• Nenhum resultado encontrado

PARTE 2 O VOTO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS BRASILEIRAS DE 1989,

6.1. Avaliação de Desempenho Governamental e Voto

Um primeiro conjunto de dados sobre a relação entre avaliação de desempenho governamental e o voto nas eleições presidenciais do período encontra- se na Tabela 6.1, onde são apresentadas, para cada eleição, a porcentagem efetiva de votos (em relação aos votantes) obtida pelo candidato do govemo em exercício (ou pelo menos, aquele(s) que era(m) mais associado(s) ao govemo) e a proporção de

eleitores que avaliavam o desempenho do governo em exercício como ótimo ou bom, na pesquisa disponível mais próxima da eleição .

Se nas eleições de 1994 e 1998 é evidente que o candidato govemista era o atual presidente, em 1989 essa identificação é menos óbvia, principalmente pelo fato de o PMDB e o PFL - bases de sustentação político-parlamentar do governo Sarney - tentarem se dissociar do governo Sarney (em queda de popularidade), quando do lançamento de seus candidatos, Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves. De qualquer forma, assim como estes partidos foram identificados e recompensados em 1986 como os partidos que, chegando ao poder, haviam dado sustentação ao Plano Cruzado, que melhorou a vida da população, em 1989 também foi impossível dissociar os candidatos peemedebista e pefelista do fracasso da administração Sarney. Por isso, eles são considerados aqui como candidatos "governistas".101

Tabela 6.1

Avaliação de Desempenho Governamental x Voto no Candidato "Govemista" (Eleições Presidenciais -1989 /1994 /1998) (%) Ano Aval. Des.Gov.

(Ótimo + Bom)

Votos no(s) Candidato(s) "Govemista(s)" Candidato(s) "Govemista(s)" 1989 9 5,2 Ulysses + Aureliano 1994 40 44,1 Fernando H. Cardoso 1998 42 43,1 Fernando H. Cardoso

Fontes: - Votos: 1989 e 1994 : NICOLAU (1998); 1998: TSE; Avaliações de desempenho do governo: Ibope (20 a 22/11/89); Datafolha (19 e 20/10/ 94; 24 e 25/9/98).

Se considerarmos válidas as observações acima, é evidente a relação entre a avaliação de desempenho no governo e o voto no candidato associado (pelo eleitor) ao governo em exercício; em 1989, quando apenas 9 % do eleitorado avaliava positivamente o governo Sarney, a votação dos candidatos associados ao seu governo foi também muito baixa (Ulysses: 4,4 %; Aureliano: 0,8 %). Em 1994 e 1998

101 "Candidato govemista" deve ser entendido aqui como filiado a um partido da base de sustentação política do govemo em exercício, mais do que como apoiado abertamente por este governo.

as proporções dé eleitores que avaliavam os governos Itamar e FHC eram superiores a 40 %, assim como as votações de FHC nas duas eleições.

É preciso ressalvar, porém, que as baixas votações de Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves podem dever-se também a outros motivos. É certo também que isso nos diz pouco sobre as opções "positivas" do eleitorado, quando ele rejeita o candidato govemista. Mas o que aqui se pretende realçar é apenas essa relação entre avaliação de desempenho do governo e voto. A idéia é a de que, ao decidir seu voto, num primeiro momento o eleitor leva em consideração a avaliação que ele faz do governo. Se considerá-lo um bom governo, aumentam as chances de voto no candidato govemista; se avaliar negativamente o governo, dificilmente votará em seu candidato. Neste caso, outras variáveis terão um peso maior na decisão de qual dos candidatos de oposição será o escolhido pelo eleitor.

Como o número de eleições no período é muito pequeno, outro tipo de análise nos dá informações complementares. A Tabela 6.2 mostra os resultados de uma análise correlacionando intenção de voto no candidato govemista com a avaliação de desempenho (geral) do govemo e a avaliação do Plano Real, a partir de dados obtidos através de pesquisas Ibope e Datafolha, com amostras representativas do eleitorado nacional, entre junho de 1993 e setembro de 1998.102

Em 27 surveys realizados em diferentes meses deste período, foi solicitado aos eleitores que manifestassem simultaneamente sua avaliação de desempenho do govemo em exercício e sua intenção de voto, caso a próxima eleição para presidente fosse no momento daquele survey. 103 Ressalte-se que se trata de correlações entre dados agregados: as bases para o cálculo dos coeficientes são as proporções de eleitores que tencionavam, em cada survey, votar no candidato govemista e as

102 Não foram considerados neste estudo de correlação dados relativos ao período da gestão Sarney, porque só disponho de uma pesquisa nacional com dados sobre avaliação de desempenho do governo e intenção de voto simultaneamente. Não foram consideradas pesquisas relativas ao período Collor, já que poucas fazem pergunta de intenção de voto e mesmo nas que o fazem, não há nas opções de respostas, candidatos que possam ser associados claramente ao govemo Collor. Quanto ao período Itamar, optei por considerar apenas as pesquisas a partir de junho/93, quando FHC, já ministro da Fazenda de Itamar, aparece como opção govemista clara à escolha dos e ntrevistados.

103 Em um número menor de vezes se perguntou ao eleitor sua avaliação dos efeitos do Plano Real para o país e para sua vida financeira pessoal.

proporções dos eleitores que avaliavam o desempenho geral do governo e o Plano Real (para o país e para o próprio entrevistado) positivamente. De qualquer forma, as tendências gerais são claras: os coeficientes são bastante altos (0,71 a 0,83) e estatisticamente significativos, o que não deixa dúvida da força das associações, pelo menos para um período de mais de 5 anos, envolvendo as gestões de Itamar e FHC: à medida que melhora a avaliação do desempenho do governo e do Plano Real (para o país e para a vida pessoal do entrevistado), cresce a intenção de voto no candidato governista. Declinando aquelas avaliações, declina a intenção de voto naquele candidato.

Tabela 6.2

Correlação (Pearson) entre Intenção de Voto e Avaliação do Governo e do Plano Real (Brasil -1993/98]!

Aval. Governo Aval. Plano p/ País Aval. Plano p/ (% Ótimo + Bom) (% Bom) Entrevistado (% Bom)

Pearson (r) 0,87* * 0,83* * 0,71* *

(N) 27 18 16

Fontes: Datafolha e Ibope (diversas pesquisas de base nacional) ** Coeficiente significativo ao nível de 0,01.

Obs: O enunciado das questões de avaliação do governo e dos planos econômicos está no Apêndice 1.

Não tendo sido possível estender a análise para o conjunto do período abrangido neste trabalho, tentamos suprir esta lacuna apresentando alguns dados que apontam o sentido da relação entre avaliação do governo e intenção de voto durante as gestões dos presidentes Sarney e Collor.

Para o governo Sarney os dados de que dispomos relacionando avaliação de desempenho do governo e intenção de voto são mais escassos. Além dos dados já apresentados no capítulo 4, a influência negativa de uma má avaliação governamental sobre a intenção do eleitor em votar num candidato associado ao governo foi captada por pesquisa Ibope realizada em março de 1989 em 10 capitais. Frente à pergunta: "caso o presidente Sarney apóie algum candidato a presidente, você votaria nesse

candidato ?", 7 % dos entrevistados responderam "com certeza"; 57 % "não votaria de jeito nenhum" e os restantes 36 % dividiram-se entre "seria indiferente" e "não sabe". Note-se que nesta pesquisa só 7 % dos eleitores avaliavam a gestão Sarney como ótima ou boa. É sabido que boa parte do eleitorado não admite ser influenciado por qualquer liderança política, mas o contraste com dados relativos ao mesmo tipo de pergunta, em outras ocasiões, quando o chefe do executivo é avaliado positivamente, mostra que os percentuais dos que o admitem crescem consideravelmente.

Embora também não tenha sido possível incluir dados para o período da gestão de Collor na análise anterior, é possível ter indícios sobre a relação entre as duas variáveis, a partir da análise da comparação das evoluções, de um lado, da avaliação do desempenho do governo Collor e, de outro, das respostas à questão: "se o 2o turno da eleição presidencial de 1989 fosse hoje, em quem você votaria ?", feita aos eleitores ao longo do período Collor. A Tabela 6.3 nos mostra essas evoluções. Como se pode ver, pela análise das 3a e 4a colunas, há uma correspondência muito grande entre o declínio da avaliação do governo Collor e da intenção do eleitorado em votar em Collor, no caso (hipotético) de ter que escolher novamente entre os dois candidatos do 2o turno da eleição de 1989.

Tabela 6.3

Avaliação de Desempenho do Govemo Collor (91/92) x "Intenção de Voto" no2°Tum o/89

Data da Pesquisa Período (em relação ao início do govemo Collor) Avaliação Gov. Collor (% Ótimo + Bom) "Int. Voto t i Collor "Int. Voto i t Lula Branco/ Nulo/ Nenhum Não Sabe Mar/91 1 ano 23 38 41 16 5 Set/91 1,5 ano 18 28 43 23 6 Fev/92 2 anos 15 24 45 26 5 Set/92 2,5 anos 10 15 61 21 3

Fontes: Relatórios de Pesquisa Datafolha.

Obs. (1) Valores são porcentagens "arredondadas".

Para se ter uma idéia ainda mais clara do declínio da avaliação do governo e da intenção de votar em Collor ao longo do período, convém notar que Collqr foi eleito com cerca de 50% do total dos votantes do 2o turno e que em pesquisa realizada pelo Datafolha em 10 capitais, em abril de 1990, 63% dos entrevistados avaliavam o governo como ótimo ou bom (e a avaliação nas capitais tende sempre a ser mais negativa do que no conjunto do país). Um ano após, com só 23 % de avaliação considerada ótima ou boa, apenas 38 % dos eleitores diziam estar dispostos a votar em Collor novamente numa hipotética repetição daquela disputa. A "intenção de voto" em Lula inicialmente cresce muito pouco, com o declínio da "intenção de voto" em Collor (embora o suficiente para ultrapassar este último já em março de 1991); a insatisfação com Collor era expressada no alto percentual de respostas: "branco", "nulo" e "nenhum". Especialmente na última dessas pesquisas, porém, 61 % dos eleitores afirmaram que votariam em Lula se aquela disputa entre os dois candidatos se desse naquele momento (às vésperas do afastamento de Collor). Estas altas taxas de "intenção de voto" em Lula certamente refletem o fato da pergunta se restringir aos dois candidatos, não podendo, portanto, serem tomadas como representativas de reais intenções de voto em uma futura eleição. De qualquer forma, a tendência de crescimento de Lula nestas pesquisas tem correspondência com uma tendência real: Lula passa a ser o líder das pesquisas por um bom tempo (até os efeitos do Plano Real serem sentidos pela população, em julho de 1994), no vácuo deixado pelo declínio de Collor. O mais relevante, porém, para os propósitos deste trabalho, é que é evidente o declínio das intenções de votar em Collor, num hipotético confronto com seu adversário em 1989, à medida que declina a avaliação do governo Collor.

Concluindo, embora com base em dados de natureza muito diversa, me parece que o conjunto de evidências aqui apresentadas é suficiente para mostrar que houve, no Brasil, entre 1989 e 1998, uma forte relação entre a variação na avaliação de desempenho governamental (do presidente da República) e a variação no voto (ou intenção de voto) em candidatos ligados ao governo: declinando a avaliação do desempenho do presidente diminui também a intenção de voto (e o voto efetivo) nos candidatos govemistas (ou associados pelo eleitorado ao governo).

Documentos relacionados