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PARTE II – ESTUDO

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E TRABALHO FUTURO

6.1. CONCLUSÕES

No âmbito da falta de informações sobre as actuais condições das bibliotecas do ensino superior portuguesas, bem como da percepção dos utilizadores sobre os aspectos do ambiente envolvente, o presente trabalho visou caracterizar as bibliotecas através de uma abordagem que envolveu várias etapas: análise preliminar (aplicação da check-list), quantificação dos factores ambientais (medições) e participação dos ocupantes (questionários). Os resultados obtidos a partir das três etapas permitiram-nos tirar várias ilações, as quais enunciamos de seguida. Os alunos do ensino superior tendem a permanecer várias horas nas bibliotecas, principalmente para desenvolverem actividades de estudo, devido a considerarem estes locais calmos e adequados para esta actividade.

O microclima interior das bibliotecas estudadas encontra-se dependente da temperatura exterior, das características do edifício e da definição dos sistemas de climatização. A análise dos factores físicos do ambiente térmico revelou que as temperaturas se apresentam demasiado elevadas no Verão podendo além de causar desconforto, reduzir o desempenho dos ocupantes do espaço e contribuir para a degradação das colecções. Também se verificaram situações de humidade relativa inadequada em BGUM, a qual se apresenta baixa no Inverno e Primavera. Já em relação à velocidade do ar, esta respeita os limites recomendados para estes espaços.

O ambiente térmico é percebido pelos respondentes como mais quente no Inverno que nas restantes estações do ano em estudo. Existe ainda nesta estação uma predominância pela preferência de uma sensação térmica ligeiramente quente e não da neutralidade, mesmo que esta situação obrigue a uma elevada diferença entre a temperatura exterior e a interior. No Verão existe uma preferência por sensações térmicas mais frescas que nas restantes estações do ano para as mesmas gamas de temperatura. Em geral, temperaturas entre os 21 e 23ºC são as consideradas mais aceitáveis por parte dos utilizadores das bibliotecas na Primavera e no Inverno, não existindo dados suficientes no Verão para permitir esta conclusão. No que respeita à velocidade do ar, os ocupantes dos espaços de leitura tendem a preferir movimentações de ar maiores com o aumento da temperatura do ar, nomeadamente quando esta se apresenta acima dos 25ºC. Quando a temperatura se apresenta baixa, movimentações de ar inferiores às

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recomendadas na ISO 7730:2005 para estes espaços são passíveis de causar desconforto. A análise objectiva de conforto térmico através dos índices PPD-PMV leva a considerar estes ambientes adequados ao conforto térmico, porém, esta situação encontra-se muito associada ao vestuário considerado. Perante a não existência de um tipo de vestuário padronizado para estes espaços, os utilizadores têm a possibilidade de se ajustarem ao ambiente térmico, verificando-se no Verão a existência de níveis médios de isolamento de vestuário baixos (0,3 – 0,4 clo).

Quando questionados sobre o conforto térmico, os ocupantes dos espaços de leitura das bibliotecas tendem a mostra-se mais insatisfeitos comparativamente com a análise objectiva do PPD. Também em relação ao PMV se verificam diferenças. Existe uma discrepância entre o PMV subjectivo e objectivo de 0,4 – 0,47 graus, revelando um deslocamento da sensação térmica à direita da escala de Fanger. Certamente esta situação deriva das expectativas dos ocupantes e da possibilidade destes ajustarem o seu vestuário.

Verificou-se em BPG um desacordo evidente entre os níveis de ruído existentes e os recomendados para espaços de leitura, apresentando-se estes muito elevados. Em BGUM os valores obtidos cumprem as actuais recomendações, contudo, encontram-se muito próximos do limite de 45 dB(A) proposto. Estas situações estão associadas às fontes de ruído interiores e à definição dos espaços. Em termos gerais, as bibliotecas não têm zonas destinadas ao estudo/trabalho em grupo, e quando estas existem são reduzidas, situação que, acumulada com uma inadequada definição do layout, encontra-se associada a elevados níveis de ruído nestes espaços. As principais fontes de ruído identificadas através da análise preliminar e das observações dos próprios ocupantes remetem-se principalmente às pessoas (conversação), sistemas de ventilação e arrastar de cadeiras.

Ruídos até 50 dB(A) são classificados pelos respondentes maioritáriamente como Baixos, e quando superiores como Ligeiramente elevados. Existe uma preferência por um ruído mais baixo com o aumento dos seus níveis, apontando para um bom acordo entre a análise objectiva e subjectiva. Perante a avaliação de conforto ao ruído, e utilizando o critério de que se mais de 10% dos ocupantes se revelarem Desconfortáveis ou Muito desconfortáveis os níveis de ruído deverão ser considerados elevados, níveis superiores a 45 dB(A) são considerados excessivos. As expectativas dos ocupantes em relação aos níveis de ruído poderão apresentar-se como factores condicionantes na avaliação subjectiva, penalizando a avaliação em ambientes normalmente ruidosos e beneficiando-a em ambientes que se caracterizam regularmente como

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calmos.

Em relação aos níveis de iluminância, estes não se apresentam adequados em alguns planos de trabalho, quer pela sua carência, quer pelo seu excesso, bem como pelo não cumprimento da recomendação de uniformidade apresentada na ISO 8995:2002. Esta situação tem origem na definição dos sistemas de iluminação eléctricos e das fontes de iluminação natural. Verificou-se, ao longo do trabalho, a influência do período do dia e das condições meteorológicas nos níveis de iluminância nos espaços analisados, sendo este efeito amplificado quando o edifício tem janelas na fachada Sul ao nível do plano de trabalho, como é o caso de BGUM. Ambas as bibliotecas não têm sistemas que permitam a integração das fontes de iluminação eléctrica com as de luz natural, originando desta forma níveis de iluminância excessivos em determinados postos de trabalho em dias de céu limpo, e por sua vez, gastos energéticos acrescidos.

A preferência pela iluminação natural por parte dos utilizadores é clara, aumentando a sua necessidade com a distância às janelas. Os resultados obtidos neste estudo também revelam que os indivíduos tendem a preferir elevados níveis de iluminação, contudo, quando esta se apresenta baixa, apenas se verifica desconforto excessivo quando os níveis de iluminância são inferiores a 150 lux. Não se verificaram diferenças significativas entre a utilização do portátil e a percepção e preferência dos níveis de iluminação, contudo, hábitos e estilos de vida podem interferir na avaliação subjectiva.

O mobiliário apresenta-se em geral mal concebido, favorecendo posturas inadequadas. Foram identificadas mesas e cadeiras demasiado altas, assentos demasiado profundos e estreitos, e encostos inadequados ou ausentes. Foi ainda analisado que as estantes detêm a prateleira inferior demasiado baixa, potenciando posturas incómodas na procura e pega dos livros. Quando comparada a análise objectiva com a subjectiva, verifica-se que a sensibilidade à altura da mesa apresenta-se reduzida. Existe uma predominância pela avaliação das cadeiras como inaceitáveis e desconfortáveis, sendo a principal causa de desconforto identificada a sua dureza, seguida do encosto. Sensações de dor na zona do pescoço e nas pernas são referidos pela maioria dos respondentes.

Em relação à influência do género nas sensações de conforto, verificam-se diferenças significativas em relação ao ruído, iluminação e mobiliário, sendo as situações de desconforto acentuadas por indivíduos do sexo masculino. Por sua vez, em relação ao ambiente térmico não se verificaram diferenças significativas entre os géneros.

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Em termos gerais, os parâmetros ambientais analisados permitem perceber a falta de adequabilidade das bibliotecas estudadas às actuais necessidades académicas, sugerindo uma reestruturação dos espaços, de forma a potenciar as condições de conforto. A caracterização geral afectiva das bibliotecas por parte dos seus ocupantes acentuam situações de desconforto em BPG, situação que se deve certamente ao facto desta biblioteca apresentar características mais desfavoráveis em relação aos factores ambientais que BGUM e à sua percepção por parte dos seus ocupantes.

O controlo dos parâmetros ambientais revela-se apetecível para os utilizadores das bibliotecas, nomeadamente no que se refere ao ruído, mostrando assim a importância que eles dão a este aspecto.

Os resultados obtidos neste trabalho permitem apontar que uma abordagem que envolve várias etapas, nomeadamente uma análise preliminar, avaliações quantitativas e uma abordagem subjectiva, é essencial e eficaz para uma caracterização das bibliotecas e das necessidades dos seus ocupantes. No que respeita ao questionário aplicado, este permitiu perceber como os indivíduos consideram o conforto como um todo, e o modo como eles gostariam de intervir sobre o ambiente através de sistemas de controlo, contudo, foram englobadas questões que se demonstraram irrelevantes ao longo do trabalho, não sendo desta forma englobadas nos resultados e respectiva interpretação.

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