos de
insegurança, e, quando necessário, encaminhar o candidato a uma avaliação psicológica
independente da manifestação do traço no sistema de trânsito.
5 Resolução 80/98 do CONTRAN dispõe sobre os exames de aptidão física e mental (Anexo I) e os exames de
A produção de conhecimento sobre fenômenos psicológicos no trânsito auxilia no
desenvolvimento de sistemas teóricos e terminologias técnicas, na construção ou
aprimoramento de procedimentos, métodos e instrumentos de observação e medida
necessários à compreensão dos fenômenos e processos psicológicos do comportamento
humano no trânsito. Alchieri & Cruz (2003) ressaltam que a avaliação psicológica pode
resultar em tentativas de respostas e ampliação de conhecimento sobre o desempenho das
funções psicológicas e repercussões sobre o estado e o perfil das condutas humanas.
Psicólogo Perito Examinador de Trânsito é definido no Código de Trânsito Brasileiro
(CTB) de 1998, explicitado no Anexo II da Resolução Nº 80/98 do Conselho Nacional de
Trânsito (CONTRAN)
6, como o profissional de Psicologia que realiza a avaliação psicológica
em candidatos a obter a CNH. O CTB, dentre outras providências, estabeleceu um conjunto
de ações e de normas para segurança viária e circulação humana, a fim de priorizar a
construção da cidadania no contexto da mobilidade humana no trânsito.
O avanço do conhecimento científico sobre as condições psicológicas à atividade de
dirigir é uma necessidade encontrada durante a atividade profissional do psicólogo perito.
Dagostin (2005) ressalta, ao estudar as características do processo de trabalho dos psicólogos
peritos examinadores de trânsito, que estes profissionais da Psicologia, por meio de uma
prática profissional legitimada historicamente nesse campo de atuação, utilizam
conhecimentos específicos da ciência Psicologia às intervenções, porém não derivados
diretamente da produção de conhecimento e de experiências sobre os fenômenos que norteiam
as intervenções. A utilização de instrumentos precisos e fidedignos para aferir as condições
psicológicas à atividade de dirigir resulta em avaliações eficazes e, por conseguinte, a
construção de um perfil adequado e adaptado ao sistema de trânsito brasileiro. As implicações
6 CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO - Lei 9.503 de 23 de Setembro de 1997. Coletânea de Legislação de
Trânsito e Resoluções do CONTRAN até 84/98, atualizada até Dezembro de 1998, que traz as resoluções 07/50/71 e 80 de 1998.
da atividade profissional dos psicólogos são percebidas nas vias, ao considerar o sistema de
trânsito um conjunto de processos envolvendo a interação entre pessoas com objetivos
diversos, nem sempre conciliáveis, exigindo continuamente dos motoristas condições
psicológicas à direção segura.
A atividade profissional dos psicólogos em suas diversas áreas de atuação (clínica,
organizacional, hospitalar, trânsito, jurídica, esporte) está totalmente associada ao avanço da
Psicologia como ciência, e também a ciência aderente ao desenvolvimento da atuação desses
profissionais. Os psicólogos podem contribuir com o aperfeiçoamento de suas intervenções,
por meio das próprias informações coletadas durante a avaliação, reduzindo as limitações
encontradas na atividade profissional. No trânsito, os pesquisadores e profissionais em
Psicologia, ao analisarem as informações obtidas por meio dos exames psicológicos auxiliam
de forma a caracterizar o perfil psicossocial dos motoristas, na criação e aprimoramento de
programas de prevenção e recuperação das condições psicológicas para dirigir. A produção de
conhecimento científico sobre decorrências psicológicas de acidentes de trânsito fornece
subsídios à atuação dos psicólogos, caracterizando as decorrências e o perfil psicossocial de
motoristas de transporte urbano de passageiros.
No documento
Decorrências psicológicas de acidentes de trânsito em motoristas de transporte urbano de passgeiros
(páginas 52-56)