CAPÍTULO III CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS DOS MOTORISTAS DE
3.1 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO SOBRE MOTORISTAS DE TRANSPORTE URBANO
O acidente de trânsito é um processo em que estão envolvidos o veículo, o ambiente e
o homem. Conhecer cada aspecto desse processo aumenta a segurança dos participantes do
sistema de trânsito. Os estudos sobre comportamento humano no trânsito avançam na redução
do número de acidentes, aumentando a mobilidade e organização dos processos de trânsito de
uma sociedade que está em desenvolvimento, haja vista o crescente número de pessoas e
veículos, embora não progridem na mesma proporção que as vias. A produção de
conhecimento científico e social contribui às intervenções profissionais no sistema de trânsito,
sejam eles Psicólogos, Médicos, Policiais, Guardas Municipais, bem como funcionários das
empresas de transporte.
Na tabela 5 consta, de forma sintética, a produção de conhecimento no Brasil sobre
motoristas de transporte urbano de passageiros publicadas na Scielo e Index Psi no período de
1995 a 2005, enfatizando as condições de saúde e trabalho, riscos de distúrbios psiquiátricos e
incidência de dor músculo-esquelética. Não foram encontrados estudos sobre decorrências
psicológicas de acidentes de trânsito com esses profissionais.
Tabela 5 – Síntese de produção de conhecimento publicada no Brasil sobre motoristas de
transporte urbano de passageiros (1995 a 2004).
AUTOR /ANO TÍTULO FONTE CARACTERÍSTICA DO ESTUDO
Costa, L. B., Koyama, M. A. H., Minuci, E. G., Fischer, F. M. /2003. Morbidade declarada e condições de trabalho: o caso dos motoristas de São Paulo e Belo Horizonte.
São Paulo Perspectiva.
Levantamento das condições de trabalho e de saúde dos motoristas de transporte de passageiros. Corrêa Filho, H. R., Costa, L. S., Hoehne, E. L., Pérez, M. A. G., Nascimento, L. C. R. & Moura, E. C. /2002.
Perda auditiva induzida por ruído e hipertensão em condutores de ônibus.
Revista Saúde Pública.
Estudo transversal em amostra probabilística de 108 motoristas de ônibus da cidade de Campinas (SP) a fim de estimar a perda auditiva por ruído e hipertensão.
Souza, F. M. & Silva, G. R. /1998.
Risco de distúrbios
psiquiátricos menores em área metropolitana na região sudeste do Brasil.
Revista Saúde Pública.
Descrição e análise das características associadas ao risco de ocorrência de distúrbios psiquiátricos menores em motoristas e cobradores de ônibus urbano na cidade de São Paulo, através da análise de regressão logística. Cordeiro, R.;
Lima Filho, E. & Nascimento L. C. R. /1994.
Associação da perda auditiva induzida pelo ruído com o tempo acumulado de trabalho entre motoristas e cobradores.
Caderno Saúde Pública.
Relação existente entre a perda auditiva induzida pelo ruído e as variáveis "tempo total acumulado de trabalho como condutor de veículos coletivos urbanos", "pressão arterial diastólica" e "idade", por meio da técnica da regressão linear múltipla.
Fonte: Scielo, Index Psi.
O transporte urbano de passageiros é uma área com rentabilidade significativa para o
empregador, no qual a atuação dos motoristas profissionais contribui para o deslocamento de
pessoas em massa, diminui a poluição do ar, auditiva, sonora, haja vista a redução do fluxo de
automóveis de pequeno porte. Em que condições esses profissionais trabalham? As condições
de trabalho estão desencadeando decorrências nos motoristas de transporte urbano de
passageiros?
A tabela 6 consta síntese de teses e dissertações defendidas no Brasil no período de
1995 a 2005, pesquisadas na base de dados da CAPES sobre as condições de trabalho dos
motoristas de transporte urbano de passageiros.
Tabela 6 – Síntese de teses e dissertações sobre as condições de trabalho dos motoristas de
transporte urbano de passageiros defendidas em 1995 a 2005.
AUTOR /ANO TÍTULO FONTE CARACTERÍSTICA DO ESTUDO
Battiston, M. /2003.
Condições de trabalho e saúde de motoristas de transporte coletivo urbano.
Universidade Federal de Santa Catarina.
Caracterização das condições de trabalho e saúde de motoristas de transporte coletivo urbano por ônibus em Florianópolis. Gonçalves, E.
C. /2003.
Constrangimento do posto de motorista de ônibus urbano segundo a visão
macroergonômica.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Identificação das demandas ergonômicas dos motoristas de ônibus da cidade de
Joinville/SC. Balbinot, A.
/2001.
Caracterização dos níveis de vibrações em motoristas de ônibus: um enfoque no conforto e na saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Avaliação dos níveis de vibrações do corpo humano e transmissibilidade que estão sujeitos os motoristas de ônibus urbano. Pinto, F. do M.
/2001.
Trabalho e saúde mental: um estudo com motorista de ônibus de João Pessoa/ PB.
Universidade Federal de Paraíba.
Investigação das relações entre trabalho e saúde mental, especificamente as vivências de prazer e sofrimento psíquico dos motoristas de ônibus urbano.
Macedo, C. de S. G. /2000.
Impacto da lombalgia na qualidade de vida. Estudo comparativo entre motoristas e cobradores de transporte coletivo urbano.
Universidade de São Paulo.
Verificação do impacto da lombalgia na qualidade de vida e a incidência em motoristas de transporte coletivo urbano.
Mendes, L. de R. /1997.
Serviço essencial X trabalho penoso: análise das condições de trabalho dos motoristas de ônibus coletivo urbano na cidade de Belo Horizonte.
Universidade Federal de Minas Gerais.
Contribuição para a compreensão das condições de trabalho dos motoristas de ônibus coletivo urbano na cidade de Belo Horizonte.
Sato, L. /1991. Abordagem psicosocial do trabalho penoso: estudo de caso de motoristas de ônibus urbano.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Contribuição para a delimitação do termo “trabalho penoso”.
As condições de trabalho fazem com que o motorista profissional permaneça a maior
parte da jornada de trabalho sentado e isolado, na busca de segurança nas estradas. Battiston
(2003), ao estudar as condições de trabalho e saúde dos motoristas de transporte coletivo
urbano por ônibus de Florianópolis/SC, por meio de observações do local de trabalho, das
linhas e do comportamento desses trabalhadores, percebeu que a atividade de dirigir é
desgastante, destacando as condições de trabalho
como o principal fator de alteração dos
estados físicos e psicológicos dos motoristas.
Dirigir no sistema de trânsito é um comportamento que está associado à manutenção
de outros comportamentos como: manter a atenção constante, precisão na realização das
ações, autocontrole, direção defensiva, análise e interpretação das informações fornecidas
pelo veículo e sinalizações de trânsito. O estado de alerta de que o motorista necessita torna o
seu trabalho desgastante. Queiróga (1999), ao estudar a influência de fatores individuais na
incidência de dor músculo-esquelética em motoristas de ônibus da cidade de Londrina–PR,
demonstrou que a atividade desses profissionais é penosa por atuarem sob vigilância. Os
fatores de estresse na atividade de motoristas estão relacionados ao estado de alerta,
agressividade na direção, aversão em dirigir, concentração elevada, tensões e frustrações.
Na tabela 7 estão distribuídos, sinteticamente, as características das dissertações sobre
o comportamento dos motoristas de transporte urbano de passageiros e os sinais ou sintomas
associados à atividade profissional, consultadas na base de dados da CAPES no período de
1995 a 2005.
Tabela 7 – Síntese das dissertações sobre comportamento dos motoristas de transporte urbano
de passageiros e manifestações de sinais/sintomas da atividade profissional, defendidas em
1995 a 2005.
AUTOR /ANO TÍTULO FONTE CARACTERÍSTICA DO ESTUDO
Olivato, A. /2002. Percepção e avaliação da conduta de motoristas e pedestres no trânsito – um estudo sobre espaço público e civilidade na metrópole paulista.
Universidade de São Paulo.
Caracterização da conduta de motoristas comum, de ônibus, condutores de lotação, táxis, motoboys e pedestres e usuários de transporte coletivo. Paula, M. A. P.
de L. /2001. Identidade social e o desenvolvimento em acidentes de trânsito: o caso dos motoristas de ônibus urbana em Goiânia.
Universidade
Católica de Goiás Investigação do envolvimento em acidentes de trânsito dos motoristas profissionais de Goiânia.
Menezes, M. B.
de C. /2001. Estresse em motoristas de ônibus urbano. Universidade Federal da Paraíba Verificar a relação do estresse em motoristas de ônibus urbanos e os fatores internos ao trabalho.
Mendes, A. L. de
A. /2000. Situação de trabalho e estresse ocupacional: um estudo de caso com os motoristas de transporte urbano por ônibus.
Universidade Federal de Minas Gerais
Identificação dos aspectos da situação de trabalho dos motoristas de ônibus do transporte coletivo da Viação Gama apontados como desencadeadores de estresse.
Silva, A. V.
/1999. Comportamentos de motoristas de ônibus: itinerário urbano, estressores ocupacionais e estratégia de enfrentamento.
Universidade de
Brasília Investigação da relação entre comportamentos inadequados de motoristas de ônibus, contratempos e características especificas do itinerário, identificando os estressores ocupacionais das viagens e sua relação com as
estratégias.
Fonte: CAPES
O nível de estresse, irritabilidade, insônia, atenção, agressividade e fadiga são aspectos
comportamentais determinantes na ocorrência de acidentes. Silva (1999), em estudo sobre
comportamento de motoristas de ônibus, itinerário urbano, estressores ocupacionais e
estratégias de enfrentamento, revelou que os participantes da pesquisa referiram como fatores
estressantes às pressões para cumprir horário, a irritação quando os passageiros não solicitam
a parada a tempo, falha no veículo, excesso de paradas durante as viagens e agressividade ao
dirigir. Menezes (2001) contribuiu com estudo sobre estresse em motoristas de ônibus urbano
de Aracaju/SE revelando que o estresse é também associado a fatores internos ao trabalho.
O desgaste físico e psicológico foi objeto de estudo de Sato (1991), Mendes (1997),
Mendes (2000), Macedo (2000) e Pinto (2001) demonstrando que as principais queixas
referidas são contato humano, justificar suas ações, ruído, temperatura e iluminação, imagem
profissional, carga de trabalho e o risco de acidentes e assaltos. O acidente de trânsito,
também caracterizado como acidente de trabalho, aumenta o sofrimento psíquico desses
profissionais, tendo em vista a responsabilidade pelo evento, independente da causa
(cumprimento do horário, condições da via ou do veículo, exigências e pressões da empresa).
A probabilidade dos motoristas de transporte urbano de passageiros participarem de
acidente de trânsito é maior, devido à sua jornada de trabalho ser no trânsito. Costa, Koyama,
Minuci & Fischer (2003), em seu estudo sobre as condições de trabalho e saúde dos
motoristas de transporte de passageiros de São Paulo e Belo Horizonte, investigaram a
presença de estresse, demonstrando o medo de acidente, medo de assalto, a extensão da
jornada de trabalho e o horário alternado. O medo de participar de um acidente, segundo os
pesquisadores, aumenta em 71% a chance de estresse, podendo gerar problemas de sono.
Montalvão (1998) demonstrou que o maior problema referido pelos motoristas foi o sistema
de trânsito, ou seja, o ambiente de trabalho dos motoristas de transporte urbano de
passageiros, fazendo aumentar o risco de acidente de trânsito no trabalho.
Há pesquisas sobre a identidade social, representação e significado da função de
motorista de transporte urbano de passageiros. Na tabela 8 consta sínteses das dissertações
sobre este fenômeno, consultadas na base de dados da CAPES e defendidas no período de
1995 e 2005.
Tabela 8 – Síntese das dissertações sobre identidade, significado e representação social da
atividade de motorista de transporte urbano de passageiro, defendidas em 1995 a 2005.
AUTOR /ANO TÍTULO FONTE CARACTERÍSTICA DO ESTUDO
Paula, M. A. P. de L. /2001.
Identidade social e o
desenvolvimento em acidentes de trânsito: o caso dos motoristas de ônibus urbana em Goiânia.
Universidade Católica de Goiás.
Investigação do envolvimento em acidentes de trânsito dos motoristas profissionais de Goiânia.
Louzada, M. G.
/2000. A representação social da função do motorista construída por um grupo de motorista de ônibus urbano da cidade de São Paulo.
Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Construção da representação social da função do motorista de ônibus urbano.
Silva, L. /2000. A representação social da profissão motorista: o caso dos condutores de transporte coletivo urbano.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Identificação da representação social da profissão motorista, a partir das características que os motoristas atribuem ao ato de dirigir ônibus.