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Avaliação de ambientes térmicos neutros

PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

CAPÍTULO 2 – FACTORES AMBIENTAIS EM BIBLIOTECAS

2.2. AMBIENTE TÉRMICO

2.2.3. Avaliação de ambientes térmicos neutros

A grande maioria dos estudos relacionados com conforto térmico a partir da década de oitenta tem por base os trabalhos de Fanger. Perante os resultados obtidos nas suas investigações com seres humanos, recorrendo a câmaras com o clima completamente controlado (Corgnati et al., 2007), surge uma nova abordagem ao conforto térmico centrado nas pessoas, no seu vestuário e nas actividades físicas desempenhadas.

A teoria de Fanger contempla dois índices. Um dos Índices estima o nível de satisfação dos indivíduos, descrevendo a sensação térmica para o corpo como um todo, Predicted Mean Vote (PMV). Para isso, recorre a uma escala de sete graus bipolar contendo um grau central de conforto, o zero, três graus crescentes positivos que descrevem sensações de calor e três graus crescentes negativos que correspondem a sensações de frio (Figura 2.1). O outro Índice consiste no percentual provável de pessoas insatisfeitas com o ambiente térmico, Predicted Percentage of Dissatisfied People (PPD).

Figura 2.1: Escala de sensação térmica (ISO 7730:2005).

O PPD-PMV é baseado num modelo estático onde o indivíduo é considerado como passivo em relação às trocas térmicas (Buratti e Ricciardi, 2008). Esta nova metodologia foi adoptada pela International Organization for Standard (ISO) em 1984, dando origem à ISO 7730:1984, a qual tem sofrido algumas alterações até á actualidade, e pela ASHRAE 55-1981 “Thermal environment conditions for human occupancy”.

Para estimar o Índice PPD-PMV é necessário determinar os parâmetros físicos do ambiente térmico e conhecer a actividade desempenhada e o isolamento de vestuário. Estes parâmetros

+3 Muito Quente +2 Quente +1 Ligeiramente Quente 0 Neutro/Confortável -1 Ligeiramente Frio -2 Frio -3 Muito Frio

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são essenciais para estimar o PMV através do recurso a um modelo matemático ou à utilização de tabelas apresentadas na ISO. O PPD é determinado matematicamente a partir do PMV (Eq. 2.1) ou através do gráfico apresentado na Figura 2.2.

100 95. exp 0,03353. 0,2179

Figura 2.2: PPD em função do PMV (ISO 7730:2005).

Para caracterizar ambientes como confortáveis, a norma recomenda limites para o índice de PMV-PPD, devendo o PMV estar entre - 0,5 e 0,5 e o PPD ser menor que 10%.

O modelo proposto por Fanger foi testado em diferentes contextos reais de forma a verificar a sua adequabilidade, sendo muitas vezes contestado. A chamada teoria adaptativa vem contrariar os pressupostos da sua teoria, ao dar ênfase o papel activo do indivíduo, através da crença que este, consciente ou inconscientemente, procura o conforto térmico ambiente, não sofrendo passivamente as condições impostas pelo ambiente circundante (Corgnati et al., 2007). Conceição et al. (2008) citando Dear et al. (1997) e Dear e Brager (2001), referem o ajuste comportamental, factores fisiológicos e psicológicos como elementos activos dos indivíduos que podem interagir com a sensação térmica.

No desenrolar das pesquisas, vários modelos adaptados foram desenvolvidos com base em estudos de campo realizados em diferentes países do mundo e em diferentes condições. Os seus resultados têm normalmente revelado um desacordo entre o PMV objectivo e a sensação térmica resultante da análise subjectiva (Corgnati et al., 2007; Hwang et al., 2009), contudo, modelos adaptados têm revelado um bom acordo entre as duas abordagens (Buratti e Ricciardi, 2008).

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Fanger e Toftum (2002) apresentam uma extensão do modelo PMV para ser utilizado em climas temperados, em espaços não equipados com sistemas de ar condicionado, combinando desta forma o modelo estático de PMV com a teoria adaptativa. Estes autores propõem assim uma extensão do modelo PMV baseada no factor expectativa, o qual deve ser multiplicado ao valor PMV, considerando desta forma uma variável psicológica (Conceição et al., 2008).

A ISO 10551:2001 tem também como base os trabalhos de Fanger. Ela estabelece uma abordagem para a determinação de conforto térmico apoiando-se nas avaliações expressas pelas pessoas sujeitas a determinados ambientes, podendo os resultados obtidos complementar metodologias físicas ou fisiológicas.

O ambiente escolar tem sido um local de estudo de interesse devido às características específicas das actividades aí desenvolvidas. A maior parte dos trabalhos realizados neste ambiente têm em vista a comparação entre a análise objectiva e a subjectiva.

De modo a verificar a aplicabilidade do modelo de Fanger e de modelos adaptados, estudos comparativos com as opiniões dos alunos têm sido realizados. No seu estudo Corgnati et al. (2007), tendo como base os estudos de Fanger, propõem-se a descobrir uma tendência significativa e a correlação, entre as percepções subjectivas e os parâmetros ambientais medidos, aplicando uma nova metodologia de investigação em períodos quentes. Estes autores propuseram-se a realizar um estudo em ambientes ventilados naturalmente, nos quais os ocupantes possuem poucas oportunidades de ajuste comportamental, seleccionando deste modo salas de aula. A abordagem subjectiva é usada para determinar a percepção de ambiente térmico em termos de aceitabilidade e preferência, sendo para isso utilizados questionários. No seguimento desta investigação, Corgnati et al. (2008) complementam o estudo anterior realizando a investigação a meia estação, concluindo que há uma preferência para ambientes “ligeiramente mornos” no Inverno e para ambientes “neutros” na estação temperada.

No mesmo sentido dos estudos de Corgnati et al. (2007, 2008), também Buratti e Ricciardi (2008) pretendem encontrar uma correlação entre os dados medidos pelos equipamentos e as respostas subjectivas dos ocupantes. Realizaram um trabalho experimental em salas de aula de três universidades italianas, onde através da aplicação de um questionário de escolha múltipla em três estações do ano (Outono, Inverno e Primavera) e do cálculo dos índices de conforto de Fanger e de Wray concluem, ao compararem os valores de PMV das medições e os valores de PMV referentes aos questionários, que os dados dos questionários tendem a acentuar situações

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de desconforto.

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